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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 21

 




Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
CÁSSIA
BEATRIZ
MARIA
PANDORA
RAUL
KIRA


Participação Especial:
SECRETÁRIA, SENHOR dono da borracharia, PACIENTE de Raul


CENA 01/ INT/ CENTRAL/ SECRETARIA/ DIA

Laura está conversando com a Secretária da escola, enquanto Pandora observa o ambiente escolar com curiosidade. A Secretária está sentada atrás de um balcão, examinando os documentos de matrícula.

 

LAURA

(ao entregar os documentos)

- Aqui tão todos os papéis necessários pra matrícula de Pandora.

 

SECRETÁRIA

(pegando os documentos e conferindo)

- Ótimo. Vou dar uma olhada rápida neles e já volto com as informações necessárias.

 

LAURA

(dirigindo-se a Pandora)

- Está animada pra estudar aqui?

 

PANDORA

(levantando as sobrancelhas e sorrindo de canto)

- Eu tenho escolha?

 

LAURA

- Oh minha filha, não complica, né? Estamos fazendo o que é melhor. Acredite!

 

Pandora franze a testa e olha fixamente nos olhos de Laura.

 

PANDORA

- Não sei porque cês duas insistem em me tratar como se eu fosse uma criancinha indefesa, que não soubesse entender as coisas. Tá na cara que tem alguma coisa errada nessa mudança repentina.

 

Laura abre a boca para responder, mas é interrompida pela volta da Secretária.

 

SECRETÁRIA

(voltando)

- Tá tudo certo. Só preencher essa ficha, por gentileza.

 

LAURA

(pegando a ficha e uma caneta, determinada)

- Claro!

 

Enquanto Laura se concentra em preencher a ficha, Pandora ouve uma melodia suave ao longe. Intrigada, ela vira a cabeça na direção do som e começa a seguir o encanto da música, deixando sua mãe para trás.

 

LAURA

(percebendo a ausência de Pandora)

- Pandora! Onde cê tá indo? Filha!

 

Pandora ignora a mãe por um momento, atraída pela música. Ela continua a se afastar, perdendo-se entre as salas de aula e corredores do colégio.

 

SECRETÁRIA

(sorrindo)

- É normal os alunos ficarem animados com o ambiente escolar. Tenho certeza de que Pandora vai adorar estudar aqui.

 

LAURA

- Espero que sim. É pra preencher essa ficha aqui também.

 

SECRETÁRIA

- Isso, mais essas duas aí.

 

 

CENA 02/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA

Beatriz fica parada à porta da clínica, olhando pensativamente para a rua. Enquanto isso, Cássia e Jana conversam baixinho, observando a médica.

 

CÁSSIA

(sussurrando para Jana)

- Nossa, a Dra. Beatriz parece tão distraída hoje. Será que aconteceu alguma coisa?

 

JANA

(sussurrando de volta)

- Não sei, Cássia. Ela parecia bem antes. Ela ficou assim depois que aquela paciente esteve aqui.

 

Beatriz, ainda com um olhar distante, tem um flashback, lembrando-se de Jorge. Ela balança a cabeça, tentando afastar a memória, e se aproxima do balcão da recepção onde Cássia e Jana estão.

 

BEATRIZ

- Jana, por gentileza, me diga qual é a minha agenda para o restante do dia.

 

Jana pega a agenda de Beatriz e verifica.

 

JANA

- A próxima paciente tá marcada para as 15h, Dra. Beatriz.

 

Beatriz assente, parecendo determinada.

 

BEATRIZ

- Ótimo, então vou aproveitar pra tirar meu horário de almoço e volto as 15h. Por favor, avise a paciente que estarei pronta para atendê-la nesse horário. Tá certo?

 

JANA

- Claro, Dra. Beatriz, aviso sim.

 

Cássia e Jana trocam olhares surpresos com a decisão repentina de Beatriz, sem entender completamente o motivo.

