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ESPERANÇA - CAPÍTULO 04

 





ESPERANÇA

Capítulo 04

Novela criada e escrita por

Wesley Franco


CENA 1. INT. FAZENDA BELLINI – CASA DOS BELLINI – SALA – DIA

Francesca se senta no sofá com um semblante de preocupação, enquanto Matteo segue encarando a porta por onde Almeida saiu.

FRANCESCA (PREOCUPADA) – Ele não vai descansar enquanto não tomar essas das nossas mãos, eu sentir nas palavras dele.

MATTEO – Não se preocupa, mãe, eu estou trabalhando muito e nós vamos conseguir terminar a colheita, e com esse dinheiro nós vamos pagar a dívida com o banco e a fazenda continuará sendo nossa.

FRANCESCA – Deus te ouça, meu filho! Eu sei o quanto você tem se esforçado desde que seu pai se foi, e eu tenho fé que você irá conseguir, mas essa visita do coronel Almeida me deixou com medo. Esse homem é capaz de tudo para conseguir o que quer, e ele é muito poderoso, o avô dele construiu essa cidade ele manda e desmanda aqui como se fosse uma extensão da sua fazenda.

MATTEO – Ele pode até ser muito poderoso, mas nessa terra ele não põe a mão. Eu vou lutar por ela até o fim, mãe, eu juro!

Matteo abraça Francesca e busca conforto em seu colo, ela dá um beijo na cabeça dele.

                                                        CORTA PARA:

CENA 2. INT. CASA DE HOMERO – QUARTO DE NATÁLIA – NOITE

Natália, deitada na cama, está visualmente abatida, o rosto pálido e os olhos cansados. Há um silêncio no ar. A porta do quarto se abre, e Fernando, seu filho, entra no quarto. Ele a observa por um momento, tentando esconder a preocupação em seu rosto antes de se aproximar da cama.

FERNANDO (SORRINDO) – Mãe...como está se sentindo hoje?

Natália tenta sorrir de volta, mas o esforço parece lhe custar energia.

NATÁLIA (COM A VOZ FRACA, MAS CARINHOSA) – Ah, meu filho, hoje têm sido um dia difícil, mas estou feliz em te ver. E você? Quando vai iniciar seus estudos?

Fernando se senta ao lado da cama.

FERNANDO - Estou bem, mãe. Mas não se preocupe com isso agora, quando você melhorar, eu vou para o Rio de Janeiro continuar com meus estudos na faculdade de direito. Não tenho pressa, o importante é a sua recuperação.

NATÁLIA – Meu filho, eu sinto no fundo do coração que essa melhora não vai chegar. Você não pode se prender a mim, Fernando. No próximo período letivo, você precisa ir seguir seus sonhos. Não deixe que a minha condição atrapalhe seu futuro.

FERNANDO (EMOCIONADO) – Não diga isso, mãe. Você vai melhorar sim! Eu não vou a lugar nenhum enquanto você não estiver bem.

Natália suspira, tocando o rosto do filho com mãos trêmulas. Há uma mistura de amor e resignação em seus olhos.

NATÁLIA (SUAVEMENTE) – Você é tão teimoso, igual ao seu pai. Sabia que quando ele era jovem, era exatamente como você? Determinado, sempre pensando na família antes de tudo.

Natália sorri nostalgicamente, mas o sorriso logo se desfaz.

NATÁLIA – Falando nele, onde está o seu pai? Pedi para Dirce avisá-lo que queria vê-lo, mas ele ainda não veio aqui. Ele já chegou em casa.

FERNANDO – Não mãe, ele ainda não chegou.

Natália fecha os olhos por um momento, soltando um suspiro cansado.

NATÁLIA (ABRINDO OS OLHOS) – Quando ele voltar, pede para ele vim aqui, estou com saudades.

FERNANDO – Peço sim, mas por enquanto a senhora vai ter que se contentar comigo.

Natália sorri suavemente, mas o cansaço logo toma conta novamente. Ela fecha os olhos e segura a mão de Fernando.

NATÁLIA – Eu te amo meu filho.

