WEB-NOVELA
CAPÍTULO #008
ESCRITA POR:
WANDERSON ALBUQUERQUE
CENA 01. COMPLEXO DO DESALENTO. CASA. SALA. INT.
DIA.
Dandara assiste ao vídeo e leva a mão a boca ao olhar as
imagens. O Policial observa o corpo e cospe. Ele dá um sorriso e sai. Uma poça
de sangue se forma ao redor do corpo.
DANDARA (SURPRESA) - Meu Deus, que horror é esse?
Açucena surge com algumas roupas dobradas. Ela vê a filha tensa
e coloca as roupas no braço do sofá.
AÇUCENA - O que aconteceu, minha filha? Você está pálida.
DANDARA - Mãe, acabei de receber o vídeo mais tenebroso da minha
vida. Um policial matando um morador daqui do Desalento, mas o pior de tudo é
que esse cretino simplesmente ri e debocha.
AÇUCENA - Que horror! Quem era o rapaz? Não era nenhum marginal,
não?
DANDARA - Mesmo que fosse! Não dá o direito de nenhum policial
chegar aqui e fazer o que quiser. Eu conhecia esse rapaz, ele era o filho de
Tânia, a dona do hortifruti, perto do mercadinho. Ele era um menino bom, lembro
que já dei uma palestra e ele estava lá.
AÇUCENA - Eu sei, minha filha. Foi um modo de me expressar.(T) E
o que você irá fazer com essas imagens?
DANDARA - Não posso entregar a polícia. Imagine só, uma mulher
preta denunciando um policial? Eu estaria morta no outro dia. Mas eu sei de
alguém que pode me ajudar.
Dandara fica pensativa e Açucena leva a mão ao coração
aflita.
CENA 02. RIO EM AÇÃO. INT. DIA
Patrícia está sentada em sua mesa fazendo anotações em seu
caderno. Ela põe um post it no monitor do seu computador. O elevador da sala
abre e os funcionários se surpreendem com a visita.
DEP. RENATO - Muito bom dia para todos vocês.
PATRÍCIA (P/SI) - O que esse cara está fazendo aqui? Felipe
abre a porta de sua sala e vai em direção ao Deputado e eles se
cumprimentam.
FELIPE - É uma honra ter o senhor por aqui.
DEP. RENATO - Vamos deixar as informalidades para outro momento,
Felipe. Estou aqui para uma conversa franca de amigos (RI)
FELIPE - Vamos até a minha sala. Felipe e Renato vão em
direção a uma sala.
Eles entram e as cortinas são baixadas. Patrícia observa com um
olhar sério.
CENA 03. PEDRA DA GÁVEA. EXT. DIA.
Capitão Vasconcelos bebe um pouco de água de sua garrafa. Ele
observa o Rio de Janeiro de cima e respira fundo. O Tenente Carvalho chega
perto dele.
TEN. CARVALHO – Precisamos ir.
Minhas pernas doem muito. Não imaginava que seria tão cansativo chegar até
aqui.
CAP. VASCONCELOS – Agora você pode
dizer que realmente está batizado na corporação, tenente.
TEN. CARVALHO – Mas espero que isso
não se repita, acho que nem consigo sentir meus dedos.
CAP. VASCONCELOS – Só pela moleza,
iremos até o batalhão correndo.
TEN. CARVALHO – O quê? Mas são mais
de 50 minutos a pé.
CAP. VASCONCELOS – Reclamou, porque
quis, Tenente. Ah, todos nós estaremos acompanhando sua corrida de dentro do
carro.
O Tenente leva a mão a cabeça e agacha. Os outros oficiais estão
bebendo água e se alongando.
Agora vemos o RIO DE JANEIRO de da visão da Pedra da Gávea. O
céu está azul, há poucas nuvens.
CENA 04.COMPLEXO DO DESALENTO. ONG. ESCRITÓRIO. INT.
DIA.
