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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO - Capítulo 30

 



Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
MARIA
PANDORA
DARLAN
RAUL
KIRA
JÚNIOR


CENA 01/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ DIA

Raimunda se aproxima de Laura com os olhos marejados de lágrimas. Laura, visivelmente emocionada, a espera com os braços abertos.

 

RAIMUNDA

(voz trêmula)

- Minha filha... Oh Laura, é cê mesma?...

 

LAURA

- Sou eu sim, minha mãe.

 

Raimunda abraça Laura com força, como se temesse que a realidade pudesse tirá-la de seus braços novamente. Laura retribui o abraço com ternura, sentindo a emoção do momento.

 

RAIMUNDA

(sorrindo e tocando o rosto de Laura)
- Que saudade que tava de você meu amor. Porque foi pra longe de mim?

 

LAURA

- Tô aqui mainha. Eu voltei.

 

Laura, ainda abraçada a Raimunda, olha para Rebeca e acena com a cabeça, emocionada.

 

LAURA

- Venha cá Rebeca!

 

Rebeca que estava em segundo plano, se junta ao abraço, mas de forma mais tímida.

 

 

CENA 02/ INT/ CAMPA/ SALA DA GIOVANA/ TARDE

Raul está na sala da Giovana mexendo no computador. Kira entra na sala animada.

 

KIRA

(entrando)

- Gih, eu queria ver com um negócio com cê...

 

Kira, surpresa ao encontrar Raul ali, fica inicialmente sem palavras, sua expressão oscilando entre surpresa e confusão.

 

KIRA

- Oi Raul! Desculpe, pensei que fosse Giovana que estivesse aqui.

 

Ela hesita, pronta para se retirar, mas Raul a detém com um gesto.

 

RAUL

(firme)

- Espere! Precisava mesmo conversar com cê. Um papo reto, sem frescura.

 

Kira, mesmo surpresa com a situação, tenta manter a compostura.

 

KIRA

- Claro, pode falar Raul.

 

Raul se aproxima de Kira, olhando-a nos olhos.

 

RAUL

(direto)

- Quero saber qual é a sua com minha mulher? Diga aí.

 

Kira respira fundo antes de responder.

 

KIRA

(calmamente)

- Há coisas que se diz melhor calando, Raul. Prefiro reservar o direito de não falar sobre isso.

 

RAUL

(insistente)

- O direito é todo seu, mas não é isso que cê vem fazendo. Cê entrou na nossa vida sem ser chamada, da forma mais leviana possível. E agora age como se fosse dona dela.

 

Kira fica indignada com o tom de Raul, sua expressão se tornando mais desafiadora.

 

KIRA

(defendendo-se)

- Pera lá! Não entro onde não sou bem aceita.

 

RAUL

(não se detendo)

- Não tô falando de amor ferido ou de relação desgastada, nada disso. Tô falando aqui de mudança de gosto. Giovana nunca gostou de mulher.

 

KIRA

(com raiva)

- Olhe, cê é tão machista, tão preconceituoso que não consegue entender que duas mulheres podem se amar de verdade.

 

RAUL

(calmo)

- Fale por você, Kira, não pela minha mulher.

 

KIRA

(firme)

- Oxente, isso não é competição não, viu Raul? E quem deve escolher nem aqui tá. Não adianta levantar essa crista, que não tenho medo do cê.

 

Raul dá um sorriso irônico.

 

RAUL

- Nem deveria.

 

Ele a encara por um momento antes de tomar uma decisão.

 

RAUL

(resoluto)

- Quero que cê se afaste do projeto CAMPA, Kira. Agradeço por toda ajuda que cê tenha dado, mas de agora em diante sua presença aqui não é mais bem vinda.

 

KIRA

(decidida)

- Essa decisão seria melhor tomar junto com Giovana.

 

RAUL

(firme)

- O projeto também é meu. E Giovana é minha esposa, minha mulher. Entendeu bem?

(enfatizando)

- Minha mulher. Quem tá sobrando aqui é você.

