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LÁGRIMAS EM SILÊNCIO -Capítulo 39

 



Novela de Adélison Silva 

Personagens deste capítulo

JANA
LAURA
GIOVANA
GENIVALDO
ELIETE
RAIMUNDA
MOISÉS
REBECA
RAVENA
BEATRIZ
JORGE
ROSENO
FÁTIMA
MARIA
PANDORA
DARLAN
SÉRGIO
RAUL
KIRA
VANESSA


Participação Especial:
RAFAEL 


CENA 01/ INT/ CAMPA/ OFICINA/ TARDE

A oficina está repleta de atividade, com o som suave de ferramentas ecoando pelo espaço. Kira e Laura estão em um canto, engajadas em uma conversa.

 

KIRA

- Eu amo a Giovana... Me apaixonei por ela, fazer o quê? Mas no momento não dá, né? Ela lá toda enrolada com o marido dela. Ela me falou que a quimioterapia não tá resolvendo, ele vai precisar de um transplante de medula. O problema que ele não tem nenhum parente.

 

LAURA

- E como cê tá se sentindo em meio a tudo isso?

 

KIRA

- Que cê acha? Tô arrasada, né Laura? Por um lado essa paixão insensata que tenho por essa mulher. Dá vontade de sair daqui e lá sequestrá-la e fugir com ela pra longe de todo esse tormento.  Mas não posso, não tenho esse direito de atrapalhar. Esse é o momento em que Raul mais precisa dela.

 

LAURA

- Às vezes, a vida nos coloca em situações impossíveis, né? Eu conheço muito bem Giovana. E é notável que ela também gosta de cê. Na verdade a cabeça dela deve tá a mil com tudo isso.

 

KIRA

- Ela tá dividida. Eu sei que esse amor todo que sinto por ela é recíproco. Mas ela também gosta de Raul. Agora o que faço, Laura? Sinto como se tivesse presa em um beco sem saída. Mas não posso simplesmente desistir de Giovana.

 

LAURA

- E se depois de tudo isso, ela desisti de você e resolver ficar com o marido?

 

KIRA

- Aí, só... Bem, aí só me resta torcer para ela ser feliz, mesmo que não seja comigo.

 

 

CENA 02/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DA BEATRIZ/ TARDE

Jana está de pé ao lado da mesa, segurando a agenda. Beatriz sentada em sua cadeira completamente distraída.

 

JANA

- Ficou faltando essas duas pacientes. Posso encaixar elas pra amanhã?

(chamando sua atenção)

- Dra. Beatriz, senhora tá me ouvindo?

 

Beatriz pisca, como se acordasse de um devaneio.

 

BEATRIZ

(distraída)

- Ah, desculpe, Jana. tava em outro mundo. O que cê tava dizendo, hein?

 

JANA

(curiosa)

- Tudo isso tem a ver com a fertilização de Fátima?

 

BEATRIZ

- Eles vão ter outro filho, Jana. Acho que agora ele vai se aquietar, né? Não vai mais querer me procurar.

 

JANA

- Seria o certo, né doutora? Agora a mulher dele tá grávida. E pelo o que o cê me contou a gravidez de risco, por conta dos abortos que ela já sofreu.

 

BEATRIZ

- Sabe como tô me sentindo agora? Uma piranha, destruidora de lares, uma sirigaita...

 

JANA

(rindo)

- Valei-me doutora Beatriz, que isso?

 

BEATRIZ

- Mas é assim que tô me sentindo. Por que o certo era eu me afastar desse homem, e nunca mais nem olhar na cara dele... Mas tô aqui desejando ele, sonhando com aquela pegada gostosa. Aquelas mãos forte me alisando, me dominando... Ave Maria! Só de lembrar já fico até com calor.

 

JANA
- Tô entendendo bem? Cê tá apaixonada, é isso?

 

BEATRIZ

- Tô né, Jana? E agora mulher, o que faço de minha vida? Não posso continuar me envolvendo com esse homem, a mulher dele é minha paciente, e agora tá grávida.

 

JANA
- Agora é tentar convencer seu coração disso.

 

 

CENA 03/ INT/ OFICINA DO JORGE/ TARDE

Jorge está ocupado em seu trabalho quando Fátima entra comemorando.

 

FÁTIMA

(emocionada)

- Jorge, deu certo! Tô grávida!

