Type Here to Get Search Results !

Marcadores

Entre Laços Quebrados - Capítulo 07

 


Entre Laços Quebrados – 07

Criada e escrita por: Vicente de Abreu

Direção Artística: Ezel Lemos


Essa obra pode conter representações negativas e estereótipos da época em que é ambientada



CENA 01: RUAS DA ZONA CENTRAL.RIO DE JANEIRO.  - TARDE

Heloísa caminha pelas ruas movimentadas, mas seu mundo parece distorcido, como se estivesse dentro de um pesadelo. Sua expressão é de puro desespero, seus olhos arregalados refletem o terror que a consome após o diagnóstico cruel da Dra. Virgínia.

HELOÍSA: (em pensamento, frenética) Endometriose... endometriose... como se atreve...

As vozes começam a surgir ao seu redor, distorcendo-se em risadas demoníacas que ecoam em sua mente, como se o próprio inferno estivesse se divertindo às suas custas.

VOZES: (zombando, em coro) Doente, você é uma doente, querida Heloísa! Você está perdida, tão perdida... E se seus sonhos de maternidade se desfizerem?... E se a dor se tornar insuportável?...

[Heloísa cobre os ouvidos, mas é inútil. As risadas malditas continuam, penetrando em sua alma e dilacerando sua sanidade.]

HELOÍSA: (em voz alta, desesperada) Pare! Parem com isso!

As pessoas ao redor olham para ela com misto de preocupação e estranheza, mas para Heloísa, elas são apenas espectadores em seu próprio tormento.

HELOÍSA: (em pensamento, em agonia) Não posso suportar isso... não posso...


CENA 02: RUAS DO RIO DE JANEIRO | EXT. | TARDE 

Heloísa, caminha pelas ruas da cidade com uma expressão perdida e desorientada. Seus olhos estão vermelhos de chorar. Ela para em frente a uma vitrine de uma loja de fantasias, olhando para os trajes expostos.


{ INT. LOJA DE FANTASIAS – DIA }


Heloísa entra na loja, ainda visivelmente abalada. O ambiente está repleto de cores vibrantes e trajes exóticos pendurados nas prateleiras. Ela se dirige até o balcão onde um VENDEDOR, jovem e simpático, a recebe com um sorriso.


VENDEDOR: Boa tarde! Em que posso ajudar?


Heloísa hesita por um momento antes de responder, sua voz embargada.


HELOÍSA: Eu... eu gostaria de ver as barrigas falsas que vocês têm.


O vendedor ergue uma sobrancelha, notando a hesitação de Heloísa, mas decide não questionar.


VENDEDOR: Claro, temos uma variedade de modelos. Para que tipo de fantasia você precisa?


Heloísa respira fundo, tentando manter a compostura.


HELOÍSA: Não é para uma fantasia... é para mim mesma.


O vendedor assente compreensivamente e conduz Heloísa até uma seção específica, onde uma variedade de barrigas falsas está exposta em diferentes tamanhos e formas.


VENDEDOR: Temos essas aqui. São de silicone, bastante realistas.


Heloísa examina as barrigas com um misto de tristeza e determinação. Ela escolhe uma que parece se adequar ao seu tamanho e a segura com delicadeza.


HELOÍSA: Vou levar essa.


O vendedor a observa com curiosidade, mas decide não perguntar. Ele a acompanha até o caixa enquanto Heloísa pega sua carteira para pagar.


VENDEDOR: Espero que goste da sua escolha. E se precisar de mais alguma coisa, estarei por aqui.


Heloísa força um sorriso fraco enquanto paga pela barriga falsa. Assim que termina, ela sai da loja com sua nova aquisição em mãos, determinada a enfrentar o mundo com sua ilusão temporária.


CENA 03: QUARTO DE OTTO | PENSÃO DE INÁ | TARDE.


Otto, está sentado na varanda da pensão, observando o mar. Ele segura uma xícara de café, perdido em pensamentos.

O telefone toca e Otto rapidamente se levanta, atravessando o quarto para atender. Ele pega o receptor e coloca no ouvido, uma expressão de surpresa se espalha por seu rosto enquanto ouve a voz de Hilda, sua mãe, do outro lado da linha.