 

A tensão na sala aumenta, deixando Kira em uma situação complicada, ela respira fundo e sai da sala.

 


 

CENA 03/ EXT/ RUA/ CARRO/ TARDE

Jana está dirigindo e Giovana no banco do passageiro, Maria sentada atrás. O telefone de Giovana começa a tocar. Ela olha para a tela e vê que é Kira ligando. Giovana mostra o identificador de chamada para Jana.

 

JANA

(curiosa)

- Gih, cê não vai atender?

 

GIOVANA

(respirando fundo)

- Acho que não. É melhor não, né?

 

Jana olha para Giovana, surpresa com a decisão.

 

JANA

- Cê precisa resolver isso de uma vez. Dizer logo na cara dela que não tá interessada, que não é sua praia, que isso não é pra você. Diz a ela que ama seu marido e que sua preferência tá muito bem resolvida. Pronto, resolve logo isso.

 

Giovana suspira, com um olhar preocupado.

 

GIOVANA

(insegura)

- Eu sei, Jana. Mas não consigo...

 

JANA

(direta)

- Não consegue? Oxente, e não consegue por quê? Cê tem medo de dizer pra ela que não quer?

 

Giovana baixa o olhar, admitindo sua hesitação.

 

GIOVANA

- Não. Tenho é medo de dizer que quero.

 

 

 

CENA 04/ EXT/ PRAIA/ TARDE

Pandora e Darlan estão sentados em um quiosque de coco, desfrutando da tarde tranquila. O ambiente é descontraído, e a conversa entre eles flui de maneira natural.

 

DARLAN

(compartilhando)

- Lá em casa sou eu o provedor da família, sabe? Painho foi morto pela polícia, eles o confundiram com um bandido lá de Calabar. Desde então, sustento mainha e meus irmãos sozinho. Né fácil não viu Pandora? Esse dinheiro que ganho no semáforo é pouco, dá pra comprar só o básico mesmo. Mainha ainda luta pra tentar receber uma indenização por conta da morte de painho, mas essas coisas é enrolada demais.

 

Pandora ouve atentamente, seus olhos se enchem de compaixão e admiração pela coragem e determinação de Darlan.

 

PANDORA

(emocionada)

- Nossa, Darlan, que história difícil essa sua. Cê é realmente incrível por enfrentar tudo isso com tanta força.

 

DARLAN

- Tem momentos na vida que não nos resta escolhas, somos obrigados a ser forte.

(sorrindo com otimismo)

- Mas tá tudo certo, viu? Tenho fé no Nosso Senhor do Bonfim que as coisas vão se ajeitar.

 

PANDORA

- Vão sim, com certeza. No que eu puder ajudar, viu? Pode contar comigo.

(se tocando do horário)

- Ah, meu Deus, olha só que horas são! Preciso ir embora. Olhe, foi bom demais passar esse tempo com cê, Darlan.

 

DARLAN

(sorrindo)

- Oxente, O prazer foi todo meu. Adorei nosso papo animado e sua companhia.

 

Pandora dá um beijo no rosto de Darlan e sai. Darlan continua sentado a observando.

 

 

CENA 05/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE JANTAR/ TARDE

A sala de jantar está posta com uma mesa cheia de deliciosos pratos. Laura está sentada à mesa, almoçando com a mãe, Raimunda, e com a irmã, Rebeca. A conversa flui enquanto elas compartilham a refeição.

 

LAURA

(sorrindo)

- Sabe, minha mãe, na próxima vez que eu vim, vou trazer Pandora pro cês conhecer. Ela é uma menina incrível, tão inteligente e criativa.

 

REBECA

- Ah, eu quero tocar pandeiro! Pra mim poder sambar, no carnaval.

 

Raimunda olha com a cara fechada para Rebeca.

 

REBECA

- Sambar não pode, né? É pecado. Então é melhor não trazer o pandeiro, viu Laura?

 

LAURA

- Não é pandeiro, é Pandora, a minha filha.

