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Entre Laços Quebrados - Penúltimo Capítulo

 

 


ENTRE LAÇOS QUEBRADOS | CAPÍTULO 27

PENÚLTIMO CAPÍTULO

Criada e escrita por: Vicente de Abreu
Produção Artística: Ezel Lemos


Essa obra pode conter representações negativas e estereótipos da época em que é ambientada.



ANTERIORMENTE


CENA 01: PENSÃO DE INÁ. INT. DIA

 Iná está sentada à mesa, tomando seu café da manhã. Ela está inquieta, com o olhar perdido em seus pensamentos. O som de passos no corredor chama sua atenção. Hector aparece na porta, segurando malas.


INÁ: (transtornada) Hector, o que está fazendo?

HECTOR: (com firmeza) Estou indo embora, Iná. Não posso ficar com uma criminosa.

INÁ: (desesperada) O quê? Não, Hector, você não pode fazer isso! Nós podemos resolver isso juntos!

HECTOR: (decidido) Não há nada a resolver, Iná. O que você fez é imperdoável. Eu não posso mais ficar aqui, vivendo essa mentira.

Iná se levanta abruptamente, as lágrimas começando a escorrer por seu rosto.

INÁ: (chorando) Hector, por favor! Não me deixe! Eu fiz isso por uma vida melhor!

HECTOR: (duro) Uma vida melhor construída sobre mentiras e sofrimento? Eu não quero isso.

Hector começa a sair pela porta. Iná, em desespero, se arrasta de joelhos até ele, segurando seu braço.

INÁ: (suplicando) Por favor, Hector! Não me abandone! Eu não posso ficar sozinha de novo! Eu te amo!

HECTOR: (tentando se desvencilhar) Iná, você precisa entender que o que fez é errado. Eu não posso simplesmente ignorar isso.

INÁ: (se agarrando a ele) Eu farei qualquer coisa, Hector! Por favor, me dê mais uma chance!

HECTOR: (separando-se dela)
Não posso, Iná. Você precisa enfrentar as consequências dos seus atos.

Hector se afasta, com Iná ainda de joelhos na entrada, soluçando. Ele caminha até a rua, sem olhar para trás. Iná se arrasta até a porta, gritando por ele.


CENA 02: EXT. FACHADA DA PENSÃO. RUA. 

De repente, duas viaturas policiais chegam ao local, com as sirenes ligadas. Os policiais saem dos carros e caminham rapidamente até Iná.


POLICIAL 1: (firmemente) Iná dos Santos, você está presa.

INÁ: (surpresa, ainda de joelhos) O quê? Não, por favor!

Os policiais a levantam e algemam suas mãos. Iná tenta resistir, mas é inútil.

POLICIAL 2: (mostrando o mandato) Temos um mandado de prisão para você.

Iná olha em volta, desesperada, tentando encontrar algum apoio. Ao fundo, Luciana, Marlene, Serginho e Guilherme observam a cena com expressões variadas de choque e tristeza.

INÁ: (suplicando, enquanto é algemada) Luciana! Por favor, me ajude! Eu sou sua mãe!

Os policiais começam a levar Iná para a viatura. Ela continua gritando e chorando, mas a multidão ao redor apenas observa em silêncio. Luciana encara Iná com desprezo e desgosto.

INÁ: (gritando enquanto é colocada na viatura) Eu fiz tudo por você, Luciana! Por favor, não me deixe!

Os policiais fecham a porta da viatura e ela parte, deixando a multidão dispersa. Luciana observa enquanto Marlene a abraça, dando-lhe apoio.


CONTINUAÇÃO:


CENA 03: EXT. FACHADA DA PENSÃO. RUA.

 

MARLENE: (consolando Luciana) Você fez o que era certo, querida. Agora, é hora dela pagar pelos seus atos.

SERGINHO: (sério) A justiça precisa ser feita.

GUILHERME: (compreensivo) Estamos aqui por você, Luciana.

Luciana limpa as lágrimas e olha para seus amigos e família com uma nova determinação.

LUCIANA: (com força renovada) Vocês estão certos. Não vou deixar que isso me destrua. Vou encontrar meu filho e trazer justiça para ele também.

Eles começam a caminhar juntos pela rua, a câmera se afasta, mostrando a fachada da pensão e a rua movimentada, enquanto o grupo segue seu caminho.


CENA 04: INT. DELEGACIA. DIA


Iná está sentada, ainda algemada, com olhos vermelhos de tanto chorar. Detetives Renata e Santiago entram na sala, carregando pastas e documentos.

RENATA: (séria, sentando-se) Iná dos Santos, vamos começar. Você está ciente das acusações contra você?

INÁ: (nervosa, mas tentando se recompor) Eu não fiz nada de errado. Vocês estão cometendo um engano.

SANTIAGO: (franzindo a testa) Um engano? Temos provas substanciais contra você, Iná.

RENATA: (abrindo uma pasta e tirando fotos) Essas são fotos e registros que conectam você à venda do seu neto. Temos testemunhos que corroboram isso.

INÁ: (negando, tentando soar convincente) Isso é uma conspiração! Eu nunca faria isso com meu neto!

