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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 13

 






Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
RAVENA
MACIEL
RATO
CÁSSIA
MAURÍCIO
VALDOMIRO

Participação Especial:
FIEIS da igreja, LUCAS


CENA 01/ EXT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ LADO DE FORA/ NOITE

Moisés está furioso e pragueja contra Laura, amaldiçoando-a.

 

MOISÉS

(gritando)

- Libertina! Meretriz! Quenga! Cê não é mais minha filha, o diabo que lhe carregue.

 

RAIMUNDA

(chorando)

- Pelo o amor de Deus Moisés, tá todo mundo olhando.

 

MOISÉS

- Deixe que olhem, Raimunda! Deixe o povo ver. Veja igreja.

(olhando para Raimunda)

- É isso que acontece, quando colocamos do nosso lado, uma mulher que se quer sabe cuidar da própria filha. 

RAIMUNDA

- Que culpa tenho eu, varão? Sempre procurei dá o melhor para as nossas filhas. 

ELIETE

- Olhe irmã Raimunda, desculpe eu concordar com pastor Moisés,viu? A senhora é boa, mas também é boba não tem pulso firme. Irmã Raimunda, as Escrituras nos revelam a imagem da mulher virtuosa, que é um exemplo a ser seguido. Em Provérbios, o Senhor nos mostra a importância de uma mulher ser trabalhadora, diligente e sábia em todas as áreas da sua vida. A mulher virtuosa é aquela que se dedica incansavelmente às suas responsabilidades, tanto como esposa quanto como mãe. 

RAIMUNDA

(soluçando)

- Mas irmã Eliete, tudo que faço é pensando no bem da minha família.

(virando-se para Moisés)

- Só queria o melhor pra a nossa filha, Moisés. Eu tentei, eu faço tudo conforme o Senhor nos manda em sua palavra...

 

Moisés olha para Raimunda com desdém, sem demonstrar compaixão.

 

MOISÉS

- Suas tentativas não foram suficientes. Agora, ela se perdeu pra sempre. E tudo por culpa sua. Laura, não é mais minha filha. Eu jamais a perdoarei por uma vergonha dessa. O salário do pecado é a morte, se ela insiste em viver no pecado, pra mim ela já morreu.

 

ELIETE

- E o senhor tá certo, meu pastor. Já fez tudo o que tinha que fazer. 

 

 

As pessoas ao redor, que ouvem a discussão, observam a cena com uma mistura de curiosidade e incompreensão. Algumas olham com compaixão para Raimunda, entendendo o sofrimento que ela está passando. Outras, mais fiéis às palavras de Moisés, se mantém em silêncio, mas com um olhar de julgamento para Laura, que já tinha partido com Maciel.

 

 

CENA 02/ INT/ SHOPPING/ PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO/ NOITE

Maurício e Cássia estavam sentados em uma mesa da praça de alimentação, rindo e comentando sobre o filme que acabaram de assistir.

 

CÁSSIA

(animada)

- Ave Maria, Maurício, esse filme foi incrível! Eu adorei aquela cena do Torneio Tribruxo. Foi de tirar o fôlego, viu?

 

MAURÍCIO

(rindo)

- Aquele dragão no torneio foi incrível! Eu não conseguia nem piscar enquanto eles lutavam contra ele.

 

CÁSSIA

(rindo)

- Eu sei!

 

MAURÍCIO

- Fiquei completamente vidrado na tela.

 

 

Cássia para por um instante e fica olhando Mauricio rindo.

 

 

CÁSSIA

- É tão bom poder compartilhar esses momentos com cê, Maurício. Tava com saudade de ir ao cinema contigo.

 

MAURÍCIO
- Eu também gosto. Engraçado, quando tô contigo nem me dou conta do tempo passando. Dá pra ver que cê realmente gosta dos assuntos que a gente conversa, né mesmo? Não fica só fazendo tipo para me agradar.

 

CÁSSIA

- E porque eu faria isso?

 

MAURÍCIO

(sem graça)

- Não sei. Beatriz fazia isso. Sabe quando cê tá empolgado falando sobre algo, mas ao olhar pra pessoa cê ver que a pessoa tá te olhando com cara de paisagem? Beatriz saía comigo, mas o foco dela mesmo era outra coisa. Sexo! Era só nisso que Beatriz focava.

 

CÁSSIA

- Cê gosta muito dela, né?

 

MAURÍCIO

- Pior que gosto, viu Cássia? E nem sei porquê. Nós dois não temos nada a ver... E cê e seu namorado como tão?