 

RAIMUNDA

(fazendo uma careta)

- Pandora... Oh filha, mas que nome danado de esquisito. Por que cê não colocou um nome bíblico? Tem tantos bonitos na Bíblia. Ruth, Raquel, Maria, Ester...

 

LAURA

(rindo)

- Esse foi o nome que Ravena sugeriu, minha mãe. E eu gosto de Pandora, acho sim um nome bonito.

 

RAIMUNDA

- Nunca vou me acostumar com essa ideia de duas mulher tendo filho. É o fim dos tempos, mesmo.

(relutante)

- Mas enfim, tô muito feliz que cê tá aqui, e é o que importa. Quero muito conhecer Pandora, também.

 

Laura sorri, tentando aliviar a tensão.

 

LAURA

(tocando no assunto)

- Olhe minha mãe, sei que é difícil pra senhora entender, mas eu e Ravena somos muito felizes juntas.

 

REBECA

(direta)

- Painho falou que cê foi pro inferno.

(assustada)

- Cê foi mesmo, Laura?

 

RAIMUNDA

- Rebeca, pelo o amor de Deus! Liga não filha, cê conhece sua irmã.

 

LAURA

- Conheço, Rebeca continua ingênua. Mas também conheço meu pai, né? Sei bem o que ele pensa sobre eu e Ravena.

 

 

RAIMUNDA

- Liga para isso, não... Não vamos estragar esse momento. Tô muito contente por ter minha filha novamente almoçando comigo. Comendo a minha comida.

 

LAURA

(sorrindo)

- Olhe, ninguém, em lugar nenhum do mundo, faz um tempero tão gostoso quanto o seu, minha mãe. É inigualável.

 

Nesse momento, Moisés entra na sala. O clima fica tenso por um momento. Moisés abre os braços.

 

MOISÉS

- Minha filha estava morta e voltou a vida, estava perdida e foi achada. Bem vinda de volta minha filha.

 

Laura hesita por um momento, depois vai e abraça seu pai, deixando as tensões de lado por um instante.

 

 

CENA 06/ INT/ CAMPA/ SALA DE GIOVANA/ TARDE

Giovana está visivelmente irritada, encarando Raul com expressão de desaprovação.

 

GIOVANA

(furiosa)

- Cê não tem o direito de impedir Kira de continuar no CAMPA só por causa do seu ciúme! Isso é completamente injusto, Raul!

 

RAUL

(irritado)

- É barril, viu véi! Na moral, queria alguém que me defendesse com a mesma fúria que cê defende essa Kira.

 

Giovana ergue uma sobrancelha, incrédula com o argumento de Raul.

 

GIOVANA

- Não faça essa cara, Raul. Não é nada do que cê tá pensando. Ainda não é, e se um dia for, cê será o primeiro a saber, viu?... Oxe, homem casei foi pra ser feliz. Não quero, não vou e não aceito ser infeliz.

 

Com olhos marejados Raul respira fundo, tentando manter a calma.

 

RAUL

(insistente)

- Meu amor, tenha a gentileza, fique longe de Kira pelo bem de nosso relacionamento.

 

Giovana também com olhos marejados, olha para Raul com determinação.

 

GIOVANA

(firme)

- As rédeas de minha vida tão em minhas mãos, Raul. Esse controle, não passo pra ninguém. Nem mesmo pra você.

 

Raul fica frustrado com a resposta de Giovana.

 

RAUL

(exasperado)

- Ta certa, tá certinha, viu? É meu jeito que lhe incomoda, né mesmo? Pelo o jeito sou eu que tô sobrando.

 

Giovana corrige Raul com um olhar sério.

 

GIOVANA

(resoluta)

- Não é nada disso, Raul. Não gosto é desse jeito que cê tem ficado. Um ciúme véi besta.

 

RAUL

- Na moral, viu Giovana? Cê tem ficado mais tempo com Kira do que comigo, ultimamente.

(decidido)

- E se é assim que cê prefere, sou eu que desisto do projeto CAMPA.

 

Raul sai furioso da sala.