FERNANDO (SORRINDO) – Eu também te amo mãe.

Fernando observa sua mãe descansar.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. BORDEL MADAME YVETTE – QUARTO DE ZULEIKA – DIA

O quarto está pouca iluminação e lençóis amarrotados cobrem parcialmente a cama. Zuleika está deitada nua e descontraída, observando Homero se levantar da cama. Homero começa a se vestir rapidamente.

ZULEIKA (COM UM SORRISO MALICIOSO) – Já vai embora? Achei que a gente ia se divertir mais um pouco, nem deu para aproveitar direito...

Homero continua a se vestir, sem olhar para Zuleika.

HOMERO – Não posso ficar mais tempo, tenho que jantar em casa hoje, meu filho deve estar me esperando.

Zuleika, ainda nua, se mexe na cama abrindo as pernas de forma provocativa, lançando um olhar sedutor para Homero.

ZULEIKA – E você prefere a comida de casa... ou o que eu posso te oferecer aqui?

Zuleika desliza as mãos pelos próprios seios, lentamente, mordendo o lábio enquanto o encara. Homero para por um instante, seus olhos não resistem à tentação.

HOMERO (SORRINDO) – Você é uma diaba!

ZULEIKA – Você já janta com seu filho todos os dias, um dia a mais, um dia a menos, que diferença faz? Vem deitar do meu ladinho.

HOMERO – Você tem toda razão.

ZULEIKA – Sempre tenho!

Homero retira as roupas que vestiu e se deita na cama novamente ao lado de Zuleika, a beijando intensamente.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. CASA DE EZEQUIEL – SALA DE JANTAR – NOITE

Em uma modesta sala de jantar, Ezequiel, um homem forte e rústico por volta de seus 45 anos, está sentado à mesa com sua esposa Nina, e sua filha Helena. Eles estão em silêncio mastigando lentamente.

NINA (ANIMADA) – Amanhã vai ser um dia bastante cansativo na casa do coronel. Os preparativos para a festa de aniversário dele vão começar logo cedo, e vão até tarde...Tem tanta coisa para fazer! E com a dona Eulália, tudo será ainda mais difícil, ela é bem exigente.

HELENA – Eu mal posso esperar parar usar meu vestido novo amanhã. Ele é tão lindo...A cidade toda vai estar aqui presente, e eu estarei como uma princesa.

Ezequiel, sério, apenas ouve, sem demonstrar muito interesse pelo assunto. Ele continua a comer, com um olhar distante. De repente, batidas fortes são ouvidas na porta, interrompendo o jantar. Todos olham para porta com surpresa, Ezequiel larga os talhes e se levanta lentamente.

EZEQUIEL (COM UMA VOZ FIRME) - Quem que é?

ALMEIDA (OFF) – Ezequiel, saia já daí! Quero falar com você aqui fora.

A voz de Almeida é ouvida do outro lado da porta. Ezequiel abre a porta e sai, o Coronel Almeida está na porta da casa à sua espera. Almeida faz um gesto com a cabeça, indicando que Ezequiel deve segui-lo. Almeida começa a caminhar, afastando-se da casa. Ezequiel o segue em silêncio, o som de seus passos na terra é o único som que se ouve em meio ao breu. Quando chegam a uma distância segura, Almeida se vira para Ezequiel, com uma expressão fria e séria.

ALMEIDA – Eu tenho uma missão muito importante para você executar. Você é meu homem de confiança, não pediria isso se não confiasse muito em você. Amanhã, durante a festa do meu aniversário, você vai até a fazenda Bellini. Quero que toque fogo em tudo...nas plantações, no armazém que eles estão armazenando o café, na casa. E não importa se tiver gente dentro, que morram todos queimados.

Ezequiel engole em seco, mas permanece sem demonstrar expressão.

EZEQUIEL – Entendido, Coronel. Amanhã tudo estará feito como o senhor mandou, mas eu vou precisar de algumas pessoas para me ajudar, a fazenda é muito grande.

