JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MARIA
PANDORA
DARLAN
RAUL
KIRA
JÚNIOR
CENA 01/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ DIA
Raimunda se aproxima de Laura com os olhos
marejados de lágrimas. Laura, visivelmente emocionada, a espera com os braços
abertos.
RAIMUNDA
(voz trêmula)
- Minha filha... Oh Laura, é cê
mesma?...
LAURA
- Sou eu sim, minha mãe.
Raimunda abraça Laura com força, como se
temesse que a realidade pudesse tirá-la de seus braços novamente. Laura
retribui o abraço com ternura, sentindo a emoção do momento.
RAIMUNDA
(sorrindo e tocando o rosto de Laura)
- Que saudade que tava de você meu amor. Porque foi pra longe de mim?
LAURA
- Tô aqui mainha. Eu voltei.
Laura, ainda abraçada a Raimunda, olha para
Rebeca e acena com a cabeça, emocionada.
LAURA
- Venha cá Rebeca!
Rebeca que estava em segundo plano, se junta ao
abraço, mas de forma mais tímida.
CENA 02/ INT/
CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE
Raul está na sala da Giovana mexendo no
computador. Kira entra na sala animada.
KIRA
(entrando)
- Gih, eu queria ver com um negócio
com cê...
Kira, surpresa ao encontrar Raul ali, fica
inicialmente sem palavras, sua expressão oscilando entre surpresa e confusão.
KIRA
- Oi Raul! Desculpe, pensei que
fosse Giovana que estivesse aqui.
Ela hesita, pronta para se retirar, mas Raul a
detém com um gesto.
RAUL
(firme)
- Espere! Precisava mesmo conversar
com cê. Um papo reto, sem frescura.
Kira, mesmo surpresa com a situação, tenta
manter a compostura.
KIRA
- Claro, pode falar Raul.
Raul se aproxima de Kira, olhando-a nos olhos.
RAUL
(direto)
- Quero saber qual é a sua com minha
mulher? Diga aí.
Kira respira fundo antes de responder.
KIRA
(calmamente)
- Há coisas que se diz melhor
calando, Raul. Prefiro reservar o direito de não falar sobre isso.
RAUL
(insistente)
- O direito é todo seu, mas não é
isso que cê vem fazendo. Cê entrou na nossa vida sem ser chamada, da forma mais
leviana possível. E agora age como se fosse dona dela.
Kira fica indignada com o tom de Raul, sua
expressão se tornando mais desafiadora.
KIRA
(defendendo-se)
- Pera lá! Não entro onde não sou
bem aceita.
RAUL
(não se detendo)
- Não tô falando de amor ferido ou
de relação desgastada, nada disso. Tô falando aqui de mudança de gosto. Giovana
nunca gostou de mulher.
KIRA
(com raiva)
- Olhe, cê é tão machista, tão
preconceituoso que não consegue entender que duas mulheres podem se amar de
verdade.
RAUL
(calmo)
- Fale por você, Kira, não pela
minha mulher.
KIRA
(firme)
- Oxente, isso não é competição não,
viu Raul? E quem deve escolher nem aqui tá. Não adianta levantar essa crista,
que não tenho medo do cê.
Raul dá um sorriso irônico.
RAUL
- Nem deveria.
Ele a encara por um momento antes de tomar uma
decisão.
RAUL
(resoluto)
- Quero que cê se afaste do projeto
CAMPA, Kira. Agradeço por toda ajuda que cê tenha dado, mas de agora em diante
sua presença aqui não é mais bem vinda.
KIRA
(decidida)
- Essa decisão seria melhor tomar
junto com Giovana.
RAUL
(firme)
- O projeto também é meu. E Giovana
é minha esposa, minha mulher. Entendeu bem?
(enfatizando)
- Minha mulher. Quem tá sobrando
aqui é você.
A tensão na sala aumenta, deixando Kira em uma
situação complicada, ela respira fundo e sai da sala.