 

 

CENA 07/ INT/ CAMPA/ PÁTIO/ TARDE

Jana está no pátio da CAMPA, conversando com Maria. De repente, Raul sai furioso da sala de Giovana, passando rapidamente pelas duas, sem dizer uma palavra.

 

MARIA

(curiosa)

- Viu isso mainha? Que aconteceu com tio Raul? Ele parece muito irritado.

 

Jana observa Raul se afastando e franze a testa, preocupada com a situação.

 

JANA

(resoluta)

- Não sei, Maria. Vou lá na sala de sua tia ver o que aconteceu.

 

As duas trocam um olhar intrigado antes de Jana se dirigir em direção à sala de Giovana.

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CENA 08/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ QUARTO DO GENIVALDO/ TARDE

Genivaldo está de pé perto da cama, concentrado, dobrando suas roupas e as colocando dentro de uma bolsa. A porta se abre suavemente e Eliete entra, seu rosto marcado pela tristeza e pela preocupação. Ela observa Genivaldo por um momento antes de falar.

 

ELIETE

(com pesar)

- Cê já tá aqui, arrumando suas coisas... então tá decidido mesmo terminar, né?

 

Genivaldo, com um suspiro pesado, olha para ela, seus olhos revelando uma mistura de tristeza e frustração.

 

GENIVALDO

(amargurado)

- Não tenho muita escolha, né Eliete? Tô é dando murro em ponta de faca. Cê tá de um jeito que é impossível de lidar.

 

Ela avança um pouco mais para dentro do quarto, seus olhos buscando os dele em busca de alguma resposta.

 

ELIETE

(com urgência)

- Genivaldo, eu tive um sonho... No sonho, eu era guiada por um anjo, e ele me mostrou toda nossa vida juntos. Me emocionei ao ver tantos momentos felizes que tivemos. E tivemos, né Genivaldo? Lembra quando nos conhecemos? Cê tava arrasado, no fundo do poço, e com uma filha pra criar. Eu lhe acolhi e lhe ajudei a sair daquela situação. Tantos outros momentos, o nascimento de Giovana, coisa mais linda. Como podemos agora jogar tudo isso fora? Me diga.

 

GENIVALDO

(resignado)

- Eliete, naquela época cê era diferente. Eu era um alcoólatra, já não tinha mais controle da situação. Jana tadinha, vivia jogada, eu já não estava mais conseguindo cuidar dela. E realmente sou grato, cê me ajudou muito. Mas ajudou principalmente porque cê não me julgava, cê me acolheu... Só que agora, é tudo diferente. Pra você, tudo é pecado, tudo tá errado, vai pro inferno. Olha ao redor, não temos mais nada em casa. Porque pra você, tudo é coisa do demônio. Tô sufocado com tudo isso.

 

Ela levanta o olhar para ele, os olhos cheios de lágrimas, mas também cheios de determinação.

 

ELIETE

(defendendo-se)

- Eu não tinha tanto conhecimento da Palavra, Genivaldo. Hoje Deus me mostra os sinais. Não posso ignorar isso.

 

GENIVALDO

- Eliete, cê não pode obrigar as pessoas a seguir aquilo que cê acha correto. Sua verdade não é absoluta. As pessoas tem o direito ao livre arbítrio.

 

Ela olha para cima, como se buscasse orientação divina.

 

ELIETE

- A verdade de Deus é absoluta.

(apontando para o alto)

- Não falo por mim, falo em nome dele. Não posso simplesmente ser complacente com o pecado.

Genivaldo, cansado e desesperado, passa a mão pelo rosto.

 

GENIVALDO

- Não dá, Eliete. Simplesmente é impossível conversar com cê. Se puder me dá licença, quero terminar de arrumar minhas coisas.

 

Eliete abaixa a cabeça, suas lágrimas finalmente cedendo enquanto ela deixa escapar um soluço abafado. Ela sai do quarto, deixando Genivaldo sozinho.

