JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
PAULO
CÁSSIA
BEATRIZ
MARIA
PANDORA
RAUL
KIRA
Participação Especial:
SECRETÁRIA, SENHOR dono da borracharia, PACIENTE de Raul
CENA 01/
INT/ CENTRAL/ SECRETARIA/ DIA
Laura está conversando com a Secretária da
escola, enquanto Pandora observa o ambiente escolar com curiosidade. A
Secretária está sentada atrás de um balcão, examinando os documentos de
matrícula.
LAURA
(ao entregar os documentos)
- Aqui tão todos os papéis
necessários pra matrícula de Pandora.
SECRETÁRIA
(pegando os documentos e conferindo)
- Ótimo. Vou dar uma olhada rápida
neles e já volto com as informações necessárias.
LAURA
(dirigindo-se a Pandora)
- Está animada pra estudar aqui?
PANDORA
(levantando as sobrancelhas e sorrindo de canto)
- Eu tenho escolha?
LAURA
- Oh minha filha, não complica, né?
Estamos fazendo o que é melhor. Acredite!
Pandora franze a testa e olha fixamente nos
olhos de Laura.
PANDORA
- Não sei porque cês duas insistem
em me tratar como se eu fosse uma criancinha indefesa, que não soubesse entender
as coisas. Tá na cara que tem alguma coisa errada nessa mudança repentina.
Laura abre a boca para responder, mas é
interrompida pela volta da Secretária.
SECRETÁRIA
(voltando)
- Tá tudo certo. Só preencher essa
ficha, por gentileza.
LAURA
(pegando a ficha e uma caneta, determinada)
- Claro!
Enquanto Laura se concentra em preencher a ficha,
Pandora ouve uma melodia suave ao longe. Intrigada, ela vira a cabeça na
direção do som e começa a seguir o encanto da música, deixando sua mãe para
trás.
LAURA
(percebendo a ausência de Pandora)
- Pandora! Onde cê tá indo? Filha!
Pandora ignora a mãe por um momento, atraída pela música. Ela
continua a se afastar, perdendo-se entre as salas de aula e corredores do
colégio.
SECRETÁRIA
(sorrindo)
- É normal os alunos ficarem
animados com o ambiente escolar. Tenho certeza de que Pandora vai adorar
estudar aqui.
LAURA
- Espero que sim. É pra preencher
essa ficha aqui também.
SECRETÁRIA
- Isso, mais essas duas aí.
CENA 02/
INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Beatriz fica parada à porta da clínica, olhando
pensativamente para a rua. Enquanto isso, Cássia e Jana conversam baixinho,
observando a médica.
CÁSSIA
(sussurrando para Jana)
- Nossa, a Dra. Beatriz parece tão
distraída hoje. Será que aconteceu alguma coisa?
JANA
(sussurrando de volta)
- Não sei, Cássia. Ela parecia bem
antes. Ela ficou assim depois que aquela paciente esteve aqui.
Beatriz, ainda com um olhar distante, tem um flashback,
lembrando-se de Jorge. Ela balança a cabeça, tentando afastar a memória, e se
aproxima do balcão da recepção onde Cássia e Jana estão.
BEATRIZ
- Jana, por gentileza, me diga qual
é a minha agenda para o restante do dia.
Jana pega a agenda de Beatriz e verifica.
JANA
- A próxima paciente tá marcada
para as 15h, Dra. Beatriz.
Beatriz assente, parecendo determinada.
BEATRIZ
- Ótimo, então vou aproveitar pra
tirar meu horário de almoço e volto as 15h. Por favor, avise a paciente que
estarei pronta para atendê-la nesse horário. Tá certo?
JANA
- Claro, Dra. Beatriz, aviso sim.
Cássia e Jana trocam olhares surpresos com a
decisão repentina de Beatriz, sem entender completamente o motivo.
CENA 03/
EXT/ PÁTIO DA ESCOLA/ DIA
Maria está sentada no pátio do colégio, seu
violão cuidadosamente apoiado em seu colo. Ela toca suavemente os acordes de
"As Dores do Silêncio" da banda "Rosa de Saron", deixando a
melodia fluir através das cordas. Sua voz é suave e cheia de emoção, dando vida
à música.
MARIA
(cantando)
" Sabes ouvir
As dores do silêncio
E persistir
Em esquecer os meus lamentos
Sei que
em você
Encontro o meu alento
Estendo as minhas mãos
Entrego os meus sentimentos...”