 

 

CENA 03/ EXT/ PÁTIO DA ESCOLA/ DIA

Maria está sentada no pátio do colégio, seu violão cuidadosamente apoiado em seu colo. Ela toca suavemente os acordes de "As Dores do Silêncio" da banda "Rosa de Saron", deixando a melodia fluir através das cordas. Sua voz é suave e cheia de emoção, dando vida à música.

 

MARIA

(cantando)

 " Sabes ouvir
As dores do silêncio
E persistir
Em esquecer os meus lamentos

Sei que em você
Encontro o meu alento


Estendo as minhas mãos
Entrego os meus sentimentos...”

 

Enquanto Maria canta, Pandora passa pelo pátio, e seus ouvidos captam a melodia. Ela para por um momento, encantada pela voz de Maria e pela música que ecoa pelo pátio. Pandora se aproxima, com um sorriso no rosto, e fica ali, ouvindo Maria tocar e cantar. Maria para de tocar e olha para Pandora, surpresa por ter uma plateia espontânea.

 

PANDORA

(sorrindo)

- Ual, cê toca e canta muito bem! Não pare por minha causa, continue.

 

Maria começa a arrumar suas coisas.

 

MARIA

(sorrindo timidamente)

- Obrigada! Já tá na hora de eu ir...

 

PANDORA

- Espere! Nem me apresentei. Eu sou a Pandora. E você quem é?

 

MARIA

- Sou Maria.

 

PANDORA

- Toque mais um pouco, quero muito te ouvir.

 

Maria olha pra Pandora timidamente e dá um sorriso sem graça, mas logo volta a arrumar o violão e começar a tocar.




 

CENA 04/ EXT/ ANTIGA OFICINA DO JORGE/ DIA

Beatriz estaciona o carro em frente à antiga oficina de Jorge. Ela sai do veículo e se aproxima do local, olhando ao redor com uma expressão de surpresa e confusão. O que antes era a oficina agora é uma borracharia. Ela continua a se aproximar, curiosa e um pouco preocupada. Um senhor está ocupado colando um pneu em uma vulcanizadora. Beatriz se dirige a ele.

 

BEATRIZ

(exceto)

- Com licença! O senhor me desculpe, viu? Tô procurando pelo Jorge. Ele costumava ser o dono de uma oficina que havia aqui. Cê sabe o que houve? Pra onde ele foi?

 

O senhor olha para Beatriz, pausa em seu trabalho por um momento e depois balança a cabeça.

 

SENHOR

- Ah, Jorge? Foi ele que me passou o ponto. Mas olhe senhora, isso já faz tempo, já tem uns 10 anos que tô aqui. Mas não sei pra onde ele foi não, viu? Não tenho notícias dele desde então.

 

BEATRIZ

(educadamente)

- Obrigada de qualquer forma. Tenha um bom dia.

 

Ela se afasta da borracharia e retorna ao seu carro, deixando para trás as lembranças da antiga oficina de Jorge.

 

 

CENA 05/ EXT/ CENTRAL/ PÁTIO/ DIA

Maria continua a tocar sua música no violão, o som suave e cativante enchendo o ar enquanto Pandora, encantada, fecha os olhos e deixa a melodia envolvê-la. Laura, com um sorriso no rosto, caminha pelo pátio, procurando por sua filha. Finalmente, ela avista Pandora ao lado de Maria, completamente imersa na música.

 

MARIA

(cantando)

“Há quem amou demais;

Há quem chorou demais;

Quanto tempo não dão atenção ao seu pobre coração?

Não se atreve a falar, não se permite errar;

Quem inventou a dor?

Esqueça o ardor, afinal...”

 

Ao notar a aproximação de Laura, Maria interrompe a música, e Pandora vira o rosto, surpresa ao ver sua mãe ali.

 

LAURA

(sorrindo)

- Estava te procurando, filha. Já terminei de fazer sua matricula.

 

PANDORA

(encantada)

- Você ouviu ela tocando? A voz dela é linda, não acha?