OTTO: Mãe? Que surpresa!

HILDA (VOZ): Oi, meu filho! Como estão as coisas em Búzios? Espero que esteja aproveitando suas férias.

OTTO: Ah, Búzios está... bem. O clima aqui é ótimo.

HILDA: Fico feliz em ouvir isso. Mas, filho, eu preciso conversar sério com você. Como anda lidando com o passado? Você sabe do que estou falando.


Otto engole em seco, a expressão em seu rosto se torna tensa.


OTTO: Mãe, eu... eu estou tentando lidar com isso da melhor forma possível.


HILDA (VOZ) -  Eu sei que não é fácil, Otto. Mas você precisa se proteger. Não deixe que as sombras do passado te consumam. Você merece ser feliz.


Há um momento de silêncio tenso enquanto Otto processa as palavras de sua mãe.


OTTO - Eu prometo, mãe. Farei o meu melhor.


HILDA (VOZ):  É tudo o que posso pedir. Cuide-se, meu filho. Ligue para mim sempre que precisar.


OTTO : Vou fazer isso. Obrigado, mãe. Por tudo.


HILDA (VOZ) : De nada, querido. Te amo.


Otto desliga o telefone lentamente, sua expressão uma mistura de determinação e melancolia. Ele olha para fora da janela, para o horizonte distante, onde o sol começa a se pôr sobre o mar.


CENA 04: PLANO ABERTO E FLASHS DA CIDADE DO RIO. FIM DE TARDE/ INICIO DA NOITE.


[ TRILHA ON: O Barquinho]

O sol se põe sobre o Rio de Janeiro, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Nas ruas, o movimento do dia diminui: trabalhadores retornam para casa, vendedores recolhem suas barracas. À beira-mar, bares recebem clientes em busca de diversão. Luzes se acendem nos postes, e o cheiro de comida de rua enche o ar. A cidade ganha vida à noite, com suas cores e sons convidando todos a desfrutarem da sua energia pulsante.


CENA 05: MANSÃO ROSSI | INT. | NOITE. 

Na entrada majestosa da mansão, Heloísa desce do carro, sua barriga já evidente sob o vestido. Ela caminha em direção à entrada principal quando é abordada por Dante, seu cunhado, que observa com uma expressão surpresa e interrogativa.

DANTE: Heloísa, que surpresa te ver por aqui! Mas... [ele pausa, olhando para a barriga de Heloísa] sua barriga... parece estar maior desde a última vez que nos vimos.

HELOÍSA: [sorrindo gentilmente] Ah, Dante, é bom te ver também. Sim, parece que minha barriga cresceu um pouco, não é? Mas não se preocupe, está tudo bem.

DANTE: [com uma expressão preocupada] Mas... Heloísa, você não disse que estava grávida há apenas dois meses? Essa barriga está maior do que deveria para esse tempo de gestação.

HELOÍSA: [mantendo a calma] Ah, entendo sua preocupação, Dante. Mas você sabe como é, cada gravidez é diferente. E além disso, a médica me assegurou que o bebê está em perfeitas condições.

DANTE: [ainda um pouco cético] Mas...

HELOÍSA: [interrompendo gentilmente] Dante, eu sei que você se preocupa, mas realmente está tudo bem. E aliás, eu estava indo encontrar seu irmão, podemos continuar essa conversa mais tarde se você quiser.

[Dante olha para Heloísa por mais um momento antes de finalmente ceder, parecendo ainda incerto, mas permitindo que ela continue seu caminho em direção à mansão. Heloísa respira aliviada enquanto continua sua jornada, sabendo que terá mais explicações para dar, mas confiante de que tudo ficará bem.]


CORTA PARA:

CENA 06 -  SUÍTE HELOÍSA E GUILHERME. INT.- BANHEIRO.

[  INSTRUMENTAL ON: Dark Piano - Schizophrenia]

Heloísa está no banheiro, seu olhar fixo no espelho, mas seus olhos refletem uma tormenta interna. Ela segura a barriga falsa com mãos trêmulas, os lábios entreabertos em uma expressão de angústia. Vozes sussurram em sua mente, ecoando como um coro sinistro.


