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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 08

 




Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
MAURÍCIO
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
VALDOMIRO


Participação Especial:
POLICIAIS, FEMINISTAS, HOMEM e MULHER pacientes de Maurício


aCENA 01/ EXT/ RUA/ DIA 

Maciel está furioso, segurando firmemente o braço de Laura. Ravena está diante dele, enquanto as demais feministas se agrupam ao redor.

 

LAURA

- Me solte, Maciel, cê tá me machucando! 

RAVENA

- Tá ouvindo não, rapaz?

(ordenando)

- Tire as mãos dela! 

MACIEL

(olhando Ravena de cima abaixo)

- Essa deve ser Ravena, a mulher que tá dando em cima de tu, né Laura? 

RAVENA

- Sou eu mesma seu machista escroto. Vai fazer o quê, me diga? Vai me encarar? Acha que pode me bater?

(ordenando)

- Já disse para soltá-la! 

MACIEL

- Na moral, véi! Cês são ridículas! 

 

Ravena dá uma volta em torno de si mesma, passa a mão pela cabeça e desfere um soco em Maciel. 

 

RAVENA

- Não sou obrigada a ouvir isso, não! 

 

Com o soco, Maciel bambeia para o lado quase cedendo ao chão. Laura não gosta, fica pasma com a atitude de Ravena. 

 

LAURA

- Que isso Ravena, ficou louca?

 

A atitude de Ravena serve como estímulo para as outras feministas, que partem para cima de Maciel com vontade de confrontá-lo.

 

TODAS

- Vamos lá lixar esse machista!

 

Giovana intervem, posicionando-se entre Maciel e as demais mulheres.

 

GIOVANA

- Oh minha gente vamo manter a calma, né? Também não é assim! 

RAVENA

- O que não podemos mais é aturar macho escroto como esse rapaz. 

GIOVANA

- Tenha calma meu povo! 

(virando-se para Maciel)

- Maciel, por gentileza se saia daqui! 

MACIEL

- Cê vem comigo, Laura!

 

Maciel tenta se aproximar de Laura, mas é impedido pelas feministas que o atacam, agredindo-o com xingamentos e insultos. Maciel fuge do local em desespero. Ao perceber a aproximação das sirenes da polícia, Giovana alerta as outras mulheres.

 

GIOVANA

- É a polícia, minha gente! 

RAVENA

- Não vamos recuar. Continuaremos lutando pelos nossos direitos!

(gritando no megafone)

- Chega de machismo! Exigimos respeito! 

 

Todas acompanham Ravena, unindo os braços e formando uma barreira para enfrentar a polícia, enquanto repetem em alto e bom som: "Chega de machismo! Exigimos respeito!". Laura, perdida em pensamentos, veste sua blusa e sai de fininho.

 

GIOVANA

- Pra onde cê tá indo, Laura? 

LAURA

- Vou atrás de Maciel. Se Ravena perguntar por mim cê diz que não sabe pra onde fui. 

GIOVANA

(falando sozinha após a saída de Laura)

- Oxente, ela enlouqueceu! 

 

CENA 02/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ TARDE 

Jana e Cássia conversam na recepção enquanto fazem os seus trabalhos.

 

JANA

- Ah, cê não me contou! Você e Dr. Maurício como tão? E o cinema em casa, rendeu? 

CÁSSIA

(com ironia)

- Rendeu! Óh se rendeu! Oh nega, preparei aquele jantar maravilhoso. Cê tinha que ver, viu? Até vinho comprei, menina. Arrumei a sala, com incenso, velas, um clima bem sugestivo. Não sabe? Até os filmes que escolhi eram sugestivos. E o homem nada, se fazia totalmente de sonso. Resolvi então ser direta, né? Cheguei pra ele e dei a real. 

JANA

- Ó paí! Sério mesmo? Mas diga aí, o que aconteceu? 

CÁSSIA

- Ele foi embora! 

JANA

- Ah não Cássia! Creio nisso não, viu? 

CÁSSIA

- Pois acredite, minha linda. Foi exatamente isso que ele fez. Disse ser apaixonado pela a outra e não queria me usar. Oh moça, mal sabe ele que tudo que queria era ser usada, molestada, abusada... 

JANA

(desconfortável)

- Não fale isso Cássia. Cê não sabe o que é ser abusada. 

CÁSSIA

(caindo em si)

- Oh nega, desculpe. Realmente falei besteira, né? 

JANA

- Tudo bem, sei que sua intenção foi outra... Mas venha cá, cê conseguiu descobrir se a tal mulher é a Dra. Beatriz mesmo ou não? 

CÁSSIA

- Cê tava certa, ele confirmou. É isso mesmo, Dra. Beatriz é a grande paixão dele. 

 

CENA 03/ INT/ CASA DO MACIEL/ SALA/ TARDE 

Maciel entra em casa furioso, sua expressão de raiva refletida no espelho ao notar seu olho inchado. Ele aperta os punhos e encara a si mesmo com ódio.

 

MACIEL

(falando sozinho)

- Maldita! Desgraçada! Isso vai ter troco, viu véi? 