 

LAURA

- Sim, é verdade. Ela canta e toca maravilhosamente bem.

 

MARIA

(humilde)

- Obrigada, fico até sem jeito com esses elogios.

 

PANDORA

- Você viu, mãe? Ela é toda tímida.

 

LAURA

- Cê tem um talento incrível. Deveria investir nisso. Agora, temos que ir, Pandora. Já tá tudo certo pro cê começar no colégio amanhã.

 

A notícia faz Pandora irradiar de felicidade.

 

PANDORA

- Sério? Que ótimo!

 

LAURA

(surpresa)

- Que mudança, hein? Antes tava aí toda desanimada.

 

PANDORA

(olhando pra Maria)

- Agora, ganhei um incentivo pra frequentar esse colégio.

 

LAURA

- Então, vamos logo. Ainda precisamos comprar o material. E já você deve investir no seu talento, sua voz encanta.

 

Pandora se aproxima de Maria e dá um carinhoso beijo em seu rosto.

 

PANDORA

- Tchau, Maria. A gente se encontra por aqui depois.

 

Pandora e Laura saem juntas, prontas para preparar Pandora para seu primeiro dia de aula.

 

 

CENA 06/ INT/ CAMPA/ PÁTIO/ TARDE

Giovana caminha pelo pátio do CAMPA, cumprimentando todos que encontra no caminho. Ela se dirige em direção à sua sala. Enquanto isso, Kira está sentada próxima ao local e decide se aproximar de Giovana. Com um sorriso no rosto,

 

KIRA

(chamando)

- Giovana!

 

GIOVANA

(surpresa)

- Kira! Como vai?

 

KIRA

(entusiasmada)

- Tô bem!  Desculpe por tá aqui mais uma vez. Mas é que simplesmente não consegui resistir. Fiquei completamente encantada com o projeto, e, pra ser sincera, também fiquei encantada com você, que é a mente por trás de tudo isso.

 

Giovana fica um pouco sem graça com o elogio de Kira, mas logo se recupera.

 

GIOVANA

(sorrindo)

- Oxente, agradecida! Fico lisonjeada com suas palavras. Vamos até minha sala, pra que possamos conversar melhor.

 

KIRA

- Claro!

 

As duas vão até a sala de Giovana.

 

CORTA PARA:

CENA 07/ INT/ CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE

Giovana se acomoda em sua cadeira atrás da mesa e pede para que Kira se senta na cadeira em sua frente.

 

GIOVANA

- Sente-se, fique à vontade... Me conte mais sobre você? Com que trabalha, o que faz pra se divertir?

 

KIRA

- Bem, atualmente, sou DJ. Trabalho em eventos, como casamentos, aniversários e onde mais contratarem os meus serviços. É minha maneira de trabalhar e me divertir ao mesmo tempo.

 

GIOVANA

- Uau, que bacana! Olhe, deve ser incrível fazer as pessoas dançarem e se divertirem ao som de sua música.

 

KIRA

- Qualquer dia lhe convido para uma de minhas festas.

 

GIOVANA

- Vou adorar ir. E Raul, então, tem aquele jeitinho tímido mais é festeiro, menina.

 

Kira sorri timidamente, mas então sua expressão se torna mais séria enquanto ela revela seu passado.

 

KIRA

- No entanto, nem sempre minha vida foi assim... Vou lhe contar logo, pois cê vai acabar sabendo mesmo. Antes de me tornar DJ, eu era enfermeira. Trabalhei em uma clínica clandestina que realizava abortos. Foi uma fase difícil de minha vida. Sei que era errado, mas eu só queria ajudar aquelas mães que estavam desesperada. Era cada história que a gente ouvia ali....

 

Giovana fica surpresa com a revelação, mas não julga Kira, apenas espera que ela continue.

 

KIRA

- Porém, um dia a polícia invadiu a clínica e prendeu todos os envolvidos, incluindo eu.