 

CÁSSIA

- Ah Lucas, é aquele estilo garotão, vinte e poucos anos. Tá fazendo faculdade de engenharia...

 

MAURÍCIO

- Ah, bacana!

 

CÁSSIA

- Mas sabe quem tá pagando a faculdade dele? O pai. Nunca trabalhou na vida. Tem momentos que me sinto uma velha perto dele. Uns papos nada a ver, parece que não saiu da adolescência.

 

MAURÍCIO

- Aí é complicado, né?

 

CÁSSIA

- Mas gosto dele. Tem momentos que ele é um lord, carinhoso, me faz me sentir uma mulher desejada. Ele me completa, sabe?... Ah, sei lá! Tô deixando a coisa fluir, vamos ver o que vai dá.

 

MAURÍCIO

- Fico muito feliz por vocês. De verdade, viu Cássia?

 

 

CENA 03/ INT/ CASA DO MACIEL/ NOITE

Maciel e Laura vão entrando na casa, se beijando. Ele fecha a porta, mas sem deixar de beijá-la. Laura escora em um móvel, fechando os olhos e mordendo os lábios enquanto inclina a cabeça para trás. Maciel aperta o pescoço dela. Ela abre bem a boca com tesão. Eles se beijam ardentemente. Ela tira a camisa dele, e arranha as suas costas. Maciel pega Laura pelo o colo e a põe deitada em uma mesa e fica com a cabeça na altura da região genital dela. Ele olha pra ela com a cabeça entra as pernas dela. Maciel olha para baixo, afasta a calcinha de Laura para o lado e afunda a cabeça. Com um largo sorriso, Laura passa a mão no rosto, com a boca aberta e inclinando a cabeça para trás. Em seguida, Maciel e Laura se beijam. Ele morde o lábio inferior dela, beijando o queixo e puxando o corpo dela para junto de si. Eles caminham se beijando. Maciel tira a calcinha de Laura que agora está sentada em uma poltrona, ele segue fazendo sexo oral nela. Ela respira fundo. Pela a janela do quarto é possível ver as casas da favela do Calabar. Os dois se beijam. Em seguida os dois são vistos por trás, pelados de pé virados para fora. Maciel joga o sutiã de Laura no chão. Os dois se olham e se beijam novamente. Eles transam. Maciel faz movimento forte de vai e vem por trás de Laura balançando a cabeça no ritmo do movimento. Ela lambe os lábios dele. E eles seguem se beijando.

 


 

CENA 04/ EXT/ APT. DA CÁSSIA/ EM FRENTE AO PRÉDIO/ NOITE

A noite está calma e uma leve brisa sopra, envolvendo Cássia e Maurício enquanto permanecem próximos ao carro. Cássia exibe um sorriso radiante, apreciando a companhia de Maurício.

 

CÁSSIA

(sorrindo)

- Obrigada por ter me deixado em casa, cê como sempre é um fofo.

 

MAURÍCIO

(retribuindo o sorriso)

- Eu que agradeço pelo convite para o cinema. Sinceramente, não sabe como isso me fez bem.

 

CÁSSIA

- Podemos combinar outras saídas, talvez ir ao cinema novamente. Ou quem sabe um jantar, tomar um vinho...

 

MAURÍCIO

(com um sorriso tímido)

- Eu adoraria. Os momentos que passamos juntos são sempre incríveis, viu? Acho que podemos explorar mais essas oportunidades. Cê que acha?

 

CÁSSIA

(se aproximando um pouco mais)

- Nada nos impede. É só me falar quando quiser.

 

 

A proximidade entre eles aumenta, o espaço entre seus corpos diminui gradualmente. Os olhares fixos um no outro, o ar carregado de desejo. E então, finalmente, eles se entregam a um beijo, seus lábios se encontram com suavidade. Cássia sente o toque gentil de Maurício em seu rosto, acariciando-a ternamente. Maurício, porém, se afasta com uma expressão de surpresa e confusão estampada em seu rosto.

 

 

MAURÍCIO

(pensativo)

- Oh Cássia, eu... Pelo amor de Deus, me desculpe. Eu preciso ir embora.

 

 

Cássia, mantém a calma e toca o rosto de Maurício com suavidade, buscando acalmá-lo.

 

 

CÁSSIA

(sussurrando)

- Ei, calma. Tá tudo bem, moço. Se quiser, posso providenciar o vinho e podemos continuar a noite. O que cê acha de subir?