SANTIAGO: (irritado) Conspiração? Temos confissões de Virginia e Heloísa. Elas admitiram que você estava envolvida no esquema de venda.

RENATA: (mostrando os depoimentos) Aqui estão as transcrições das confissões. Elas detalham exatamente como você planejou e executou a venda.

INÁ: (suplicando) Elas estão mentindo! Estão tentando me incriminar para se livrarem de problemas!

SANTIAGO: (frustrado) Iná, você pode continuar negando, mas as provas são esmagadoras. Quanto mais você nega, pior fica para você.

RENATA: (diretamente) Se você confessar agora, podemos considerar isso na sua sentença. Mas continuar mentindo só vai piorar as coisas.

INÁ: (desesperada) Eu não fiz isso! Eu estava apenas tentando ajudar minha família! Vocês não entendem!

RENATA: (frustrada) O que precisamos entender, Iná, é por que você fez isso. O dinheiro? A necessidade de escapar? O que te levou a cometer esse crime?

SANTIAGO: (apoiando) Confessar pode ser o primeiro passo para você encontrar alguma redenção. Continuar mentindo só vai te afundar mais.

Iná olha para eles, os olhos cheios de lágrimas e desespero. Ela parece estar à beira de um colapso, mas ainda mantém a negação.

INÁ: (chorando) Eu não posso confessar algo que não fiz. Eu sou inocente.

RENATA: (suspirando) Muito bem, Iná. Continuaremos a investigação, mas saiba que temos todas as provas que precisamos.

SANTIAGO: (levantando-se) Você será levada para a cela agora. Pense bem no que vai fazer daqui para frente.

Os detetives se levantam e saem da sala, deixando Iná sozinha, algemada e desolada. 


CORTA PARA:

CENA 05: INT. DELEGACIA. SALA DE DETETIVES

Renata e Santiago estão sentados em suas mesas, revisando documentos e fazendo anotações. O telefone de Renata toca, e ela atende prontamente.

RENATA: (alô) Detetive Renata falando.

VOZ NO TELEFONE: (informando) Detetive Renata, aqui é o agente Almeida. Tenho uma atualização sobre Heloísa. Ela continua foragida. Não conseguimos localizá-la ainda.

RENATA: (franzindo a testa) Entendo. Alguma pista nova?

AGENTE ALMEIDA: (voz no telefone) Ainda estamos investigando, mas até agora, nada concreto. Ela parece ter desaparecido sem deixar rastros.

RENATA: (suspirando) Ok, obrigada pela atualização. Continue procurando e me mantenha informada.

Renata desliga o telefone e olha para Santiago, que estava prestando atenção na conversa.

SANTIAGO: (curioso) Novidades sobre Heloísa?

RENATA: (desanimada) Ela ainda está foragida. Nenhuma pista nova até agora. Parece que desapareceu completamente.

SANTIAGO: (franzindo a testa) Isso complica as coisas. Precisamos dela para fechar o caso contra Iná. Sem a confissão de Heloísa, fica mais difícil.

RENATA: (determinada) Eu sei. Mas vamos continuar procurando. Ela não pode se esconder para sempre.

SANTIAGO: (reflexivo) Talvez devêssemos intensificar a vigilância em possíveis contatos dela. Amigos, familiares... alguém deve saber onde ela está.

RENATA: (concordando) Boa ideia. Vou pedir para a equipe focar nisso. Não podemos deixar essa brecha no caso.

SANTIAGO: (levantando-se) Vou falar com a equipe agora mesmo. Não podemos perder tempo.

RENATA: (firme) Isso mesmo. Vamos encontrá-la, Santiago. Custe o que custar.

Santiago sai do escritório para coordenar a equipe. Renata fica pensativa por um momento, depois volta a revisar os documentos, determinada a resolver o caso.


CENA 06: EXT. PRAÇA CENTRAL. CIDADE AREAL. RIO DE JANEIRO - TARDE


O sol dourado de tarde ilumina a pacata cidade de Areal, no interior do Rio de Janeiro. Árvores antigas balançam suavemente ao vento, enquanto crianças correm brincando pela praça central, rodeada por casas coloridas e um clima de tranquilidade.

Heloísa, visivelmente desgastada, caminha pelas ruas desertas da cidade.  Seus cabelos desgrenhados balançam ao vento e seu rosto está marcado pelo cansaço e pela dor. Ela caminha lentamente, com passos vacilantes, até chegar a um sítio isolado.


CENA 07: EXT. SÍTIO

O sítio é simples, com uma pequena casa de madeira no meio do terreno. Heloísa para por um momento e olha ao redor, absorvendo a paisagem familiar. Seus olhos enchem-se de lágrimas. Ela abre um portãozinho de cercas de arame e entra no sítio.


CENA 08: EXT. SÍTIO - CASA 

Aproximando-se da casa, Heloísa vê uma senhora idosa sentada em uma cadeira de balanço na varanda. É a avó Dinorá, observando-a com um olhar sereno e conhecedor. Heloísa desaba em emoção ao vê-la.

HELOÍSA: (chorosa e com voz trêmula) Vó Dinorá...

