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ESPERANÇA - CAPÍTULO 19

 


ESPERANÇA

Capítulo 19

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

CENA 1. INT. SALÃO DE FESTAS – NOITE

       SONOPLASTIA: QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR – MILTON NASCIMENTO

O salão está repleto de convidados. De um lado, Angislanclécia, Candoca e Chandra Dafni riem juntas, encantadas com a festa e o glamour da noite. Hismeria está ao lado de Pedro, ambos bem vestidos e trocando carinho. Padre Olavo conversa discretamente com Gustavo, o seminarista, enquanto Dr. Romeo e o Delegado Afrânio observam a festa, conversando sobre a cidade e seus habitantes. Em um canto mais afastado, Henrique, Eriberto, Augusto e Fontes compartilham histórias e risadas.

Isabella, Robervaldo, Zuleika, Florzinha, Mara, Teodora e Carolina chegam à festa, atraindo olhares curiosos. A viúva Leda, acompanhada da filha Mariana, observa o grupo do bordel com desdém, franzindo a testa em desaprovação enquanto cochicha algo para a filha.

Do outro lado do salão, Coronel Almeida está cercado pela esposa Dorotéia, Inácio, Camila, Leonora, Marcos, Helena, Homero e Nina, enquanto Ezequiel observa tudo atentamente, com seu olhar de sempre, atento aos movimentos de todos ao redor. Próximo dali, Jerônimo, ao lado de Martina, bebe um copo de whisky, enquanto observa a festa.

                                                     SONOPLASTIA OFF

De repente, o burburinho da festa cessa quando uma entrada impactante chama a atenção de todos. Matteo Bellini, em um terno impecavelmente alinhado, entra no salão com elegância. Ele está acompanhado de seu tio Flávio, e de seu irmão, Rodolfo. Os olhares dos moradores de Esperança se voltam a eles, curiosos e admirados com Matteo. Conforme Matteo avança pelo salão, ele cumprimenta as pessoas que o abordam com respeito e um toque de reverência, seus olhos percorrem o ambiente até que ele vê Camila ao lado de Inácio.

                             SONOPLASTIA: CLOSE TO YOU – CIDIA E DAN

Os olhares de Matteo se cruzam, e é como se o tempo parasse. Um sorriso suave surge nos lábios de ambos, e o brilho em seus olhos revela o reencontro de um amor que parecia perdido. Camila, encantada, leva a mão ao peito, em uma mistura de surpresa e emoção. Matteo permanece em pé, observando-a com um olhar intenso e sereno, seus sentimentos inconfundíveis. Inácio percebe o olhar entre os dois e, visivelmente incomodado, tenta chamar a atenção e Camila, que parece estar hipnotizada naquele instante.

Matteo dá alguns passos em direção a Camila, que, por um momento, hesita, mas sorri de volta, encantada. Matteo segue andando e vai de encontro ao Padre Olavo que está acompanhado de Dr. Romeo e o Delegado Afrânio.

MATTEO (SORRINDO) – Padre Olavo, que bom vê-lo novamente.

PADRE OLAVO (SORRI) – Matteo! Você está um homem feito! Que bom te ver de volta, soube que se formou e que agora trabalha nas empresas do seu padrinho.

MATTEO – Sim, padre. Eu presido o grupo Matarazzo.

PADRE OLAVO – Fico feliz por você, rapaz, mas o que te trouxe de volta a essa cidade? Ela já é pequena demais para você.

MATTEO – Eu prometi a mim mesmo que um dia eu voltaria a essa cidade, mas o destino se encarregou de me trazer aqui. Meu padrinho está doente e precisava respirar um ar mais puro, o médico recomendou uma cidade com um ar mais puro.

PADRE OLAVO – Aqui então será um ótimo lugar para que ele possa se recuperar.

MATTEO – Sim. E por aqui Padre, algo de novo?

PADRE OLAVO – Nada, meu filho, tudo continua igual ao dia que você foi embora.

AFRÂNIO (SE INTROMETE) – Não se mexe no que está bom, não é mesmo?

MATTEO – É... parece tudo continua exatamente igual, mas não por muito tempo.

AFRÂNIO – Tem alguma novidade que eu não esteja sabendo?

MATTEO – Agora? Nenhuma! Mas os ventos da mudança um dia vão chegar a Esperança.

PADRE OLAVO – Se a mudança vier, que sejam mudanças para melhor.

Matteo, Gustavo e Dr. Romeo concordam com um gesto positivo com a cabeça.