CENA 03/ EXT/
RUA/ CARRO/ TARDE
Jana está dirigindo e Giovana no banco do
passageiro, Maria sentada atrás. O telefone de Giovana começa a tocar. Ela olha
para a tela e vê que é Kira ligando. Giovana mostra o identificador de chamada
para Jana.
JANA
(curiosa)
- Gih, cê não vai atender?
GIOVANA
(respirando fundo)
- Acho que não. É melhor não, né?
Jana olha para Giovana, surpresa com a decisão.
JANA
- Cê precisa resolver isso de uma
vez. Dizer logo na cara dela que não tá interessada, que não é sua praia, que
isso não é pra você. Diz a ela que ama seu marido e que sua preferência tá muito
bem resolvida. Pronto, resolve logo isso.
Giovana suspira, com um olhar preocupado.
GIOVANA
(insegura)
- Eu sei, Jana. Mas não consigo...
JANA
(direta)
- Não consegue? Oxente, e não
consegue por quê? Cê tem medo de dizer pra ela que não quer?
Giovana baixa o olhar, admitindo sua hesitação.
GIOVANA
- Não. Tenho é medo de dizer que quero.
CENA 04/ EXT/
PRAIA/ TARDE
Pandora e Darlan estão sentados em um quiosque
de coco, desfrutando da tarde tranquila. O ambiente é descontraído, e a
conversa entre eles flui de maneira natural.
DARLAN
(compartilhando)
- Lá em casa sou eu o provedor da
família, sabe? Painho foi morto pela polícia, eles o confundiram com um bandido
lá de Calabar. Desde então, sustento mainha e meus irmãos sozinho. Né fácil não
viu Pandora? Esse dinheiro que ganho no semáforo é pouco, dá pra comprar só o
básico mesmo. Mainha ainda luta pra tentar receber uma indenização por conta da
morte de painho, mas essas coisas é enrolada demais.
Pandora ouve atentamente, seus olhos se enchem
de compaixão e admiração pela coragem e determinação de Darlan.
PANDORA
(emocionada)
- Nossa, Darlan, que história
difícil essa sua. Cê é realmente incrível por enfrentar tudo isso com tanta
força.
DARLAN
- Tem momentos na vida que não nos
resta escolhas, somos obrigados a ser forte.
(sorrindo com otimismo)
- Mas tá tudo certo, viu? Tenho fé
no Nosso Senhor do Bonfim que as coisas vão se ajeitar.
PANDORA
- Vão sim, com certeza. No que eu
puder ajudar, viu? Pode contar comigo.
(se tocando do horário)
- Ah, meu Deus, olha só que horas
são! Preciso ir embora. Olhe, foi bom demais passar esse tempo com cê, Darlan.
DARLAN
(sorrindo)
- Oxente, O prazer foi todo meu.
Adorei nosso papo animado e sua companhia.
Pandora dá um beijo no rosto de Darlan e sai.
Darlan continua sentado a observando.
CENA 05/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE JANTAR/ TARDE
A sala de jantar está posta com uma mesa cheia
de deliciosos pratos. Laura está sentada à mesa, almoçando com a mãe, Raimunda,
e com a irmã, Rebeca. A conversa flui enquanto elas compartilham a refeição.
LAURA
(sorrindo)
- Sabe, minha mãe, na próxima vez
que eu vim, vou trazer Pandora pro cês conhecer. Ela é uma menina incrível, tão
inteligente e criativa.
REBECA
- Ah, eu quero tocar pandeiro! Pra
mim poder sambar, no carnaval.
Raimunda olha com a cara fechada para Rebeca.
REBECA
- Sambar não pode, né? É pecado.
Então é melhor não trazer o pandeiro, viu Laura?
LAURA
- Não é pandeiro, é Pandora, a
minha filha.
RAIMUNDA
(fazendo uma careta)
- Pandora... Oh filha, mas que nome
danado de esquisito. Por que cê não colocou um nome bíblico? Tem tantos bonitos
na Bíblia. Ruth, Raquel, Maria, Ester...
