Inferno Urbano
WEB-NOVELA
CAPÍTULO #014
CRIADA & ESCRITA POR:
WANDERSON ALBUQUERQUE
CENA 01. SUPERMERCADO. INT. NOITE.
Patrícia está andando e olhando a prateleira de vinhos. Ela pega um e olha fixamente para a garrafa.
PATRÍCIA – Acho que hoje eu estou
merecendo.
Nesse momento, ouve-se um grito que desencadeia outros. Patrícia fica confusa e começa a olhar ao seu
redor com preocupação. Uma senhora aparece correndo e vai em direção a Patrícia
desesperada.
PATRÍCIA (PREOCUPADA) – O que está
acontecendo?
SENHORA (NERVOSA) – Dois homens
entraram dentro do supermercado e estão fortemente armados.
Patrícia engole em seco e puxa a senhora pelo braço. Elas
começam a correr. É ouvido um tiro estridente e abafado.
Elas vão até o açougue do supermercado e se escondem atrás do
balcão.
SENHORA (OFEGANTE) – Eu não quero
morrer... Não posso morrer, eu deixei minha filha em casa. O nome dela é Clara,
tem seis anos, moça, por favor...
PATRÍCIA (NERVOSA) – Calma, a
polícia já deve estar chegando e vamos sair daqui e a senhora poderá abraçar
sua filha mais uma vez, tá bem?
SENHORA – Obrigada!
A senhora puxa o seu escapulário para frente e começa a orar,
enquanto Patrícia pega o seu telefone e liga para Vasconcelos. A câmera alterna
entre Patrícia e Capitão Vasconcelos.
PATRÍCIA (NERVOSA) – Diogo, por
favor, eu estou no Supermercado Mais Um, aqui em Copacabana. Dois bandidos
invadiram aqui e eu não sei o que está acontecendo.
CAP. VASCONCELOS (TOM SÉRIO) –
Patrícia, fica calma, tá? Eu já estou chegando aí.
Patrícia desliga o telefone e guarda em sua bolsa. Maria
continua com uma expressão séria e de angústia enquanto ora.
CENA 02. BATALHÃO DO BOPE. VESTIÁRIO. INT. NOITE
Capitão Vasconcelos está sem camisa. Ele se veste rapidamente.
SOL. JULIANO – Capitão, tudo
pronto. Já podemos ir.
CAP. VASCONCELOS – Então, vamos
agora mesmo. Vamos pegar uns filhos da puta.
Capitão Vasconcelos prepara sua arma e coloca o colete. Ele sai
da sala e dá um grito de guerra.
CENA 03. RESTAURANTE CHINÊS. INT. NOITE.
Foco em uma mesa reservada em um canto mais isolado do
restaurante. Sentados estão Renato Queiróz.
RENATO – Então, Klenn, o que vamos
fazer para acabar com a candidatura da criola?
KLENN – A ordem é a gente fazer com
que as pessoas nas regiões em que ela pode ter uma concentração de votos ter
medo. Começamos a tocar no bolso dos favelados. Qual a primeira coisa que pobre
sente necessidade?
RENATO – Botijão de gás.
KLENN (ASSENTE) – Exato. A gente
aumenta os preços do botijão de gás na região onde ela tem mais apoio. Isso vai
criar um descontentamento enorme e as pessoas vão pensar duas vezes antes de
votar nela.
RENATO (RI) - Perfeito. E além
disso, podemos espalhar rumores de que votar nela trará ainda mais problemas.
Colocaremos medo nas pessoas de que a vida delas só vai piorar se ela for
eleita.
KLENN – Mas você sabe que o partido
tá investindo alto na candidatura dela, né? O lançamento da pré-candidatura
dela é hoje e precisamos ter uma base de como será a repercussão.
Renato toma um gole de vinho e morde um pedaço de salmão com
acelgas.
RENATO – Se a gente não fizer nada,
essa vagabunda pode nos causar problema. Brasileiro ama ter síndrome de
minoria. O Brasil historicamente sempre foi uma versão menos elitizada de uma
esquerda francesa. O devaneio deles é uma piada.
KLENN – Vamos acabar com cada um.
Renato ergue sua taça e Klenn também ergue e eles fazem o
brinde.
RENATO – Eu vou mostrar para essa
mulherzinha o que acontece com quem atravessa o meu caminho. Vou mostrar o
poder do meu nome e ela verá a fúria de Renato Almeida Queiróz.
A expressão de Renato é de confiança e soberba.