 

Jorge, inicialmente perplexo, deixa cair a ferramenta que estava segurando. Seus olhos se enchem de lágrimas de felicidade, e ele se aproxima de Fátima em êxtase.

 

JORGE

(emocionado)

- Sério, Fátima? Ó paí, vou ter outro filho meu Deus!

 

Ele a abraça forte, enquanto Fátima ri e chora de alegria ao mesmo tempo.

 

JORGE

(animado)

- Cê ouviu isso Roseno? Tem outro moleque meu a caminho!

 

ROSENO

- Ouvi sim, parabéns, viu?

 

JORGE

- A gente tem que comemorar!

 

FÁTIMA

- Claro meu amor!

 

JORGE

- Roseno, fecha tudo aí quando cê sair. Vou pra casa tomar um banho e comemorar a vinda de meu filhote. E Vinicius, gente? Vai ficar besta quando souber.

 

Jorge sai com Fátima, deixando Roseno olhando-os com uma expressão confusão murmurando consigo mesmo.

 

ROSENO

- Oxente, vai entender esse maluco! Primeiro não queria o filho, agora tá aí festejando. Deixe eu cuidar de meu serviço , né? Por que é assim, enquanto os outros comemoram, eu continuo ralando.

 



CENA 04/ INT/ HOSPITAL/ NOITE

Raul está deitado na cama do hospital, seus olhos mostram preocupação enquanto ele fala com o médico ao lado de sua cama.

 

RAUL

(preocupado)

- Dr. Rafael, quanto tempo pode levar para encontrarmos um doador?

 

RAFAEL

(calmo)

- Bem Raul, os dados sobre doadores são atualizados mensalmente. É o retorno quem faz essas consultas e atualizações. Podemos apenas esperar que surja um doador compatível em breve. Mas não tem como termos uma noção de tempo exato, isso varia muito.

 

Giovana, segurando a mão de Raul com firmeza, tenta manter o ânimo dele.

GIOVANA

(emocionada)

- A gente vai encontrar um doador, meu amor.  Milhares de pessoas ao redor do mundo fazem transplantes de medula bem-sucedidos todos os dias. Cê é forte, e tô aqui ao seu lado, lutando com você. A gente vai sair dessa, viu?

 

RAUL

- As chances são tão pequenas. Não quero ser pessimista, mas as chances de darem errado são bem maiores do que as que dá certo.

(chorando)

- Tenho tanto medo.

 

GIOVANA

- Não pensa assim meu amor. Se existe uma pequena chance de tudo dá certo, é nessa pequena chance que temos que nos apegar. Vai dá certo sim, a gente vai sair dessa.

 

RAFAEL

- Não se desanime Raul. Faremos tudo o que for possível para encontrar um doador. Mas a sua força e a sua vontade de viver nesse momento é essencial.

 

RAUL

- Tá certo. Se tem chance, tem que ter fé.

 

Giovana beija a mão de Raul e depois alisa seu rosto secando suas lágrimas.

 

 

CENA 05/ INT/ IGREJA CAJADO DA FÉ/ NOITE

Moisés está no púlpito, seu rosto sério reflete a gravidade de suas palavras.

 

MOISÉS

- Irmãos e irmãs, enquanto eu estava longe, muitas coisas terríveis aconteceram em nossa amada igreja, né mesmo? E agora, estamos sendo perseguidos, meus irmãos, perseguidos por aqueles que não compreendem a verdade de nossa fé.

Rebeca abaixa a cabeça, um olhar de desconforto em seus olhos.

 

MOISÉS

(com fervor)

- E não tô aqui dizendo sobre perseguição física. O demônio tá lançando suas ilusões e magias negras sobre nós, tentando nos desviar do caminho da retidão! A nossa igreja foi corrompida pelas as forças do mal e precisa se estabelecer

 

Os olhares dos fiéis ficam preocupados, alguns sussurros ansiosos preenchem o espaço. Moisés, percebendo o impacto de suas palavras, decide influenciá-los.

 

 

MOISÉS

- Mas não tema, meus amados. O Senhor nos concedeu o poder de enfrentar essas trevas. Para proteger nossa comunidade, realizaremos uma poderosa sessão de descarrego, um retiro espiritual que nos purificará das influências malignas!

 

Um sutil sorriso passa pelos lábios de Moisés e Osvaldo, os olhos de cumplicidade entre eles revelam um plano que está se desenrolando.                              