LAURA
(rindo)
- Esse foi o nome que Ravena
sugeriu, minha mãe. E eu gosto de Pandora, acho sim um nome bonito.
RAIMUNDA
- Nunca vou me acostumar com essa
ideia de duas mulher tendo filho. É o fim dos tempos, mesmo.
(relutante)
- Mas enfim, tô muito feliz que cê
tá aqui, e é o que importa. Quero muito conhecer Pandora, também.
Laura sorri, tentando aliviar a tensão.
LAURA
(tocando no assunto)
- Olhe minha mãe, sei que é difícil
pra senhora entender, mas eu e Ravena somos muito felizes juntas.
REBECA
(direta)
- Painho falou que cê foi pro
inferno.
(assustada)
- Cê foi mesmo, Laura?
RAIMUNDA
- Rebeca, pelo o amor de Deus! Liga
não filha, cê conhece sua irmã.
LAURA
- Conheço, Rebeca continua ingênua.
Mas também conheço meu pai, né? Sei bem o que ele pensa sobre eu e Ravena.
RAIMUNDA
- Liga para isso, não... Não vamos
estragar esse momento. Tô muito contente por ter minha filha novamente
almoçando comigo. Comendo a minha comida.
LAURA
(sorrindo)
- Olhe, ninguém, em lugar nenhum do
mundo, faz um tempero tão gostoso quanto o seu, minha mãe. É inigualável.
Nesse momento, Moisés entra na sala. O clima
fica tenso por um momento. Moisés abre os braços.
MOISÉS
- Minha filha estava morta e voltou
a vida, estava perdida e foi achada. Bem vinda de volta minha filha.
Laura hesita por um momento, depois vai e
abraça seu pai, deixando as tensões de lado por um instante.
CENA 06/ INT/
CAMPA/ SALA DE GIOVANA/ TARDE
Giovana está visivelmente irritada, encarando
Raul com expressão de desaprovação.
GIOVANA
(furiosa)
- Cê não tem o direito de impedir Kira
de continuar no CAMPA só por causa do seu ciúme! Isso é completamente injusto,
Raul!
RAUL
(irritado)
- É barril, viu véi! Na moral, queria
alguém que me defendesse com a mesma fúria que cê defende essa Kira.
Giovana ergue uma sobrancelha, incrédula com o
argumento de Raul.
GIOVANA
- Não faça essa cara, Raul. Não é
nada do que cê tá pensando. Ainda não é, e se um dia for, cê será o primeiro a
saber, viu?... Oxe, homem casei foi pra ser feliz. Não quero, não vou e não
aceito ser infeliz.
Com olhos marejados Raul respira fundo,
tentando manter a calma.
RAUL
(insistente)
- Meu amor, tenha a gentileza,
fique longe de Kira pelo bem de nosso relacionamento.
Giovana também com olhos marejados, olha para
Raul com determinação.
GIOVANA
(firme)
- As rédeas de minha vida tão em
minhas mãos, Raul. Esse controle, não passo pra ninguém. Nem mesmo pra você.
Raul fica frustrado com a resposta de Giovana.
RAUL
(exasperado)
- Ta certa, tá certinha, viu? É meu
jeito que lhe incomoda, né mesmo? Pelo o jeito sou eu que tô sobrando.
Giovana corrige Raul com um olhar sério.
GIOVANA
(resoluta)
- Não é nada disso, Raul. Não gosto
é desse jeito que cê tem ficado. Um ciúme véi besta.
RAUL
- Na moral, viu Giovana? Cê tem
ficado mais tempo com Kira do que comigo, ultimamente.
(decidido)
- E se é assim que cê prefere, sou
eu que desisto do projeto CAMPA.
Raul sai furioso da sala.
CENA 07/ INT/
CAMPA/ PÁTIO/ TARDE
Jana está no pátio da CAMPA, conversando com
Maria. De repente, Raul sai furioso da sala de Giovana, passando rapidamente
pelas duas, sem dizer uma palavra.