 

MAURÍCIO

(esquivando-se)

- É melhor a gente não correr o risco, de estragar essa noite que foi tão incrível. Né mesmo?

 

 

Ele beija a mão de Cássia em um gesto gentil e se despede.

 

MAURÍCIO

- Mais uma vez, obrigado. E perdão por ter me cedido. Tenha uma boa noite.

 

 

Maurício, com um misto de emoção, entra no carro e parte. Cássia fica ali, observando-o se afastar, sorrindo incrédula pelo o que acabou de acontecer ali.

 

CENA 05/ EXT/ PLANO GERAL

A cena começa com o pôr do sol no Parque da Cidade de Salvador, mostrando sua beleza natural. Em seguida, destaca os Fortes de Salvador, incluindo o Forte da Barra, o Forte de São Marcelo e o Forte de Santo Antônio da Barra, à medida que o sol se põe. A cena passa rapidamente para a Ilha de Maré, revelando suas praias desertas. Há uma transição suave da noite para o dia, com o amanhecer iluminando Salvador e suas atrações históricas e naturais, incluindo os Fortes, o Parque da Cidade e a Ilha de Maré. A cena termina com a cidade despertando para um novo dia.

 

CENA 06/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE JANTAR/ DIA

Genivaldo, Eliete e Giovana estão sentados à mesa tomando café da manhã. Enquanto passa manteiga no pão, Eliete palpita.

 

ELIETE

(fofocando)

- Pastor Moisés praguejou contra Laura e a amaldiçoou na frente de todos. A pobre da irmã Raimunda ficou lá só chorando, sem saber onde enfiar a cara. Mas eu digo e repito, irmã Raimunda é boazinha demais, sempre passando a mão na cabeça de Laura. Deu nisso, né mesmo?

 

 

Genivaldo leva o pão à boca, e dá uma mordida enquanto ouve Eliete.

 

GENIVALDO

(desaprovador)

- Isso não parece ser um comportamento adequado para um homem que se diz pastor, viu Eliete?

 

 

Eliete, com um gesto de frustração, mexe sua xícara de café, criando pequenos redemoinhos no líquido escuro. Enquanto Giovana, com um olhar pensativo, leva uma colher de cereal à boca.

 

 

ELIETE

- E o que cê entende sobre isso, Genivaldo? A nossa sorte que Giovana é uma menina decente. Se ela fosse espevitada igual Laura, estaria aí agora perdida no meio o mundo. E cê na certa achando tudo isso muito bonito.

(virando-se para Giovana)

- Mas minha filha com a glória de Deus tá dentro da igreja, participando dos cultos, ativa no grupo de jovem. Né minha linda? Kaleb me falou que lhe convidou e cê aceitou, viu? Fiquei feliz por demais.

 

GIOVANA

- É... Tô tentando encontrar minha espiritualidade, só isso minha mãe.

 

 

Eliete, com um sorriso cheio de entusiasmo, ergue sua xícara de café para um gole, demonstrando sua satisfação com a situação.

 

 

ELIETE

- Estava aqui pensando, sabe? Já que Laura não vai mais se casar com Kaleb, poderíamos fazer o casamento de Giovana com ele.

 

 

Giovana arregala os olhos, surpresa, e solta a colher que segurava, fazendo-a bater na borda do prato com um pequeno barulho metálico.

 

GIOVANA

(se alterando)

- A senhora só pode tá ficando louca, viu?

 

ELIETE

- Que isso, menina? Oxente, isso é jeito de falar com sua mãe?

 

GENIVALDO

- Eliete, cê tem umas ideias que não tem nem cabimento.

 

ELIETE

- Pois acho a ideia excelente. Vou até conversar com irmão Osvaldo sobre isso. Já pensou, Giovana e Kaleb? Eu já deveria ter pensado sobre isso antes.

 

 

Giovana, levanta da mesa, empurra a cadeira para trás com um leve arrastar e caminha em direção à saída da sala de jantar.

 

GIOVANA

(em tom firme)

- Sinceramente, perdi até o apetite.

 

ELIETE

(depois que Giovana sai)

- Pensa bem minha filha, Kaleb é um menino bom, estudioso... Cês têm muito a ver.

(virando-se para Genivaldo)

- Temos que aproveitar agora, Genivaldo, o momento que ela tá engajada na igreja. Olha o exemplo de Laura, me escute bem...