Enquanto Maria canta, Pandora passa pelo pátio,
e seus ouvidos captam a melodia. Ela para por um momento, encantada pela voz de
Maria e pela música que ecoa pelo pátio. Pandora se aproxima, com um sorriso no
rosto, e fica ali, ouvindo Maria tocar e cantar. Maria para de tocar e olha
para Pandora, surpresa por ter uma plateia espontânea.
PANDORA
(sorrindo)
- Ual, cê toca e canta muito bem! Não
pare por minha causa, continue.
Maria começa a arrumar suas coisas.
MARIA
(sorrindo timidamente)
- Obrigada! Já tá na hora de eu
ir...
PANDORA
- Espere! Nem me apresentei. Eu sou
a Pandora. E você quem é?
MARIA
- Sou Maria.
PANDORA
- Toque mais um pouco, quero muito
te ouvir.
Maria olha pra Pandora timidamente e dá um
sorriso sem graça, mas logo volta a arrumar o violão e começar a tocar.
CENA 04/
EXT/ ANTIGA OFICINA DO JORGE/ DIA
Beatriz estaciona o carro em frente à antiga
oficina de Jorge. Ela sai do veículo e se aproxima do local, olhando ao redor
com uma expressão de surpresa e confusão. O que antes era a oficina agora é uma
borracharia. Ela continua a se aproximar, curiosa e um pouco preocupada. Um
senhor está ocupado colando um pneu em uma vulcanizadora. Beatriz se dirige a
ele.
BEATRIZ
(exceto)
- Com licença! O senhor me
desculpe, viu? Tô procurando pelo Jorge. Ele costumava ser o dono de uma
oficina que havia aqui. Cê sabe o que houve? Pra onde ele foi?
O senhor olha para Beatriz, pausa em seu
trabalho por um momento e depois balança a cabeça.
SENHOR
- Ah, Jorge? Foi ele que me passou
o ponto. Mas olhe senhora, isso já faz tempo, já tem uns 10 anos que tô aqui. Mas
não sei pra onde ele foi não, viu? Não tenho notícias dele desde então.
BEATRIZ
(educadamente)
- Obrigada de qualquer forma. Tenha
um bom dia.
Ela se afasta da borracharia e retorna ao seu
carro, deixando para trás as lembranças da antiga oficina de Jorge.
CENA 05/
EXT/ CENTRAL/ PÁTIO/ DIA
Maria continua a tocar sua música no violão, o
som suave e cativante enchendo o ar enquanto Pandora, encantada, fecha os olhos
e deixa a melodia envolvê-la. Laura, com um sorriso no rosto, caminha pelo
pátio, procurando por sua filha. Finalmente, ela avista Pandora ao lado de
Maria, completamente imersa na música.
MARIA
(cantando)
“Há quem amou demais;
Há quem chorou demais;
Quanto tempo não dão atenção ao seu
pobre coração?
Não se atreve a falar, não se
permite errar;
Quem inventou a dor?
Esqueça o ardor, afinal...”
Ao notar a aproximação de Laura, Maria
interrompe a música, e Pandora vira o rosto, surpresa ao ver sua mãe ali.
LAURA
(sorrindo)
- Estava te procurando, filha. Já
terminei de fazer sua matricula.
PANDORA
(encantada)
- Você ouviu ela tocando? A voz
dela é linda, não acha?
LAURA
- Sim, é verdade. Ela canta e toca
maravilhosamente bem.
MARIA
(humilde)
- Obrigada, fico até sem jeito com
esses elogios.
PANDORA
- Você viu, mãe? Ela é toda tímida.
LAURA
- Cê tem um talento incrível.
Deveria investir nisso. Agora, temos que ir, Pandora. Já tá tudo certo pro cê
começar no colégio amanhã.
A notícia faz Pandora irradiar de felicidade.
PANDORA
- Sério? Que ótimo!
LAURA
(surpresa)
- Que mudança, hein? Antes tava aí
toda desanimada.
PANDORA
(olhando pra Maria)
- Agora, ganhei um incentivo pra
frequentar esse colégio.
LAURA
- Então, vamos logo. Ainda
precisamos comprar o material. E já você deve investir no seu talento, sua voz
encanta.
Pandora se aproxima de Maria e dá um carinhoso
beijo em seu rosto.
PANDORA
- Tchau, Maria. A gente se encontra
por aqui depois.
Pandora e Laura saem juntas, prontas para
preparar Pandora para seu primeiro dia de aula.