 

MOISÉS

(serenamente)

- A participação neste retiro é uma prova de sua fé e dedicação. Aqueles que desejam participar devem contribuir com uma taxa simbólica que será cobrada.  Temos que nos revestir da armadura espiritual, não podemos permitir que o inimigo faça morada entre nós.

 

 

CENA 06/ INT/ FEIRA DE SANTANA/ RESTAURANTE/ NOITE

Jorge e Fátima estão sentados em uma mesa, sorrindo um para o outro, seus olhos brilhando de felicidade.

 

FÁTIMA

- Tô feliz por demais, não sabe? Saber que minha barriga vai crescer de novo, e que logo vamos ter um bebezinho correndo pela casa. E você meu amor, também tá feliz? Fiz tudo isso por você, Jorge. Quero dá todos os filhos que cê desejou.

 

JORGE

- Tô muito feliz sim, Fátima. Tô lembrado aqui de quando Vinícius nasceu. Oxente, meu peito não aguentava de tanta felicidade! Nem dá pra acreditar que vou passar por tudo isso de novo.

 

FÁTIMA

- Mas Dra. Beatriz alertou que minha gravidez é de muito risco. Tive dois abortos, né? Não podemos correr o risco que isso volte a acontecer novamente. Tenho que ter agora total repouso.

 

Jorge para por um instante.

 

JORGE

(decidido)

- Se preocupe não, viu? Vou tá ao seu lado em cada passo do caminho. Prometo que nunca mais vou lhe deixar. Vou cuidar de cê e do nosso filho ou filha com todo meu coração.

 

FÁTIMA

- Oxente, Jorge! Repete isso de novo, vá! Cê me promete que não vai permitir que mulher nenhuma se enfie em nosso meio.

 

JORGE

- Não vamos ficar falando sobre isso, né mesmo? Viemos aqui para comemorar.

(chamando)

- Garçom!

 

Fátima fica feliz mais ao mesmo tempo apreensiva com receio de que Jorge volte a procurar sua amante.

 

 

CENA 07/ INT/ CASA DA JANA/ QUARTO DA MARIA/ NOITE

Maria está sentada em sua escrivaninha, um computador à sua frente. Ela está completamente concentrada, os olhos fixos na tela. Ao seu lado, um caderno e uma caneta onde ela faz anotações de tudo importante que encontrava.

 

 

CENA 08/ INT/ HOSPITAL/ LEITO/ DIA

Giovana está ao lado do leito de Raul, que está dormindo profundamente. O telefone de Giovana toca, ela vê que é uma chamada de vídeo de Kira. Ela lança um olhar preocupado para Raul antes de sair do quarto, cuidadosamente fechando a porta atrás dela. Enquanto Giovana fala com Kira do lado de fora do quarto, Raul lentamente abre os olhos, percebendo a conversa das duas.

 

GIOVANA

- Ai Kira, sinto muita falta do CAMPA, viu? Mas não posso sair do hospital agora. Raul precisa de mim, não tenho escolha.

 

KIRA

(com pesar)

- Cê também faz muita falta aqui. O CAMPA não é o mesmo sem você. Sinto sua falta todos os dias.

 

GIOVANA

(triste)

- Cê não faz ideia de como é difícil ver Raul assim. Ele não tem mais forças pra nada.

 

KIRA

(preocupada)

- Gih, cê não merece passar por tudo isso. É tão injusto. Quanto tempo cês terão que esperar por um doador?

 

 

GIOVANA

(resignada)

- Essas coisas são imprevisíveis. Não podemos fazer nada além de esperar. Só preciso ser forte por Raul, ele tá desanimando... tadinho, preocupado com medo de não conseguir um doador a tempo.

 

KIRA

- Temos que ser otimista. Vai apareceu um doador, temos que acreditar nisso. Cuide de tudo aí e não se preocupe que aqui tá tido sobre controle. Só a saudade de você que tá grande. Já estava acostumada em lhe vê todo dia.

 

GIOVANA

(grata)

- Agradecida, viu? Sua amizade significa muito pra mim. Também sinto muito sua falta.

 

 

Elas se despedem e encerram a chamada de vídeo. Giovana respira fundo, olhando para o quarto onde Raul está. Raul fica mexido ao ouvir a conversa das duas.