 

GENIVALDO

(interrompendo)

- Eliete, eu não vou obrigar a minha a filha a se casar com ninguém.

 

ELIETE

- É porque cê não conhece Kaleb. É um menino bom, sempre esteve ali dentro da igreja, participativo, trabalhador. Assim como ela, ele também adora estudar, vive querendo fazer cursinhos. Os dois vão se dá tão bem, homem. Giovana só tem a ganhar nessa história. Deus me revela um casamento promissor entre os dois.

 

GENIVALDO

(se alterando)

- Chega Eliete! Estamos no século XXI, não existe mais essa de casamento arranjado. Se Giovana e Kaleb resolverem se envolver é por conta deles, não vou me meter nisso.

 

ELIETE

- Sabia que não poderia contar com cê. Pois eu vou dá um jeito de fazer o casamento desses dois.

 

 

CENA 07/ INT/ CASA DO MACIEL/ DIA

Os dois estão deitados na cama enquanto conversam.

 

MACIEL

- Agora a gente vai poder ficar junto de vez minha linda. Ninguém vai poder nos separar não, viu? Agora cê é maior de idade, ninguém manda em ti.

 

LAURA

- Nem acredito que não tenho mais que dá satisfação pra aquele misógino de meu pai. Quero ver ele agora arrumar polícia pra vim me tirar daqui.

 

 

Maciel, com um sorriso de confiança olhando nos olhos de Laura.

 

 

MACIEL

- Esquece, isso virou passado. Cê agora é mulher feita, e é minha mulher.

 

LAURA

(rindo animada)

- Sua mulher?

 

MACIEL

- Claro! E o que lhe prometi, vou cumprir. Espere um pouco...

 

 

Maciel, emocionado, pega um anel que está dentro do criado mudo e mostra para Laura.

 

 

MACIEL

- Quero que cê seja minha esposa. No papel tudo certinho, e aí tu aceita?

 

LAURA

(radiante)

- Oxe, nem acredito Maciel, esse anel é lindo por demais. Isso deve ter lhe custado uma nota, viu?

 

MACIEL

- Esquece, tu merece... Mas não me respondeu, quer ou não casar comigo?

 

LAURA

- Claro que quero seu bobo. Senão nem teria fugido contigo. Né não?

 

Laura beija Maciel carinhosamente, expressando sua felicidade e aceitação da proposta.

 

 

CENA 08/ INT/ APT DA CÁSSIA/ QUARTO/ DIA

Cássia está deitada na cama, segurando seu telefone enquanto conversa com Jana.

 

CÁSSIA

(animada)

- Jana, cê não tem noção do que foi aquilo. Que beijo bom, que beijo incrível. Por um instante parecia que eu tava flutuando, viu? Meu desejo era que ele ficasse aqui e que passássemos a noite juntos.

 

 

CENA 09/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ DIA

Jana está sentada no sofá, segurando seu telefone enquanto conversa com Cássia.

 

JANA

(curiosa)

- Eu tô de cara, hein Cássia? Mas venha cá, cê tá aí toda encantada com Dr. Maurício e Lucas nessa história, menina?

 

 

Cássia, com um sorriso tímido, continua a conversa com Jana, enquanto a cena intercala entre as duas.

 

 

CÁSSIA

- Lucas? Que Lucas? Naquele momento eu até esqueci que Lucas existia minha filha. Oh nega, acho que tô dividida.

 

JANA

- Sério mesmo? Então, cê acha que tá gostando de Dr. Maurício?

 

CÁSSIA

- Eu gosto de tá com Lucas. Ele é divertido, é pra cima, jovial... Sem contar que é um tremendo gostoso. Ah minha filha, esse menino faz coisa que cê nem imagina!... Só que com Maurício é diferente. Não sei explicar, a gente se entrosa mais, falamos de coisas que combinam mais comigo. Entende?  Não é aqueles papos bobos, são assuntos mais maduros.

 

JANA

- Resumindo, cê tem tesão por Lucas mas tem paixão por o Maurício. O que te vale mais a pena, o tesão ou a paixão?

 

 

Cássia respira fundo quando a campainha toca, interrompendo a conversa.

 

 

CÁSSIA

- Oh nega, depois a gente se fala mais, viu? Tá tocando a campainha aqui. Tchau!

 

 

Cássia se levanta da cama e caminha em direção à porta.

 

 

CENA 10/ INT/ APT. DA CÁSSIA/ SALA DE ESTAR/ DIA

Depois que Cássia abre a porta ela se surpreende ao ver Lucas parado ali com uma cesta de café da manhã.