MARIA
(curiosa)
- Viu isso mainha? Que aconteceu
com tio Raul? Ele parece muito irritado.
Jana observa Raul se afastando e franze a
testa, preocupada com a situação.
JANA
(resoluta)
- Não sei, Maria. Vou lá na sala de
sua tia ver o que aconteceu.
As duas trocam um olhar intrigado antes de Jana
se dirigir em direção à sala de Giovana.
CENA 08/ INT/
CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DO GENIVALDO/ TARDE
Genivaldo está de pé perto da cama,
concentrado, dobrando suas roupas e as colocando dentro de uma bolsa. A porta
se abre suavemente e Eliete entra, seu rosto marcado pela tristeza e pela preocupação.
Ela observa Genivaldo por um momento antes de falar.
ELIETE
(com pesar)
- Cê já tá aqui, arrumando suas
coisas... então tá decidido mesmo terminar, né?
Genivaldo, com um suspiro pesado, olha para
ela, seus olhos revelando uma mistura de tristeza e frustração.
GENIVALDO
(amargurado)
- Não tenho muita escolha, né
Eliete? Tô é dando murro em ponta de faca. Cê tá de um jeito que é impossível
de lidar.
Ela avança um pouco mais para dentro do quarto,
seus olhos buscando os dele em busca de alguma resposta.
ELIETE
(com urgência)
- Genivaldo, eu tive um sonho... No
sonho, eu era guiada por um anjo, e ele me mostrou toda nossa vida juntos. Me
emocionei ao ver tantos momentos felizes que tivemos. E tivemos, né Genivaldo?
Lembra quando nos conhecemos? Cê tava arrasado, no fundo do poço, e com uma
filha pra criar. Eu lhe acolhi e lhe ajudei a sair daquela situação. Tantos
outros momentos, o nascimento de Giovana, coisa mais linda. Como podemos agora
jogar tudo isso fora? Me diga.
GENIVALDO
(resignado)
- Eliete, naquela época cê era
diferente. Eu era um alcoólatra, já não tinha mais controle da situação. Jana tadinha,
vivia jogada, eu já não estava mais conseguindo cuidar dela. E realmente sou
grato, cê me ajudou muito. Mas ajudou principalmente porque cê não me julgava,
cê me acolheu... Só que agora, é tudo diferente. Pra você, tudo é pecado, tudo
tá errado, vai pro inferno. Olha ao redor, não temos mais nada em casa. Porque
pra você, tudo é coisa do demônio. Tô sufocado com tudo isso.
Ela levanta o olhar para ele, os olhos cheios
de lágrimas, mas também cheios de determinação.
ELIETE
(defendendo-se)
- Eu não tinha tanto conhecimento
da Palavra, Genivaldo. Hoje Deus me mostra os sinais. Não posso ignorar isso.
GENIVALDO
- Eliete, cê não pode obrigar as
pessoas a seguir aquilo que cê acha correto. Sua verdade não é absoluta. As
pessoas tem o direito ao livre arbítrio.
Ela olha para cima, como se buscasse orientação
divina.
ELIETE
- A verdade de Deus é absoluta.
(apontando para o alto)
- Não falo por mim, falo em nome
dele. Não posso simplesmente ser complacente com o pecado.
Genivaldo, cansado e desesperado, passa a mão
pelo rosto.
GENIVALDO
- Não dá, Eliete. Simplesmente é
impossível conversar com cê. Se puder me dá licença, quero terminar de arrumar
minhas coisas.
Eliete abaixa a cabeça, suas lágrimas
finalmente cedendo enquanto ela deixa escapar um soluço abafado. Ela sai do
quarto, deixando Genivaldo sozinho.
CENA 09/ INT/
CAMPA/ SALA DE GIOVANA/ TARDE
Jana entra na sala, preocupada com a situação,
e pergunta a Giovana o que aconteceu. Giovana, visivelmente irritada, conta o
ocorrido.
