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ESPERANÇA - CAPÍTULO 24

 

ESPERANÇA

Capítulo 24

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

CENA 1. EXT/INT. DELEGACIA – DIA

O sol nasce sobre a cidade de Esperança. Matteo, Rodolfo e Eriberto chegam à delegacia ao mesmo tempo que o delegado Afrânio, que está ajustando seu chapéu e parece despreocupado.

AFRÂNIO (SORRINDO) – Que pontuais! Não pensei que estariam tão cedo aqui.

MATTEO (SÉRIO) – O que nos traz aqui é muito importante, delegado. E você também sabe.

AFRÂNIO – Não precisa me ensinar a fazer meu trabalho, Matteo.

Eles entram na delegacia. Afrânio vai até sua sala e pede ao policial para trazer o jagunço preso. Momentos depois, o jagunço é trazido, mas sua roupa está ensanguentada e sua boca coberta de sangue. Todos na sala ficam chocados.

RODOLFO – O que aconteceu com ele?

Afrânio se ergue da cadeira, sério.

AFRÂNIO – Quem fez isso?

O jagunço tenta falar, mas apenas sons abafados saem. Ele então abre a boca e aponta para ela. Todos percebem então que ele teve a língua arrancada e ficam assustados.

MATTEO (ESPANTADO) – Arrancaram a língua dele?

ERIBERTO (FURIOSO) – Isso só pode ter sido obra do Coronel Almeida e seus homens.

RODOLFO – Você precisa fazer alguma coisa delegado.

AFRÂNIO – Sem provas, não posso acusar ninguém.

MATTEO (ENFURECIDO) – Não precisa de provas, delegado! Está mais do que óbvio quem fez isso.

AFRÂNIO (FIRME) – Cuidado com suas acusações, Matteo. Você como advogado sabe muito bem como as coisas funcionam.

MATTEO – Aqui as coisas não funcionam, delegado. Esse infeliz teve a língua arrancada enquanto estava preso dentro da sua delegacia.

AFRÂNIO – Eu irei investigar o que aconteceu.

Matteo se vira para Eriberto e Rodolfo.

MATTEO – Vamos, isso aqui não vai dar em nada. Temos um jornal para consertar, se eles pensam que irão nos calar com isso, eles estão muito enganados.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA DE JANTAR – DIA

Almeida está sentado à cabeceira, Dorotéia e Camila estão sentadas próximas, todos diante de uma mesa farta de café da manhã.

DOROTÉIA (SORRINDO) – Essa semana começa o advento, falta pouco menos de um mês para o Natal. Acho que já está na hora de começarmos as decorações.

CAMILA – Eu adoro essa época. As casas e as ruas ficam tão cheias de luzes e cores.

DOROTÉIA – Eu também adoro essa época, são momentos muito felizes onde podemos reunir a família.

ALMEIDA (IMPACIENTE) – Só não gastem para além da conta com essas decorações.

Antes que elas respondam, Ezequiel surge na porta tirando o chapéu. Ele está com um semblante sério.

EZEQUIEL – Com licença, coronel. Preciso falar com o senhor.

Almeida se levanta lentamente.

ALMEIDA – Dessa vez, o que houve?

Almeida lança um olhar breve para Dorotéia e Camila.

ALMEIDA – Continuem com suas ideias de Natal. Já volto.

Almeida e Ezequiel seguem até o escritório. Ezequiel fecha a porta do escritório e puxa um pano grosso do bolso. Ele o desenrola, revelando uma língua ensanguentada. Almeida olha com atenção, sem demonstrar choque.

EZEQUIEL (SORRINDO) – Está feito, coronel. Ele não vai falar nada. Nunca mais!

ALMEIDA (SATISFEITO) – Muito bem, Ezequiel. Era o que precisava ser feito.

Ele coloca uma mão firme no ombro de Ezequiel, um gesto de aprovação que carrega tanto gratidão quanto poder.

ALMEIDA – Agora cuide para que isso desapareça, não quero rastros.

EZEQUIEL (ORGULHOSO) – Pode deixar, coronel. Isso aqui vai sumir tão rápido quanto a língua dele.

Almeida dá um sorriso frio e volta para a sala de jantar como se nada tivesse acontecido.