 

LUCAS

(beijando Cássia)

- Bom dia minha linda! Olha só o que o papai trouxe!

 

 

Cássia sorri amplamente e se aproxima de Lucas para receber o beijo. Ela segura a cesta de café da manhã com as duas mãos, encantada com o gesto.

 

 

CÁSSIA

- Oxe, mas que belezura! Adorei.

 

LUCAS

- Painho ganhou essa cesta em um rifa que teve no trabalho dele, nem sabia o que fazer com ela. Então pedi para trazer pra cê. Ela não é linda?

 

Cássia sente uma leve decepção ao descobrir a origem da cesta, mas tenta disfarçar.

 

CÁSSIA

- Ah, seu painho foi quem ganhou a cesta? Claro, ela é linda. Entre!

 

 

Lucas entra no apartamento de Cássia com uma expressão animada no rosto. Cássia sorri, fecha a porta atrás dele e segue-o pela sala.

 

CENA 11/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DA GIOVANA/ DIA

Giovana está sentada em sua cama, enquanto seu pai está em pé próximo à porta do quarto.

 

GIOVANA

(preocupada)

- Painho, não vou me casar com Kaleb. Ele é um rapaz incrível, gosto muito dele. Mas não tenho o menor interesse nele. Entende?

 

Genivaldo aproxima-se de Giovana com uma expressão serena no rosto. Ele se senta ao lado dela na cama, transmitindo calma e apoio.

 

GENIVALDO

(compreensivo)

- Não se aborreça com isso. minha filha. A ideia de sua mãe é completamente sem nexo. Cê acha que eu lhe obrigaria a casar com alguém que cê não queira? Cê vai casar, quando quiser e com quem quiser.

 

GIOVANA

(curiosa)

- E se eu não querer casar com ninguém?

 

 

Genivaldo pensa um pouco antes de responder.

 

GENIVALDO

(afetuoso)

- Vai viver sua vida da forma que achar mais justa. Oxente, mas porque temos que ter a obrigação de casar com alguém?... Esse coraçãlzinho ainda não bateu forte por ninguém?

 

 

Giovana desvia o olhar, pensativa, enquanto brinca com um colar em suas mãos.

 

 

GIOVANA

- Ainda não penso em me envolver com ninguém. É estranho, pois as minhas amigas todas já namoraram, algumas até já tão casadas. Tem meninas que estudavam comigo que já tem até filhos. Mas não penso nisso, tem tantas coisas que quero priorizar. O senhor acha que tô errada?

 

 

Genivaldo segura as mãos de Giovana, olhando-a com carinho e compreensão. Ele aperta suavemente suas mãos, transmitindo segurança.

 

 

GENIVALDO

- Claro que não, meu amor. Cê está mais do que certa. A vida não é um roteiro que todo mundo tem que seguir da mesma forma. Cê tem que procurar ser feliz, naquilo que te dê prazer e satisfação. Não se preocupe com as expectativas dos outros, siga seu coração.

 

 

Giovana sorri, sentindo-se reconfortada pelas palavras sábias de seu pai. Ela se inclina em direção a ele, envolvendo-o em um abraço apertado.

 

CENA 12/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DÉPOSITO/ TARDE

Valdomiro, Rato e Maciel estão de pé, posicionados próximos uns aos outros, no centro do depósito.

 

VALDOMRO

(preocupado)

- Que cara é essa, Rato? Diga aí.

 

 

Rato passa a mão pela cabeça, nervoso.

 

RATO

- Deu ruim. Houve uma inspeção rigorosa na fábrica de queijo. Os nossos queijos não puderam ser levados juntos na carga que saiu pra Venezuela.

 

 

Maciel se aproxima, franzindo o cenho em preocupação.

 

 

MACIEL

(angustiado)

- Pelo o amor de Deus, Rato. Fomos descobertos, é isso?

 

RATO

(respirando fundo)

- Por pouco a casa não caiu, viu minha gente? Mas Renato, um dos rapazes que trabalham lá, conseguiu moitar os queijos a tempo, lá no meio dos outros. Não foi pego.

 

Valdomiro olha para o depósito cheio de queijos, pensativo.

 

 

VALDOMIRO

(preocupado)

- E agora, como vai ser? Se os queijos demorar muito eles estragam. E aí, vão ser descartados. Ferra pro nosso lado.