 

 

CENA 09/ EXT/ COLÉGIO/ PÁTIO/ DIA

Maria está sentada em um banco, concentrada em seu celular.

Darlan se aproxima devagar. Ele respira fundo e finalmente toma coragem para falar.

 

DARLAN

- Oi Maria!

 

MARIA

- Oi Darlan!

 

DARLAN

- Tá tudo bem com cê?

 

MARIA

- Sim. Tava aqui pesquisando algumas coisas sobre meu pai biológico.

 

DARLAN

- Pandora falou que cê tá empenhada, disposta a descobrir o paradeiro dele.

 

MARIA

- Só tô tentando me encontrar em meio a esse turbilhão de coisas que vem me acontecendo... E cê e Pandora tão bem?

 

DARLAN

(respirando fundo)

- Eu errei, Maria. Não deveria ter me envolvido com Pandora.

 

MARIA

- Oxente Darlan, do que cê tá falando? Pensei que cês dois tivessem bem.

 

DARLAN

- Não é de Pandora que gosto. É do cê. Acho que no fundo, me envolvi com Pandora pensando que poderia lhe esquecer, mas me enganei. O meu sentimento por cê só cresceu. Não é justo eu continuar com Pandora.

 

MARIA

- Que conversa mais besta, Darlan!

 

DARLAN

(pegando na mão de Maria)

- Não tem nada de besta, é a mais pura verdade. Oh Maria, lhe quero tanto, viu?

 

MARIA

- É melhor parar com essa bestagem. Pandora pode ver nós dois junto aqui e não gostar. 

 

DARLAN

- E o que faço com todo esse sentimento que tá pulsando aqui dentro de mim?

 

Maria hesita por um momento, olhando nos olhos de Darlan, tentando entender a sinceridade de suas palavras.

 

MARIA

(confusa)

- Darlan, eu... eu não sei o que dizer.

 

Darlan se aproxima ainda mais, seus rostos estão agora a centímetros de distância um do outro.

 

DARLAN

(suavemente)

- Não precisa dizer nada, Maria. Deixe-me mostrar.

 

Ele inclina-se e dá um leve beijo nos lábios de Maria. Maria, surpresa pelo gesto, fecha os olhos por um momento, perdendo-se no momento. Nesse exato instante, Sérgio, que está mais ao longe, observa a cena. Antes que possam dizer algo mais, Maria se levanta e sai correndo, deixando Darlan para trás. Sérgio ao longe só observa.

 

 

CENA 10/ EXT/ RUA/ DIA

Vanessa encontra Rebeca na rua, animada, e mostra um post no celular.

 

VANESSA

(animada)

- Rebeca, que bom que lhe encontrei. Dê uma olhada nisso aqui. O circo de Júnior tá em Feira de Santana. Ele tá aqui perto, Rebeca... Cê precisa ir atrás dele!

 

Rebeca, surpresa, olha para Vanessa, seus olhos se iluminando com uma mistura de emoções.

 

 

REBECA

- Cê acha que devo ir, Vanessa?

 

VANESSA

- Claro que sim, menina! Te arrume que vou contigo.

 

REBECA

(preocupada)
- Sei não, viu? Painho tá aí, ele não vai gostar nadinha disso.

 

VANESSA

(encorajadora)

- Deixa de bestagem! Vai continuar aí, choramingando?  Esta é sua chance de ir atrás de seu amor. Cê merece ser feliz, e talvez essa seja a oportunidade que cê esperava. Pastor Moisés pode ficar arretado no inicio, mas depois ele se acalma.

 

REBECA

- Minha mana Laura também falou que não tenho que deixar de viver minha vida por causa de painho.

 

VANESSA

- Pois então, moça. Vai lá te emperiquita toda que vamos atrás de Júnior.

 

REBECA

(pensativa)

- Não sei, né Vanessa? E se ele não quiser me ver?

 

VANESSA

- Cê nunca vai descobrir se não tentar, né? Vai lá, que também me cuidar e a gente se encontra mais tarde.

 

 

CENA 11/ INT/ HOSPITAL/ DIA

 

Raul está deitado na cama do hospital, seu olhar sério fixado em Giovana, que está ao seu lado.

 

RAUL

- Posso lhe perguntar uma coisa Giovana?

 

GIOVANA

- Oxente, pode perguntar o que quiser. O que foi?

 

RAUL

- Cê tá comigo por amor ou por pena?