 

GIOVANA

- Ave Maria, mulher! Então cê já teve presa?

 

KIRA

- Estive, e não me orgulho nada disso. Mas naquela época eu fiz o que julgava necessário. Precisava ajudar aquelas mulheres de alguma forma. Só que hoje não devo mais nada a justiça, só que meu COREN foi suspenso, não posso mais trabalhar como enfermeira.

 

GIOVANA

- Lhe entendo! Mas aqui no CAMPA cê vai poder continuar ajudando essas mulheres, só que agora da forma correta. As mulheres não querem serem mutiladas, elas querem ser acolhidas. E é isso que a gente faz aqui.

 

KIRA

- É pra isso que tô aqui, quero ajudar no que for preciso.

 

 

CENA 08/ EXT/ RUA/ CARRO DE GIOVANA/ TARDE

Pandora está sentada no banco de passageiro do carro, com um olhar pensativo, observando a paisagem. Laura, decide iniciar uma conversa.

 

LAURA

(carinhosa)

- E aí filha, o que cê achou do colégio?

 

PANDORA

(olhando pela janela)

- Eu gostei. Até supriu minhas expectativas.

 

Laura sorri, parecendo satisfeita com a resposta da filha.

 

LAURA

(nostálgica)

- Bom demais então, hein? Sabia que foi o colégio onde estudei? Muitas lembranças boas. Oh meu Deus, Giovana...

 

PANDORA

- Quem é Giovana?

 

LAURA

- Minha melhor amiga no tempo do colégio. Como será que ela tá? Preciso encontrar Giovana.

 

PANDORA

- O que você achou de Maria?

 

LAURA

- Quem é Maria?

 

PANDORA

- Aquela menina que estava tocando no pátio.

 

LAURA

(pensativa)

- Gostei dela. Tem um talento incrível para a música.

 

PANDORA

- Eu achei ela um pouco triste. Parece que usa a música para expressar algo que tem medo de contar...

 

Laura fica pensativa com a observação de Pandora.

 

PANDORA

- Ela é toda tímida e quando canta parece puxar lá do fundo. Exatamente do lugar que tanto a incomoda.

 

LAURA

- Ave Maria filha, cê observou tudo isso? Mas talvez seja só o jeitinho dela, mesmo. Né não?

 

PANDORA

- Pode ser.

 

 

CENA  09/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ TARDE

Beatriz está sentada em sua cadeira inclinada para a frente, animada com a conversa, enquanto Jana sentada na cadeira em sua frente presta atenção, tentando lembrar algo.

 

JANA

- Vinicius?

 

 

BEATRIZ

- Sim, filho daquela paciente, Fátima. Achei ele muito parecido com Jorge. Cê que acha?

 

JANA

(tentando se lembrar)

- Jorge... Jorge... O nome me soa familiar, mas não consigo lembrar direito.

 

BEATRIZ

-Oxente moça, como cê esqueceu de Jorge? Aquele mecânico indecente que vivia me azucrinando aqui na clínica.

 

JANA

- Ah sim, um tal que inventou de entregar uma flor por dia pra senhora? Ai doutora, achei isso tão romântico.

 

BEATRIZ

- Tinha nada de romântico. Ele era muito pra frente, um abusado, indecente... Mas que tinha uma pegada, mulher, que só de lembrar fico toda arrepiada.

 

JANA

- Então cê tá achando que o filho de Fátima pode ser filho de Jorge?

 

BEATRIZ

- Foi logo o que pensei, né? O jeito daquele garoto é muito parecido com o de Jorge. Aquela mania de estralar os dedos... Quando eu vi ele ali na sala de espera, parecia que tive um déjà vu, era Jorge ali na minha frente.

 

JANA

- Pelo o que vejo esse mecânico mexeu mesmo com a senhora.

 

BEATRIZ

- Fátima vai voltar, aí vou descobrir se Vinicius é mesmo filho de Jorge.