 

Laura entra na sala logo em seguida, seu olhar se fixando em Maciel. Ela para diante dele, analisando seu rosto e ele a olha com ódio. 

 

MACIEL

- Que foi aquilo, hein? Que tu tava fazendo ali, nua? Me diga, Laura? 

LAURA

(desconversando)

- Seu olho tá inchado, vou pegar um gelo pra por aí.

 

Laura começa a se afastar, indo em direção à cozinha, ao passar ao lado Maciel segura seu braço com força. 

 

MACIEL

- Tu tava no meio da rua nua. Que cê tá querendo, Laura? Que palhaçada era aquela? 

LAURA

- Solte meu braço, já te falei que isso me machuca! 

 

Maciel, finalmente, solta o braço de Laura, permitindo que ela pudesse se explicar. Ela respira fundo e começa a falar, tentando transmitir seus sentimentos. 

 

LAURA

- Se cê ainda não entendeu o que foi aquilo, te explico. Aquilo é um protesto feminista contra atitudes machistas como essa sua aqui, por exemplo. 

MACIEL

- Ah, claro! Mas a sapatona dá um soco na minha cara, tá tudo certo, né mesmo? 

LAURA

- Não. Não tá nada certo Maciel, por isso tô aqui. Mas cê também não tinha nada que ir lá. 

MACIEL

- Cê é que não tinha que tá lá, Laura. Ainda mais daquele jeito, com os peitos de fora na frente de todo mundo. Cê acha que é fácil pra eu ver a minha mulher ali naquela situação. 

 

Laura respira fundo, tentando manter a calma diante das palavras de Maciel, e começa a argumentar com firmeza. 

 

LAURA

- Maciel, cê tem que entender o seguinte, viu véi? Os tempos mudaram, nós mulheres não vamos mais aceitar atitudes escrotas e machistas de homem nenhum não. Aquele protesto que fizemos, foi um gesto de apoio em prol de uma garota, que foi estuprada pelo o próprio padrasto. Tem ideia do que é isso? A nudez e o uso de algumas roupas sensuais, foi uma forma que encontramos de passar a mensagem e mostrar que o nosso corpo nos pertence. 

 

Maciel fica sem graça ao ouvir Laura falando da garota que foi estuprada. Logo ele remete aquela situação a realidade a qual ele vivia. Mas na sua história ele não era a vítima e sim o algoz. 

 

MACIEL

- Não sou machista, viu? Jamais faria algo desse tipo. Só fiquei com ciúmes de ti, Laura. Oh minha linda, eu lhe amo, viu? Custa cê entender isso?

 

Laura suaviza seu olhar e aproxima-se de Maciel, buscando acalmar a situação. 

 

LAURA

- Claro que lhe entendo, meu amor. Não tô lhe comparando com ninguém não. Quem faz algo desse tipo é um monstro, não merece nem existir. Agora venha cá, deixa eu colocar um gelo nesse seu olho inchado.

 

Laura gentilmente puxa Maciel pelo braço até a geladeira, onde pega um pedaço de gelo, envolve-o em um pano e delicadamente o posicionou sobre o olho de Maciel.

 

MACIEL

- Ai! Vá com calma!

 

Laura sorri e tenta confortá-lo enquanto o gelo começa a surtir efeito. 

 

 LAURA

- Te acalme homem! O gelo é bom pra diminuir o inchaço, viu? 

 

CENA 04/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DO MAURÍCIO/ TARDE 

Maurício está sentado atrás de sua mesa, enquanto a paciente e seu marido estão sentados em frente a ele. Ambos transbordando felicidade. 

 

MAURÍCIO

- Bem, ocorreu tudo certo. Parabéns mainha, cê tá grávida. 

MULHER

- Nossa, tô feliz por demais. Obrigada doutor! 

HOMEM

- Muito obrigado, viu doutor? 

 

O casal levanta-se da cadeira e começa a sair da sala, exibindo sorrisos radiantes de alegria. Enquanto isso, Cássia entra na sala. 

 

MULHER
- Nosso filho tá aqui dentro, meu amor. Não tô aguentando de tanta felicidade.
 

CÁSSIA

- Parabéns, tenham um bom dia! 

 

O casal sai da sala, e Cássia se aproximou da mesa de Maurício, entregando-lhe a agenda. Maurício olha para ela, agradecido. 

 

MAURÍCIO

- Oi, Cássia! 

CÁSSIA

- Aqui tá a sua agenda Dr. Maurício. A paciente que viria agora a tarde ligou desmarcando. O senhor tá com a agenda livre, não tem mais pacientes pra hoje. 

 

Maurício pega a agenda das mãos de Cássia, examinando-a brevemente. 

 

MAURÍCIO

- E não tem nenhum encaixe? 

 

Cássia balança a cabeça negativamente, preparando-se para sair da sala. 

 

CÁSSIA

- Pra hoje não. Com licença! 

MAURÍCIO

(chamando)

- Cássia! 

 

Cássia para e volta-se para Maurício, um tanto surpresa, mas mantendo uma expressão compreensiva.

 

 

MAURÍCIO
- Eu acho que lhe devo um pedido de desculpas, né mesmo?
 