CENA 06/ INT/
CAMPA/ PÁTIO/ TARDE
Giovana caminha pelo pátio do CAMPA,
cumprimentando todos que encontra no caminho. Ela se dirige em direção à sua
sala. Enquanto isso, Kira está sentada próxima ao local e decide se aproximar
de Giovana. Com um sorriso no rosto,
KIRA
(chamando)
- Giovana!
GIOVANA
(surpresa)
- Kira! Como vai?
KIRA
(entusiasmada)
- Tô bem! Desculpe por tá aqui mais uma vez. Mas é que simplesmente
não consegui resistir. Fiquei completamente encantada com o projeto, e, pra ser
sincera, também fiquei encantada com você, que é a mente por trás de tudo isso.
Giovana fica um pouco sem graça com o elogio de
Kira, mas logo se recupera.
GIOVANA
(sorrindo)
- Oxente, agradecida! Fico
lisonjeada com suas palavras. Vamos até minha sala, pra que possamos conversar
melhor.
KIRA
- Claro!
As duas vão até a sala de Giovana.
CORTA
PARA:
CENA 07/ INT/
CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE
Giovana se acomoda em sua cadeira atrás da mesa
e pede para que Kira se senta na cadeira em sua frente.
GIOVANA
- Sente-se, fique à vontade... Me
conte mais sobre você? Com que trabalha, o que faz pra se divertir?
KIRA
- Bem, atualmente, sou DJ. Trabalho
em eventos, como casamentos, aniversários e onde mais contratarem os meus
serviços. É minha maneira de trabalhar e me divertir ao mesmo tempo.
GIOVANA
- Uau, que bacana! Olhe, deve ser
incrível fazer as pessoas dançarem e se divertirem ao som de sua música.
KIRA
- Qualquer dia lhe convido para uma
de minhas festas.
GIOVANA
- Vou adorar ir. E Raul, então, tem
aquele jeitinho tímido mais é festeiro, menina.
Kira sorri timidamente, mas então sua expressão
se torna mais séria enquanto ela revela seu passado.
KIRA
- No entanto, nem sempre minha vida
foi assim... Vou lhe contar logo, pois cê vai acabar sabendo mesmo. Antes de me
tornar DJ, eu era enfermeira. Trabalhei em uma clínica clandestina que
realizava abortos. Foi uma fase difícil de minha vida. Sei que era errado, mas
eu só queria ajudar aquelas mães que estavam desesperada. Era cada história que
a gente ouvia ali....
Giovana fica surpresa com a revelação, mas não
julga Kira, apenas espera que ela continue.
KIRA
- Porém, um dia a polícia invadiu a
clínica e prendeu todos os envolvidos, incluindo eu.
GIOVANA
- Ave Maria, mulher! Então cê já teve
presa?
KIRA
- Estive, e não me orgulho nada
disso. Mas naquela época eu fiz o que julgava necessário. Precisava ajudar
aquelas mulheres de alguma forma. Só que hoje não devo mais nada a justiça, só
que meu COREN foi suspenso, não posso mais trabalhar como enfermeira.
GIOVANA
- Lhe entendo! Mas aqui no CAMPA cê
vai poder continuar ajudando essas mulheres, só que agora da forma correta. As
mulheres não querem serem mutiladas, elas querem ser acolhidas. E é isso que a
gente faz aqui.
KIRA
- É pra isso que tô aqui, quero
ajudar no que for preciso.
CENA 08/ EXT/
RUA/ CARRO DE GIOVANA/ TARDE
Pandora está sentada no banco de passageiro do
carro, com um olhar pensativo, observando a paisagem. Laura, decide iniciar uma
conversa.
LAURA
(carinhosa)
- E aí filha, o que cê achou do colégio?
PANDORA
(olhando pela janela)
- Eu gostei. Até supriu minhas
expectativas.
Laura sorri, parecendo satisfeita com a
resposta da filha.
LAURA
(nostálgica)
- Bom demais então, hein? Sabia que
foi o colégio onde estudei? Muitas lembranças boas. Oh meu Deus, Giovana...
PANDORA
- Quem é Giovana?
LAURA
- Minha melhor amiga no tempo do
colégio. Como será que ela tá? Preciso encontrar Giovana.
PANDORA
- O que você achou de Maria?
LAURA
- Quem é Maria?
PANDORA
- Aquela menina que estava tocando
no pátio.
LAURA
(pensativa)
- Gostei dela. Tem um talento
incrível para a música.
PANDORA
- Eu achei ela um pouco triste. Parece
que usa a música para expressar algo que tem medo de contar...