Dandara abre a porta e coloca a sua bolsa em uma cadeira preta
ao lado de um pequeno armário de ferro. Ela vai em direção até o computador e
põe um cabo no seu celular, conectando ao PC. A transferência de arquivo
começa. Jhonatan entra na sala.
JHONATAN – Está muito ocupada,
Dandara? A aula de capoeira vai começar daqui a pouco.
DANDARA – Não, só estou finalizando
a transferência de um arquivo aqui. Recebi um vídeo de um policial matando a
queima roupa um morador.
JHONATAN (SURPRESO) – O quê?
DANDARA – É, eu também tive essa
mesma reação. Como pode esses canalhas matarem assim?
JHONATAN – E o que você vai fazer
com esse vídeo?
DANDARA – Ainda não sei, mas
convenhamos que seria um tiro no pé entregar isso aqui a polícia, não acha?
JHONATAN – Mas é claro. Eles vivem
soltando caô pra cima da gente, não dá pra confiar.
Dandara balança a cabeça em afirmação. O celular dela vibra e
uma mensagem aparece na tela de Patrícia.
NO CELULAR: O Deputado Renato Queiróz está aqui no Jornal.
Dandara olha mensagem e estranha.
JHONATAN – Aconteceu alguma coisa?
DANDARA – Não, não é nada. Mas
minha intuição está me dizendo que vem alguma coisa muito pesada aí.
Jhonatan olha para Dandara com apreensão.
CENA 05. AVENIDAS DO RIO DE JANEIRO. EXT.DIA
SONOPLASTIA ON: BRASIL – GAL
COSTA
Há um trânsito caótico acontecendo. Carros buzinam
constantemente, criando um som alto e irritante. Neste momento, vemos um grupo
de doze jovens correndo no meio do carro e quebrando os vidros dos carros para
assaltar. Alguns tentam entrar dentro de um ônibus, mas são impedidos. A
polícia militar aparece e o grupo foge.
CENA 06. RIO EM AÇÃO. SALA. INT. DIA.
O Deputado Renato olha para o seu relógio, enquanto Felipe está
observando a paisagem através da janela.
DEP. RENATO – Como eu disse,
preciso de uma assessora de imprensa. Vou me candidatar ao senado e preciso de
uma equipe competente ao meu lado, pensei que você poderia ceder um dos seus
funcionários para trabalhar comigo.
FELIPE – Veja só o que está me
pedindo, Renato. Eu teria que ficar sem alguém da minha equipe, mas confio em
todos que estão aqui e para trabalhar aqui, você sabe muito bem que eu não
posso ter qualquer um.
DEP. RENATO – Bom, estou sendo
cordial com você. Posso muito bem oferecer uma grande quantia em dinheiro para
qualquer um desses seus funcionários. Não me faça ir para esse lado, Felipe.
Felipe observa Renato e senta-se em uma cadeira. Ele balança a
perna como uma resposta a ansiedade.
FELIPE – Vou ter uma reunião
interna e te dou uma resposta até o final da semana.
DEP. RENATO – Ótimo! É assim que eu
gosto, Felipe. Prometo que será bem recompensado por toda a sua bondade.
FELIPE (SÉRIO) – Escute bem,
próxima vez que me ameaçar de alguma forma, eu acabo com você, não se esqueça
do nosso segredinho. Não tenho medo nenhum de ir preso para fazer o que é
certo.
Renato sorri e levanta-se da cadeira. Ele ajeita seu paletó e
vai até Felipe e dá um tapa no jornalista.
DEP. RENATO – Quem você acha que
vai ficar na cadeira? Eu, um deputado, branco, no mais alto dos meus
privilégios, ou um jornalistazinho preto?
Felipe com a mão no rosto olha sério para Renato com muita fúria
em seu olhar. O deputado ajeita o seu paletó mais uma vez e tira um lenço do
bolso da calça e enxuga o rosto e coloca novamente. Ele vai em direção a porta.
DEP. RENATO – O recado está dado,
Felipe.
Renato abre a porta e sai. Felipe fecha os olhos e respira
fundo.