 

JANA

- E se for?

 

BEATRIZ

- Posso fazer mais nada, né?

 

 CENA 10/ EXT/ PLANO GERAL

Numa transição da tarde para a noite em Salvador, a câmera captura a beleza das paisagens, começando com praias iluminadas pelo sol, passando pelo pôr do sol no Farol da Barra, as luzes na Ladeira da Barra, o Mercado Modelo à noite, a Ponte Salvador-Itaparica, a Praça da Sé no Pelourinho, a Praia de Piatã, e finalmente, as luzes da cidade refletindo na Baía de Todos os Santos, criando um espetáculo noturno. 

 

CENA 11/ INT/ CASA DA RAVENA/ COZINHA/ NOITE

Estão Ravena, Laura e Pandora reunidas na cozinha.

 

RAVENA

(entusiasmada)

- Meninas, cês não vão acreditar! Encontrei uma loja em um ponto ótimo, não muito longe daqui. Fui lá, conversei com o dono, e acho que podemos montar o nosso negócio lá. Vai ficar bem maior que aquela boutique que eu tinha aqui em Salvador. 

 

LAURA

- Que bom meu amor. Assim que fechar negócio, já vamos ver a mercadoria.

 

RAVENA

- Tem muita coisinha pra resolver ainda... E o dia de vocês, como foi?

 

LAURA

- Fomos lá no Central, fazer a matricula de Pandora.


RAVENA

- E deu tudo certo?

 

LAURA

- Deu sim. Pandora até fez uma amiguinha, né filha?

 

RAVENA

(animada)

- Ah é? Uma garota? Bonita ela?

 

PANDORA

- Lá vem! Já vai me jogar pra cima dela, igual fez o Michele?

 

RAVENA

- Entre cê e Michele deu super certo, né? Não sei do que tá reclamando.

 

PANDORA

- Maria é bem diferente de Michele. Tem algo nela que mexeu comigo de uma forma que não sei explicar.

 

Ravena e Laura se entreolham.

 

RAVENA

- Pelo o jeito foi amor a primeira vista.

 

PANDORA

- Cê também, hein mãe! Vou é pro meu quarto.

 

Pandora sai e vai para o seu quarto.

 

RAVENA

- Oxe, mas o que falei demais?

 

LAURA

- Nada, cê só fica pressionando a menina, né?

 

 

CENA 12/ INT/ CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Maria está sentada à mesa estudando, com seus livros e cadernos espalhados. Jana se aproxima, sorrindo ao ver a filha tão dedicada aos estudos.

 

JANA

- Sempre dedicada aos estudos, né meu amor? Cê me lembra muito Giovana quando tinha sua idade. Só via ela pregada nos livros.

 

 

Maria sorri, sentindo-se lisonjeada com a comparação.

 

MARIA

- Sério, mainha? Tia Giovana é tão incrível.

 

Nesse momento, Paulo chega em casa, Maria fecha a cara ao vê-lo chegar.

 

JANA

- Oi meu amor! Chegou cedo hoje.

 

Paulo se aproxima e dá um beijo em Jana.

 

PAULO

- Fui levar um passageiro em São Cristovão, aí já fechei meu dia.

 

 

Paulo se aproxima carinhosamente da filha, depositando um beijo na cabeça dela.

 

PAULO

- E cê como tá minha princesa?

 

MARIA

(um pouco desconfortável)

- Tô bem.

 

JANA

- E como foi na escola hoje, filha? Diga aí.

 

MARIA

- Foi tudo bem, mainha. As mesmas coisas de sempre. Só aquele chato do filho do prefeito que fica me perturbando.

PAULO

- Acho que passou da hora de eu ir lá ter uma conversinha com esse moleque.

 

Maria rapidamente recusa a oferta dele.

 

MARIA

- Não precisa. Eu consigo lidar com isso.

 

PAULO

- Claro que precisa. Cê acha que vou deixar um moleque ficar azucrinando minha filha?