ALMEIDA – Chame as pessoas que você confia, darei um bom agrado a vocês, mas preste bem atenção Ezequiel. Não aceito erros! Se alguma coisa der errado, o meu nome jamais pode aparecer. Entendido?

EZEQUIEL – Sim, coronel.

Almeida dá uma última olhada de cima a baixo em Ezequiel e se afasta, deixando-o sozinho na escuridão.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. EXT. ESPERANÇA – NOITE/DIA

Tomadas da cidade de Esperança durante a noite mostrando toda a tranquilidade da pequena cidade, mostrando detalhes das casas, da praça vazia e das montanhas ao fundo. O sol começa a se insinuar no horizonte, o céu antes escuro, começa a clarear, o dia começa a nascer e a cidade desperta. A última tomada se volta para a igreja da cidade, onde os sinos começam a tocar, ecoando pela cidade. Pequenos grupos de pessoas começam a caminhar em direção à igreja, cruzando a praça em direção a porta principal.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. IGREJA – DIA

A missa está chegando ao fim, Padre Olavo está no altar abençoando os fiéis. A igreja está cheia, em um clima de calma e respeito, presentes na igreja estão Matteo, Rodolfo, Isabela, Francesca, Martina, Marcos e Camila.

PADRE OLAVO (ERGUENDO AS MÃOS) – Vão em paz, e que o Senhor acompanhe cada um de vocês em vossas jornadas. Amém!

TODOS – Amém.

O padre Olavo faz o sinal da cruz, encerrando a missa. Todos começam a sair lentamente pela porta principal da igreja.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. EXT. FRENTE DA IGREJA – DIA

As pessoas saem para praça conversando em pequenos grupos. Marcos se aproxima de Matteo e Francesca que estão conversando ao lado de Rodolfo, Isabela e Martina.

MARCOS (SORRINDO) – Bom dia, dona Francesca. Espero que a senhora esteja bem.

Francesca, que antes estava séria, responde com uma expressão fria e distante.

FRANCESCA – Bom dia, Marcos.

Marcos percebe o tom, ele olha para Francesca confuso.

MARCOS – Está tudo bem, dona Francesca?

Antes que Francesca possa responder, Matteo dá um passo à frente, encarando Marcos com firmeza.

MATTEO – Ontem à noite seu pai foi até a fazenda, ele descobriu que antes de morrer meu pai fez dívidas com o banco e hipotecou a fazenda, e foi nos propor que vendêssemos a fazenda para ele. Negamos a proposta e ele deu um tom de que não vai desistir tão facilmente.

Marcos olha para Matteo, surpreso com o que ouviu, Camila também fica surpresa.

MARCOS – Matteo, eu...eu não sabia nada disso. Meu pai não tem esse direito de querer comprar a fazenda de vocês, ainda mais neste momento.

CAMILA – O Marcos tem razão, não sabíamos nada disso Matteo, e não estamos de acordo com o meu pai. Nós sabemos o valor que essa terra tem para vocês e jamais iremos querer que vocês saiam de lá.

MATTEO – Infelizmente seu pai não pensa da mesma forma.

MARCOS – Hoje à noite, durante a festa, vamos tentar falar com ele, frente a frente, e vamos fazer ele desistir dessa ideia.

MATTEO – Depois de ontem não estava pretendendo ir à essa festa, o clima não está dos melhores.

MARCOS – Vá Matteo, assim poderemos conversar com o meu pai sobre isso.

CAMILA – Sim, Matteo, e além disso, é mais um momento de estarmos juntos. Desde que você começou a cuidar da fazenda, a gente tem se visto tão pouco.

MATTEO – Tudo bem, eu irei, mas estou indo apenas por você Camila e também para resolver essa questão da fazenda. Não faço um pingo de questão de comemorar a vida do coronel Almeida.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. SEDE DO JORNAL “O AMIGO DO POVO” – DIA

Na pequena sede do jornal, Angislanclécia trabalha em frente à maquina de escrever, o único som que se ouve é o de seus dedos ágeis batendo nas teclas. A porta se abre com um leve rangido, e Eriberto, dono do jornal, entra carregando uma pequena mala de viagem. Ele parece cansado, mas está animado.

