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INFERNO URBANO - CAPÍTULO 04

 




WEB-NOVELA

CAPÍTULO #004

ESCRITA POR:

WANDERSON ALBUQUERQUE

CENA 01. BAR. INT. DIA.

Há uma televisão pendurada na parede do bar. O âncora apresenta o jornal e há uma manchete na tela da TV:

CHACINA NO DESALENTO E ATENTADO AO PREFEITO DO RIO DEIXA ESTADO EM ALERTA

CENA 02. COMPLEXO DO DESALENTO. CENTRO ESPÍRITA. DIA. INT.

Alberto caminha pelo corredor do salão principal do centro. Ele está vestido com uma roupa branca. Elizabeth surge com duas caixas.

ELIZABETH (CANSADA) - Nossa, não se fala de outra coisa na comunidade a não ser na chacina que teve aqui ontem.

ALBERTO - É, minha querida, estamos vivendo tempos sombrios. O Desalento sempre teve seus problemas, mas virar manchete nos jornais tantas vezes? Isso é novo.

ELIZABETH - Bom, vamos parar de falar nisso. Aqui são algumas doações que consegui arrecadar. Temos cuscuz, feijão fradinho, charque, inclusive essa é nova, temos até linguiça.

ALBERTO - Vai ser ótimo para criar os jantares dos colaboradores da casa. Precisamos certificar que está tudo ok.

ELIZABETH - Sim, senhor! Estou indo agora levar para cozinha e vou pensar no almoço e também no jantar de hoje.

Elizabeth pega as caixas e entra em uma porta. Alberto vai em direção até o portal do Centro e observa o movimento da rua. Há uma mulher varrendo a calçada. Neste momento, três motos da polícia passam. Os policiais estão segurando fuzis. Alberto os encara

CENA 03. RIO EM AÇÃO. ESCRITÓRIO. DIA. INT.

Felipe digita em seu laptop, quando a porta se abre. Patrícia está vestida com uma regata branca, calça jeans e um blazer por cima da camisa.

FELIPE (ESTENDE A MÃO) - Patrícia! Eu pensei por um momento que você não viria

PATRÍCIA (RETRIBUI O GESTO) - Mil perdões, mas o trânsito hoje está uma loucura.

FELIPE - Imagina. Pode se sentar.

Patrícia senta-se uma cadeira com o acolchoado bege. Felipe pega o seu café e bebe um pouco.

FELIPE - Aceita um café?

PATRÍCIA - Não, obrigada. Café me deixa com ansiedade.

FELIPE - Mas o que é uma jornalista sem ansiedade, não é mesmo? (T) Bom, eu vi o seu dossiê e confesso que fiquei chocado com tantas informações. Você praticamente tem a chance de desvendar uma grade quadrilha.  Eu até perguntaria como conseguiu, mas acredito que isso aqui não precisa nem de outras partes na situação.

PATRÍCIA - Eu até prefiro não contar. Prometi a pessoa que não contaria a ninguém.

FELIPE - Você está certíssima, Patrícia. Olha, isso aqui é muito grave. Logo após a publicação temos que enviar tudo isso para a polícia. Isso aqui é destaque de primeira página, garota! Mas precisamos ter cuidado, claro.

PATRÍCIA - Não se preocupe em relação a isso. Estou aqui para ser uma jornalista séria e que não teme os perigos.

FELIPE - Sabe, você me lembra muito a mim quando eu era da sua idade. Já cheguei até entrevistar serial killer, mas estava ficando comum demais. Tudo que os Estados Unidos fazem, o brasileiro vai lá e imita. Até nisso… Bom, mas vamos lá. Vamos falar sobre sua pretensão salarial.

PATRÍCIA - No outro jornal que eu trabalhava, não ganhava muito. Mas estou aqui para me tornar uma profissional melhor. Então, podemos ver isso depois.

FELIPE - Ótimo! Se quiser, já pode começar amanhã. Pode ver direitinho com o RH e o financeiro todas as questões burocráticas. Patrícia, vai ser uma honra ter você em nossa equipe.