Dinorá levanta-se devagar, apoiando-se na bengala, e caminha na direção de Heloísa. Ela abre os braços, acolhendo a neta em um abraço apertado. Heloísa soluça descontroladamente, deixando-se envolver pelo carinho da avó.

DINORÁ: (sussurrando com ternura) Minha menina... sabia que você voltaria para casa.

HELOÍSA: (ainda soluçando) Eu não sabia para onde mais ir, vó.

Dinorá afaga os cabelos de Heloísa com cuidado, como se estivesse cuidando de uma criança frágil.

DINORÁ: Você sempre terá um lugar aqui, minha querida. Sempre. Vamos, entre. Você precisa descansar.


CENA 09: INT. CASA - SALA

A casa é simples, mas acolhedora. Heloísa se senta no sofá enquanto Dinorá vai até a cozinha e volta com uma xícara de chá quente.

DINORÁ: (oferecendo a xícara) Tome, vai te fazer bem.

Heloísa pega a xícara com as mãos trêmulas e toma um gole. As lágrimas continuam a escorrer por seu rosto.

HELOÍSA:  (baixinho) Eu fiz tantas coisas erradas, vó. Eu não sou a mesma. Eu...

DINORÁ: Shhh... calma, minha querida. Você está em casa agora. Aqui você está segura.

HELOÍSA: Eu tenho tanto medo, vovó. Medo de mim mesma, medo do que eu me tornei. Eu só quero que a dor pare.

Heloísa chora mais intensamente, mas há um leve sorriso de alívio em seu rosto. Ela encontrou um refúgio no meio de sua tempestade interior.


CENA 10: INT. SALA DE REUNIÕES. HOSPITAL VITAL ROSSI.

Renata e Santiago estão sentados à mesa com vários membros da equipe do hospital: Stênio e Hilda e outros colegas de trabalho. A atmosfera é tensa e todos estão visivelmente desconfortáveis.

RENATA: (olhando ao redor) Agradecemos a todos por estarem aqui. Estamos tentando localizar Heloísa e precisamos de toda a ajuda possível. Alguém tem alguma informação sobre seu paradeiro?

STÊNIO: (sério) Nós não temos ideia de onde ela possa estar. Ela sumiu sem deixar rastros.

HILDA: (confirmando) Isso mesmo. Estamos tão surpresos quanto vocês. Não tivemos contato com ela desde que desapareceu.

SANTIAGO: (analisando) E quanto aos colegas de trabalho? Alguém aqui viu ou ouviu algo que possa nos ajudar?

STÊNIO: (nervoso) Eu não vi Heloísa há semanas, desde que foi presa. Ela não mencionou nada fora do normal antes de desaparecer.

HILDA: (concordando) Ela estava agindo de forma estranha nos últimos dias, mas não disse nada sobre ir embora.

RENATA: (pressionando) Estranha como? Algo específico que possamos usar?

HILDA: (hesitante) Ela estava mais nervosa do que o normal. Parecia preocupada, mas não quis falar sobre isso.

RENATA: (diretamente) E ninguém aqui teve contato com ela desde então? Nenhuma mensagem, ligação, nada?

STÊNIO(frustrado) Nada. Estamos tão no escuro quanto vocês.

HILDA: (suspirando) Temos procurado por ela, mas sem sucesso. Parece que ela não quer ser encontrada.

SANTIAGO: (para a equipe) Vamos intensificar a busca. Verifiquem todas as pistas, conversem com todos que puderem. Alguém deve saber alguma coisa.

RENATA: (olhando para todos) Se alguém aqui se lembrar de qualquer detalhe, por menor que seja, entre em contato conosco imediatamente. Precisamos encontrar Heloísa.

Os membros da equipe do hospital assentem, visivelmente preocupados. Renata e Santiago se levantam, prontos para continuar a investigação.

RENATA: (firmemente) Obrigado a todos. Continuaremos nossas buscas e esperamos ter notícias em breve.

Os detetives saem da sala, deixando os funcionários do hospital em silêncio, preocupados com o que virá a seguir.


CENA 11: INT. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. PETRÓPOLIS.

Débora está sentada em uma cadeira confortável, em frente à mesa de um advogado experiente, Sr. ALMEIDA. Ele está revisando alguns documentos enquanto Débora, visivelmente abatida, tenta manter a compostura.

SR. ALMEIDA: (lentamente, olhando os documentos) Entendo, Débora. Então, você gostaria de dar entrada no pedido de divórcio e solicitar pensão alimentícia. Pode me contar um pouco mais sobre a situação?

DÉBORA: (nervosa, mas determinada) Sim, Sr. Almeida. Eu e Otávio estamos casados há cinco anos. Recentemente, eu descobri que ele estava me traindo com outra pessoa. Foi uma traição que abalou completamente a nossa relação.

Sr. Almeida assente, fazendo anotações rápidas.

SR. ALMEIDA: Lamento ouvir isso. Você mencionou que gostaria de pedir pensão alimentícia. Vocês têm filhos?

DÉBORA: (nervosa, mas determinada) Sim, temos um filho. E eu dediquei grande parte do meu tempo para apoiar a carreira de Otávio, deixando a minha em segundo plano. Eu acredito que tenho direito a um suporte financeiro até conseguir me reerguer profissionalmente.