 

 

CENA 09/ INT/ CAMPA/ SALA DE GIOVANA/ TARDE

Jana entra na sala, preocupada com a situação, e pergunta a Giovana o que aconteceu. Giovana, visivelmente irritada, conta o ocorrido.

 

JANA

(preocupada)

- Giovana, o que aconteceu? Vi Raul saindo daqui furioso.

 

Giovana suspira, frustrada, e começa a explicar a situação para Jana.

 

GIOVANA

(irritada)

- Raul simplesmente expulsou Kira aqui do CAMPA. Cê acredita? Véi, será que ele não percebe como Kira é importante aqui pro projeto? Em pouco tempo que ela apareceu, ela mobilizou mais coisas do que todos nós dentro de um ano. Aí ele expulsa ela daqui por puro ciúme.

 

Enquanto Giovana desabafa, Jana nota a empolgação de Giovana ao falar sobre Kira.

 

JANA

(séria)

- Giovana, cê precisa ver essa situação com os olhos do Raul. Porque pelo o que vejo, o que cê sente pela Kira não é mais apenas amizade.

 

Nesse momento, a porta se abre e Kira entra na sala.

 

KIRA

- Com licença! Gih, cê pediu pra eu voltar, aqui estou!

 

Giovana sorri, corre até Kira e a abraça, transbordando de felicidade. Jana observa as duas abraçadas por um momento e depois decide sair da sala sem dizer nada, deixando-as a sós para resolverem seus sentimentos complicados.

 

 

CENA 10/ INT/ CASA DA RAVENA/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Laura está visivelmente empolgada enquanto conta para a família sobre sua visita à mãe.

 

LAURA

(empolgada)

- Foi maravilhoso ver mainha depois de tanto tempo, gente. E Rebeca tá uma mulher feita. Mas continua ingênua, isso nunca muda.

 

PANDORA

(sorrindo)

- Eu queria tanto ter ido junto pra conhecer minha vó.

 

Laura olha para Pandora com carinho.

 

LAURA

(com ternura)

- Oh minha linda, é que eu queria que esse primeiro encontro fosse só meu. Entende? Mas vamos voltar lá em breve e cê é claro vai comigo. Tá todo mundo ansioso pra lhe conhecer.

 

Ravena, no entanto, está um pouco fechada e séria.

 

RAVENA

- E seu pai, Laura, não tava lá?

 

LAURA

- Quando cheguei, tava não. Mas logo depois chegou. E olhe, painho me surpreendeu, viu? Foi chegando, e ao me ver ficou sério. Mas aí logo, estendeu os braços e me acolheu. Foi muito bom, sabe? Acho que eu tava precisando daquele abraço.

 

RAVENA

(cética)

- Não se encante tão fácil, Laura. Lembra do que ele fez antes? Lhe arrastou pelas ruas como um saco de batata querendo te forçar aquele casamento com o rapaz lá da igreja dele.

 

PANDORA

- Que história é essa? Não entendi.

 

LAURA

- Esquece filha, sua mãe Ravena falando demais. Parabéns, viu Ravena? Eu aqui toda animada por ter reencontra minha família e cê me colocando pra baixo.

 

RAVENA

- Desculpe Laura, mas tinha que lhe mostrar a realidade. Seu pai é homem, e nenhum homem presta. Apenas quer nos usar. Cê aguarde pra frente, pro cê ver como tô certa.

 

 

CENA 11/ INT/ CASA DOS SIRQUEIRAS/ SALA DE ESTAR/ NOITE

Raimunda está sentada em uma poltrona, seu rosto iluminado por um sorriso radiante. Moisés em pé olhando pela janela.

 

RAIMUNDA

(sorrindo)

- Oh Moisés, tô feliz por demais por ter Laura de volta. Oxente nem acredito que almocei com ela hoje. Mal posso esperar pra conhecer nossa neta. Ela deve ser a coisa mais linda, viu?

 

Moisés olha para ela com seriedade.

 

MOISÉS

(reservado)

- Raimunda, essa garota não é nossa neta. Ela foi feita em laboratório, não tem alma. Foi criada por mãos humanas.