Laura fica pensativa com a observação de
Pandora.
PANDORA
- Ela é toda tímida e quando canta parece
puxar lá do fundo. Exatamente do lugar que tanto a incomoda.
LAURA
- Ave Maria filha, cê observou tudo
isso? Mas talvez seja só o jeitinho dela, mesmo. Né não?
PANDORA
- Pode ser.
CENA 09/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA
BEATRIZ/ TARDE
Beatriz está sentada em sua cadeira inclinada
para a frente, animada com a conversa, enquanto Jana sentada na cadeira em sua
frente presta atenção, tentando lembrar algo.
JANA
- Vinicius?
BEATRIZ
- Sim, filho daquela paciente,
Fátima. Achei ele muito parecido com Jorge. Cê que acha?
JANA
(tentando se lembrar)
- Jorge... Jorge... O nome me soa
familiar, mas não consigo lembrar direito.
BEATRIZ
-Oxente moça, como cê esqueceu de
Jorge? Aquele mecânico indecente que vivia me azucrinando aqui na clínica.
JANA
- Ah sim, um tal que inventou de
entregar uma flor por dia pra senhora? Ai doutora, achei isso tão romântico.
BEATRIZ
- Tinha nada de romântico. Ele era
muito pra frente, um abusado, indecente... Mas que tinha uma pegada, mulher,
que só de lembrar fico toda arrepiada.
JANA
- Então cê tá achando que o filho
de Fátima pode ser filho de Jorge?
BEATRIZ
- Foi logo o que pensei, né? O
jeito daquele garoto é muito parecido com o de Jorge. Aquela mania de estralar
os dedos... Quando eu vi ele ali na sala de espera, parecia que tive um déjà vu,
era Jorge ali na minha frente.
JANA
- Pelo o que vejo esse mecânico
mexeu mesmo com a senhora.
BEATRIZ
- Fátima vai voltar, aí vou
descobrir se Vinicius é mesmo filho de Jorge.
JANA
- E se for?
BEATRIZ
- Posso fazer mais nada, né?
CENA 10/
EXT/ PLANO GERAL
Numa transição da tarde para a noite em Salvador, a câmera captura a beleza das paisagens, começando com praias iluminadas pelo sol, passando pelo pôr do sol no Farol da Barra, as luzes na Ladeira da Barra, o Mercado Modelo à noite, a Ponte Salvador-Itaparica, a Praça da Sé no Pelourinho, a Praia de Piatã, e finalmente, as luzes da cidade refletindo na Baía de Todos os Santos, criando um espetáculo noturno.
CENA 11/ INT/
CASA DA RAVENA/ COZINHA/ NOITE
Estão Ravena, Laura e Pandora reunidas na
cozinha.
RAVENA
(entusiasmada)
- Meninas, cês não vão acreditar!
Encontrei uma loja em um ponto ótimo, não muito longe daqui. Fui lá, conversei
com o dono, e acho que podemos montar o nosso negócio lá. Vai ficar bem maior
que aquela boutique que eu tinha aqui em Salvador.
LAURA
- Que bom meu amor. Assim que
fechar negócio, já vamos ver a mercadoria.
RAVENA
- Tem muita coisinha pra resolver
ainda... E o dia de vocês, como foi?
LAURA
- Fomos lá no Central, fazer a
matricula de Pandora.
RAVENA
- E deu tudo certo?
LAURA
- Deu sim. Pandora até fez uma
amiguinha, né filha?
RAVENA
(animada)
- Ah é? Uma garota? Bonita ela?
PANDORA
- Lá vem! Já vai me jogar pra cima
dela, igual fez o Michele?
RAVENA
- Entre cê e Michele deu super
certo, né? Não sei do que tá reclamando.
PANDORA
- Maria é bem diferente de Michele.
Tem algo nela que mexeu comigo de uma forma que não sei explicar.
Ravena e Laura se entreolham.
RAVENA
- Pelo o jeito foi amor a primeira
vista.
PANDORA
- Cê também, hein mãe! Vou é pro
meu quarto.
Pandora sai e vai para o seu quarto.
RAVENA
- Oxe, mas o que falei demais?
LAURA
- Nada, cê só fica pressionando a
menina, né?
CENA 12/ INT/
CASA DA JANA/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Maria está sentada à mesa estudando, com seus
livros e cadernos espalhados. Jana se aproxima, sorrindo ao ver a filha tão
dedicada aos estudos.