Após a passagem de Matteo, Coronel Almeida percebe que Camila ficou impactada em rever o amado depois de anos, e se dirige até ela.

ALMEIDA – Camila, nem se atreva a ir falar com aquele rapaz.

DOROTÉIA – Depois de anos, você ainda guarda ressentimento por esse homem, Almeida. Esqueça o problema que vocês tiveram, isso ficou no passado.

ALMEIDA – Algumas coisas jamais serão esquecidas, Dorotéia, e essa é uma delas. Você está proibida de falar com ele, me entendeu, Camila?

CAMILA – Eu já não sou mais nenhuma menina para o senhor me proibir de alguma coisa, pai. Sequer troquei uma palavra com o Matteo, não há motivos para o senhor está me falando coisas. Agora me dê licença, eu vou tomar um ar lá fora.

INÁCIO – Eu acompanho você.

CAMILA – Não, eu quero ir sozinha.

Camila sai para o lado de fora do salão. De longe, Matteo observa que ela saiu sozinha, disfarça e também sai em seguida.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. EXT. PRAÇA DA CIDADE – NOITE

O som da música da festa no salão se distancia conforme Matteo sai em busca de Camila pela praça, iluminada por postes de luz amarelados. Seus passos se apressam quando ele a vista perto da fonte, Matteo a observa por um momento, com um sorriso suave no rosto, e então se aproxima. Camila percebe sua presença e vira-se, abrindo um sorriso largo antes de abraça-lo, com toda saudade de um reencontro há muito tempo esperado.

CAMILA (SORRINDO) – Matteo...nem acredito que você está aqui.

MATTEO – Senti tanto a sua falta, Camila. Cada dia...nunca passou um dia sem que eu pensasse em você.

CAMILA (ACARICIANDO O ROSTO DE MATTEO) – Eu também, Matteo. Mesmo com toda a distância, você nunca deixou de ser uma parte de mim.

Eles trocam olhares intensos, como se o tempo tivesse parado para que eles pudessem recuperar cada momento perdido. Matteo, ainda segurando a mão de Camila, sorri com os olhos brilhando.

MATTEO – Nunca esqueci você, foi muito difícil seguir em frente sem você.

CAMILA – Eu também. Você foi meu primeiro e único amor.

Matteo a puxa para mais perto e beija sua testa, num gesto de carinho.

MATTEO – E aquele rapaz, o Inácio? Ele estava ao seu lado na festa. Vocês estão juntos?

CAMILA – Não, Matteo. Inácio é só um amigo, não há nada entre nós.

                             SONOPLASTIA: CLOSE TO YOU – CÍDIA E DAN

O rosto de Matteo se ilumina, um sorriso aliviado surge. Em um movimento suave, ele inclina o rosto e a beija. O beijo é profundo, e água da fonte cai suavemente ao fundo. Ao longe, Inácio sai do salão, em busca de Camila, e ao, ao avistá-la aos beijos com Matteo, seus olhos se enchem de raiva. Camila e Matteo continuam aos beijos, até que Camila interrompe o beijo.

CAMILA (OLHANDO AO REDOR) – Alguém pode nos ver.

MATTEO (SORRINDO)- E o que tem? Já não somos mais adolescentes, somos adultos, não temos mais que nos esconder.

CAMILA (HESITANTE) – Eu sei, mas aqui não é o lugar.

MATTEO – Então me encontre amanhã. No rio, onde costumávamos nadar.

CAMILA (ANIMADA) – Eu estarei lá.

Eles trocam mais um beijo antes de Camila se afastar e voltar para o salão. Matteo a observa com um sorriso até que ela desaparece de vista.

                                                     SONOPLASTIA OFF

A caminho do salão, Camila esbarra em Inácio, que a encara com um olhar tenso.

INÁCIO – Estava procurando por você.

CAMILA (NERVOSA) – Ah, eu só queria um pouco de ar, por isso vim aqui para fora.

INÁCIO – Estava sozinha?

CAMILA – Sim! Vamos voltar para o salão.

Ela desvia o olhar e segue com Inácio de volta ao salão, enquanto Matteo fica na praça, exalando felicidade.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. SALÃO DE FESTAS – NOITE

As pessoas dançam ao som animado da banda de jazz. O clima de alegria e celebração é contagiante. Coronel Almeida, acompanhado de Dorotéia e do Prefeito Fontes, sobe ao palco. A música cessa, e a multidão volta sua atenção para o prefeito, que vai até o microfone com um sorriso.