Sr. Almeida acena com a cabeça, compreendendo a situação.

SR. ALMEIDA: Isso é perfeitamente razoável. Vamos começar com os documentos necessários para o divórcio. Você tem alguma prova da traição?

DÉBORA: (simplesmente) Bom, tenho o endereço do apartamento que ele deu para a amante. E também… tenho uma testemunha.

Débora entrega o papel com endereço para Sr. Almeida, que o examina brevemente.

SR. ALMEIDA: Isso será útil. Vamos preparar um acordo que cubra tanto o divórcio quanto a pensão alimentícia. Você já discutiu isso com Otávio?

DÉBORA: (suspira) Não em detalhes. Ele sabe que quero me separar, mas não conversamos sobre os termos legais.

SR. ALMEIDA: (entendendo) Tudo bem. Vamos tomar a iniciativa e enviar uma proposta formal. Será melhor para ambos ter isso documentado e organizado legalmente.

Débora parece aliviada com a abordagem direta do advogado.

DÉBORA: Obrigada, Sr. Almeida. Eu só quero seguir em frente e reconstruir minha vida.

SR. ALMEIDA: Vamos fazer isso acontecer, Débora. Você não está sozinha nessa.

Sr. Almeida começa a digitar no computador, iniciando o processo enquanto Débora observa, sentindo um peso ser gradualmente removido de seus ombros.


CENA 12: INT. PRISÃO FEMININA.


Iná está sentada na cama, pensativa. Outra detenta, Marta, está sentada na cama oposta, observando Iná com curiosidade.

MARTA: (curiosa) Você parece perturbada. Primeira vez aqui?

INÁ: (fria) Não é da sua conta.

MARTA: (dando de ombros) Tanto faz. Você vai precisar se acostumar com isso aqui.

A porta da cela se abre e um guarda anuncia que é hora do almoço. As detentas começam a sair da cela em direção ao refeitório.


CORTA PARA: 

CENA 13: INT. REFEITÓRIO DA PRISÃO. 

Iná se serve na bandeja e procura um lugar para sentar. Ela escolhe uma mesa vazia e se senta, começando a comer. Uma detenta imponente, Carla, se aproxima com um grupo de seguidoras.

CARLA: (irritada) Esse lugar é meu. Eu sou a chefe aqui.

INÁ: (sarcástica) Parabéns. Mas não vejo seu nome na cadeira.

Carla fica furiosa e começa a ofender Iná.

CARLA: (raivosa) Você acha que pode falar assim comigo? Você não sabe quem eu sou?

Uma detenta próxima, grita do outro lado do refeitório.

DETENTA:  (gritando) Aí, essa é a mulher que vendeu o próprio neto!

O refeitório fica em silêncio por um momento, antes de murmúrios e olhares de desgosto se espalharem. Iná se levanta, enfrentando Carla.

INÁ:  (defensiva) Vocês não sabem de nada. Não me julguem sem conhecer a verdade.

CARLA: (ameaçadora) Eu não me importo com a sua verdade. Aqui, você respeita as regras. E a regra é que você não senta no meu lugar.

INÁ: (desafiadora) E eu disse que não vejo seu nome aqui.

Carla não gosta do tom de Iná e avança para cima dela. As duas começam a brigar, trocando socos e empurrões. Outras detentas começam a gritar e torcer, criando um caos no refeitório. Guardas correm para separar a briga.

GUARDA 1: (gritando) Parem com isso agora!

GUARDA 2: (agarrando Carla) Separar! Agora!

Os guardas finalmente conseguem separar as duas. Carla é puxada para longe, ainda furiosa, enquanto Iná é levada de volta para a cela, respirando pesadamente.

GUARDA 1: (para Iná) Você está pedindo para arrumar problemas, hein?

INÁ: (sussurrando para si mesma) Eu já tenho problemas suficientes.


CENA 14: INTERIOR - BOATE - FIM DE TARDE. 

Rubi, Tigre e Leona estão no salão principal da boate, ajudando na organização da noite Ball Room. A atmosfera é de antecipação e excitação, mas Rubi parece distante e melancólica, contrastando com a energia dos outros.

TIGRE: (entusiasmado, ajustando as luzes) Está ficando ótimo aqui, não está, Rubi?

LEONA: (sorrindo, pendurando decorações) Sim! Mal posso esperar para ver tudo pronto. Será uma noite incrível.

Rubi assente com um sorriso forçado, tentando se manter envolvida na preparação.

RUBI: (suspirando, olhando ao redor) Sim, vai ser fantástico.

Ela ajuda discretamente, mas sua mente parece estar em outro lugar, perdida em pensamentos que não consegue compartilhar com os outros.

TIGRE: (notando a expressão de Rubi) Rubi, você está bem? Parece um pouco distante hoje.

RUBI: (abaixando o olhar por um momento) É... só estou um pouco cansada, acho.

LEONA: (olhando preocupada) Se precisar de alguma coisa, estamos aqui para ajudar.

Rubi força um sorriso, agradecendo com um aceno de cabeça.

RUBI: (mentindo um pouco) Obrigada, Leona. Só preciso de um momento.

Enquanto Tigre e Leona continuam com os preparativos animados, Rubi se afasta discretamente.