Close em Patrícia que sorri.


CENA 04. RESTAURANTE. INT. DIA.

Samira e Renato estão sentados bebendo um café. O deputado está com um olhar de fúria.

RENATO - Aquele filho da puta do prefeito foi esperto. Adiantou todo o processo só pra não morrer por agora, mas se ele acha que isso vai ser necessário para eu cortar a jugular dele, ele está enganado.

SAMIRA (SUSSURRA) - Ficou maluco, Renato? Se matar o prefeito agora, a investigação vai ficar mais pesada e vai cair em você.

RENATO - Não tem como uma investigação chegar até mim, Samira. Sei muito bem apagar meus rastros, além do mais, tenho gente suficiente na polícia pra apagar qualquer pista.

O garçom chega com um prato de waffles e croissant e coloca sob a mesa deles. Ele sai e cumprimenta com a cabeça.

SAMIRA - Você só está esquecendo de um pequeno detalhe. Se uma investigação recai nas mãos de um delegado como o Miguel, você está completamente fodido! FO-DI-DO.

RENATO (DEBOCHA) - E você acha que um delegadozinho como o Miguel pode fazer algo comigo? Cai na real, Samira. Olha bem pra mim, eu sou padrão europeu. Sou branco, loiro, tenho olhos azuis, um verdadeiro sangue puro. Você acha mesmo que algo vai acontecer comigo?

Samira olha para Renato seriamente como se estivesse analisando.

SAMIRA - É o conselho que estou te dando.

CENA 05. MANSÃO AGOSTINI. SALA. INT. DIA.

Ísis passa o aspirador de pó na sala. Alice abre a porta da sala e da um abraço na mãe.

ISIS - Alice! O que está fazendo aqui? Não estava esperando sua visita hoje. Achei que seu vôo para Mônaco sairia nesta madrugada.

ALICE - Eu precisava vir conversar com você.

Ísis estranha o tom de voz da filha e as duas vão em direção ao sofá e acabam sentando.

ÍSIS - Aconteceu alguma coisa?

ALICE (SÉRIA) - Eu tô grávida.

ÍSIS (COMEMORA) - Meu Deus, minha filha! Isso é maravilhoso! Obviamente precisaremos fazer uns ajustes no seu vestido, mas nada que a costureira não possa dar um jeito.

Alice continua com uma expressão séria. Isis a olha de cima a baixo.

ÍSIS (SÉRIA) - Você não parece feliz com o resultado. O Ivan já está sabendo?

ALICE - Não, ele não está sabendo. Ainda não contei, mas na verdade não quero falar nada para ele. Mãe, eu vou abortar essa criança.

Isis engole em seco e sua expressão de surpresa fica evidente.

ISIS - Um aborto, Alice? Mas que ideia é essa? Se você tirar essa criança agora não vai dar tempo para se recuperar até o casamento. Se você fizer depois, seu marido vai descobrir. Alice… Você não está sendo coerente e muito menos racional.

ALICE - Eu estou mais que decidida a fazer isso. Não quero esse filho e também quero acabar o casamento com o Ivan.

ISIS (DESACREDITA) - Mas isso é uma tolice! O casamento é em duas semanas e você resolveu bancar a arrependida, Alice? Você e o Ivan se conhecem há dez anos! Aliás, ele precisa saber desse bebê. É o filho dele.

ALICE - Ele não vai saber de nada! Vou tirar essa criança e acabou. O corpo é meu, mãe. Eu tenho direito sobre.

ISIS - Mas ele é o pai! Ele precisa saber, Alice. Se você quiser tirar essa criança, pode tirar, mas o filho ainda é dele e precisa saber.

ALICE - A partir do momento em que o feto está sendo gerado dentro de mim, eu decido o que tenho que fazer ou não. Já marquei a data para fazer o aborto. Se você não quiser ir comigo, tudo bem, eu peço para a tia Victoria ir comigo.