ERIBERTO (SORRINDO) – Ah, Angislanclécia! Que bom te ver. Estou de volta!

Angislanclécia fica surpresa com a presença de Eriberto e se levanta para cumprimenta-lo.

ANGISLANCLÉCIA (SORRINDO) – Seu Eriberto! Que alegria! Como foi de viagem?

Eriberto coloca a mala no chão e abraça Angislanclécia.

ERIBERTO – Foi boa, cheia de novidades. A capital da república está fervendo com tantas coisas acontecendo.

Antes de Eriberto continuar a falar, a porta se abre novamente, e Dr. Romeo, amigo de Eriberto, entra com um sorriso no rosto.

ROMEO (ANIMADO) – Eriberto! Vi você chegando e não pude acreditar, depois um bom tempo fora, finalmente você voltou, e vim te cumprimentar. Como andam as coisas no Rio de Janeiro?

Eriberto sorri e aperta a mão de Romeo.

ERIBERTO – Romeo! A capital está em ebulição. Os ares são de mudança. Desde o fim da guerra, a pressão para que Getúlio deixe o poder só aumenta, e as eleições livres estão cada vez mais próximas.

ROMEO – Grande notícia meu amigo. Não faz sentido o Brasil continuar tendo um fascista no poder, depois de ter lutado e vencido uma guerra contra o fascismo. Que o Getúlio vá embora!

ERIBERTO – E ele irá, não tardará, e desta vez não há nada que ele possa fazer, a insatisfação com a sua continuidade é geral.

ROMEO – Agora sabe uma coisa que estou curioso para ver, é de que lado o Coronel Almeida vai ficar nessa? Ele esteve ao lado da ditadura varguista nesses últimos 15 anos...Ele trouxe o Getúlio para passar dois dias em sua fazenda, era uma relação bastante intimista entre os dois.

ERIBERTO – Ah, Romeo...Almeida vai ficar do lado de quem estiver no poder, como sempre. Esse é o caráter da família dele. Você conheceu o pai dele, aquela figura um dia foi um monarquista fervoroso, mas quando a abolição chegou, virou republicano da noite para o dia, inclusive quando os militares derrubaram o imperador e instalaram o governo provisório, ele ajudou a mobilizar os fazendeiros da região para dar sustentação ao novo governo e assim manteve sua influência em todos os governos desde então, e o seu filho continua agindo do mesmo jeito. Não seria diferente agora.

Romeo balança a cabeça, concordando, mas com um tom de desânimo.

ROMEO – Então a cidade vai continuar sob as rédeas do Coronel. Nada muda.

ERIBERTO – Infelizmente, não. Pouco ou nada vai mudar. Ele sempre dá um jeito de se manter no topo e em evidência.

ANGISLANCLÉCIA – Hoje inclusive é o dia em que ele se manterá mais em evidência, é o dia da grande festa de aniversário dele. A cidade em peso estará lá.

ROMEO – Você vai a festa?

ERIBERTO – Irei, e você e a Angislanclécia irão comigo.

ANGISLANCLÉCIA (surpresa) – Eu?

ERIBERTO – Você é a minha assistente, e apesar de ser um aniversário, não deixa de ser também um evento político, temos que cobrir tudo que irá acontecer.

ANGISLANCLÉCIA (SARCÁSTICA) – Vamos fazer resenhas da comida e da música?

ERIBERTO – A pauta decidimos depois.

ROMEO – Não estava pretendendo ir a essa festa.

ERIBERTO – Meu amigo Romeo, você é o médico da cidade, o único inclusive, sua ausência seria notada. Você quer que o Coronel Almeida pense que você não quis prestigiá-lo justo no dia do seu aniversário?

ROMEO (RIR) – Tem razão, é melhor não abrir margens para conflitos com o coronel, até porque é capaz dele mandar trazer outro médico para ficar no meu lugar.

Romeo, Angislanclécia e Eriberto riem.