VOZES: Você é uma mãe. Você é uma mãe. Você é uma mãe...

As vozes se intensificam, envolvendo Heloísa em um turbilhão de emoções distorcidas. Ela acaricia a barriga falsa, sua respiração tornando-se mais rápida e irregular.

HELOÍSA: (sussurrando para si mesma) Eu... eu sinto você. Eu sei que está aqui... Por que eles não acreditam em mim?

A sua volta, sombras dançam no reflexo do espelho, distorcendo sua própria imagem. Heloísa fecha os olhos com força, tentando bloquear as vozes que ecoam em sua mente.

VOZES: Eles estão mentindo para você. Eles querem tirar seu filho. Não os deixe fazer isso...

Aterrorizada, Heloísa pressiona a barriga falsa contra seu ventre com mais força, como se estivesse tentando proteger algo precioso.

HELOÍSA: (com desespero) Eu vou provar... Eu vou mostrar a todos que estou certa. Eu vou.


Os sussurros das vozes se misturam ao som do chuveiro, criando uma cacofonia de loucura. Heloísa encara seu reflexo no espelho, seus olhos refletindo a determinação distorcida de uma mente à beira do abismo.



CENA 07: PIER. ZONA PORTUÁRIA DO RIO. 

Rubi está no pier, vestindo um traje sedutor que revela sua confiança e sensualidade. Ela está conversando com um cliente quando um carro luxuoso se aproxima. Otávio, desce do carro e chama por Rubi.

OTÁVIO: Rubi!

RUBI: (sorri) Otávio! Que surpresa te ver aqui.

OTÁVIO: Estava passando e não resisti em vir te buscar. Você está deslumbrante como sempre.

RUBI: (brinca) Ah, você sabe como fazer né gatinho?

Otávio abre a porta do carro para Rubi, que entra com um sorriso travesso. O carro parte, deixando para trás o cenário pitoresco do pier.



CENA 08: INT. QUARTO DO MOTEL.

O quarto de hotel é simples, mas aconchegante. Uma suave luz amarela ilumina o ambiente, destacando a cama de casal no centro. Otávio, está sentado na beira da cama, olhando para Rubi. Há uma atmosfera de intimidade entre os dois.

OTÁVIO: (tímido) Rubi, posso te fazer uma pergunta?

RUBI: Claro, Otávio. Pode perguntar o que quiser.

OTÁVIO: (hesitante) Quais são seus desejos na vida?

RUBI: (sorrindo) Meus desejos... Bem, acho que sou como qualquer outra mulher. Gostaria de encontrar alguém especial, casar, ter filhos... Cuidar da casa e do meu marido.

Otávio observa Rubi com admiração, sua expressão reflete uma mistura de ternura e tristeza.

OTÁVIO: (em tom suave) Isso soa maravilhoso, Rubi. Você merece todas essas coisas e muito mais.

RUBI: (tocando o rosto de Otávio) Obrigada, gato. E você? Tem uma família? Onde vive?

Otávio hesita por um momento, desviando o olhar antes de responder.

OTÁVIO: (com pesar) Eu... Bem, eu sou casado. E moro em Petrópolis.

Um breve silêncio paira sobre o quarto, carregado de tensão e incerteza.

RUBI: (surpresa) Oh... Eu não sabia.

OTÁVIO: (olhando nos olhos de Rubi) É complicado, Rubi. Eu... Estou de mudança por causa do trabalho. Vou trabalhar em um hospital, aqui  na capital.

RUBI: (compreensiva) Eu entendo, docinho. Às vezes, a vida nos coloca em situações difíceis.

Os dois compartilham um olhar significativo, uma conexão silenciosa entre eles. No rádio, a trilha se inicia, de forma baixa, bem intimista em som ambiente.

[ TRILHA ON: Whitesnake - Is This Love]

RUBI – Está tocando a música da primeira vez que estávamos aqui! 

OTÁVIO – (tímido) Me lembro. (Pausa) Rubi, a partir de hoje, sempre que escutarmos essa música, lembraremos que ela é nossa.