CORTA PARA: 

CENA 15: EXTERIOR - CALÇADA DA BOATE. 

Rubi sai pela porta da boate, buscando um momento de tranquilidade na calçada movimentada. Ela acende um cigarro, deixando o fumo se misturar com suas preocupações. Ao olhar para o outro lado da rua, vê Otávio parado ali, observando-a com uma mistura de surpresa e hesitação.

Os dois se encaram por um instante tenso, o passado entre eles pairando no ar. Rubi parece prestes a dizer algo, mas em vez disso, joga o cigarro no chão com firmeza e decide não alimentar o momento. Ela dá meia-volta e entra novamente na boate, deixando Otávio para trás

Otávio permanece parado na calçada, observando-a desaparecer pela porta, seus olhos expressando uma mistura de arrependimento e desejo de explicação que nunca veio.



CENA 16: EXT. PRAÇA CENTRAL - INÍCIO DE NOITE


As primeiras estrelas começam a surgir no céu, enquanto a luz suave do crepúsculo envolve a pacata cidade de Areal, no interior do Rio de Janeiro. Árvores antigas balançam suavemente ao vento, e o som das cigarras se mistura com risadas de crianças que ainda brincam pela praça central, rodeada por casas coloridas e iluminada por postes de luz amarelada.


CENA 17: INT. SALA DE ESTAR - NOITE

A sala de estar do sítio está iluminada por uma luz suave que emana da luminária de mesa. Heloísa está sentada em uma poltrona, enquanto Dinorá está em uma cadeira de balanço próxima a ela. Ambas estão em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade da situação.

HELOÍSA: (com a voz embargada) Vovó... eu preciso te contar tudo. Tudo o que aconteceu.

Dinorá assente com um olhar sério e encorajador.

HELOÍSA: (continuando) Quando eu era criança, eu via minha mãe... apanhar do meu pai. Ele... ele a culpava por não poder ter mais filhos depois de mim. Dizia que ela... era inútil.

As lágrimas começam a escorrer novamente pelo rosto de Heloísa.

HELOÍSA: (continuando) Eu cresci com esse peso. E sempre sonhei... em ser mãe. Quando eu descobri... que nunca poderia ter filhos... algo se quebrou dentro de mim.

Dinorá escuta atentamente, com os olhos cheios de tristeza e compaixão.

DINORÁ: (com voz firme) Seu pai... nunca mereceu a luz que sua mãe era. Ele... foi um homem amargo.

HELOÍSA: (com olhar perdido) Eu... fiz algo horrível, vovó. Eu comprei um bebê. Eu... eu precisava sentir o que era ser mãe.

Dinorá fica chocada, uma mistura de incredulidade e tristeza em seu rosto enrugado.

DINORÁ: (em um sussurro) Meu Deus, Heloísa...

HELOÍSA: Eu... eu não estava bem, vovó. As vozes na minha cabeça, os delírios... imagens distorcidas. Eu não sabia o que fazer.

Dinorá segura a mão de Heloísa com firmeza, transmitindo seu apoio incondicional.

DINORÁ: Você está segura aqui, Heloísa. Nós vamos enfrentar isso juntas.

HELOÍSA: (elevando a voz) Eu... eu estava na prisão, vovó. Fugi de lá. Eles vão me procurar...

Dinorá olha para Heloísa com determinação.

DINORÁ: Nós vamos dar um jeito nisso. Mas primeiro, você precisa descansar. Você está segura aqui, meu amor. Sempre estará.

Heloísa se deita no sofá, exausta de tudo o que aconteceu. Dinorá cobre-a com um cobertor e acaricia seus cabelos.

HELOÍSA: (olhando para Dinorá) Obrigada, vovó... por tudo. A senhora precisa conhecer ele. É tão lindo.

Dinorá sorri suavemente, uma mistura de tristeza e amor em seus olhos.

DINORÁ:  E eu vou! 

A câmera se afasta lentamente da sala, mostrando o carinho entre as duas.



CENA 18: INT. CLÍNICA DE REABILITAÇÃO. 

O ambiente é silencioso e sereno, com corredores limpos e tranquilos. Otto com olhos cansados, está sentado sozinho em seu quarto na clínica de reabilitação. Ele segura uma foto amassada. A foto é de Luciana, capturadas há muito tempo atrás, quando eles se viram pela primeira vez.

Otto observa as fotos com uma mistura de nostalgia e angústia. Seu rosto revela uma dor profunda enquanto ele tenta segurar suas emoções.

OTTO (pensando): (Tremendo) Luciana... o que eu fiz...

Subitamente, suas mãos começam a tremer violentamente. Otto coloca as fotos de volta no envelope, mas a ansiedade começa a se transformar em pânico. Ele se levanta, agitado, e vai até a janela. Lá fora, o jardim da clínica está vazio, apenas o vento agitando as árvores.

Os sons abafados da vida na clínica ecoam ao fundo. Otto olha para a porta do quarto, respira fundo, e então decide agir. Com movimentos rápidos e precisos, ele abre a janela com cuidado para não fazer barulho. O ar fresco da tarde entra, misturando-se com o cheiro de desinfetante do ambiente.