CÁSSIA

- Tá tudo bem, se avexe com isso não. Não tem que se desculpar por nada. Acho que fui eu que fantasiei um pouco as coisas, né? Torço muito pra que o senhor e a Dra. Beatriz consigam se entender. 

MAURÍCIO

- É chata demais essa situação, não sabe? Cê preparou um jantar maravilhoso, preparou uma sessão de filme ótimo. E eu acabei não suprindo as suas expectativas. Quero que cê entenda que eu gosto de você, mas não posso correr o risco de brincar com os seus sentimentos... 

 

Cássia interrompe Maurício, com um tom tranquilo, mas firme.

 

CÁSSIA

- Maurício, tá tudo bem, de verdade. Oh moço, em momento algum eu disse que tava apaixonada por cê. Eu só tava a fim de curtir a noite, só isso. Tá me entendendo? Era só uma questão de tesão, meu amor, tem nada a ver com o coração não. Viu? 

 

Maurício assente, compreendendo as palavras de Cássia. 

 

MAURÍCIO

(sem graça)

- Acho que entendi. De toda forma, aceita minhas desculpas. 

CÁSSIA

- Desculpas aceitas. Agora vamos cuidar do nosso trabalho que é o que interessa, né mesmo? Com licença. 

 

Cássia sorri gentilmente para Maurício e sai da sala, deixando-o refletindo sobre a situação e agradecido pela compreensão da colega. 

 


CENA 05/ EXT/ RUA/ TARDE 

O protesto havia chegado ao fim, e Ravena está sentada em uma calçada, organizando seus pertences em uma mochila. Giovana se aproxima, ficando ao seu lado, pronta para ajudar. Elas estão em uma área aberta da rua, rodeadas por outras ativistas que também estão se preparando para ir embora. Giovana estende a mão para pegar alguns itens que Ravena estava guardando na mochila, enquanto começa a conversar. 

 

GIOVANA

- Então agora o protesto acabou? 

RAVENA

- Por hoje sim, mas a nossa luta tá só começando. Foi um protesto bom, supriu as minhas expectativas. 

 

Enquanto fala, Ravena continua a colocar seus pertences na mochila, organizando-os cuidadosamente. 

 

RAVENA

(continuando)

- Apesar que acho que deveríamos ter agitado mais, viu? Principalmente depois que a policia chegou. Porém, também fiquei o tempo todo olhando para os lados, tentando achar a Laura. 

 

Giovana pega alguns cartazes e começa a enrolá-los, ajudando Ravena a guardar tudo de forma organizada. 

 

GIOVANA

- Pois é, ela sumiu né? 

 

Ravena para por um instante, olha para Giovana balançando a cabeça. 

 

RAVENA

- Ela não sumiu, ela foi atrás dele. Laura vive em um relacionando abusivo e não se dá conta. Mas tudo bem, viu? No próximo protesto com certeza vamos ser um pouco mais agressivas e vamos agitar bem mais do que fizemos aqui hoje... E queria muito que cê tivesse conosco, Giovana. Afinal a nossa luta é em benéfico a todas nós mulheres. Principalmente as mulheres pretas como cê. 

 

Giovana sorri, segurando os cartazes enrolados em seus braços, pronta para ajudar Ravena. 

 

GIOVANA

- Claro, gostei muito do movimento. Pretendo participar, sim. Acho que já passou da hora da nossa sociedade acordar e entender que mulheres e homens têm os mesmos direitos. 

RAVENA

- Isso mesmo. Principalmente o direito sobre o nosso próprio corpo, né mesmo? Porque até isso é nos tirado. 

 

Ravena termina de arrumar suas coisas e levanta do chão, erguendo o braço, como um gesto de força e determinação.

 

RAVENA

- Chega de machismo! 

 

Giovana também levanta o braço e as duas riram descontraídas, ao repetir a frase “chega de machismo”. 

 

CENA 06/ INT/ OFICINA DO JORGE/ TARDE 

Roseno está deitado embaixo de um carro, realizando reparos mecânicos, quando Jorge se aproxima. Ao ouvir a voz de Jorge, Roseno desliza para fora de baixo do carro, permanecendo deitado no chão, e começa a conversar com o amigo.

 

JORGE

- Já tô de saída, fecha tudo aí. 

 

Roseno ergue o tronco, apoiando-se nos cotovelos, e olha para Jorge. 

 

ROSENO

- Oxente man! E ondé que cê tá indo? 

JORGE

- Hoje eu descubro onde a Dra. Beatriz mora, viu Roseno? 

 

Roseno abaixa um pouco o tronco, apoiando-se nas mãos, mantendo o olhar fixo em Jorge. 

 

ROSENO

- Bicho cê tá procurando encrenca pro seu lado, hein? Cê nem sabe direito se essa mulher é solteira ou se ela tem alguém. 

 

Jorge dá um passo à frente, ficando mais próximo de Roseno, com uma expressão confiante. 

 

JORGE

- Pois eu sei. Ela é solteira, solteiríssima, viu? Por enquanto, por que logo ela estará casada comigo. 

 

Roseno, ainda deitado, arqueia as sobrancelhas, surpreso com a afirmação de Jorge. 