JANA
(preocupada)
- Giovana, o que aconteceu? Vi Raul
saindo daqui furioso.
Giovana suspira, frustrada, e começa a explicar
a situação para Jana.
GIOVANA
(irritada)
- Raul simplesmente expulsou Kira aqui
do CAMPA. Cê acredita? Véi, será que ele não percebe como Kira é importante
aqui pro projeto? Em pouco tempo que ela apareceu, ela mobilizou mais coisas do
que todos nós dentro de um ano. Aí ele expulsa ela daqui por puro ciúme.
Enquanto Giovana desabafa, Jana nota a
empolgação de Giovana ao falar sobre Kira.
JANA
(séria)
- Giovana, cê precisa ver essa
situação com os olhos do Raul. Porque pelo o que vejo, o que cê sente pela Kira
não é mais apenas amizade.
Nesse momento, a porta se abre e Kira entra na
sala.
KIRA
- Com licença! Gih, cê pediu pra eu
voltar, aqui estou!
Giovana sorri, corre até Kira e a abraça,
transbordando de felicidade. Jana observa as duas abraçadas por um momento e
depois decide sair da sala sem dizer nada, deixando-as a sós para resolverem
seus sentimentos complicados.
CENA 10/ INT/
CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Laura está visivelmente empolgada enquanto
conta para a família sobre sua visita à mãe.
LAURA
(empolgada)
- Foi maravilhoso ver mainha depois
de tanto tempo, gente. E Rebeca tá uma mulher feita. Mas continua ingênua, isso
nunca muda.
PANDORA
(sorrindo)
- Eu queria tanto ter ido junto pra
conhecer minha vó.
Laura olha para Pandora com carinho.
LAURA
(com ternura)
- Oh minha linda, é que eu queria
que esse primeiro encontro fosse só meu. Entende? Mas vamos voltar lá em breve
e cê é claro vai comigo. Tá todo mundo ansioso pra lhe conhecer.
Ravena, no entanto, está um pouco fechada e séria.
RAVENA
- E seu pai, Laura, não tava lá?
LAURA
- Quando cheguei, tava não. Mas
logo depois chegou. E olhe, painho me surpreendeu, viu? Foi chegando, e ao me
ver ficou sério. Mas aí logo, estendeu os braços e me acolheu. Foi muito bom,
sabe? Acho que eu tava precisando daquele abraço.
RAVENA
(cética)
- Não se encante tão fácil, Laura.
Lembra do que ele fez antes? Lhe arrastou pelas ruas como um saco de batata
querendo te forçar aquele casamento com o rapaz lá da igreja dele.
PANDORA
- Que história é essa? Não entendi.
LAURA
- Esquece filha, sua mãe Ravena falando
demais. Parabéns, viu Ravena? Eu aqui toda animada por ter reencontra minha família
e cê me colocando pra baixo.
RAVENA
- Desculpe Laura, mas tinha que lhe
mostrar a realidade. Seu pai é homem, e nenhum homem presta. Apenas quer nos
usar. Cê aguarde pra frente, pro cê ver como tô certa.
CENA 11/ INT/
CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE
Raimunda está sentada em uma poltrona, seu
rosto iluminado por um sorriso radiante. Moisés em pé olhando pela janela.
RAIMUNDA
(sorrindo)
- Oh Moisés, tô feliz por demais
por ter Laura de volta. Oxente nem acredito que almocei com ela hoje. Mal posso
esperar pra conhecer nossa neta. Ela deve ser a coisa mais linda, viu?
Moisés olha para ela com seriedade.
MOISÉS
(reservado)
- Raimunda, essa garota não é nossa
neta. Ela foi feita em laboratório, não tem alma. Foi criada por mãos humanas.
Raimunda olha para o marido, seus olhos se
arregalam de preocupação.