ISIS - Como você pode ser tão fria? Se você não quiser essa criança, eu posso criar. A gente da um jeito e eu digo que adotei…

ALICE (GRITA) - CHEGA! CHEGA, MÃE! Já está decidido.

Isis respira fundo e olha para Alice com raiva

ISIS - Próxima vez que ousar levantar sua voz pra mim, eu vou te dar um tapa. Quer fazer esse maldito aborto? Faça! Mas não conte comigo pra isso. Sua tia Victoria está no quarto de hóspedes. Com licença.

Isis levanta-se do sofá e sai. Alice chora.

CENA 06. COMPLEXO DO DESALENTO. BAR DA GEANE.INT.

SONOPLASTIA ON:CANTO DAS TRÊS RAÇAS – CLARA NUNES

A música toca de fundo no bar. O Ambiente está pouco movimentado. Geane segura um prato de misto quente e leva até uma mesa. Ela volta para o balcão e Solange chega.

SOLANGE – Pensei que você não iria abrir o bar depois de ontem.

GEANE – Alguém tem que trabalhar, né? Já basta esses marginais tomando conta da favela e ainda vem os policiais e o BOPE fazendo besteira. Você viu quantas pessoas morreram? QUINZE! Isso nunca aconteceu por aqui. Agora os moradores estão lavando as suas portas. Nunca vi tanto sangue na minha vida.

SOLANGE – Mas quer saber de uma? O BOPE colocou o Jaguar e o Hércules pra correr. O Piaba, Macaxeira e outros morreram em confronto.

GEANE (DEBOCHA) – Já foram tarde! Confronto? Essa é boa! Eles atiraram pra matar mesmo, é isso que o BOPE faz.

SOLANGE – Cada dia que passa, eu fico mais desesperançosa.

GEANE – Ah, eu não. Ainda vou ver esse complexo livre dos bandidos. Pode anotar, minha amiga. Isso aqui ainda será um exemplo. Apesar de tudo, temos muita gente trabalhadora. Confio em Ogum e tudo vai dar certo.

Geane e Solange se olham com esperança. A música toma conta da cena.

CENA 07. COMPLEXO DO DESALENTO. RUAS. INT.

Dandara caminha. Ela está segurando sua bolsa e para em frente a uma banca de jornal.

DANDARA (TIRANDO DINHEIRO DA BOLSA) – Olá, Zeco. Como estão as coisas?

Zeco, um senhor negro de 70 anos está em pé em frente a uma fileira de jornais.

ZECO – Ah, minha filha, estão daquele jeito, né? Tu viu que tentaram matar o prefeito? Essa cidade cada vez que passa... Rum, sei não.

DANDARA – É, eu estava vendo no jornal antes de sair de casa. A família tá boa? O Jhonatan voltou pra casa?

ZECO – Minha filha, Graças a Ogum, o Jhonatan nem foi para faculdade ontem, ficou dizendo que estava com diarreia. Se ele tivesse ido, teria sido pior.

DANDARA – Fico mais aliviada em saber disso. Depois passo lá para fazer uma visita a ele.

ZECO – Vá mesmo!

DANDARA – Vou querer uma resma de papel.

Zeco vai para dentro da banca e retira uma resma e entrega para Dandara que entrega o dinheiro.

ZECO – Ficou sabendo? Parece que o filho do Milton, o bicheiro, morreu aqui. Estava no baile com as irmãs, fugiram na confusão e se perderam dos seguranças e foi atingido por uma bala perdida.

DANDARA – Nossa, não estava sabendo. Acho que depois o Milton baixa aqui para descobrir essa história direito, deve estar sendo uma barra para a família deles.

ZECO – Mas quem acredita nessa história de bala perdida, né? Certeza que sabiam quem era e mandou bala mesmo. Mas veja só, vai ser um problemão. Como que matam um filho de bicheiro? Só pode ser gente doida.