 

RATO

(confiante)

- Fiquem frios, Renato garantiu que sairá outro caminhão em breve, e os nossos queijos serão incluídos nele.

 

VALDOMIRO

(sério)

- Pois manda esse Renato ficar bem atento, viu? Nada pode dá errado.

 

RATO

(assentindo)

- Vai dá tudo certo, vamos confiar, né?

 

 

CENA 13/ INT/ APT. DA CÁSSIA/ QUARTO/ TARDE

Estão Cássia e Lucas deitados na cama, ele está dormindo. Ela levanta e fica sentada na beirada da cama, com os olhos fixos em algum ponto distante. Lucas acorda, ao notar a expressão dela se aproxima carinhosamente, abraçando-a de lado.

 

LUCAS

(afagando o cabelo de Cássia)

- Oie, tudo bem por aí? O que há?

 

 

Cássia pisca algumas vezes, como se voltasse à realidade, e respondeu:

 

 

CÁSSIA

- Tá tudo bem sim.

 

LUCAS

(estranhando)

- Cê ficou estranha de repente.

 

CÁSSIA

- Só um pouco pensativa, nada demais.

(se levantando)

- Vamos levantar, e cuidar da vida?

 

 

Ele segura suavemente o braço de Cássia, fazendo com que ela se sentasse novamente na cama.

 

LUCAS

- Calma aí um aí um tiquinho...

(abraçando Cássia)

- Me diga, que houve?

 

 

Cássia respira fundo e encara o olhar preocupado de Lucas. Ela acaricia seu rosto com ternura antes de falar.

 

CÁSSIA

- Não houve nada, meu bem. Só porque fiquei um pouco pensativa?

 

LUCAS

- Não é só isso... Hoje cê não se entregou direito, parece que fez por fazer a cabeça tava longe. Qual foi minha linda? Tô aqui todinho delicinha pro você. Não me quer?

 

 

Cássia sorri e beija os lábios de Lucas suavemente.

 

 

CÁSSIA

- Desculpe Lucas. Claro que lhe quero. Acontece que tô cheio de coisas pra fazer, minha cabeça não tá muito boa pra essas coisas.

 

 

Lucas fica decepcionado, levanta da cama e começa a se vestir.

 

LUCAS

- Vá bem. Cê hoje não tá muito animada mesmo não. Depois a gente se fala. Ainda tenho que ir lá em painho, ele ficou de me passar um dinheiro pra pagar minha faculdade.

 

CÁSSIA

- Me desculpe mesmo. Prometo lhe recompensar depois.

 

LUCAS

- Vou cobrar, viu?

 

Lucas termina de vestir a calça, calça o sapato e sai do quarto vestindo a camisa. Cássia para por um instante pensativa.

 

LUCAS

(off)

- Não vai nem abrir a porta pra mim?

 

CÁSSIA

(indo até Lucas)

- Claro que sim.

 

 

CENA 14/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ TARDE

Raimunda está sentada na poltrona da sala de estar, com uma expressão desolada no rosto. Seu corpo parece jogado na cadeira, demonstrando seu estado de desânimo. Moisés se aproxima brutamente, segurando uma camisa nas mãos. Seu semblante reflete um misto de irritação e superioridade.

 

MOISÉS

- Oh Raimunda! Olhe só como tá isso aqui? Cê pendurou a camisa no armário sem engomar, foi?

 

RAIMUNDA

(desanimada)

- Oh varão, ando tão distraída que é bem capaz de ter feito isso mesmo, viu? Vou pegar outra camisa pro cê.

 

MOISÉS

(com arrogância)

- Que isso mulher? Que tristeza é essa? Tá doente é?

 

 

Raimunda olha para Moisés com tristeza e preocupação evidentes em seu olhar. Ela respira fundo antes de responder.

 

RAIMUNDA

- Como não ficar triste, Moisés? Não tô conseguindo fazer nada. Tô muito preocupada com nossa filha. Nossa família tá desestruturada. Será que cê não vê?

 

MOISÉS

- Ah, pelo o amor de Deus! Escute bem Raimunda, temos apenas uma única filha, e ela tá lá dentro do quarto brincando com suas bonecas.

 

RAIMUNDA

- Não acredito que cê não consiga ficar nenhum pouco mexido com tudo isso. É de Laura, de nossa filha que tamo falando.