RAIMUNDA
- Varão, pelo o amor de Nosso
Senhor Jesus Cristo, não vai afastar minha filha de novo de mim.
MOISÉS
(resoluto)
- Eu nuca afastei, foi Laura que
quis ir embora. As portas desta casa sempre estarão abertas pra ela, e pra essa
criatura aí, que não tem culpa coitada. Mas jamais deixarei aquela outra, com
quem ela vive mancebada entrar aqui.
Raimunda fica apreensiva, preocupada que essa
postura de Moisés possa fazer Laura se afastar novamente.
CENA 12/ EXT/
CIRCO/ NOITE
As luzes do circo brilham na noite escura,
criando uma atmosfera mágica e vibrante. Júnior guia Rebeca pelos bastidores do
circo, revelando todos os segredos que fazem o espetáculo acontecer. Os dois
caminham entre tendas coloridas enquanto conversam, e Rebeca está completamente
encantada com o que vê.
REBECA
(olhos brilhando)
- Ave Maria, aqui parece um sonho,
viu? Nunca imaginei que o circo fosse assim tão encantador. Tudo aqui parece
mágico.
Júnior sorri, apreciando a admiração de Rebeca.
JÚNIOR
(com um sorriso)
- E de fato é, a magia da alegria.
É uma vida mágica, mas também nômade. Não ficamos muito tempo em um lugar. Em
breve, vamos embora da cidade.
Rebeca fica triste com a notícia.
REBECA
- Cê vai embora? E aí a gente nunca
mais vai se ver?
JÚNIOR
-
Nunca se sabe, não temos um lugar certo. Mas... E se cê também virar uma
artista de circo e vim com a gente?
Rebeca fica tentada com o convite, mas hesita,
pensando nas implicações religiosas.
REBECA
(confusa)
- Oxente, mas aí eu viveria no
pecado! O diabo poderia vir me buscar e me levaria pro inferno.
JÚNIOR
(com convicção)
- Mas que tremenda bobagem! Não há
nada de pecaminoso no circo, minha linda. Não tô aqui lhe mostrando tudo o que
se esconde atrás das cortinas? Vistes algo de pecaminoso?
REBECA
- Vi não. Mas painho não vai gostar
disso, né?
JÚNIOR
- Se é isso que lhe preocupa tanto,
tô disposto a me converter e casar com cê.
Rebeca fica surpresa com a proposta, seus olhos
se arregalam.
REBECA
- Casar? Nós dois?
JÚNIOR
- Cê quer casar comigo, Rebeca
Meleca?
Rebeca, emocionada, vibra com a oferta.
REBECA
(vibrando)
- Quero... Oxente, quero sim!
Rebeca fica maravilhada com a oferta, seus
olhos brilhando com emoção. À medida que se aproximam, seus sentimentos se
intensificam e eles se beijam apaixonadamente. Após o beijo, Rebeca,
surpreendida e confusa, corre para longe, seu coração batendo forte de emoção.
Júnior fica sem entender, assistindo-a desaparecer no escuro.
CENA 13/ INT/
APT DOS REIS/ SALA DE JANTAR/ NOITE
Raul e Giovana comem, ambos imersos em seus
próprios pensamentos. Após um longo período de silêncio, Giovana decide quebrar
o clima frio que paira sobre eles.
GIOVANA
(quebrando o silêncio)
- Raul, cê pretende continuar
assim, sem falar comigo?
Raul olha nos olhos dela, sua expressão séria e
intensa.
RAUL
(frio)
- Olhe Giovana, todos já perceberam
o que tá acontecendo entre cê e Kira. Simplesmente não entendo o que cê quer.
Se não tá feliz no nosso casamento, por que não terminamos e cê pode engatar
esse relacionamento com Kira de uma vez?
Giovana olha para Raul, seus olhos demonstrando
tristeza e dor.
GIOVANA
(emocionada)
- Raul, não é isso que eu quero. Oxente,
lhe amo por demais.