 

Raimunda olha para o marido, seus olhos se arregalam de preocupação.

 

RAIMUNDA

- Varão, pelo o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, não vai afastar minha filha de novo de mim.

 

MOISÉS

(resoluto)

- Eu nuca afastei, foi Laura que quis ir embora. As portas desta casa sempre estarão abertas pra ela, e pra essa criatura aí, que não tem culpa coitada. Mas jamais deixarei aquela outra, com quem ela vive mancebada entrar aqui.

 

Raimunda fica apreensiva, preocupada que essa postura de Moisés possa fazer Laura se afastar novamente.

 

 

CENA 12/ EXT/ CIRCO/ NOITE

As luzes do circo brilham na noite escura, criando uma atmosfera mágica e vibrante. Júnior guia Rebeca pelos bastidores do circo, revelando todos os segredos que fazem o espetáculo acontecer. Os dois caminham entre tendas coloridas enquanto conversam, e Rebeca está completamente encantada com o que vê.

 

REBECA

(olhos brilhando)

- Ave Maria, aqui parece um sonho, viu? Nunca imaginei que o circo fosse assim tão encantador. Tudo aqui parece mágico.

 

Júnior sorri, apreciando a admiração de Rebeca.

 

JÚNIOR

(com um sorriso)

- E de fato é, a magia da alegria. É uma vida mágica, mas também nômade. Não ficamos muito tempo em um lugar. Em breve, vamos embora da cidade.

 

Rebeca fica triste com a notícia.

 

REBECA

- Cê vai embora? E aí a gente nunca mais vai se ver?

 

JÚNIOR

- Nunca se sabe, não temos um lugar certo. Mas... E se cê também virar uma artista de circo e vim com a gente?

 

Rebeca fica tentada com o convite, mas hesita, pensando nas implicações religiosas.

 

REBECA

(confusa)

- Oxente, mas aí eu viveria no pecado! O diabo poderia vir me buscar e me levaria pro inferno.

 

JÚNIOR

(com convicção)

- Mas que tremenda bobagem! Não há nada de pecaminoso no circo, minha linda. Não tô aqui lhe mostrando tudo o que se esconde atrás das cortinas? Vistes algo de pecaminoso?

 

REBECA

- Vi não. Mas painho não vai gostar disso, né?

 

JÚNIOR

- Se é isso que lhe preocupa tanto, tô disposto a me converter e casar com cê.

 

Rebeca fica surpresa com a proposta, seus olhos se arregalam.

 

REBECA

- Casar? Nós dois?

 

JÚNIOR

- Cê quer casar comigo, Rebeca Meleca?

 

Rebeca, emocionada, vibra com a oferta.

 

REBECA

(vibrando)

- Quero... Oxente, quero sim!

 

Rebeca fica maravilhada com a oferta, seus olhos brilhando com emoção. À medida que se aproximam, seus sentimentos se intensificam e eles se beijam apaixonadamente. Após o beijo, Rebeca, surpreendida e confusa, corre para longe, seu coração batendo forte de emoção. Júnior fica sem entender, assistindo-a desaparecer no escuro.

 

 

 

CENA 13/ INT/ APT DOS REIS/ SALA DE JANTAR/ NOITE

Raul e Giovana comem, ambos imersos em seus próprios pensamentos. Após um longo período de silêncio, Giovana decide quebrar o clima frio que paira sobre eles.

 

GIOVANA

(quebrando o silêncio)

- Raul, cê pretende continuar assim, sem falar comigo?

 

Raul olha nos olhos dela, sua expressão séria e intensa.

 

RAUL

(frio)

- Olhe Giovana, todos já perceberam o que tá acontecendo entre cê e Kira. Simplesmente não entendo o que cê quer. Se não tá feliz no nosso casamento, por que não terminamos e cê pode engatar esse relacionamento com Kira de uma vez?

 

Giovana olha para Raul, seus olhos demonstrando tristeza e dor.

 

GIOVANA

(emocionada)

- Raul, não é isso que eu quero. Oxente, lhe amo por demais.