 

ROSENO

- Casada com cê? Ó paí, véi! Isso que chamo de otimismo, viu? 

 

Jorge dá um sorriso determinado, vira-se e começou a se afastar, caminhando pelo espaço da oficina. 

 

JORGE

- Anote isso meu caro Roseno, aquele mulherão ainda vai ser meu. Tá sabendo?

(saindo)

- Fui! 

 

Roseno apoia-se nas mãos, erguendo um pouco mais o tronco, e fica olhando enquanto Jorge sai da oficina. Ele balança a cabeça, impressionado com a obstinação e ilusão de Jorge.

 

ROSENO

(falando sozinho)

- Esse aí tá iludido, viu pae? 

 

A oficina permanece com a atmosfera típica de um ambiente mecânico, repleto de carros, ferramentas e peças automotivas espalhadas ao redor. 

 

CENA 07/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ TARDE 

Moisés está sentado em uma poltrona, concentrado na leitura da bíblia. Raimunda já está de pé, indo em direção à porta, enquanto Rebeca brinca no chão com suas bonecas.

 

RAIMUNDA

(abrindo a porta)

- Irmã Eliete! 

ELIETE

- A paz do senhor irmã Raimunda! 

RAIMUNDA

- A paz do senhor! 

ELIETE

- A paz do senhor pastor Moisés! 

MOISÉS

- A paz irmã. 

RAIMUNDA

- Pois entre, fique a vontade. 

 

Eliete foi entrando e já indo em direção a Moisés. 

 

ELIETE

- Desculpe por ter vindo assim sem avisar. Mas vim em nome do nosso Senhor, para ajudar o meu pastor a resgatar a ovelha perdida. 

RAIMUNDA

- Mas de que ovelha a senhora tá falando, irmã? 

REBECA

- A tia Eliete comprou uma ovelhinha mainha? Que fofinha, eu quero ver. 

 

Raimunda sorri para a ingenuidade da filha, enquanto Eliete dirige um olhar repreensivo para a criança. 

 

ELIETE

- Essa menina é uma graça. Só fala asneira, né? 

REBECA

- Obrigada. 

ELIETE

- Mas a ovelha em questão se trata de sua filha, a Laura. 

REBECA

(abismada)

- Vale- me Deus! Laura foi transformada em ovelha? 

MOISÉS

- Rebeca minha filha, vai brincar vá... A senhora não precisava ter dado o trabalho, irmã. 

ELIETE

- Imagine meu pastor. Quando uma ovelha se desvia do bando, temos que deixar as noventa e nove para trás e ir atrás da que desviou, né mesmo? Vamos atrás da sapatona masculina buscar Laura, nem que seja a força. 

RAIMUNDA

- Pelo o amor de Deus irmã Eliete, trazer a minha filha a força não! 

MOISÉS

- Irmã Eliete tá certa. Hoje Laura volta pra casa nem que seja arrastada. 

 

Raimunda olha com desespero para Moisés, preocupada com as possíveis consequências dessa abordagem. 

 

RAIMUNDA

- Varão, olha lá o que cê vai fazer, viu? 

MOISÉS

- Cê não soube educar nossa filha, daí ela virou o que é hoje. Mas para a honra do meu Deus vou trazer Laura de volta, nem que pra isso tenho que usar a força. Não vou deixar meu lar desonrado, né mesmo?

Moisés está decidido a trazer Laura de volta pra casa. O que preocupava Raimunda, pois ela temia o que o marido poderia fazer.

 

CENA 08/ INT/ CASA DO RAVENA/ SALA/ TARDE 

Ravena vai chegando, colocando suas chaves em cima da mesa, quando ouve um barulho vindo do quarto de Laura. Ela se aproxima e ver Laura arrumando suas malas. 

LAURA

(ao ver Ravena)

- Oi Ravena! E aí? Então o protesto já terminou, foi?

 

Ravena tem um olhar triste ao encarar Laura. 

 

RAVENA

- Sim. A polícia tentou nos impedir, né? Mas a gente conseguiu passar o nosso recado. Uma pena cê não ter ficado até o final. 

LAURA

- Quero lhe agradecer por tudo que cê fez por mim, viu? Mas tô indo morar com Maciel. 

RAVENA

- Laura cê tá completamente cega por esse cara. E isso não vai lhe fazer nada bem. 

LAURA

- Maciel disse que vai se casar comigo no papel e tudo, e eu aceitei. Oh Ravena, nós duas temos pensamentos bem diferentes, né mesmo? Sobre muitas coisas. Eu admiro muito seu trabalho dentro do feminismo. Mas particularmente não tô preparada pra isso. Oxente, quero me casar, quero construir uma família. E sei que com o Maciel terei tudo isso. 

RAVENA

- Acho que cê entendeu errado, viu Laura? O feminismo não impede cê de ter uma família não. Mas enfim, que posso eu dizer né mesmo? Cê já tá decidida. 

LAURA

- Tô sim. Desta vez vai ser diferente, tenho certeza. 

 

Laura pega sua mala e se encaminha para a saída. No entanto, para na porta e olha para Ravena. 