 

GIOVANA

(resoluta)

- Mas que pergunta mais besta, Raul! Cê não precisa de minha pena. Cê precisa de meu amor, de meu carinho. E isso tenho em abundância para lhe oferecer.

 

RAUL

(sério)

- Giovana, não quero ser motivo de sua prisão. Cê é jovem, cheia de vida. Não quero que se sinta obrigada a ficar ao meu lado por piedade. Quero que cê seja feliz, que viva seus sonhos, suas paixões, seus desejos... Não quero ser um peso pro cê.

 

Giovana coloca sua mão suavemente no rosto de Raul, olhando profundamente em seus olhos.

 

GIOVANA

(carinhosa)

- Oh meu lindo, minha paixão, minha felicidade, é você. Eu escolhi tá ao seu lado não por pena, mas porque lhe amo. Quero enfrentar cada desafio, superar cada obstáculo, contigo. Cê não é um peso pra mim, nunca mais diga isso, viu? Cê é meu porto seguro, meu amor verdadeiro.

 

RAUL

- E Kira?

 

GIOVANA

(respirando fundo)

- Kira é uma grande amiga. Que tá me ajudando muito nesse momento tão difícil.

 

RAUL

- Não vamos ser hipócrita, né Giovana. Sei que seu sentimento por Kira vai além da amizade. Não se sinta culpada em viver essa paixão, não se prenda por minha causa. Vou me senti muito feliz em saber que ser tá feliz.

 

GIOVANA

- Oh meu amor! Vamos ficar pensando nisso, não né? Nesse momento minha felicidade tá toda aqui. E quando finalmente cê ficar bem e a gente voltar pra nossa casinha que minha felicidade será completa.

 

 

CENA 12/ INT/ COLÉGIO CENTRAL/ PÁTIO/ DIA

Darlan dá um rápido beijo em Pandora.

 

DARLAN

- Indo aqui no banheiro, já volto, viu meu amor?

 

Assim que ele se afasta, Sérgio se aproxima de Pandora com uma expressão de deboche no rosto.

 

PANDORA

- O quê que é, hein? Nunca me viu?

 

SÉRGIO

(rindo sarcástico)

- Tô aqui tentando entender essa bagunça. Primeira cê era sapata, vivia correndo atrás de Maria. Depois descobriu que ela era sua irmã, aí se enrabichou com o favelado. Agora virou um trisal, cê, ela e ele? Rapaz tem um espaço pra mais um aí, não?

 

PANDORA

(se alterando)

- Olhe aqui garoto, tenha mais respeito! Aqui não existe trisal nenhum.

 

SÉRGIO

- Então faltou cê falar isso com o faveladinho, né? Que mais cedo ele tava lá, aos beijos com Maria.

 

PANDORA

(chocada)

- O quê? Não, não pode ser... Darlan e Maria?

 

SÉRGIO

(ri debochado)

- É, minha linda. Quem diria, hein? Parece que o faveladinho gosta de pular um cerca.

 

Pandora, atordoada e magoada, olha na direção onde Darlan foi e começa a processar a informação.

 

CENA 13/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ TARDE

Genivaldo entra em sua casa e seus olhos se arregalam com o estado das coisas. A sala está praticamente vazia, móveis desapareceram, deixando um espaço amplo e quase irreconhecível. Ele olha ao redor, perplexo.

 

GENIVALDO

(chamando)

- Eliete? Onde cê tá? Eliete, cadê você?

 

Eliete aparece na porta, com um olhar distante.

 

ELIETE

- Resolveu voltar pra casa meu amor?

GENIVALDO

- Ave Maria, o que aconteceu aqui?

 

ELIETE

(calma)

- Deus me mostrou o caminho. Vendi tudo o que tínhamos e doei o dinheiro para a igreja. Ele me avisou em um sonho que em breve serei arrebatada, e até lá, devo viver apenas com o essencial.

 

GENIVALDO

- Eliete, tô ficando realmente preocupado com cê. Isso tá certo não, cê não pode tá regulando bem.

 

 

CENA 14/ INT/ RUA/ CARRO DA JANA/ TARDE

Giovana está sentada no banco do carro da Jana, seu olhar perdido. Jana enquanto dirige não para de se preocupar com a irmã.

 

JANA

(com carinho)

- Que foi, hein Gih? Cê parece tão perdida. O que está acontecendo? Tudo isso não é só por causa de Raul, é?