FONTES – Boa noite, senhores e senhoras de Esperança! Que festa linda temos aqui, hein? Hoje, celebramos mais um aniversário de nossa querida cidade, um lugar que todos nós amamos e cuidamos com tanto zelo.

Os convidados aplaudem, animados. Fontes olhara para o Coronel Almeida e dá espaço para que ele fale ao microfone.

ALMEIDA – Boa noite a todos! Gostaria de parabenizar nosso prefeito Fontes por essa linda festa. E, claro, parabenizar nossa Esperança. Hoje é um dia especial.

Ele faz uma pausa, observando a multidão. Matteo, volta ao salão e observa atento.

ALMEIDA – Nossa cidade tem história, meus amigos. Uma história que começou lá atrás com meu avô, continuou com meu pai e que agora, com muito orgulho, faço de tudo para manter. Graças a eles, Esperança se tornou essa cidade que todos nós amamos e respeitamos.

As palavras dele arrancam aplausos entusiasmados, mas Matteo, Flávio, Rodolfo, Eriberto, Angislanclécia, Hismeria, Augusto, e Dr. Romeo olham com certo desdém. Matteo solta uma risada sarcástica.

ALMEIDA (ORGULHOSO) – E é por isso que eu tenho uma notícia para dar: eu estarei concorrendo para prefeito de Esperança! Espero contar com o apoio de todos vocês para continuar o legado da minha família e tornar essa cidade cada vez maior.

Os aplausos da maioria dos presentes são intensos, mas o grupo de Matteo permanece indiferente, com olhares críticos. Matteo, com um sorriso sarcástico, murmura para si mesmo.

MATTEO – Vamos ver se você consegue se tornar prefeito, Coronel.

Almeida agradece os aplausos e sorri com satisfação, ignorando completamente o grupo que o observa com ceticismo. A festa segue, mas o clima entre Matteo e Almeida torna-se mais tenso e carregado.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. CASEBRE DE ZECA – NOITE

Firmino, um homem alto e forte, por volta dos 30 anos, que trabalha para o Coronel Almeida chega à casa simples onde mora com sua mãe Dolores e seu pai Zeca, exausto e sujo após dias viajando a mando do coronel. Ele pousa sua trouxa de roupa no chão. Ele entra na cozinha onde Dolores, está de costas para ele, concentrada em preparar um chá sobre o fogo a lenha. A chama ilumina seu rosto com uma sombra pesada de tristeza, que Firmino logo percebe. Firmino, se aproxima e beija sua mão com reverência.

FIRMINO – Bença, mãe. Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

Dolores suspira, enxugando o canto dos olhos com o lenço amassado.

DOLORES – Filho, só peço calma...Teu pai, ele tá acamado.

FIRMINO (APREENSIVO) – O que houve, mãe? O que aconteceu com o pai?

Dolores desvia o olhar, tentando manter a calma, mas sua voz é repleta de dor e revolta.

DOLORES – Foi o coronel, ele e aquele maldito do Ezequiel. Teu pai estava juntando alguns homens para pedirem ao coronel melhores condições de trabalho, mas o coronel não quis nem ouvir. Mandou que o Ezequiel desse uma surra de chicote no teu pai. Chicote, Firmino, como se ele fosse um bicho, um escravo.

Os olhos de Firmino brilham de indignação. Sua respiração se acelera, e ele aperta os punhos, lutando para controlar a raiva que pulsa em seu peito.

FIRMINO – Onde ele está?

DOLORES – No quarto, estou preparando um chá para ele beber e sentir menos dor.

Firmino respira fundo, tentando conter se conter. Ele caminha até o quarto, e ao abrir o quarto, encontra Zeca deitado de bruços, seu corpo coberto por cicatrizes e feridas recentes que se espalham pelas costas.

FIRMINO (TRISTE) – Pai.

ZECA – Firmino, que bom te ver, filho.

Firmino se aproxima e se ajoelha ao lado da cama, olhando as marcas no corpo do pai.

FIRMINO – O que eles fizeram com o senhor, não posso acreditar, o senhor não merecia isso.

ZECA (TRISTE) – Eles fizeram e farão de novo, se a gente ousar a continuar a falar. Para o coronel, peão bom é peão calado e humilhado.

FIRMINO (EM FÚRIA) – Isso não é justo, pai! Eles não têm esse direito. Nenhum homem tem o direito de tratar o outro como se fosse bicho!

ZECA (ENVERGONHADO) – Eu me sentir pequeno, me sentir como um escravo, quando eu estava ali no chão, apanhando de chicote.