 

MOISÉS

- Oh, já lhe falei, esse assunto tá morto e enterrado. Não quero mais ouvir falar disso aqui dentro dessa casa, Raimunda. Ela escolheu o caminho dela, e aqui ela não pisa nunca mais. E veja bem! Já basta eu ter que trabalhar feito um camelo pra pagar as contas dessa casa. Pois bem, a senhora levante, vá dar uma lavada nessa cara, arrumar a casa e fazer nossa comida. E trate de engomar minha camisa direitinho, pois mais tarde preciso dela.

 

Raimunda, triste e resignada, concorda em cuidar das tarefas domésticas como Moisés havia ordenado.

 

 

RAIMUNDA

- Já vou cuidar disso.

 

MOISÉS

- Estou indo pra igreja, que Deus lhe abençoe.

 

RAIMUNDA

- Que Deus lhe abençoe também.

 

 

Moisés sai da sala, deixando Raimunda sozinha com seus pensamentos pesados. Ela permanece sentada por alguns instantes, antes de se levantar lentamente e seguir para o banheiro, onde lavaria o rosto.

 

CENA 15/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE

Maciel entra em casa, demonstrando o cansaço e a rotina comum de um dia normal. Ele fecha a porta suavemente procurando por Laura.

 

MACIEL

- Laura!

 

Ele caminha pelo corredor, esperando ver sua esposa em algum lugar da casa. Passa pela sala de estar, nota que está vazia, e segue em direção ao quarto.

 

 

MACIEL

- Laura, meu amor, cê tá aí?

 

 

 

Ele para em frente ao guarda-roupa, onde a maleta está escondida. Uma expressão de apreensão se forma em seu rosto enquanto ele respira fundo, pensando no que fazer a seguir. Seus olhos vagam pelo quarto em busca de qualquer sinal de movimento ou perigo. Maciel decide se aproximar da porta, dá uma rápida olhada no corredor, como se quisesse ter certeza de que não está sendo observado. Seus pensamentos estão tumultuados, e ele se vira para encarar o guarda-roupa novamente. Ele hesita por um momento, seus dedos inquietos brincam com o puxador da porta. Decidido, ele encosta a porta, bloqueando a visão do quarto e abrindo o guarda-roupa rapidamente. A maleta está lá, como uma lembrança sombria de seus atos condenáveis. Maciel retira a maleta com cuidado e a coloca em cima da cama. Ele sente o coração acelerado em seu peito enquanto abre a maleta. Seus olhos se enchem de culpa e remorso, mas também de uma estranha excitação que o atormenta. Maciel pega uma fotografia de Jana, e olha fixamente para o rosto dela. A lembrança do momento em que ele a abusou surge em sua mente em um flash, e ele sente um prazer mórbido e doentio com aquelas memórias. Em uma atitude perturbadora, Maciel pega uma mecha do cabelo de Jana e passa por seu corpo, descendo até a região genitália, revivendo a sensação doentia de controle e dominação que o abuso lhe proporciona. Um olhar de perversão se instala em seu rosto enquanto ele fecha os olhos, mergulhando em sua própria depravação. A maleta, cheia de provas de seus crimes, continua ali, testemunha silenciosa de sua monstruosidade.

 

 

CENA 16/ INT/ BOUTIQUE DA RAVENA/ TARDE

Giovana adentra a loja. Ravena está ocupada organizando algumas peças em um manequim no centro do espaço. Giovana caminha em direção a Ravena, que ergue o olhar e sorri ao vê-la.

 

 

GIOVANA

(chegando)

- Olá!

 

 

Ravena se vira completamente para receber Giovana, deixando o manequim de lado.

 

 

RAVENA

- Oi Giovana! Como cê tá?

 

GIOVANA

- Tô bem e cê?

 

 

Enquanto conversam, Ravena continua a arrumar as roupas, dobrando-as cuidadosamente e organizando-as em prateleiras.

 

RAVENA

- Também tô bem, aqui na correria.

 

 

Giovana se aproxima e começa a ajudá-la a dobrar as roupas.

 

GIOVANA

- Imagino... Ficou sabendo de Laura?

 

RAVENA

- O que houve com Laura?

 

GIOVANA

- Ela e Maciel reataram. Ele foi lá na igreja e a raptou na frente de todo mundo. O pai dela, é claro, não gostou nem um pouco. E deixou bem claro que ela não é mais filha dele.

 

RAVENA

- Isso não me surpreende nem um pouco. Laura tá cega por esse rapaz.

 

Giovana nota que Ravena já estava arrumando as coisas na loja, guardando algumas peças em caixas.

 

 

GIOVANA

- Cê já tá arrumando as coisas aí com tanta pressa. Já vão fechar a loja?