CORTA PARA

CENA 8. INT. CASA DE HOMERO – SALA DE JANTAR - DIA

Dirce está na sala de jantar arrumando a mesa do café da manhã. Fernando, entra com expressão cansada e se senta à mesa, aparentemente impaciente.

FERNANDO – Dirce, onde está meu pai?

Dirce serve uma xícara de café para Fernando com um olhar preocupado.

DIRCE – Seu pai passou a noite fora. Chegou agora há pouco, e foi direto dormir.

Fernando imediatamente fica indignado, batendo a mão na mesa.

FERNANDO (REVOLTADO) – Enquanto minha mãe agoniza naquela cama, ele passa as noites fora...Isso é inacreditável.

Fernando se levanta da mesa.

FERNANDO – Vou acordá-lo agora mesmo!

Dirce segura o braço de Fernando para tentar contê-lo.

DIRCE (IMPLORANDO) – Por favor, Fernando! Não vá falar com ele agora. Você está muito nervoso, vocês vão acabar brigando e isso vai chatear ainda mais sua mãe.

Fernando para por um momento, ainda furioso, mas respirando fundo para se controlar. Ele sabe que Dirce tem razão, mas a indignação ainda está clara em seu rosto, ele se senta novamente.

FERNANDO – Isso não é justo, Dirce...mas tudo bem, em outro momento     eu falo com ele.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. FAZENDA ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

A sala da casa dos Almeida está elegantemente decorada para o aniversário do Coronel Almeida e está repleta de convidados. Alguns dançam ao som de uma música animada tocada por uma pequena banda, entre eles estão Angislanclécia, Dr. Romeo, Pedro e Augusto enquanto outros conversam em grupos ao redor da sala, um desses grupos é composto pelo Padre Olavo, o delegado Afrânio, o prefeito Fontes e o Coronel Almeida. Fernando, Matteo e Marcos conversam em outro canto da festa. Dorotéia está de pé ao lado de caminha e Eulália, observando a festa com entusiasmo enquanto bebe uma taça de champanhe.

DOROTÉIA (SORRINDO) – Essa festa está maravilhosa, o Almeida merece todo esse prestígio.

CAMILA – Sim, ficou tudo lindo mamãe. A senhora sabe receber convidados como ninguém.

De repente, a porta da entrada se abre e Inácio acompanhado de sua mãe Leonora Carvalho chegam, atraindo olhares. Eles caminham até o grupo de mulheres e cumprimentam a todos.

INÁCIO – Boa noite, senhoras. Camila, Eulália, Dorotéia. Que prazer vê-las!

LEONORA (SORRINDO) – Como você cresceu Camila, está uma linda moça!

CAMILA – Obrigada, dona Leonora.

DOROTÉIA – Que prazer tê-los aqui hoje, não sabia que haviam voltado de São Paulo. Fazia tempo que não os vejo.

INÁCIO – Voltamos de São Paulo hoje pela manhã, foi quando tivemos ciência do convite para festa, e é claro que não podíamos deixar de vim prestigiar o aniversário do Coronel.

LEONORA – A festa está muito linda Dorotéia, parabéns.

EULÁLIA – Contou com a minha ajuda para que saísse tudo perfeitamente bem.

LEONORA – Tenho certeza que sim Eulália, sempre adorei as suas recepções, eram as melhores de todas, faz muita falta aqui na cidade, agora que decidiu viver no Rio de Janeiro.

EULÁLIA – Não mais, voltarei a viver aqui em Esperança, ao lado do meu filho e da minha neta.

Dorotéia e Camila se olham surpresas.

LEONORA – Não tem coisa melhor do que estar ao lado da nossa família. Eu mesma, não penso em deixar de viver com meu filho nem quando ele casar.

INÁCIO (SORRINDO) – Será sempre bem-vinda mamãe.

Coronel Almeida se aproxima, e Inácio e Leonora rapidamente se viram para ele.

INÁCIO – Coronel Almeida, Feliz aniversário!

LEONORA – Muitos anos de vida e felicidades, Coronel!