 

LAURA

- Vai ficar algumas coisas minhas aí, vá bem? Depois volto para buscar. 

RAVENA

- Essa casa vai tá sempre de portas abertas pro cê. Volte sempre que quiser, ou precisar. 

 

Laura deixa a mala no chão e, em um impulso emocional, se aproxima de Ravena e a abraça com força.

 

LAURA

- Obrigada por tudo, viu nega. Cê é uma pessoa incrível. 

RAVENA

- Cê também é incrível. E eu... eu me importo muito com cê. Uma pena que é inconsequente e não consegue enxergar o mal que tá se enfiando. 

LAURA

(balançando negativamente a cabeça)

- Desta vez vai ser diferente, cê vai ver. 

 

Os olhares se encontram, revelando uma conexão profunda e reprimida. Nesse instante, Ravena, impulsionada por seus sentimentos, leva sua mão delicadamente ao rosto de Laura, acariciando sua pele. 

 

RAVENA

- Tomara que cê esteja certa. Não quero lhe ver sofrendo. 

 

O silêncio se insta por um breve momento, preenchido apenas pela respiração entrecortada de ambas. Os lábios de Ravena se aproximam lentamente dos lábios de Laura, em um gesto de entrega e desejo contido. No entanto, no último instante, Laura se esquiva, rompendo aquele momento tão íntimo. 

 

LAURA

(se afastando de Ravena)

- Tô indo nessa. Tchau! 

RAVENA

(decepcionada)

- Tchau...

 

Ravena fica triste com a atitude de Laura. Ela está realmente apaixonada pela amiga. Senta-se na cama e abraça o travesseiro, acariciando-o como se estivesse acariciando Laura. A tristeza toma conta de seu semblante. 

 

CENA 09/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ TARDE 

Maciel está inquieto, caminhando de um lado para o outro, enquanto Rato está de pé. Valdomiro permanece mais calmo, apoiado em uma caixa próxima, ouvindo atentamente a conversa. 

 

MACIEL

(virando-se para Rato)

- Cês estão malucos? O risco é grande! É uma quantidade de queijo muito alta! 

RATO

- É arriscado, sim. Mas vale a pena. Vai por mim, se a gente fazer direitinho vai dá certo, viu? E aí meu caro, a gente vai se fartar de grana, pae. 

 

Valdomiro, com um olhar mais cauteloso, interrompe Rato com um gesto de mão. 

 

VALDOMIRO

(negando com a cabeça)

- Também achei arriscado. Mas a gente vai conseguir bolar um plano para enganar os canas. 

 

Maciel continua inquieto, passando a mão pelos cabelos nervosamente. 

 

MACIEL

- Não tô gostando disso, tô achando tudo muito armengado. Tamo arriscando muito, a casa pode cair, viu? 

RATO

(avançando na direção de Maciel)

- Qualé parça? Essa nega tá fazendo mesmo tua cabeça, né mesmo? Só pode ser isso, né? Porque antes tu mergulhava de corpo e alma nos nossos lances... Qualé? Pega a visão, a vida é feita de risco, mano velho. 

MACIEL

(passando a mão pelo rosto)

- Laura não tem nada a ver com isso. Acontece que não quero ser preso. 

RATO

(aproximando-se mais de Maciel)

- Quem é que quer, maluco? Presta atenção que vou lhe dá a letra, vou explicar direitinho como vai rolar. Pega a visão! A gente vai fazer os queijos, e desta vez rechear todos eles. Tá entendendo? 

MACIEL

- Oxe, mas o combinado era um em cada dez queijos. 

RATO

- É barril, viu véi! Presta atenção aqui desgraça! Agora a coisa mudou, a grana aumentou. 

MACIEL

- Isso vai dá treta. 

RATO

- Cala a boca e presta atenção, que ainda não terminei.

(mostrando o dinheiro)

- Olha isso aqui! Hã? É muito dinheiro, pae. Só temos que trabalhar duro para conseguir mais. 

VALDOMIRO

(incitando)

- Deixe de arrodeio e continua a contar o plano, Rato. 

RATO

(virando-se para Maciel)

- A gente vai fabricar os queijos e entregar pra eles. São eles que vão levar a carga pra Venezuela. A nossa função é só fabricar os queijos. Tá me acompanhando? 

 

Maciel olha fixamente para Rato, absorvendo cada palavra, enquanto Valdomiro permanece de braços cruzados, confiante na estratégia. 

 

MACIEL

- bem. Agora me diga, quantos queijos eles vão querer? 

RATO

(coçando a barba)

- Três caminhões lotados? 

MACIEL

(apavorado)

- É o quê, rei? Ave Maria é muito queijo! Tá de baratino pro nosso lado, é Rato? Onde vamos conseguir fazer queijo para encher três caminhões? 

RATO

(colocando a mão no ombro de Maciel)

- Pensa na grana que isso vai dá, meu brother. Seu Valdomiro aqui, ó... Já tá mexendo os pauzinhos para conseguir a matéria prima. E a gente vai ficar rico. Mas se ligue direirinho, seu jumento. Não são literalmente três caminhões lotados com nossos queijos não, viu? O nosso vai tá infiltrado no meio dos outros. Tá sabendo? 