Firmino fecha os olhos, tentando conter as lágrimas, mas a revolta é mais forte. Ele se levanta, determinado.

FIRMINO – Isso não vai ficar assim, eu vou fazer esse coronel maldito pagar pelo que ele fez!

ZECA – Filho, não vá fazer besteira. Não quero que você se prejudique por minha causa. O Coronel não é homem de perdoar quem o desafia.

FIRMINO – Vou dar fim na vida desse maldito.

Firmino encara o pai, determinado e cheio de coragem.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. APARTAMENTO DE FERNANDO – SALA – DIA

Fernando está sentado na poltrona de couro escuro, com um livro entre as mãos e atento a sua leitura. De repente, a campainha toca. Fernando levanta o olhar, surpreso e hesitante, porque não espera visitas. Ele deixa o livro de lado, se levanta e caminha até a porta, ao abri-la, ele dá de cara com Constância, que está com um sorriso confiante e um olhar enigmático de sempre.

FERNANDO (SURPRESO) – Você aqui. Achei que nunca mais a veria novamente.

CONSTÂNCIA (SORRINDO) – Não vai me convidar para entrar?

Fernando imediatamente abre mais a porta, dando espaço para que ela entre. Constância passa por um ele, deixando no ar um rastro de perfume forte e marcante. Fernando fecha a porta e vai até ela.

FERNANDO – Onde você esteve esses dias? Simplesmente sumiu, estive várias vezes naquela confeitaria esperando que aparecesse, e nada.

CONSTÂNCIA – Estive ocupada esses dias, estava organizando alguns detalhes para minha viagem. Mas vim aqui para me despedir.

Fernando fica visivelmente desconcertado, tentando decifrar o que ela quer dizer.

FERNANDO – Despedir? Para onde você vai?

CONSTÂNCIA – Não precisa saber, querido. Quero só me despedir de você.

FERNANDO – Por que tanto mistério? Nem ao menos seu nome você quis falar.

Antes que ele possa continuar, Constância começa a desabotoar o casaco lentamente, sem tirar os olhos dele, num gesto calculado e envolvente. Fernando a observa, surpreso, mas incapaz de desviar o olhar. Um a um, os botões se soltam, até que o casaco desliza pelos ombros e cai no chão. Ela continua tirando a blusa, e ele a observa, fascinado e incrédulo pelo atrevimento dela. Quando finalmente está completamente nua, ela dá um passo em direção a ele e fala com voz suave e provocante.

CONSTÂNCIA – Vai ficar aí parado?

Fernando se aproxima rapidamente e a beija com intensidade, segurando-a pela cintura enquanto a conduz até o sofá da sala. Os dois se envolvem num abraço apaixonado, e o clima fica cada vez mais intenso.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA – PLANTAÇÕES – DIA

Firmino avança pelo campo em passos largos e decididos, seus olhos estão fixos em Ezequiel, o capataz, que supervisiona o trabalho dos peões com a postura arrogante de sempre, com as mãos enfiadas no cinto, observando cada movimento dos trabalhadores com uma expressão fria e dominadora. Ezequiel o vê se aproximando e abre um sorriso cínico.

EZEQUIEL – Ora, Firmino. Voltou de viagem, como foi por lá? Resolveu o problema do coronel?

Firmino não responde, ele continua se aproximando, até que, sema viso, desfere um soco direto no rosto de Ezequiel, que tropeça para trás, surpreso com a agressão. Antes que ele possa reagir, Firmino dá outro soco, seguido de mais um.

FIRMINO (COM RAIVA) – Isso é pelo meu pai! Pelo que você fez com ele!

Ezequiel se recompõe e revida com um soco, acertando Firmino no estômago. Eles começam uma luta intensa, trocando socos e empurrões, enquanto os peões ao redor, surpresos e divididos, se aproxima para assistir à briga.

FIRMINO – Covarde! Você e o coronel são dois malditos! Meu pai só pediu melhores condições de trabalho, e você o tratou como se ele fosse um bicho!

A luta se intensifica, e Ezequiel, ofendido, bate com força em Firmino, fazendo-o cair de joelhos. Mas antes que o capataz possa dar o golpe final, os outros peões intervêm, puxando os dois para longe um do outro, separando a briga.

EZEQUIEL – Você tá demitido! E eu vou falar com o coronel, você e seus pais vão para rua!

Firmino o encara, seu olhar está repleto de ódio.