ALMEIDA – Obrigado! Que surpresa vê-los aqui.

INÁCIO – Chegamos hoje à Esperança, tudo que tínhamos para resolver dos nossos negócios em São Paulo foram resolvidos, agora estamos de volta.

ALMEIDA – Chegaram no melhor momento. Espero que se divirtam.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. INT. FAZENDA BELLINI – CASA DOS BELLINI – QUARTO DE RODOLFO E ISABELLA – NOITE

Francesca está no quarto de seus filhos, Rodolfo e Isabella. Eles estão deitados em suas camas, enrolados até o pescoço nas cobertas. Francesca se inclina para beijá-los na testa.

FRANCESCA – Buona notte, meus amores. Que vocês tenham um sono tranquilo.

Assim que Francesca sai e fecha a porta suavemente, Rodolfo e Isabella rapidamente se levantam, revelando que já estão completamente vestidos para sair.

ISABELLA – Vamos, Rodolfo! A festa do Coronel já está acontecendo e a gente não pode perder.

RODOLFO (NERVOSO) – Mas será que não vão pegar a gente?

ISABELLA – Só se formos descuidados. Se a gente tomar bastante cuidado, ninguém nem vai perceber a gente lá. Vamos logo!

Os dois saem do quarto de mansinho, prontos para espiar a festa do Coronel.

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

De volta à festa, a música muda para uma melodia mais suave e romântica. Camila suspira discretamente.

CAMILA – Eu adoro essa música...

INÁCIO – Então me conceda esta dança, Camila.

Camila hesita, Eulália percebe e lhe dá um sorriso meio sem graça para que ela não faça uma desfeita com Inácio.

EULÁLIA – Vai, Camila. Não deixe essa música passar sem aproveitá-la.

Relutante, mas influenciada por sua avó Eulália, Camila aceita o convite de Inácio. Os dois caminham até o centro da sala e começam a dançar enquanto os outros observam.

                                                         CORTA PARA:

CENA 12. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – NOITE

Marcos e Matteo estão em frente ao Coronel Almeida, visivelmente frustrados.

ALMEIDA – O que vocês querem falar comigo no meio da minha festa? Não tinha outro momento mais oportuno para conversar?

MARCOS – O que temos para falar pai, não pode esperar até amanhã.

ALMEIDA – E o que é de tão importante que precisa ser dito?

MARCOS – Nós precisamos conversar sobre a fazenda Bellini. O Matteo me contou da sua visita e da forma como você está querendo lidar com a situação.

ALMEIDA (SÉRIO) – O assunto da fazenda Bellini já está decidido. Eu vou comprar a fazenda Bellini no leilão, não há outra solução. O Matteo não vai ter como pagar a dívida e a fazenda será leiloada.

MATTEO (IRRITADO) - Eu vou consegui pagar! Estou trabalhando todos os dias, o dinheiro que vamos conseguir com essa colheita vai ser suficiente para pagar tudo que estamos devendo.

ALMEIDA (IRÔNICO) – Ótimo! Pois pague e assim eu não vou precisar comprar a sua fazenda através de um leilão. O que vocês querem então.

MARCOS – Que você não se meta nesse assunto, pai. Nós sabemos que quando você quer uma coisa, você move o mundo para conseguir o que quer. Quero a sua garantia que você não fará nada para comprar essa fazenda.

ALMEIDA – Eu não vou dar garantia de nada! Ele não está dizendo que vai pagar? Pois que pague. Eu duvido muito que ele consiga, vou estar aqui aguardando para ver.

Matteo se vira para Marcos.

MATTEO – Eu disse que não ia adiantar ter diálogo com esse homem. Mas não se preocupe Coronel, se você não me atrapalhar, eu vou conseguir pagar a dívida e manter a fazenda com a minha família.

Matteo se vira rapidamente e vai embora, deixando Marcos com Almeida.

MARCOS – Isso não está certo pai. Por que tanta ambição, você já tem terras suficiente.

ALMEIDA – Eu vou avisar pela última vez Marcos, não se meta nos meus assuntos!