DANDARA (RI) – Talvez, Zeco, sejam pessoas que queiram o lugar do Milton ou quiseram dar um choque nele.

Zeco balança a cabeça confirmando e Dandara se despede dele.

CENA 08. BATALHÃO DO BOPE. SALA. INT. DIA.

O Major Ramalho está com uma feição séria. Ele olha para o computador. Ele é interrompido do transe por Capitão Vasconcelos que bate na porta.

CAP. VASCONCELOS – O senhor pediu para me chamar?

MAJ. RAMALHO. Mandei. Entre e feche as cortinas.

Capitão Vasconcelos fecha a porta e a janela. Ele presta continência ao Major.

MAJ. RAMALHO (FÚRIA) – Mas que porra foi que aconteceu no Desalento?

CAP. VASCONCELOS – Senhor, a polícia militar fez merda, como sempre. Chegamos lá no morro e eles estavam trocando tiros com os traficantes, na verdade, eles estavam completamente encurralados. Se nós não tivéssemos chegado, teriam morrido.

MAJ. RAMALHO – Que deixasse esses cretinos morrerem. Agora aquele bando de hippie desocupado dos direitos humanos está na nossa cola. Já vi até que querem fazer passeata da paz. Bando de arrombado do caralho.

CAP. VASCONCELOS – Mas não podíamos deixar, Major.

MAJ. RAMALHO – Era melhor ter deixado. Esse povo não se importa com a vida de policial, para eles por mais que o traficante esteja errado, eles ainda são vítimas da sociedade. Agora temos que emitir um comunicado para secretaria de segurança.

CAP. VASCONCELOS – Mas senhor, não foi somente traficantes que morreram, pessoas inocentes também.

MAJ. RAMALHO – Tudo um bando de vagabundo desocupado que não deveriam estar naquele baile. Se estivessem em casa, nada disso teria acontecido. Você quer falar de vítimas da sociedade? Então, vamos lá. O que o filho do bicheiro mais poderoso da zona oeste estava fazendo lá? Claro que estava fazendo alguma merda com esses traficantes, né? Vamos torcer pra não sermos investigados, mas quanto a isso, espero não me preocupar.

CAP. VASCONCELOS (SÉRIO) – Mais alguma coisa?

MAJ. RAMALHO – Pode sair.

Capitão Vasconcelos presta continência e sai da sala. Major Ramalho fica com uma expressão de fúria.

CENA 09.  PRAIA DE COPACABANA. EXT. DIA

SONOPLASTIA ON: VOU FESTEJAR – BETH CARVALHO

Há um intenso movimento de pessoas correndo e andando de bike no calçadão. O sol contrasta com o azul do mar que está calma. O dia está ensolarado.

CENA 10. PRAIA DE COPACABANA. QUIOSQUE. EXT. DIA.

Patrícia e Dandara estão sentadas em umas cadeiras de ferro. Elas bebem água de coco. Há uma porção de batata frita na mesa.

PATRÍCIA - Como estão as coisas lá no Desalento? Deve estar sendo uma barra depois de ontem, né?

DANDARA - Ah, a gente se acostumou com o tempo, não é como se fosse normal, mas tem sido bastante recorrente. A gente que mora na favela tem que estar sempre acostumados a recomeçar. Fazemos isso todos os dias.

PATRÍCIA - Não deveria ser assim.

DANDARA - É, mas não vamos falar sobre isso. Conseguiu enviar para o jornal o dossiê?

PATRÍCIA - Enviei e inclusive fui contratada pelo Rio em Ação. Vou ser eternamente grata por ter me dado aquele dossiê.

DANDARA - Fico feliz por você, de verdade. Você tem a chance de colocar não somente o pastor da igreja, mas também algum grande político. Sabe aquele deputado loiro do olho azul, acho que é Renato o nome dele, já fez questão de ir lá algumas vezes. Ele é o deputado do povo evangélico lá na favela, mas com aquela carinha angelical dele, não me engana.

PATRÍCIA - Eu sei quem é sim. Provavelmente deve ser o cabeça do crime.