JANA
- Sempre dedicada aos estudos, né
meu amor? Cê me lembra muito Giovana quando tinha sua idade. Só via ela pregada
nos livros.
Maria sorri, sentindo-se lisonjeada com a
comparação.
MARIA
- Sério, mainha? Tia Giovana é tão
incrível.
Nesse momento, Paulo chega em casa, Maria fecha
a cara ao vê-lo chegar.
JANA
- Oi meu amor! Chegou cedo hoje.
Paulo se aproxima e dá um beijo em Jana.
PAULO
- Fui levar um passageiro em São
Cristovão, aí já fechei meu dia.
Paulo se aproxima carinhosamente da filha,
depositando um beijo na cabeça dela.
PAULO
- E cê como tá minha princesa?
MARIA
(um pouco desconfortável)
- Tô bem.
JANA
- E como foi na escola hoje, filha?
Diga aí.
MARIA
- Foi tudo bem, mainha. As mesmas
coisas de sempre. Só aquele chato do filho do prefeito que fica me perturbando.
PAULO
- Acho que passou da hora de eu ir
lá ter uma conversinha com esse moleque.
Maria rapidamente recusa a oferta dele.
MARIA
- Não precisa. Eu consigo lidar com
isso.
PAULO
- Claro que precisa. Cê acha que
vou deixar um moleque ficar azucrinando minha filha?
MARIA
(se alterando)
- Por favor, meu pai, não se meta
nisso!
JANA
- Calma filha, seu pai só tá
querendo lhe ajudar.
MARIA
- Mas já disse que não precisa.
PAULO
- Vá bem, então. Desculpa, viu?
MARIA
- Ah, também entrou uma garota nova
na escola. Eu gostei de conversar com ela.
JANA
- Oh minha linda, que maravilha
hein? Fico feliz por cê ter feito uma amiga nova. Cê quase não tem amigos, né?
CENA 13/
INT/ APT DOS REIS/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Giovana conversa com Raul sobre Kira. Ela conta
tudo para o marido inclusive que Kira foi presa.
GIOVANA
- Kira apareceu de novo lá no
CAMPA.
RAUL
- Ah é? Parece que ela ficou mesmo
interessada em participar,hein?
GIOVANA
- Acho ótimo. A gente sempre tá
precisando de voluntários lá, né?... Ela me falou um pouco também sobre a vida
dela. Cê acredita que ela já foi presa, Raul?
RAUL
(surpreso)
- Presa? Oxente, mas que ela fez de
tão sério?
GIOVANA
- Ela trabalhava em uma clínica clandestina
que fazia aborto. A polícia bateu lá e prendeu todo mundo.
RAUL
- Mas que coisa, heim menina?
GIOVANA
- Mas ela me garantiu que agora tá
limpa, já pagou por tudo o que devia. Só perdeu o COREN de enfermagem. Hoje ela
trabalha como DJ.
RAUL
- Cê puxou a ficha completa da
moça, hein?
GIOVANA
- Eu gostei dela. Vai ser de muita
valia ela lá no CAMPA.
CENA 14/
EXT/ PLANO GERAL
Cena
noturna em Salvador, com luzes suaves destacando o Pelourinho e o Farol da
Barra. Transição gradual para o amanhecer, com o sol pintando o horizonte de
tons quentes. Cena diurna com praias movimentadas, o Pelourinho cheio de
visitantes e o Dique do Tororó sereno. Salvador ganha vida sob o sol radiante.
CENA 15/ EXT/
CENTRAL/ ENTRADA/ DIA
Na entrada do colégio, Pandora chega animada,
ansiosa para encontrar Maria novamente. Ela se aproxima da amiga e expressa seu
entusiasmo.
PANDORA
- Maria! Como cê tá? Sabia que
fiquei ansiosa de vir pro colégio só pra te encontrar de novo?
Maria sorri ao ver Pandora e fica um pouco
surpresa com a empolgação da amiga.
MARIA
- Sério? Mas por quê?
PANDORA
- Porque gostei muito de você. Você
não?
Maria fica um pouco desconcertada com a
pergunta.
MARIA
- Bem, eu... Gostei sim. Mas sabe,
geralmente as pessoas aqui do colégio não gostam muito de mim. Elas me acham
meio esquisita.
Pandora olha diretamente nos olhos de Maria e
afirma com firmeza.
PANDORA
- Maria, você não tem nada de
esquisita. As pessoas daqui que são babacas e não percebem a pessoa incrível
que você é. A sua voz ainda soa em meus ouvidos, adorei te ouvir cantar.