 

MARIA

(se alterando)

- Por favor, meu pai, não se meta nisso!

 

JANA

- Calma filha, seu pai só tá querendo lhe ajudar.

 

MARIA

- Mas já disse que não precisa.

 

PAULO

- Vá bem, então. Desculpa, viu?

 

MARIA

- Ah, também entrou uma garota nova na escola. Eu gostei de conversar com ela.

 

JANA

- Oh minha linda, que maravilha hein? Fico feliz por cê ter feito uma amiga nova. Cê quase não tem amigos, né?

 

 

 

CENA 13/ INT/ APT DOS REIS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE

Giovana conversa com Raul sobre Kira. Ela conta tudo para o marido inclusive que Kira foi presa.

 

GIOVANA

- Kira apareceu de novo lá no CAMPA.

 

RAUL

- Ah é? Parece que ela ficou mesmo interessada em participar,hein?

 

GIOVANA

- Acho ótimo. A gente sempre tá precisando de voluntários lá, né?... Ela me falou um pouco também sobre a vida dela. Cê acredita que ela já foi presa, Raul?

 

RAUL

(surpreso)

- Presa? Oxente, mas que ela fez de tão sério?

 

GIOVANA

- Ela trabalhava em uma clínica clandestina que fazia aborto. A polícia bateu lá e prendeu todo mundo.

 

RAUL

- Mas que coisa, heim menina?

 

GIOVANA

- Mas ela me garantiu que agora tá limpa, já pagou por tudo o que devia. Só perdeu o COREN de enfermagem. Hoje ela trabalha como DJ.

 

RAUL

- Cê puxou a ficha completa da moça, hein?

 

GIOVANA

- Eu gostei dela. Vai ser de muita valia ela lá no CAMPA.

 

CENA 14/ EXT/ PLANO GERAL

Cena noturna em Salvador, com luzes suaves destacando o Pelourinho e o Farol da Barra. Transição gradual para o amanhecer, com o sol pintando o horizonte de tons quentes. Cena diurna com praias movimentadas, o Pelourinho cheio de visitantes e o Dique do Tororó sereno. Salvador ganha vida sob o sol radiante.

 

 

CENA 15/ EXT/ CENTRAL/ ENTRADA/ DIA

Na entrada do colégio, Pandora chega animada, ansiosa para encontrar Maria novamente. Ela se aproxima da amiga e expressa seu entusiasmo.

 

PANDORA

- Maria! Como cê tá? Sabia que fiquei ansiosa de vir pro colégio só pra te encontrar de novo?

 

 

Maria sorri ao ver Pandora e fica um pouco surpresa com a empolgação da amiga.

 

MARIA

- Sério? Mas por quê?

 

PANDORA

- Porque gostei muito de você. Você não?

 

Maria fica um pouco desconcertada com a pergunta.

 

MARIA

- Bem, eu... Gostei sim. Mas sabe, geralmente as pessoas aqui do colégio não gostam muito de mim. Elas me acham meio esquisita.

 

Pandora olha diretamente nos olhos de Maria e afirma com firmeza.

 

PANDORA

- Maria, você não tem nada de esquisita. As pessoas daqui que são babacas e não percebem a pessoa incrível que você é. A sua voz ainda soa em meus ouvidos, adorei te ouvir cantar.

 

 

MARIA

- Obrigada! Vou agora na sala dos professores, pois é lá que deixo meu violão. Tem uma professora que é muito minha amiga e permite que eu guarde o violão lá.

 

PANDORA

- Humm, eu ainda preciso encontrar minha turma.

 

MARIA

- Qual é sua turma?

 

Pandora dá uma conferida no papel que está em sua mão.

 

PANDORA

- Terceiro ano “A”.

 

MARIA

- Nós somos da mesma turma. Se cê quiser pode ir comigo na sala dos professores, depois vamos pra sala.

 

PANDORA

(sorrindo)

- Vamos, então!