 

Ela se aproxima dele e o beija. Raul cede por um momento, mas então se afasta.

 

RAUL

(determinado)

- Então, por favor, afaste-se de Kira. Tire essa mulher de vez de nossa vida.

 

GIOVANA

(com pesar)

- Eu não posso fazer isso, Raul.

 

RAUL

(desapontado)

- Simplesmente não dá pra lhe entender.

 

Ele sai da sala e vai para o quarto, deixando Giovana sozinha na sala de jantar. Ela fica pensativa.

 

 

CENA 14/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE

Maria está sentada em sua escrivaninha, com o rosto apoiado nas mãos, absorta em seus próprios pensamentos enquanto escrevia em seu diário. Seus dedos deslizam pelas páginas, registrando cada detalhe de seus dias.

 

“Estava eu no pátio da escola cantando com meu violão, ele apareceu e me surpreendeu com sua voz. Ele conhecia bem a música que eu tocava. As nossas vozes entrou em sintonia parecendo uma só. Não sei por que mas isso mexeu comigo”.

 

De repente, ela percebe o violão em cima da cama e sorri. Levantando-se, ela se aproxima do instrumento e passou a mão pelas cordas. Maria começa a dedilhar as cordas, criando uma melodia suave. Ela fecha os olhos e imagina Darlan sentado ao seu lado, tocando com ela. Juntos, eles criam uma música que os transportava para outro lugar, uma dimensão onde só existem eles e a música. Quando Maria finalmente abre os olhos, percebe que está sozinha novamente. Ela joga o violão para o lado e se encolhe na cama, sentindo-se vazia e sozinha. Seu telefone vibra, interrompendo seus pensamentos. Ela pega o aparelho e ver que é uma mensagem de Pandora.



Maria suspira e respondeu:


Maria hesita por um momento, antes de responder:



CENA 15/ INT/ FEIRA DE SANTANA/ CASA DOS JORGE/ QUARTO DO CASAL/ NOITE

Fátima entra no quarto vestindo uma lingerie provocante. Ela se aproxima de Jorge, que está deitado na cama, e pula sobre ele, tentando seduzi-lo com entusiasmo.

 

FÁTIMA

(sensual)

- Sabia que tô ovulando? Hora perfeita para fazermos nosso filho.

 

Jorge fica visivelmente desconfortável com a situação, tentando encontrar palavras para responder.

 

JORGE

(tentando evitar)

- Fátima, não tô muito animado. Hoje não meu amorzinho.

 

Fátima olha para ele, claramente insatisfeita e desconfiada.

 

FÁTIMA

(acusatória)

- Cê tá me traindo, não tá? Por isso não quer fazer amor comigo. Diga aí, quem é a vagabunda?

 

JORGE

(nervoso)

- É o quê? Oh Fátima, isso é um absurdo! De onde cê tirou essa ideia?

 

Fátima puxa a calça de Jorge, buscando evidências, e percebe que ele não está excitado.

 

FÁTIMA

(magoadamente)

- Daqui, oh! Cê nunca foi de negar fogo. Nem mesmo quando cê se rabichava com aquelas raparigas que cê pegava. O que tá acontecendo, hein Jorge?

 

Jorge tenta inventar uma desculpa, sua voz falhando um pouco.

 

JORGE

(tentando explicar)

- Trabalhei muito hoje, tô cansado. Oxe mulher, tu acha que sou de ferro, é?

 

Fátima vira-se de costas, sua expressão misturando desapontamento e frustração.

 

FÁTIMA

(resignada)

- Tá difícil, viu? Desse jeito, como vamos ter o nosso filho?

 

CENA 16/ INT/ APT DO RAUL/ MANHÃ

Raul acorda com uma forte dor de cabeça e uma sensação de tontura. Ele tenta se levantar da cama, mas suas pernas parecem fracas, quase cedendo sob seu peso. Desesperado, ele se agarra à borda da cama para evitar cair, mas sua força está falhando. 



 

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