                                                         CORTA PARA:

CENA 13. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASOS DOS ALMEIDA – SALA – NOITE

Matteo sai do escritório contrariado, ao sair ele encontra na sala Camila e Inácio dançando bem juntinhos, ele vê a cena e fica irritado, mas decide ir embora. Ao sair da casa dos Almeida, ele encontra seus irmãos Rodolfo e Isabella chegando.

MATTEO – Ei, ei, para onde vocês pensam que estão indo?

Isabella e Rodolfo se assustam ao dar de cara com Matteo.

ISABELLA – Nós viemos para festa também. A cidade praticamente inteira está aí, e nós quisemos participar também.

RODOLFO – Deve ter muitos doces aí dentro, queremos comer, Matteo.

MATTEO – Vamos comer doces em casa, essa festa não é para vocês. E eu também já estou indo embora.

ISABELLA (FRUSTRADA) – Mas a festa acabou de começar.

MATTEO – Mas para nós, ela acaba de acabar. Vamos para casa agora mesmo.

Isabella e Rodolfo ficam irritados, mas aceitam ir com Matteo, e eles vão para casa.

                                                         CORTA PARA:

CENA 14. EXT. FAZENDA BELLINI – NOITE

A escuridão da noite é interrompida pela aproximação de Ezequiel e seus capangas com os rostos escondidos, montado em cavalos e segurando tochas. O som dos cavalos galopando pela estrada é sombrio, e os homens estão em silêncio, focados na missão para o qual foram chamados. À frente deles está a vasta plantação de café da Fazenda Bellini, iluminada apenas pelo brilho fraco das tochas.

EZEQUIEL – Queimem tudo!

Sem hesitar, Ezequiel lança sua tocha nas plantações de café, e os outros capangas fazem o mesmo. O fogo começa a se espalhar rapidamente, engolindo as plantações. A fumaça sobe ao céu, criando um contraste assustador contra a noite. Os capangas chegam ao armazém da fazenda onde as sacas de café estão armazenadas, eles descem dos cavalos e jogam mais tochas nas paredes de madeira e nas sacas empilhadas. O fogo toma conta do armazém com uma fúria implacável, destruindo tudo em seu caminho.

EZEQUIEL – Agora vamos para incendiar a casa!

De volta aos cavalos, Ezequiel lidera o grupo em direção à casa da família Bellini. Mais uma vez, sem hesitação, Ezequiel e seus homens atiram as tochas contra a estrutura. Em poucos minutos, o fogo começa a subir pelas paredes da casa, avançando com rapidez.

                                                        CORTA PARA:

CENA 15. INT. FAZENDA BELLINI – CASA DOS BELLINI – QUARTO DE FRANCESCA – NOITE

Francesca está dormindo em seu quarto, até que um cheiro intenso de fumaça a desperta. Ela abre os olhos, confusa, e rapidamente percebe o perigo. O som distante das chamas estalando começa a e tornar mais presente. Ela se levanta apressada e vai até a porta do quarto. Ao abrir a porta, Francesca é recebida por uma parede de fogo. As chamas já tomaram conta do corredor e estão se espalhando rapidamente pela casa. O calor é sufocante, e o pânico começa a tomar conta dela. Ela recua para dentro do quarto, sem saber para onde ir.

FRANCESCA - Mio Dio! Meus filhos! Rodolfo, Isabella!

Francesca tenta buscar uma saída, mas o fogo bloqueia todas as rotas de fuga. O desespero em seu rosto é visível, enquanto as chamas cercam o quarto de todas as direções. Ela grita, mas seus gritos são abafados pelo som do fogo consumindo toda a casa.

                                                        CORTA PARA:

CENA 16. EXT. FAZENDA BELLINI – NOITE

Do lado de fora, a cena é devastadora. A fazenda Bellini está em chamas, com o fogo se espalhando pelas plantações, o armazém, e agora pela casa. Os gritos de desespero de Francesca são ouvidos à distância.

FRANCESCA (GRITANDO) – Alguém me ajude! Socorro!

FIM DO CAPÍTULO

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