DANDARA - Mas toma cuidado quando você for investigar a história afundo. Se ele está envolvido com armas, lavagem de dinheiro e religião, claramente não é flor que se cheire, deve ser perigosíssimo.

PATRÍCIA - Vou investigar ainda mais essa história.

Patrícia põe a mão na mão de Dandara. Elas se olham e sorriem.

CENA 11. MANSÃO AGOSTINI. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Isis observa a janela do escritório. Victoria adentra o local e a irmã se assusta com a presença.

VICTORIA - Mas o que deu em você? Te procurei pela casa inteira.

ISIS - Não sei. Estou completamente em choque com a Alice.

VICTORIA - O que ela aprontou dessa vez?

ISIS - Ela quer cancelar o casamento e não para por aí. A Alice está grávida e quer fazer um aborto.

VICTORIA (DÁ DE OMBROS) - Pensei que fosse algo mais sério, Isis. Pelo amor de Deus.

Victoria senta-se no sofá do escritório e pega uma revista e começa a folhear.

ISIS (SURPRESA) - Isso não é sério? A minha filha está grávida e quer abortar! Como você consegue ser tão gélida nessa situação?

VICTORIA (REVIRA OS OLHOS) - Vai começar esse dramalhão? A sua filha é dona do próprio corpo. Se ela estivesse grávida de um bilionário que fosse dono de reservatórios petrolíferos na Arábia Saudita, eu ficaria super preocupada, mas o Ivan? Um executivo de meia tigela de uma multinacional? Por favor, Isis. A Alice está mais que certa e pensando no futuro. Se não quer, tira, simples assim.

ISIS - Às vezes acho que você que é a mãe da Alice, porque vocês combinam muito.

VICTORIA - Eu entendo a sua filha, diferente de você. Que papo cafona, Isis. Não sabia que o aborto para você era tão retrogrado. Pra mim, isso é evolução humana. Imagina só se no auge da minha juventude, lá nos anos 70, encho minha cara e acabo transando com um negro e acabo ficando grávida? Minha querida, jamais iria permitir que isso acontecesse.

ISIS - Olha o que você está falando. Está sendo racista. Lembre-se que seu filho é casado com uma mulher negra.

VICTORIA - Não me lembre disso, fico tonta toda vez que lembro, mas pelo menos ela tem dinheiro, aparentemente veio de boa família, não tem uma linhagem de grandes nomes, porque parece que o bisavô encontrou um diamante e fez a festa. Mas o assunto não é meu filho, é a sua. Dê um tempo a ela, vai que ela se arrepende. Fico triste, porque ela poderia ter contado isso antes de eu embarcar.

ISIS - Ela está decidida e o Ivan não sabe que ela está grávida.

VICTORIA - Mas o Ivan é um tonto também, né? Esse aí pede pra levar um bom par de chifre. Mas enfim, já que ele não sabe, não precisa se preocupar com isso. A Alice ainda vai te dar um neto, óbvio, só se ela não seguir essa tendência louca de virar uma lésbica.

Victoria levanta-se e joga a revista no sofá. Isis observa a irmã e balança a cabeça negativamente.

CENA 12. MATA. EXT. DIA

Jaguar está deitado em volta de pedras. Ele observa algumas nuvens que dão o ar da graça entre as grandes árvores. Hércules aparece e interrompe seu devaneio.

HÉRCULES - Tá pensando em que?

JAGUAR - Na maldita hora que resolvi ajudar você a sair daquela maldita prisão. Você quase botou tudo a perder!

Jaguar levanta-se e fica cara a cara com Hércules.

HÉRCULES - Qual foi, meu mano, eu não fiz merda nenhuma.

JAGUAR - Por sua culpa perdemos vários dos nossos! Tudo por culpa da sua imbecilidade.

HÉRCULES - Tu queria morrer? Se eu não tivesse revidado, aqueles policiais iam atrás da gente, tá ligado? Não contava com a presença dos caveira por aqui.