Otto olha para fora, para o muro alto que cerca a clínica. Uma luta interna se desenrola em seu rosto enquanto ele avalia suas opções. Finalmente, com um impulso repentino, ele se lança pela janela e cai no chão macio do lado de fora.

Sem hesitar, Otto se levanta e corre em direção aos fundos da clínica. Ele alcança o muro, olha ao redor para garantir que não há ninguém por perto, e então, com um esforço desesperado, escalando como se sua vida dependesse disso, ele consegue subir e pular para o lado de fora.

A câmera segue Otto enquanto ele desaparece na noite, deixando para trás a clínica. A tela escurece lentamente enquanto os sons da noite se intensificam, ecoando sua fuga solitária.


CORTA PARA: 


CENA 19 - EXT. MORRO DA BABILÔNIA - NOITE

Otto, ofegante e desesperado, chega à casa de Celsão, um traficante local conhecido por sua brutalidade e controle sobre a região. Os risos ecoam das casas próximas, criando uma atmosfera carregada.

Otto para diante da porta de madeira semiaberta da casa de Celsão. Ele olha ao redor, nervoso, sabendo que não deveria estar ali. A hesitação se mistura com sua agonia crescente devido à abstinência.

OTTO: (sussurrando para si mesmo) Eu preciso... eu preciso...

Com um impulso frágil, ele bate à porta. Celsão, com correntes de ouro reluzentes e uma expressão fria, aparece na entrada, seguido por Sandy, a ex-namorada de Otto, cujo rosto mostra os estragos do vício em crack.

CELSÃO: (zombeteiro) Olha só quem resolveu dar o ar da graça aqui, hein? O que o trouxe de volta, Otto? Vontade de se perder ainda mais?

Otto tenta falar, mas suas palavras saem fracas e incoerentes.

OTTO: (implorando) Por favor... qualquer coisa... eu preciso...

SANDY: (rindo sarcasticamente) Olha só esse coitado. Aquele que pensava que era melhor que todo mundo. Olha onde você está agora, Otto. Olha onde eu estou por sua causa.

As risadas debochadas ecoam ao redor de Otto, aumentando sua agonia.

CELSÃO: (calmamente) Basta. Se ele quer, ele terá. Mas não pense que isso muda alguma coisa, Otto. Você continua sendo o lixo que sempre foi.

Com um aceno de Celsão, os capangas agarram Otto e o arrastam para dentro da casa. A música alta recomeça, abafando os sons abafados dos gritos de Otto.


CENA 20 - INT. CASA DE CELSÃO - NOITE

Dentro da casa de Celsão, a atmosfera é carregada de fumaça e tensão. Otto está sentado em uma cadeira, amarrado, enquanto Celsão e Sandy observam com um misto de desprezo e satisfação.

CELSÃO: (empurrando uma bandeja com drogas para Otto) Aqui está, seu desgraçado. Satisfeito agora?

Otto olha para a bandeja, seus olhos brilhando com um misto de desespero e alívio temporário.

OTTO: (palavras entrecortadas) Obrigado... por favor...

CELSÃO: (pegando Otto pela blusa, com desprezo) Você não merece nem isso. Você é um peso morto, Otto. Um fardo para todos que cruzam seu caminho.

Com um empurrão brusco, Celsão joga Otto para fora da cadeira, fazendo-o cair no chão.

CELSÃO: (furioso) Saia daqui, antes que eu me arrependa de ter sido tão generoso contigo.

Os capangas seguram Otto pelos braços e o arrastam para fora da casa. Otto cai de joelhos no chão da favela, ofegante e desorientado. Ele olha para trás, vendo a porta se fechar com força.

SANDY: (ironicamente) Tchau, Otto. Volta quando estiver pronto para ser útil.

As risadas de Sandy e dos capangas ecoam enquanto Otto se arrasta para longe, desaparecendo na escuridão da noite.


CENA 21: INT. FLAT DE OTTO - NOITE

O flat de Otto está mergulhado na penumbra opressiva, os móveis desarrumados testemunham meses de abandono e desespero. Ele entra aos tropeços, a porta range ao ser forçada, revelando um interior devastador. Papéis amassados cobrem o chão, lembranças de uma vida que desmorona.

Otto cambaleia pela sala, seu corpo trêmulo lutando contra a abstinência cruel que o consome. Ele vasculha desesperadamente uma mesa caótica, mãos trêmulas empurrando objetos inúteis. Encontra, finalmente, a foto amassada de Luciana em seu bolso.

OTTO: (entre soluços e gemidos de dor) Luciana... eu... falhei...

Com um isqueiro tremulante, ele acende a pedra de crack, a chama vacilante como sua própria vontade. A droga,queima seus pulmões e entorpece sua alma dilacerada.

No quarto, Otto abre uma mala empoeirada, mãos ávidas por algo que possa trazer alívio. Entre envelopes sujos, ele encontra a arma fria e mortífera.

Seu olhar vago se fixa na arma como se fosse sua única salvação, uma solução final para o tormento insuportável que o consome. Sob o véu distorcido do crack, a realidade se desfaz em sombras grotescas ao seu redor.