CENA 04. TEATRO. AUDITÓRIO. INT. NOITE.
COMPLETAMENTE BLUE - CAZUZA
Luzes suaves iluminam o palco, criando um contraste dramático
com a penumbra do auditório. A iluminação realça a atmosfera intimista do espaço,
destacando o centro do palco. Mostra-se pessoas bem vestidas. Há pessoas com
cartazes. Guilherme e Dandara surgem no centro do palco e sentam-se em um sofá,
eles são aplaudidos e há diversos disparos de flashs. Guilherme e pega o
microfone e começa a falar
GUILHERME – Boa noite!
Hoje é um dia nada comum. Nós temos a honra de apresentar a pré-candidatura de
um dos grandes nomes da militância atual. Dandara Araújo é uma mulher de fibra
que eu tenho certeza que vai combater as injustiças na nossa cidade, cidade
essa que há décadas vem sendo dominada por milicianos e traficantes. Isso
precisa acabar. Bom, acho que já falei muito e agora é a vez de escutar a voz
de Dandara Araújo.
A plateia aplaude e Guilherme entrega o microfone para Dandara
que vai para o centro do palco. As palmas cessam.
DANDARA – Eu não sei o que falar,
sendo bem sincera. Mas estou aqui, porque preciso que a voz das comunidades
seja ouvida. Eu sou cria do Desalento e estou aqui para representar. Não será
uma batalha fácil, mas não estou em busca de nada que seja, sei dos desafios e
sei que posso conseguir chegar lá.
Dandara bebe um copo d’água.
DANDARA – As mulheres sofrem
diariamente com assédios no trabalho e na rua. São mais de mil mortes de por
ano e o que me dói também é saber que maioria dessas vítimas são mulheres
pretas. É um absurdo que ainda temos que lutar para que não nos matem, praticamente
estamos implorando para ter segurança e dignidade...
Um homem na plateia dá um grito e acaba vaiando. Dandara sente,
mas sua postura agora está de poder.
HOMEM – USTRA VIVE!
DANDARA – Em pleno 2024, ainda
precisamos ouvir que temos pessoas que apoiam figuras da Ditadura Militar.
Antes de mais nada, eu exijo respeito. Não aceito ser interrompida por gente
como você, porque é graças a vocês que estamos lutando e vivendo uma polarização
com base no ódio. Não irei tolerar tamanho desrespeito comigo e com todos que
estão aqui presentes. Por favor, retirem esse homem agora.
A plateia aplaude Dandara e o homem é retirado do local.
CENA 05. AGS NEGÓCIOS. ESCRITÓRIO. INT. NOITE
Victoria está olhando diversos papéis. Ela bufa. Ernesto adentra
a sala com uma xicara de café.
VICTORIA – Ernesto, me tire uma dúvida.
Ernesto põe a bandeja em uma mesa de buffet no canto da sala.
ERNESTO – Claro.
VICTORIA – Quando foi a última vez que fizeram um balanço de
gastos e lucros aqui da empresa? Pelo que estou vendo, estamos com a corda no
pescoço e não é possível que a minha irmã esteja aceitando isso.
ERNESTO – Olha, dona Victoria, quem fazia a parte da contabilidade
era o marido da Alice, o Ivan. Era ele quem fazia os cortes, mas a
administração dele na empresa sempre foi muito bem elogiada.
VICTORIA – Então, o pateta do Ivan era o presidente da empresa?
Porque pelo que eu sei ele está agora em uma multinacional.
ERNESTO – Bom, não sei o que aconteceu, mas era ele quem fazia
tudo, mas decidiu sair.
VICTORIA – Não faz o menor sentido. Aqui eu já encontrei um rombo
de cinco milhões de dólares. Como é que eu não sabia que ele era o presidente
da AGS? Porque acobertaram essa informação de mim?
Victoria levanta-se. Ela pega sua bolsa e sai.
ERNESTO – O que eu faço com toda essa papelada?
Victoria vira-se para Ernesto e o encara.
VICTORIA – Deixe exatamente como está. Marque a reunião do
conselho para amanhã. Vou destituir quem quer que seja do cargo de presidente.
Ela sai e Ernesto observa.
CENA 06. SUPERMERCADO. INT. NOITE.
Os bandidos continuam andando pelo supermercado e começam a
atirar pra cima. Ouve-se diversos gritos. Eles correm em meio a risadas. Eles voltam
para os caixas e começam a colocar dinheiro nas mochilas.
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