JAGUAR - Foda-se. Perdemos o Piaba, era o melhor e agora temos que ficar escondidos só Deus sabe até quando por culpa da sua burrice.

HÉRCULES - Tá me tirando, Jaguar? Qual foi? Tu quer quer enterre tu aqui sem qualquer plateia

JAGUAR (RI EM DEBOCHE) - Tá me ameaçando, cuzão?

HÉRCULES - Estou sim.

Hércules da um murro em Jaguar que recua, mas logo revida. Os dois começam a se bater.

CENA 13. APARTAMENTO DE LUXO. QUARTO. INT. DIA

Carmem está ajoelhada diante da sua cama. Ela está trajada toda de preto. Suas filhas Pitaya e Cacau aparecem e vão ao seu encontro. Elas se abraçam.

CARMEM - Minhas meninas…

PITAYA (CHORANDO) - Mãe, me perdoa. O Guto morreu por nossa causa. A gente poderia ter cuidado mais dele, mas não fizemos.

CARMEM (CHORA) - Vocês não tiveram culpa de nada. Ouviram bem? Eu estou orgulhosa de vocês, porque lutaram até o último minuto pra sair de lá. O Guto vai ficar bem e vai nos vigiar de lá de cima. Pode ter certeza, tá bom?

CACAU (CHORA) - Mãe, eu tenho certeza que não foi bala perdida. Uma bala perdida não seria tão certeira a ponto de matá-lo.

Carmem sai do abraço das filhas surpresa com a informação.

CARMEM (SÉRIA) - O que você disse?

CACAU (CHORA) - É isso mesmo, mãe. Não faz o menor sentido o Guto ter sido baleado por uma bala perdida, sendo que a gente já estava teoricamente longe dos confrontos. Quando a gente ouviu o tiro, foi muito próximo. Ou seja, alguém sabia quem éramos e fez questão de matar um de nós.

PITAYA - Ela tem razão, mãe. A gente ouviu um barulho muito alto perto, mas foi apenas um disparo. Não tem como ter sido uma bala perdida.

CARMEM - Vocês tem certeza disso?

Pitaya e Cacau assentem a cabeça em confirmação. Carmem levanta-se e vai em direção a janela do quarto.

CARMEM (SUSSURRA) - O cretino que fez isso, me paga.

O olhar de Carmem é vazio.

CENA 14. DELEGACIA. ESCRITÓRIO. INT. DIA

Miguel escreve em um quadro branco em seu escritório. Ele analisa com cuidado as informações. Em um painel de madeira ao lado, ele põe fotos de quatro homens mortos neste painel. Samira abre a porta e olha para a cena e fica assustada.

SAMIRA - O que é isso?

MIGUEL - Chegaram essas fotos da autópsia sobre os corpos encontrados lá na zona norte.

SAMIRA - Está chegando alguma conclusão?

MIGUEL (RI) - Conclusão, Samira? Comecei a investigação literalmente agora, mas o que me intriga é que essas mortes foram no mesmo dia do atentado contra a Patrícia, a jornalista. Não que isso tenha relação, mas essa violência tão repentina? Tem algo aí.

Samira ri de canto de boca e olha para Miguel.

SAMIRA - Acho que podemos investigar bem esse caso.

MIGUEL - E iremos. Só preciso ter cautela. Foi um susto, mas algo está muito estranho nessa história toda.

Miguel continua observando o painel e Samira mexe em seu cabelo.

CENA 15. COPACABANA. EXT. DIA

SONOPLASTIA ON: EU AMO VOCÊ - TIM MAIA

Patrícia caminha pelo calçadão e senta-se em um banco. Ela pega seu telefone e abre a mensagem de Felipe

“Para comemorar a sua chegada, vamos publicar na primeira página. Queremos prender todos esses pastores safados.”

Patrícia sorri e guarda seu telefone. As ondas do mar fazem barulho em contraste com a sonoplastia. 


FIM DO CAPÍTULO 04



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