MARIA
- Obrigada! Vou agora na sala dos
professores, pois é lá que deixo meu violão. Tem uma professora que é muito minha
amiga e permite que eu guarde o violão lá.
PANDORA
- Humm, eu ainda preciso encontrar
minha turma.
MARIA
- Qual é sua turma?
Pandora dá uma conferida no papel
que está em sua mão.
PANDORA
- Terceiro ano “A”.
MARIA
- Nós somos da mesma turma. Se cê
quiser pode ir comigo na sala dos professores, depois vamos pra sala.
PANDORA
(sorrindo)
- Vamos, então!
As duas caminham juntas em direção à sala dos
professores.
CENA 16/ INT/
CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ DIA
Genivaldo entra e fica chocado ao ver dois
homens carregando a televisão para fora de casa. Ele está visivelmente
perturbado e questiona sua esposa com incredulidade.
GENIVALDO
- Calma aí! Quê que é isso? Oh
Eliete, que diabos tá acontecendo aqui, hein?
Eliete, com uma expressão serena e determinada,
olha para Genivaldo e responde calmamente.
ELIETE
- Eu dei a televisão. Deus me
mostrou em sonhos que alguns objetos que temos em casa são satânicos. Ele me ordenou
que livrasse desses objetos.
Genivaldo fica perplexo com a afirmação de
Eliete e começa a protestar.
GENIVALDO
- Cê tá é louca, viu Eliete? Cês
podem deixar essa televisão bem aí.
ELIETE
- Deixa não, podem levar. A
televisão, essas coisas aqui também. Tudo o que falei cês podem pegar e levar.
Taquem fogo, dá pra quem cês quiser, mas aqui nessa casa não fica mais.
GENIVALDO
- Cê azucrinou de vez, não tem
condição. Essa televisão foi cara, Eliete. Cê tá dando nossos discos, o baralho
que ganhei de painho. Oxente, até a estátua da vó Quitéria!
ELIETE
- Isso é obediência a Deus,
Genivaldo. Ele me mostrou claramente que esses objetos são instrumentos do
diabo. Pois é
mais proveitoso ir para o céu sem um membro do que todo o teu corpo ser lançado
no inferno.
GENIVALDO
- Isso é um absurdo, Eliete! Cê não
pode simplesmente dar nossas coisas sem falar comigo. E o que mais? Vai queimar
todos os nossos livros também?
ELIETE
- Já queimei. Os livros, a coleção
de DVDs, aquele espelho antigo e a minha coleção de revistas também são
abominações aos olhos de Deus. Me livrei de tudo aquilo, conforme Deus tenha me
instruído em sonhos.
GENIVALDO
- Olhe Eliete, tô ficando muito
preocupado com cê, viu?
ELIETE
- Cê não entende dá Palavra,
Genivaldo. Mas Deus tá nos abençoando, crer enquanto há tempo. O dia do juizo
tá chegando, vamos ser arrebatados ao céu. Aleluia!
GENIVALDO
- O que peço a Deus é paciência,
viu?
CENA 17/ INT/
CONSULTÓRIO DO RAUL/ DIA
No consultório do Raul, a consulta com o
paciente está chegando ao fim.
RAUL
- Bom, acho que por hoje já deu, né?
Vamos marcar a próxima sessão para a próxima quarta-feira, no mesmo horário.
O paciente assente e se levanta.
PACIENTE
- Obrigado, Dr. Raul. Sua ajuda tem
sido fundamental pra mim, viu?
RAUL
- Fico feliz em ouvir isso. Tô aqui
pra ajudar, né mesmo?. Tenha uma ótima semana e até a próxima quarta-feira.
O paciente se despede e sai do consultório.
Raul volta para sua cadeira, pronto para fazer algumas anotações em seu
computador quando, de repente, uma gota de sangue cai na mesa, sujando-a. Ele
olha surpreso para a mancha de sangue e, instintivamente, leva a mão ao nariz.
Quando a retira, percebe que está sangrando.
RAUL
(murmura para si mesmo)
- Que estranho...
Preocupado, Raul se levanta e vai até o banheiro. Ele se lava, tentando controlar o sangramento. Ele olha no espelho e vê o sangue escorrendo por seu rosto. Ele respira fundo, estranhando. Raul pega um lenço de papel e tenta estancar o sangramento. Ele se olha novamente no espelho e percebe que a hemorragia parece ter parado. Ele respira fundo mais uma vez intrigado sobre o que poderia ter causado o sangramento repentino.
Obrigado pelo seu comentário!