RAVENA

- Sim. Fiquei sabendo que vai ter uma procissão ecumênica das igrejas cristãs em prol da vida. Vamos aproveitar pra fazer nossa passeata.

 

 

Giovana franze a testa, preocupada.

 

 

GIOVANA

- Ravena, acho que as coisas não precisam ser bem por aí. Isso pode gerar conflitos e atritos completamente desnecessários.

 

RAVENA

(decidida)

- Desnecessário? Não tem nada de desnecessário não. Inclusive quero bater de frente se for preciso. Lutar pelo direito ao aborto é uma causa que me move, Giovana. Acredito que as mulheres têm o direito de decidir sobre seus próprios corpos e não podem ser limitadas por simples dogmas religiosos.

 

GIOVANA

- Acho que a questão aqui não se trata de dogmas religiosos. Vai muito alem disso, tamo falando de vida. Cê tá aí falando do corpo da mulher, mas ignorando completamente o corpo da criança que tá sendo gerada.

 

RAVENA

- Giovana, agora cê virou cristã é natural cê ter a cabeça mudada. Esses pastores fazem lavagem cerebral. Estamos falando sim de vida... Da vida dessas mulheres que morrem sem ter nenhum atendimento digno. A criança nem existe ainda, é apenas um feto.

 

 

Giovana balança a cabeça, em desacordo.

 

 

GIOVANA

- Meu Deus, Ravena não dá pra entender isso, viu? Essa necessidade de matar, de violar o útero da mulher... Pois quando uma mulher pensa em abortar, ela tá sozinha, algumas vezes sem emprego, tá sofrendo, num relacionamento violento. E quando se dá alternativa e se mostra que há uma saída, ela desiste. Essas mulheres procuram o aborto porque não tem ideia do que é uma vida em formação. O aborto não é uma opção, pelo o contrário é a falta dela. Olhe, vou lhe dizer uma coisa. Já vi mulheres arrependidas de terem feito aborto, mas nunca vi mulheres arrependidas de ter tido filhos. Ravena, não temos que legalizar o aborto o que tem que ser trabalhado é uma forma de acolher essas mulheres que precisam de ajuda.

 

Ravena cruzou os braços e olha para Giovana com um olhar de desdém.

 

RAVENA

- Muito bonitinho seu discurso na teoria, viu minha linda? Mas na prática a realidade é muito mais cruel. E o fato de algo ser ilegal não significa que não aconteça. O aborto clandestino é uma realidade, e muitas mulheres acabam sofrendo graves consequências devido à falta de acesso a serviços médicos seguros.

 

GIOVANA

- Tá certo! Compreendo que o aborto clandestino seja um problema grave, mas a solução não tá em legalizá-lo. Precisamos focar em educar, conscientizar e oferecer suporte adequado às mulheres, para que elas não se sintam desamparadas. Podemos trabalhar para melhorar a assistência médica, garantir o acesso a contraceptivos. Não dá pra sair por aí liberando tudo o que é feito clandestinamente, só porque tem gente morrendo.

 

RAVENA

- Ah Giovana, essa é uma questão cheia de nuances, e é natural que tenhamos visões diferentes sobre o assunto. Mas na moral, vou continuar lutando pelo o que eu acredito, “meu corpo, minhas regras”. Ninguém vai determinar o que faço com meu corpo, muito menos a igreja que se baseia em um livro tão ultrapassado.

 

Ravena sai levando algumas caixas para o depósito deixando Giovana sozinha.

 

 

 

CENA 17/ INT/ CASA DO MACIEL/ QUARTO/ TARDE

Laura chega à casa, adentrando pela porta principal, olhando ao redor em busca de Maciel.

 

LAURA

(chamando)

- Meu amor, já chegou? !

 

Ela caminha até o quarto e percebe que Maciel está no banho. Seus olhos se fixam na maleta aberta sobre a cama, com várias fotos espalhadas. Curiosa, Laura pega uma das fotos examinou-a de perto. 

 

LAURA

(olhando as fotos)

- Ave Maria, o que é isso?

 

Nesse momento, Maciel sai do banho, vestindo apenas uma toalha. Ele nota Laura olhando as fotos da caixa. Maciel, com uma expressão de surpresa e preocupação, se aproxima de Laura. Ela levanta o olhar amedrontada, encontrando os olhos de Maciel. Seus rostos se encaram por um momento, cheios de tensão e incerteza.







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