FIRMINO – Eu juro que não vou deixar vocês saírem impunes! Isso aqui foi só o começo.

Ezequiel, com um sorriso amargo, se afasta, deixando Firmino entre os peões, que olham para ele com respeito e temor. Firmino, ainda ofegante, passa a mão pelo rosto e, olhando para Ezequiel com um olhar de ódio.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. EXT. RIO – DIA

Matteo, de pé, com os braços cruzados e uma expressão ansiosa, aguarda por Camila na beira da água do rio, seu olhar se perde no movimento calmo da corrente do rio enquanto ele espera. Ele usa uma camisa branca leve, as mangas dobras até os cotovelos, e um chapéu. De repente, ao longe, Camila surge entre as árvores, vestida em um leve vestido com flores bordadas e seus cabelos soltam que balançam com o vento. A cada passo que ela dá em direção a ele, Matteo fica mais ansioso. Quando os olhares dos dois se encontram, eles sorriem um para o outro e permanecem em silêncio por alguns segundos, admirando-se.

MATTEO – Dez anos...Dez anos e você continua tão linda quanto no último dia que te vi.

CAMILA (SORRI) – Eu esperei tanto por esse momento. Em todos esses anos...todos os dias, você esteve comigo, aqui dentro.

Camila leva a mão ao peito. Sem outra palavra, Matteo a puxa delicadamente para perto, e eles se beijam intensamente, um beijo cheio de saudades, de desejo reprimido, de amor que resistiu ao tempo e à distância. Suas mãos exploram o rosto um do outro, como se quisessem redescobrir cada detalhe. O beijo é longo, carregando de emoção, e quando finalmente se separam, permanecem abraçados.

MATTEO (SORRINDO) – Todos esses anos, eu nunca te esqueci, Camila. Estudei, trabalhei, lutei, mas nada foi capaz de apagar você da minha mente.

CAMILA – Eu também nunca te esqueci. Cada carta que pensei em te escrever, cada palavra que queria te dizer, ficou guardada em mim, esperando por hoje. Eu não fazia ideia do seu paradeiro, nem sabia se um dia voltaríamos a nos encontrar, quase não acreditei quando soube que você estaria de volta.

MATTEO – Agora eu estou aqui para que a gente possa reviver o nosso amor, já não somos mais dois adolescentes apaixonados que não podiam ficar juntos, agora somos adultos e donos nos nossos próprios destinos.

CAMILA – Não tão dona assim. Eu me formei professora, mas nunca trabalhei, ainda dependo do meu pai para viver, então não sou tão dona do meu destino.

MATTEO – Eu agora tenho como nos sustentar, sou presidente do grupo Matarazzo, você não precisa mais do coronel, e nem precisa trabalhar como professora, podemos ter uma vida tranquila só com o meu trabalho. Casa comigo Camila!

CAMILA (SURPRESA) – Casar? Mas assim, já tão depressa? Você acabou de voltar...

MATTEO (SORRI) – Não podemos perder mais tempo, já perdemos tempo demais. Vamos enfrentar o Coronel, aceite-se se casar comigo e vamos viver o nosso amor.

CAMILA (SORRI) – Eu aceito, Matteo. Eu aceito me casar com você!

Matteo muito feliz com o que acaba de ouvir, beija Camila. Eles trocam um olhar carregado de amor e, sem dizer nada, começam a tirar os sapatos e as meias, Camila solta o cinto do vestido e o deixa cair suavemente ao chão, revelando um traje de banho discreto e elegante. Os dois entram no rio, a água os envolve com frescor, mas o calor entre eles ainda é mais intenso. Eles sorriem, e Matteo mergulha, emergindo ao lado dela, provocando-a com um leve respingo de água. Camila ri, divertida e retribui, jogando água no rosto dele. Eles brincam como duas crianças.

CAMILA (RINDO) – Parecemos adolescentes outra vez...como nos velhos tempos.

MATTEO – Eu daria qualquer coisa para voltar àqueles tempos, mas talvez hoje seja ainda melhor.

Matteo e Camila se beijam mais uma vez, agora de maneira mais lenta e delicada, curtindo o momento. Camila fecha os olhos e repousa a cabeça no peito de Matteo, ouvindo o ritmo calmo do coração dele.

CAMILA – Promete que desta vez será diferente? Que nada vai nos separar?

MATTEO – Prometo, Camila. Eu já perdi muito tempo longe de você. Dessa vez, nada nem ninguém vai nos afastar.

Matteo acaricia com carinho os cabelos de Camila.