Ela se aproxima dele e o beija. Raul cede por
um momento, mas então se afasta.
RAUL
(determinado)
- Então, por favor, afaste-se de
Kira. Tire essa mulher de vez de nossa vida.
GIOVANA
(com pesar)
- Eu não posso fazer isso, Raul.
RAUL
(desapontado)
- Simplesmente não dá pra lhe
entender.
Ele sai da sala e vai para o quarto, deixando
Giovana sozinha na sala de jantar. Ela fica pensativa.
CENA 14/ INT/
CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE
Maria está sentada em sua escrivaninha, com o
rosto apoiado nas mãos, absorta em seus próprios pensamentos enquanto escrevia
em seu diário. Seus dedos deslizam pelas páginas, registrando cada detalhe de
seus dias.
“Estava eu no pátio da escola cantando com
meu violão, ele apareceu e me surpreendeu com sua voz. Ele conhecia bem a música
que eu tocava. As nossas vozes entrou em sintonia parecendo uma só. Não sei por
que mas isso mexeu comigo”.
De repente, ela percebe o violão em cima da
cama e sorri. Levantando-se, ela se aproxima do instrumento e passou a mão
pelas cordas. Maria começa a dedilhar as cordas, criando uma melodia suave. Ela
fecha os olhos e imagina Darlan sentado ao seu lado, tocando com ela. Juntos,
eles criam uma música que os transportava para outro lugar, uma dimensão onde
só existem eles e a música. Quando Maria finalmente abre os olhos, percebe que
está sozinha novamente. Ela joga o violão para o lado e se encolhe na cama,
sentindo-se vazia e sozinha. Seu telefone vibra, interrompendo seus
pensamentos. Ela pega o aparelho e ver que é uma mensagem de Pandora.
Maria suspira e respondeu:
Maria hesita por um momento, antes de responder:
CENA 15/ INT/ FEIRA DE SANTANA/ CASA DOS JORGE/ QUARTO DO CASAL/ NOITE
Fátima entra no quarto vestindo uma lingerie
provocante. Ela se aproxima de Jorge, que está deitado na cama, e pula sobre ele,
tentando seduzi-lo com entusiasmo.
FÁTIMA
(sensual)
- Sabia que tô ovulando? Hora
perfeita para fazermos nosso filho.
Jorge fica visivelmente desconfortável com a
situação, tentando encontrar palavras para responder.
JORGE
(tentando evitar)
- Fátima, não tô muito animado. Hoje
não meu amorzinho.
Fátima olha para ele, claramente insatisfeita e
desconfiada.
FÁTIMA
(acusatória)
- Cê tá me traindo, não tá? Por
isso não quer fazer amor comigo. Diga aí, quem é a vagabunda?
JORGE
(nervoso)
- É o quê? Oh Fátima, isso é um
absurdo! De onde cê tirou essa ideia?
Fátima puxa a calça de Jorge, buscando
evidências, e percebe que ele não está excitado.
FÁTIMA
(magoadamente)
- Daqui, oh! Cê nunca foi de negar
fogo. Nem mesmo quando cê se rabichava com aquelas raparigas que cê pegava. O
que tá acontecendo, hein Jorge?
Jorge tenta inventar uma desculpa, sua voz
falhando um pouco.
JORGE
(tentando explicar)
- Trabalhei muito hoje, tô cansado.
Oxe mulher, tu acha que sou de ferro, é?
Fátima vira-se de costas, sua expressão
misturando desapontamento e frustração.
FÁTIMA
(resignada)
- Tá difícil, viu? Desse jeito,
como vamos ter o nosso filho?
CENA 16/ INT/
APT DO RAUL/ MANHÃ
Raul acorda com uma forte dor de cabeça e uma sensação de tontura. Ele tenta se levantar da cama, mas suas pernas parecem fracas, quase cedendo sob seu peso. Desesperado, ele se agarra à borda da cama para evitar cair, mas sua força está falhando.
Obrigado pelo seu comentário!