MACIEL

(respirando fundo)

- Vou entrar nessa só porque tô precisando de uma grana, tenho que dá um jeito na minha vida. Mas depois dessa entrega, tô fora. Entenderam bem? Depois dessa, tô fora. 

 

Maciel olha para o dinheiro que Rato exibe, uma mistura de medo e tentação em seu rosto. Valdomiro, por sua vez, mantém a serenidade, confiando no sucesso do plano, enquanto Rato exibe um sorriso de satisfação. 

 

CENA 10/ EXT/ RUA/ EM FRENTE À BIO IN VITRO/ TARDE 

Jorge está escondido em seu carro, um pouco afastado da clínica, observando atentamente a entrada. Seus olhos fixos na porta da Bio In Vitro, esperando o momento certo para agir. Beatriz sai da clínica, apressada e distraída, segurando uma pasta em uma das mãos. Ela destrava o carro e entra.

 

CENA 11/ INT/ CARRO DE BEATRIZ/ TARDE 

Beatriz liga o som, uma música animada começa a tocar, preenchendo o ambiente. Ela mantém as mãos no volante, movimentando-se de forma animada enquanto cantava junto com a música. Ocasionalmente, olha para o retrovisor, sem perceber a presença de Jorge seguindo-a. 

 

CENA 12/ EXT/ RUA/ FRENTE AO PRÉDIO DE BEATRIZ/ TARDE 

Beatriz estaciona seu carro na vaga designada e desliga o motor. Ela retira a chave da ignição e permanece alguns segundos dentro do carro, aproveitando o momento e se preparando para sair. A rua residencial estava tranquila, com prédios ao redor e carros estacionados.

 

CENA 13/ INT/ CARRO DE JORGE/ TARDE

Jorge observa Beatriz de longe, escondido atrás do volante de seu carro. Seu rosto demonstra determinação e tensão enquanto estuda atentamente cada movimento de Beatriz.

 

JORGE

- Então é aqui que cê mora? Hoje Cê não me escapa, coisa linda. 

 

CENA 14/ EXT/ PLANO GERAL 

O dia quente e ensolarado nas praias movimentadas dá lugar a uma noite encantadora. O pôr do sol colore o céu com tons alaranjados e roxos, enquanto as luzes da cidade se acendem, transformando o Pelourinho em um local animado, repleto de música, dança e a deliciosa comida baiana. Ao mesmo tempo, um imponente trio elétrico ganha vida, atraindo multidões que pulam e dançam ao som do axé, criando uma atmosfera de pura energia e alegria na cidade. Salvador se entrega à celebração da vida, fazendo jus à sua fama de cidade da folia. 

 

CENA 15/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Ravena está sentada no sofá assistindo TV quando ouve batidas na porta. Ela levanta e vai em direção a porta.

 

RAVENA

- Já vai!

(depois de abrir a porta)

- Boa noite! 

MOISÉS

- Boa noite! 

 

Eliete olha Ravena de cima abaixo, mas não responde nada. 

 

RAVENA

(reconhecendo)

- O senhor é pai de Laura, né isso? 

MOISÉS

- Isso mesmo. 

RAVENA

- Pois entrem, fiquem a vontade. 

ELIETE

(julgando)

- Imagina se vamos entrar nesse antro de perdição. Tantas orgias que devem acontecer ai dentro, viu? Tá amarrado em nome de Jesus! 

RAVENA

- É o quê, mulher? Aqui é uma casa de respeito minha senhora. Tá pensando que isso aqui é o quê? 

MOISÉS

- Onde tá a minha filha? Não iremos sair daqui sem ela. A senhora poderia ter a gentileza de chamá-la? 

RAVENA

- Em primeiro lugar, exijo que essa senhora, que nem se quer se apresentou, respeite minha casa. E em segundo lugar, sinto muito informar para o senhor, mas Laura tá mais aqui não. 

MOISÉS

(estranhando)

- Oxente, como ela não tá mais aqui? Pra onde minha filha foi? 

RAVENA

- Não sei. Só sei que ela arrumou as coisas dela e picou a mula daqui. 

MOISÉS

- Mas isso não tá certo. Onde já se viu? Essa menina não pode sair pulando de casa em casa como se não tivesse donde morar. Vou ter que dá uma boa lição em Laura, viu? 

ELIETE

(duvidando)

- Isso é o encardido querendo nos enganar, pastor Moisés. Tenho certeza que Laura tá escondida aí dentro. 

RAVENA

 (dando passagem)

- Pois fique a vontade, viu? Pode entrar e olhar bem minha senhora. 

ELIETE

- Pois farei isso mesmo. Tô brindada com a armadura de um cristão e o inimigo não tem vez comigo. Se saia de minha frente! 

 

Eliete entra feito um furacão e já foi vasculhando toda a casa de Ravena. Moisés fica do lado de fora e Ravena mantem-se na porta. 

 

RAVENA

- - É barril, mereço isso não! E o senhor pastor, não vai entrar também? 