 

GIOVANA

(com angústia)

- Sabe Jana, toda mudança tem um preço, né mesmo? Pensei que era forte, que era corajosa o suficiente para enfrentar qualquer coisa, mas no final, fracassei. Fracassei em entender a mim mesma, em aceitar quem sou. Tô aqui cheia de dúvidas, de culpa, de medo...

 

JANA

(compreensiva)

- É de Kira que cê tá falando, né?

 

GIOVANA

(suspira)

- Sim, também sobre ela... mas principalmente sobre mim. Eu não tive a coragem de me entender, de aceitar o que sinto, né? Agora tô presa em um mar de incertezas.

 

JANA

- Giovana, não tá tudo perdido. Cê ainda pode lutar pelo seu amor por Kira.

 

GIOVANA

- Oxente, e Raul? Gosto dos dois de uma forma que não sei explicar. Não quero perder Raul, mas também queria viver tudo isso que sinto por Kira.

 

JANA

- Às vezes, o que pensamos ser amor é apenas um costume, uma convenção social. O que cê precisa é tirar a prova.

 

GIOVANA

- Como assim?

 

JANA

- Experimentar, ver o que realmente sente por ela. Talvez seja isso que tá faltando. Vai lá, e deixa a coisa acontecer.

 

 

CENA 15/ EXT/ RUA/ PRAÇA/ TARDE

Darlan e Pandora estão sentados em um banco da praça. Pandora parece distraída, perdida em seus pensamentos, enquanto Darlan a observa com preocupação.

 

DARLAN

(preocupado)

- Cê tá tão estranha desde cedo. O que foi?

 

PANDORA

(direta)

- Darlan, preciso saber... O que cê sente por Maria?

 

DARLAN
- Porque tá perguntando isso?

 

PANDORA

- Sérgio me disse que... viu cês dois se beijando mais cedo na escola. Isso é verdade?

 

Darlan baixa o olhar por um momento.

 

DARLAN

(honesto)

- Sim. Eu beijei Maria hoje mais cedo. Pandora, vou lhe ser sincero. Gosto muito do cê, a gente foi se envolvendo e fui curtindo tudo isso. Mas a verdade não posso negar, é Maria quem amo.

 

 

 

PANDORA

(entristecendo)

- Não tô tão surpresa com isso. No fundo eu já imaginava. Acho melhor a gente dá um tempo, né Darlan? Não tem como eu continuar contigo sabendo que cê gosta de minha irmã.

 

DARLAN
- Cê tá certa. Não seria justo com nós mesmo né?

 

  

Eles se olham por um momento, o peso da situação pairando sobre eles.

 

PANDORA

- Preciso ir embora, depois a gente se fala.

 

Pandora se levanta, dando um último olhar para Darlan antes de se afastar, indo em direção à parada de ônibus. Darlan a observa partir.

 

 

CENA 16/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ TARDE

Genivaldo está sentado na sala de estar, segurando o telefone com ansiedade. Do outro lado da linha, a voz de Giovana ecoa.

 

GIOVANA

(off)

- Não te avexe meu pai, já tamo chegando. Eu e Jana já estamos aí em breve.

 

GENIVALDO

- Pois venha minha filha, sua mãe tá de um jeito preocupante. Tô esperando os cês.

 

Depois que ele desliga, Eliete entra na sala vestida de branco.

 

ELIETE

(olhando para o alto)

- Genivaldo, você precisa entender os prodígios de Deus. Ele me mostrou em sonho, os anjos virão me buscar para o céu. Estou prestes a ser arrebatada.

 

Genivaldo olha para Eliete, preocupado pelo estado dela.

 

GENIVALDO

- Que ponto cê chegou, hein Eliete! Realmente cê não pode tá bem.

 

CENA 17/ EXT/ RUA/ SEMÁFORO/ NOITE

O semáforo está vermelho. Darlan está no meio da rua, mostrando suas habilidades para os motoristas. Ravena para seu carro atrás dos outros veículos e observa Darlan com desdém. Ravena franze a testa, irritada, enquanto observa Darlan.

 

RAVENA

(para si mesma)

- Tá na hora de dá uma lição nesse macho escroto...

 

 

O semáforo muda para verde. Ravena, em um acesso de raiva, acelera o carro em direção a Darlan, que arregala os olhos ao ver o carro em sua direção. 






 

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