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – DIA

O sol ilumina a fachada imponente da casa grande. Almeida desce as escadas, arrumando o paletó com bastante pressa. Quando ele alcança o último degrau, vê Ezequiel se aproximando apressado, o chapéu amassado nas mãos e a respiração ofegante.

ALMEIDA – O que houve, Ezequiel? Você vem nessa correria, parece que viu uma assombração.

EZEQUIEL – O Firmino, coronel. Ele me atacou lá nas plantações de café, disse que era por causa da surra que o senhor mandou dar no pai dele, o Zeca.

ALMEIDA (INDIGNADO) – Esse moleque ingrato e insolente! E acha que pode desafiar minha autoridade nas minhas terras?

Almeida faz uma pausa, como se tentasse controlar a fúria, e depois volta a encarar Ezequiel.

ALMEIDA – Ponha ele, a desgraçada da mãe dele e o velho do Zeca para fora daquele casebre. Quero aquela família longe das minhas terras!

EZEQUIEL (SORRI) – Vou ter muito prazer em colocar aquela gente pra fora daqui coronel. Eles não vão mais incomodar!

ALMEIDA – Ótimo. Tenho assuntos a resolver na cidade, e não quero perder meu tempo com isso. Mantenha tudo sob controle, enquanto eu estiver fora.

Almeida caminha em direção ao carro, seu semblante ainda é rígido, e Ezequiel, segurando a raiva contida e um certo orgulho, parte em direção a casa de Zeca.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. INT. APARTAMENTO DE FERNANDO – SALA – DIA

Fernando acorda no sofá, a cabeça um pouco pesada e a pele ainda quente pelos momentos recentes. Ele percebe que está nu, e ao sentar-se, seus olhos buscam ao redor, mas Constância não está mais ali. Ao lado do telefone, um bilhete dobrado com uma marca de beijo feita por um batom chama sua atenção. Fernando o pega e lê, seu rosto inicialmente confuso vai se tornando sombrio conforme avança na leitura.

BILHETE – “Obrigada pelos momentos juntos, mas agora é hora de cada um de nós seguir seu caminho. Este foi o nosso adeus.”

Fernando segura o bilhete por um instante, sem acreditar que foi usado, seus pensamentos passam várias coisas. Ele suspira profundamente e, de repente, o telefone ao lado dele começa a tocar. Ele hesita antes de atender.

FERNANDO – Alô?

HOMERO (DO OUTRO LADO DA LINHA) – Fernando! Como vai, meu filho? É o seu pai.

FERNANDO – Tudo bem, pai. E por aí, como vão as coisas?

HOMERO (EMPOLGADO) – Bem, muito bem! Meu casamento está logo aí, e quero que você venha. Gostaria que conhecesse minha futura esposa, que estará ao meu lado.

FERNANDO (EVASIVO) – Pai, sabe que o trabalho tem sido pesado, especialmente agora enquanto aguardo a nomeação do concurso para juiz...

HOMERO – É sobre isso mesmo que te liguei, Fernando. Soube hoje que sua nomeação para juiz da Comarca de Esperança foi confirmada! Está feito, filho! Agora você não tem mais desculpas para não vim para casa.

Fernando, surpreso, fica em silêncio, absorvendo as palavras do pai. Ele sorri levemente, com o olhar distante, surpreso e animado ao mesmo tempo.

FERNANDO (COM EMOÇÃO) – Não acredito, Juiz da Comarca de Esperança? Isso é...

HOMERO (ORGULHOSO) – Isso é só o começo, meu filho. Nos vemos na festa do meu casamento?

Fernando olha ao redor do apartamento, pensa no bilhete de Constância e na mudança que essa nomeação representa.

FERNANDO – Claro, pai. Eu estarei lá.

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. EXT. ESTRADA – DIA

Ao volante de seu carro, Almeida aperta os olhos contra o brilho do sol que invade o para-brisa. Ele dirige pela estrada de terra que liga a sua fazenda até a cidade. Perto dali escondido atrás de uma árvore, Firmino segura uma espingarda com os olhos fixos na estrada, enquanto segue o movimento do carro com o olhar. O carro de Almeida se aproxima e Firmino respira fundo, concentrando-se. Ele levanta a espingarda, a mão firme, mas a respiração acelerada, e mira diretamente no carro. Quando o carro passa diante dele, ele puxa o gatilho. O som do tiro ecoa pela estrada vazia. A bala atinge o carro de Almeida.

FIM DO CAPÍTULO

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