 

As duas caminham juntas em direção à sala dos professores.

 

 

CENA 16/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ DIA

Genivaldo entra e fica chocado ao ver dois homens carregando a televisão para fora de casa. Ele está visivelmente perturbado e questiona sua esposa com incredulidade.

 

GENIVALDO

- Calma aí! Quê que é isso? Oh Eliete, que diabos tá acontecendo aqui, hein?

 

Eliete, com uma expressão serena e determinada, olha para Genivaldo e responde calmamente.

 

ELIETE

- Eu dei a televisão. Deus me mostrou em sonhos que alguns objetos que temos em casa são satânicos. Ele me ordenou que livrasse desses objetos.

 

 

Genivaldo fica perplexo com a afirmação de Eliete e começa a protestar.

 

GENIVALDO

- Cê tá é louca, viu Eliete? Cês podem deixar essa televisão bem aí.

 

ELIETE

- Deixa não, podem levar. A televisão, essas coisas aqui também. Tudo o que falei cês podem pegar e levar. Taquem fogo, dá pra quem cês quiser, mas aqui nessa casa não fica mais.

 

GENIVALDO

- Cê azucrinou de vez, não tem condição. Essa televisão foi cara, Eliete. Cê tá dando nossos discos, o baralho que ganhei de painho. Oxente, até a estátua da vó Quitéria!

 

ELIETE

- Isso é obediência a Deus, Genivaldo. Ele me mostrou claramente que esses objetos são instrumentos do diabo. Pois é mais proveitoso ir para o céu sem um membro do que todo o teu corpo ser lançado no inferno.

 

GENIVALDO

- Isso é um absurdo, Eliete! Cê não pode simplesmente dar nossas coisas sem falar comigo. E o que mais? Vai queimar todos os nossos livros também?

 

ELIETE

- Já queimei. Os livros, a coleção de DVDs, aquele espelho antigo e a minha coleção de revistas também são abominações aos olhos de Deus. Me livrei de tudo aquilo, conforme Deus tenha me instruído em sonhos.

 

GENIVALDO

- Olhe Eliete, tô ficando muito preocupado com cê, viu?

 

ELIETE

- Cê não entende dá Palavra, Genivaldo. Mas Deus tá nos abençoando, crer enquanto há tempo. O dia do juizo tá chegando, vamos ser arrebatados ao céu. Aleluia!

 

GENIVALDO

- O que peço a Deus é paciência, viu?

 

 

CENA 17/ INT/ CONSULTÓRIO DO RAUL/ DIA

No consultório do Raul, a consulta com o paciente está chegando ao fim.

 

RAUL

- Bom, acho que por hoje já deu, né? Vamos marcar a próxima sessão para a próxima quarta-feira, no mesmo horário.

 

O paciente assente e se levanta.

 

PACIENTE

- Obrigado, Dr. Raul. Sua ajuda tem sido fundamental pra mim, viu?

 

RAUL

- Fico feliz em ouvir isso. Tô aqui pra ajudar, né mesmo?. Tenha uma ótima semana e até a próxima quarta-feira.

 

O paciente se despede e sai do consultório. Raul volta para sua cadeira, pronto para fazer algumas anotações em seu computador quando, de repente, uma gota de sangue cai na mesa, sujando-a. Ele olha surpreso para a mancha de sangue e, instintivamente, leva a mão ao nariz. Quando a retira, percebe que está sangrando.

 

RAUL

(murmura para si mesmo)

- Que estranho...

Preocupado, Raul se levanta e vai até o banheiro. Ele se lava, tentando controlar o sangramento. Ele olha no espelho e vê o sangue escorrendo por seu rosto. Ele respira fundo, estranhando. Raul pega um lenço de papel e tenta estancar o sangramento. Ele se olha novamente no espelho e percebe que a hemorragia parece ter parado. Ele respira fundo mais uma vez intrigado sobre o que poderia ter causado o sangramento repentino.








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