Os olhos de Rubi brilham. Os dois se aproximam, encontrando conforto nos braços um do outro

CENA 09: QUARTO DE LUCIANA. PENSÃO DE INÁ. INT. 

Luciana está diante do espelho, terminando de se arrumar. Ela está usando um vestido bonito e mesmo nervosa, está com um sorriso nervoso no rosto. A porta se abre e Iná, sua mãe, entra no quarto, com uma expressão séria.

INÁ: (com preocupação) Luciana, você está saindo?

LUCIANA: (tentando soar animada) Sim, mãe! Vou encontrar o Otto. Estou super animada!

INÁ: (franzindo a testa) Não acho uma boa ideia sair tão tarde, mesmo que seja com esse rapaz, minha filha.

LUCIANA: (defensiva) Mãe, o Otto é uma ótima pessoa. Você sabe disso.

INÁ: (suspirando) Eu sei, mas não gosto de você saindo por aí a essa hora.

LUCIANA olha para o relógio em seu pulso e parece nervosa.

INÁ: (gentilmente) Por que não fica em aqui  hoje? Podemos assistir a um filme juntas.

LUCIANA: (com um sorriso forçado) Eu adoraria, mãe, mas já marquei com o Otto. Prometo que não vou ficar fora muito tarde.

INÁ: (cruzando os braços) Não sinto coisa boa, mas tudo bem, seja cuidadosa, ok? E me avise quando chegar em casa.

LUCIANA: (com um aceno de cabeça) Claro, mãe. Obrigada por se preocupar.

INÁ dá um sorriso fraco antes de sair do quarto. Luciana olha para o espelho mais uma vez, respira fundo e sai, fechando a porta atrás de si.

CORTA PARA:

CENA 10 : INT. RESTAURANTE BEIRA-MAR - NOITE

Luciana, está sentada em uma mesa, nervosa, mexendo os talheres enquanto espera por Otto. Ela olha ansiosamente para a entrada do restaurante, onde finalmente vê Otto entrando.

LUCIANA: (inquieta) Você demorou, Otto.

OTTO: (desculpando-se) Desculpe, tive alguns contratempos. Assuntos de família. 

Os dois se sentam, e um garçom se aproxima para tomar seus pedidos. Enquanto folheiam o cardápio, a tensão no ar é palpável.

LUCIANA: (olhando fixamente para Otto) Precisamos conversar sobre algo importante.

OTTO: (surpreso) O que seria?

Luciana hesita por um momento, reunindo coragem para falar.

LUCIANA: (engolindo em seco) Eu... eu estou grávida, Otto.

Uma mistura de choque e incredulidade atravessa o rosto de Otto. Ele olha para Luciana, como se não pudesse acreditar no que acabou de ouvir.

OTTO: (incrédulo) Grávida?

LUCIANA: (suavizando) Sim, eu fiz o teste ontem. Estou grávida, Otto.

Um silêncio pesado paira sobre a mesa enquanto Otto processa a notícia. Ele parece atordoado, incapaz de articular uma resposta imediata.

OTTO: (calmamente) Luciana, eu... eu não sei o que dizer.

LUCIANA: (olhando para ele, esperançosa) Espero que você esteja feliz. Nós podemos fazer isso juntos, Otto. Seremos uma família.

OTTO: (inexpressivo) Eu preciso de um tempo para pensar.

Luciana abaixa o olhar, desapontada com a reação de Otto. Ela esperava uma resposta diferente, uma demonstração de apoio e felicidade. O garçom retorna à mesa, interrompendo o momento tenso.

GARÇOM: (educadamente) Posso tomar seus pedidos?

Antes que Luciana possa responder, Otto se levanta abruptamente.

OTTO: (olhando para Luciana) Me desculpe, Luciana. Eu preciso ir.

Ele sai apressadamente do restaurante, deixando Luciana sozinha e desamparada, com lágrimas nos olhos.

LUCIANA: Otto, espera!

A câmera foca no rosto angustiado de Luciana.


FIM DO CAPÍTULO. 





 









Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.