CENA 07. APARTAMENTO DE LUXO. EXT.
Tomada rápida da fachada
CENA 08. APARTAMENTO DE LUXO. COZINHA. INT. DIA.
Auzira está lavando uns pratos. O som da panela de pressão no
fogão toma conta do ambiente. Carmem aparece e abre um armário e pega um pacote
de macarrão.
AUZIRA – Oi, minha querida. Achei que iria demorar na rua.
CARMEM – É, acabei chegando mais cedo. Resolvi fazer uma
macarronada rápida. (T) Falando nisso, o cheiro está chegando na porta do
apartamento.
AUZIRA – Estou fazendo um lombo acebolado. Sei que você e o
Milton amam, então resolvi fazer.
CARMEM – Obrigada, Auzira. A senhora tem sido como uma
verdadeira mãe pra mim.
Auzira desliga a torneira e enxuga as mãos no pano que está no
ombro.
AUZIRA – Olha, Carmem. Quando o irmão do Milton morreu, o meu
chão caiu. Eu só queria ficar na cama. Eu estava completamente entregue a uma
possível depressão, só que aí, eu olhei e pensei: “O Milton precisa de mim”.
Minha família ainda precisa de mim e não era justo me entregar dessa forma.
Essa dor não vai passar, não vai diminuir, mas tenho certeza que você irá
aprender a conviver com ela. Não terá um minuto sequer que não irá pensar no
Guto. Eu sei que não é a ordem natural da vida, mas Deus deve ter um propósito
para isso. Você tem duas filhas lindas e um marido doido, é verdade, mas que te
ama e faz tudo por você. O Guto ainda está no seu coração.
Os olhos de Carmem ficam marejados e rapidamente ela enxuga uma
lágrima que escorre. Ela funga e suspira.
AUZIRA – Vem cá.
Auzira vai em direção de Carmem e a abraça. Carmem está com os
braços baixados, lentamente ela aperta Auzira e as lágrimas caem.
CENA 09. COMPLEXO DO DESALENTO. EXT. NOITE
SONOPLASTIA
ON: BUMBUM DE OURO – GLÓRIA GROOVE
Crianças brincam de bola nas ruas. Um mototáxi passa. Pessoas
ficam na porta de suas casas conversando.
SLOW MOTION: Uma mulher negra de 25 anos desce as escadarias do
Desalento. Seu corpo é deslumbrante. Ela está vestida com um short jeans e uma
blusa branca. Ela vai em direção ao bar da Geane.
CENA 10. COMPLEXO DO DESALENTO. BAR DA GEANE. INT.
NOITE.
Sayonara adentra o ambiente e senta-se em uma mesa. Geane
observa de longe e vai até ela e fica parada ao lado da mesa da moça.
SAYONARA (DEBOCHA) – Qual foi, Dona Geane? Vai ficar só me
olhando mermo?
GEANE – Quero só ver se tu vai dar calote, viu?
SAYONARA – Pode por na conta do Hércules, viu?
GEANE (RI) – Daquele traficante? Ele está preso, querida. Não
vou cair nesse golpe.
SAYONARA – Ih, deixa de barro, Geane. Mas se o problema for
dinheiro, não se preocupe.
Sayonara tira uma nota de R$50,00 do bolso do short e coloca em
cima da mesa. Geane pega a nota e joga contra luz.
GEANE – Sempre bom conferir. (T) Agora diz, o que você quer?
SAYONARA – Quero uma cerveja e uma porção de batatas fritas e um
espetinho de frango.
Geane olha de canto de olho e anota o pedido e sai.
CENA 11. COMPLEXO DO DESALENTO. EXT.
Há um corpo no chão. Algumas pessoas vão até o corpo e ficam
curiosos. Começa uma movimentação intensa.
Vamos vendo o corpo de baixo pra cima. Mostra-se o rosto. É Rael.
Ao redor do seu pescoço está um terço na cor prata. Os olhos estão cortados em
um formato de “X”.
Fim do capítulo 08
Obrigado pelo seu comentário!