MOISÉS

- Até devia, mas prefiro acreditar. Se a moça tá dizendo que  minha filha não tá aí, acredito... Mas venha cá, me diga a verdade, ondé que Laura tá? 

RAVENA

- Bem, a casa onde ela tá não sei. Só sei que ela tá com um namoradinho. Arrumou as coisas dela e saiu daqui dizendo que iria morar com ele. 

MOISÉS

- Misericórdia meu Deus, que fiz eu para merecer um castigo desses? Essa menina só pode tá testando a minha fé. 

ELIETE

(retornando)

- Aqui ela não tá, pastor. 

RAVENA

- Não foi o que lhe disse? 

ELIETE

- Mas o cheiro do pecado dá pra sentir de longe. Só de imaginar as nojeiras que devem rolar aqui dentro. 

RAVENA

(debochando)

- A senhora tá muito interessada em saber o que rola aqui dentro, né mesmo? Vamos fazer o seguinte, viu? Me passa o seu número? Quando eu estiver em minhas orgias lhe chamarei pra participar, já que ficou tão interessada. 

ELIETE

(arregalando os olhos)

- Tá repreendido em nome de Jesus. Vai de retro satanás, não me mistura em suas artimanhas! 

 

Ravena se acabava de rir com as lorotas de Eliete. 

 

RAVENA

(com desprezo)

- Vai de retro a senhora e não aparece mais aqui! 

MOISÉS

- Vamos embora irmã Eliete, aqui já vimos que a Laura não tá. Mas vou encontrar minha filha. Se Deus tá testando a minha fé, vou provar a ele a minha fidelidade. 

 

Agora Moisés está decidido a trazer Laura pra casa de qualquer forma. E Eliete é claro, lhe dava total apoio. 

 

CENA 16/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO/ NOITE 

Jana espalha algumas roupas de bebê sobre a cama, arrumando-as com carinho. Ela se senta ao lado, acaricia a barriga com um olhar admirado. Giovana entra no quarto e seus olhos se iluminam ao ver todas aquelas roupas de recém-nascido. 

 

GIOVANA

(encantada)

- Nossa Jana, que coisinhas mais lindas! 

JANA

(sorrindo)

- Passei na loja e não resisti, comprei.

(pegando um macacãozinho)

- Olha isso aqui! Imagina um bebezinho aqui dentro, Giovana. Tô tão ansiosa pela chegada dele. 

GIOVANA

(tocando as roupas suavemente)

- A vida é mesmo irônica, né? Cê sempre desejou ser mãe. E olha de que forma que isso aconteceu. 

JANA

(suspirando)

- É lamentável a forma que tudo isso aconteceu. Mas não quero mais me preocupar ou ficar lembrando de como ele foi gerado. Quero focar em como ele será criado. E meu filho vai ser criado cercado de amor e carinho, né mesmo? Eu daria minha vida por essa criança. Como sonhei com isso, Giovana!

 (acariciando a barriga emocionada)

- Ele tá aqui dentro, meu filho tá crescendo aqui dentro de mim. Agora é real. E só isso importa. 

GIOVANA

- Cê tá certa.

(se agachando diante da barriga de Jana)

- E titia também vai encher esse pimpolhinho de amor e carinho, viu?

 

Giovana se senta no chão, permanecendo próxima à barriga de Jana, e começa a acariciá-la suavemente.

 

JANA

(animada)

- Oxente, acho que mexeu! 

GIOVANA

(surpresa)

- Tá de migué, é? Senti nada. 

JANA

(emocionada)

- Mexeu sim, eu senti!

(com lágrimas de alegria nos olhos)

- Meu filho mexeu, Giovana! 

 

As duas compartilham um momento de conexão, festejando cada movimento que a criança fazia.

 

CENA 17/ INT/ AP DA BEATRIZ/ NOITE 

Beatriz está sentada no sofá, folheando uma revista quando ouve a campainha tocar. Ela se levanta e vai em direção à porta, curiosa para ver quem está ali. Ao abrir, depara-se com um entregador segurando um belo buquê de flores.

 

BEATRIZ

 (surpresa olhando para o buquê)

- Ave Maria! Flores para mim?

 (sorri e pega o buquê)

- Obrigada.

 

O entregador apenas acena com a cabeça em resposta e lhe entrega o buquê. Beatriz observa o entregador se afastar e, ao fechar a porta, analisa as flores com admiração. 

 

BEATRIZ

(assim que o entregador sai)

- Mas que flores danadas de lindas!

(examina os detalhes)

- Não tem um cartão, não tem um remetente, não tem nada. Oxente, será que foi aquele mecânico indecente?

(arqueia a sobrancelha com um sorriso malicioso)

- Ele não teria essa delicadeza.

(mudando de humor)

- Ou melhor, essa ousadia, né? Como se atreve a mandar flores pra mim? 

 

Ela caminha pela sala, com as flores nas mãos, e começa a imaginar diferentes possibilidades de quem poderia ter enviado o presente. Com um misto de curiosidade e indignação. 

 

CENA 18/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE 

Raimunda está sentada no sofá, angustiada, com as mãos trêmulas apertando seu avental. Eliete permanece em pé, ao lado de Moisés, transmitindo um ar de devoção e prontidão.