OTTO: (lágrimas misturadas com suor e desespero) Não... mais... não aguento mais...

Ele ergue a arma trêmula, apontando-a para a própria cabeça, dedos trêmulos buscando um fim para a dor que o consome implacavelmente.

OTTO: (gritos abafados de angústia) Luciana... me perdoe...

A câmera se afasta lentamente de Otto, capturando cada detalhe da sua agonia visceral e da escuridão sufocante que o cerca


MANHÃ SEGUINTE. 


CENA 22: INT. MANSÃO - SALA DE ESTAR. DIA

Hilda e Stênio estão sentados juntos em um sofá, desfrutando de um café da manhã, enquanto conversam. O clima é tenso. 

De repente, a porta se abre com um estrondo suave e o Dr. Tonico, com uma expressão séria e terno impecável, entra apressadamente. Seu semblante revela preocupação.


DR. TÔNICO: (sério) Hilda, Stênio, precisamos conversar.

Hilda e Stênio se levantam rapidamente, preocupados com a seriedade na voz do médico.

HILDA: (inquieta) O que houve, Dr. Tônico? Aconteceu algo com Otto na clínica?

DR. TÔNICO: (suspira) Sim, ele fugiu.

O impacto da notícia ecoa na sala. Hilda coloca a mão na boca, aturdida, enquanto Stênio franze a testa, pensativo.

STÊNIO: (com voz firme) Fugiu? Como assim fugiu? Ele não deveria estar sendo cuidado lá?

DR. TÔNICO: (explicando) Ele escapou pela janela do quarto. Não deixou rastros, mas sabemos que ele escalou o muro dos fundos da clínica.

O silêncio pesado se instala na sala. Hilda se senta lentamente, absorvendo a gravidade da situação, enquanto Stênio caminha de um lado para o outro, visivelmente perturbado.

STÊNIO: (incrédulo) Não é possível... ele nunca tinha tentado algo assim antes.

HILDA: (preocupada) O que vamos fazer, Dr. Tônico? Ele pode estar em perigo lá fora.

DR. TÔNICO: (decidido) Vamos iniciar imediatamente as buscas. A polícia já está a par da situação. Vou manter vocês informados sobre qualquer novidade.

O Dr. Tônico olha para o casal com empatia, sabendo que essa notícia abalou profundamente a família.

DR. TÔNICO: (consolando) Vamos encontrá-lo, Hilda. Stênio. Vamos trazê-lo de volta.

A câmera se afasta lentamente da sala, focando no semblante preocupado de Hilda e Stênio enquanto o Dr. Tônico se prepara para coordenar a busca por Otto.


INÍCIO DE TARDE.

CENA 22: EXT. MANSÃO - JARDIM - DIA

Heloísa observa pela janela do fundo da mansão seu filho Matheus brincando com sua babá na sala. Seu rosto está contorcido por uma mistura de amor maternal e desespero. Ela está decidida a levar Matheus consigo, custe o que custar.


CENA 23: INT. SALA DA MANSÃO - DIA

Heloísa se move furtivamente em direção à babá, um olhar determinado em seus olhos. Ela se aproxima silenciosamente, um sorriso tenso nos lábios.

HELOÍSA: (sussurrando com frieza) Não grite. Só quero o meu filho.

A babá vira-se rapidamente, surpresa e alarmada ao ver Heloísa ali.

BABÁ: (com a voz trêmula) Heloísa, você não pode...

Heloísa brande uma faca pequena, sua expressão endurecida pela obsessão.

HELOÍSA: (cortante) Se fizer qualquer movimento, eu...

A babá olha para Matheus, tentando protegê-lo enquanto tenta negociar com Heloísa.

BABÁ: (com medo) Por favor, Heloísa, pense no que está fazendo. Matheus...

HELOÍSA: (interrompendo, com raiva contida) Ele é meu filho. Vou levá-lo comigo, agora.


CENA 24: INT. CARRO DE HELOÍSA - DIA

Heloísa coloca Matheus no banco de trás do carro, com uma mistura de ternura e urgência. Ela fecha a porta com firmeza, olhando para a mansão pelo retrovisor, sua mente uma tempestade de emoções turbulentas.

HELOÍSA: (pensando, com intensidade) Ninguém vai me tirar você, Matheus. Ninguém.

Ela liga o carro e pisa no acelerador, deixando a mansão e a vida anterior para trás.

Heloísa dirige rápido pela estrada, seu olhar fixo à frente, determinada a proteger Matheus a todo custo. Matheus está quieto no banco de trás, confuso com tudo o que está acontecendo.

HELOÍSA: (com uma risada amarga) Finalmente... só nós dois. Juntos.

A câmera se afasta lentamente do carro, deixando o carro desaparecer no horizonte.


CENA 25 - INT. FLAT DE OTTO - MANHÃ

Otto desperta com um sobressalto, seus olhos se fixam instantaneamente na arma e na pedra de crack ainda sobre a mesa. Um instinto doloroso o leva a acender e inalar profundamente.

Enquanto o efeito narcótico se espalha, Otto treme ao engatilhar a arma, um gesto automático e devastador. O clique da arma carregada reverbera no silêncio abafado do apartamento, ecoando como um presságio sombrio.