 

RAIMUNDA

(com voz chorosa)

– Como assim ela não tá lá? Pelo o amor de Deus onde a minha filha tá? 

ELIETE

– Realmente lá ela não tá. Entrei na casa da pecadora, vasculhei canto por canto. Cheguei abrir até o guarda-roupa pra ver se encontrava as roupas de Laura, né mesmo? Mas não tinha nada. Deus sabe do medo que tive de encontrar certas coisas lá. Ainda bem que não vi nada, Deus poupou os meus olhos disso. 

MOISÉS

(ríspido)

– Irmã Eliete, vigiai, olha os pensamentos impuros. 

ELIETE

– O senhor tá certo pastor, começarei hoje mesmo um jejum em prol disso. 

 

Raimunda, entre soluços, se segura em seu avental, como se buscasse algum conforto. 

 

RAIMUNDA

– Tô tão preocupada. Ela poderia pelo menos atender o telefone, dá alguma notícia. 

MOISÉS

 – Isso só pode ser o apocalipse, Deus tá testando minha fé. Se Deus tivesse colocado do meu lado uma mulher sábia, que soubesse educar os filhos...

(olhando com rigidez para Raimunda)

 - “Toda mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derriba-a com as suas mãos”. Não sou eu que estou dizendo, é a palavra de Deus, tá lá em provérbios. 

RAIMUNDA

 (chorando)

- Não fale assim varão. Sempre zelei tanto por nossa família. Meu Deus será que Laura tá pelo menos indo pro colégio? 

 

Moisés caminha até a janela, observando a rua enquanto tenta controlar sua própria angústia. 

 

MOISÉS

- Pois se ela tiver indo pro colégio eu a encontro, e a trago de volta para casa. 

 

Eliete aproxima-se de Moisés, demonstrando sua devoção e determinação. 

 

ELIETE

(incentivando)

- O senhor tá certo meu pastor. É lá que o senhor vai encontrar sua filha. Se precisar de ajuda pode contar comigo, viu? Sou uma serva, tô aqui pra servir. 

 

CENA 19/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ NOITE 

Laura está arrumando as suas coisas no guarda-roupa de Maciel. Ela dobra cuidadosamente as peças e as arrumava de maneira organizada.

 

LAURA

(satisfeita)

– Prontinho, arrumei todas as minhas coisas no guarda-roupa. 

 

Maciel está deitado na cama, observando Laura com um olhar de admiração. 

MACIEL

(sorrindo)

– Tô tão feliz que tu aceitou vim pra cá. A gente vai ser muito feliz meu amor, cê vai ver. 

 

Laura sobe na cama, dá um beijinho em Maciel, antes de se acomodar em seus braços, mantendo a conversa. 

 

LAURA

– Tô apostando nisso! Maciel, mudei toda minha vida por tua causa, viu?. Saí da casa de meus pais e agora saí da casa de uma pessoa maravilhosa que sempre me acolheu. 

MACIEL

– Ela te acolheu, tu sabe muito bem porque, né Laura? 

LAURA

(virando-se e olhando pra Maciel)

- Não é sobre isso que quero falar. Não são os sentimentos de Ravena e sim os meus. Tô completamente apaixonada por cê, Maciel. 

MACIEL

(passando a mão pelo o rosto de Laura)

– Oh meu amor, também tou completamente apaixonado por ti, viu? Quero me casar com cê Laura, já lhe dei a letra disso. 

LAURA

– Maciel escute, larguei tudo por você. E eu exijo que cê também faça o mesmo. Não mexa mais com aquelas coisas erradas. Vá bem? Promete pra mim? 

MACIEL

– Prometo, não vou fazer mais nada de errado não. Vou dá um jeito na minha vida minha linda. Tu vai ver, vai sentir orgulho de mim. 

LAURA

– Assim eu espero, viu? 

 

Nesse momento, o telefone de Laura começa a tocar. Ela pega o aparelho e olha para a tela, onde aparece o nome "Ravena" no identificador de chamadas. A expressão de Maciel muda instantaneamente, um misto de ciúme e desconfiança surge em seu rosto. 

MACIEL

(com voz tensa)

– Oxe! Que essa mulher tá querendo a essa hora da noite? 

LAURA

– Sei não! Vou atender e ver o que ela quer. 

 

Maciel toma o celular da mão de Laura com firmeza e desligando, joga o telefone para o lado da cama com raiva. 

 

MACIEL

(autoritário)

– Não! Não quero mais cê se encontrando com essa mulher! Tá me ouvindo? A partir de hoje será só eu e você, não quero mais essa mulher em nosso meio. 

LAURA

Que isso Maciel, tá azuado? Vou retornar a ligação pra Ravena e ver o que ela quer comigo. 

 

Laura tenta pegar o celular, mas Maciel segura sua mão com força, impedindo-a. 

 

MACIEL

(com a voz mais firme)

- Eu lhe proíbo de falar com essa mulher! Tá me ouvindo? 

 

A cena termina com Laura olhando incrédula para Maciel, enquanto ele mantém seu domínio sobre ela, criando um clima de tensão e controle na relação.








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