OTTO: (voz rouca, sussurrando para si mesmo) Não... não posso...

Antes que possa reunir coragem para o próximo passo, a porta do flat é arrombada com violência. Hilda, Arnaldo, Stênio e Dr. Tonico entram apressadamente, expressões de angústia e determinação em seus rostos.

HILDA: (com voz trêmula) Otto! Pare com isso agora!

Otto se vira bruscamente para encará-los, seus olhos injetados de sangue brilhando com uma mistura de raiva e desespero.

OTTO: (gritando) Saiam daqui! Me deixem em paz!

ARNALDO: (tentando se aproximar com cautela) Otto, nós estamos aqui para te ajudar. Você precisa largar essa arma.

OTTO: (furioso) Eu não preciso de ajuda de vocês! De nenhum de vocês!

Ele balança a arma ameaçadoramente, um gesto de desafio contra seus próprios demônios.

DR. TÔNICO: (calmo, mas firme) Otto, isso não vai resolver nada. Por favor, coloque a arma no chão e vamos conversar.

Stênio avança lentamente, mãos estendidas em um gesto de paz, enquanto Hilda segura o coração apertado, lutando contra as lágrimas.

HILDA: (chorando) Otto, meu filho... por favor, nós só queremos ajudar.

OTTO: (gritando, descontrolado) Vocês não entendem! Ninguém entende! Eu sou um fracasso por causa de você, mãe! Porque você escondeu a verdade de mim! Sobre meu pai... sobre tudo!

HILDA: (entre soluços) Eu fiz o que achei que era melhor, Otto. Eu queria te proteger...

OTTO: (avançando agressivamente) Proteger? Você destruiu tudo! Minha vida, minha família... até meu próprio filho!

Hilda recua, os olhos arregalados de horror e arrependimento enquanto Otto continua avançando, a arma oscilando perigosamente em suas mãos tremendo.

ARNALDO: (implorando) Otto, não faça isso! Você vai se arrepender!

STÊNIO: (com voz firme) Otto, você é mais forte que isso. Largue essa arma e vamos resolver isso juntos, como uma família.

OTTO: (com um riso amargo) Família? Nossa família já não existe mais! (aponta a arma para Hilda) Você fez questão de destruí-la!

A tensão no ar é palpável, cada segundo prolongando a agonia do confronto iminente. Otto está à beira do colapso emocional, suas mãos tremendo segurando a arma que representa tanto sua dor quanto sua ira.

DR. TÔNICO: (urgentemente) Otto, você tem que escolher agora. Você quer continuar vivendo assim ou quer uma chance de recomeçar?

Silêncio paira sobre o apartamento, quebrado apenas pelo som abafado das respirações tensas e dos corações partidos. Otto encara sua mãe, os olhos marejados de lágrimas de angústia e raiva, lutando internamente com suas emoções devastadoras.

HILDA: (chorando baixinho) Por favor, meu filho... por favor...

Otto fecha os olhos por um momento, a batalha dentro dele alcançando um ponto de ruptura. Lentamente, ele abaixa a arma, as mãos trêmulas deixando-a cair no chão com um baque abafado.

HILDA: (erguendo o olhar, determinada) Otto, eu sei que errei. Mas tudo o que fiz foi por amor a você e à nossa família. Não pode culpar apenas a mim por tudo o que deu errado!

OTTO: (gritando) Mentiu para mim desde o começo! Sobre quem eu sou, de onde venho...

HILDA: (chorando, mas firme) Estava tentando proteger você de um legado de dor e destruição!

OTTO: (com sarcasmo) Proteger? Você me privou da verdade! Cresci em uma mentira!

ARNALDO: (avançando cautelosamente) Otto, por favor, pense no que está fazendo...

STÊNIO: (olhando nos olhos de Otto) Você pode escolher outro caminho. Não precisa ser assim.

OTTO: (olhando fixamente para Hilda, com ódio contido) Arruinou tudo... Eu não posso voltar atrás.

HILDA: (furiosa, avançando para ele) Você é um mimado, Otto! Sempre foi mimado e agora está descontando em mim todos os seus fracassos!

OTTO: (gritando, selvagem) Eu não sou mimado! Eu só queria a verdade, algo que você nunca teve coragem de me dar!

HILDA: (cheia de fúria, encarando-o de perto) Coragem? Você não sabe nada sobre coragem! Prefere viver na sua própria mentira do que enfrentar a realidade!

Os olhos deles faiscam de raiva enquanto Arnaldo e Stênio tentam desesperadamente intervir.

ARNALDO: (implorando, com voz trêmula) Otto, por favor, não faça isso!

STÊNIO: (gritando, tentando conter Hilda) Hilda, pare! Ele não está pensando direito!

Mas Otto, cego pela ira, empurra Arnaldo e Stênio com tanta força que eles recuam, incapazes de contê-lo. A arma, ainda tremendo em suas mãos, escorrega e cai com um estrondo pesado no chão.

 A câmera lentamente se afasta enquanto a cena escurece gradualmente. Um momento de suspense paira no ar, até que o som de dois disparos ecoa pelo ambiente, cortando o silêncio e deixando um clima de incerteza no ar.


CONTINUA….









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