                                                         CORTA PARA:

CENA 3. INT. PREFEITURA – RECEPÇÃO – DIA

Hismeria está sentada em uma grande escrivaninha, ela está diante de vários papéis espalhados pela mesa e ela os organiza. Augusto entra tirando o chapéu e ajeitando a gravata.

AUGUSTO – Bom dia, Hismeria.

HISMERIA (SORRINDO) – Bom dia, Augusto.

AUGUSTO – Será que dá para conversamos um instante?

HISMERIA – Sim, o prefeito ainda não chegou. Do que se trata?

AUGUSTO – Na última vez que conversamos, você me contou que o prefeito Fontes estaria insatisfeito com as atitudes do Coronel Almeida e que se aparecesse um bom candidato para disputar a prefeitura ele romperia com o coronel.

HISMERIA – Sim, não é de hoje que o prefeito Fontes não concorda com os abusos cometidos pelo coronel.

AUGUSTO – Pois agora ele tem um candidato para apoiar! Um nome forte que irá enfrentar o Almeida nas urnas.

HISMERIA (CURIOSA) – E quem seria?

AUGUSTO (CONVICTO) – Matteo Bellini.

Hismeria ergue as sobrancelhas, surpresa. Ela encara Augusto por um momento, avaliando a informação.

HISMERIA (PENSATIVA) – Isso muda muita coisa. O prefeito me garantiu que apoiaria quem tivesse chance real contra o Almeida. Matteo pode ser essa pessoa?

AUGUSTO (CONFIANTE) – Mais do que pode. Ele será! Ele é um homem rico, mas ele já foi um simples filho de imigrantes italianos que já sofreu com os abusos do coronel, então ele saberá falar com o povo. E com o apoio do prefeito, será imbatível.

HISMERIA – Vou conversar com o prefeito. Mas eu posso garantir que ele quer ver o Almeida fora do controle desta cidade.

AUGUSTO – Converse com ele, e se ele topar podemos marcar uma reunião junto com o Matteo e os seus apoiadores.

HISMERIA – Ele já conta com outros apoiadores?

AUGUSTO – Sim, pessoas que irão agregar muito e ajudar nessa campanha.

HISMERIA – Eu também quero fazer parte dessa caminhada.

AUGUSTO (SORRINDO) – Será muito bem-vinda.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. DELEGACIA – DIA

Matteo entra na delegacia com passos firmes, segurando um papel. O delegado Afrânio, com seu usual ar debochado, está recostado na cadeira, girando uma caneta entre os dedos.

AFRÂNIO (SORRINDO DE CANTO) – Ora, se não é o herói que salvou o jornal. Já veio encher o saco novamente?

MATTEO – Eu vim buscar o Firmino.

Matteo joga o papel sobre a mesa de Afrânio. O delegado o pega e ler.

AFRÂNIO (SURPRESO) – Então você conseguiu que ele fosse solto. Quem diria...

MATTEO – Firmino é um homem livre agora, o juiz mandou soltá-lo. Nem você e nem o Coronel Almeida estão acima da lei!

Afrânio, claramente contrariado, chama um policial com um aceno de cabeça.

AFRÂNIO – Soltem o Firmino.

Pouco depois, Firmino aparece, visivelmente aliviado. Ele encara Matteo com gratidão.

FIRMINO (SORRINDO) – Achei que ia apodrecer aqui.

MATTEO – Agora você é livre, Firmino. Venha comigo, precisamos conversar.

Firmino assente, e Afrânio os observa sair da delegacia, frustrado.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – DIA

Firmino e Matteo saem da delegacia e se dirigem até o carro de Matteo, enquanto conversam.

MATTEO – Firmino, eu tenho uma proposta para você. Eu gostaria que você trabalhasse para mim, que cuidasse da minha segurança. Serei candidato a prefeito de Esperança e eu vou precisar de alguém que me proteja.

FIRMINO – Claro que eu aceito, senhor. Eu e os meus pais não temos nem onde cair mortos depois que o coronel nos expulsou da nossa casa, vou precisar trabalhar bastante para ajudar meus pais.

MATTEO – Não se preocupe com isso, eu já providenciei uma casa aqui na cidade para seus pais. O Zeca e a Dolores estão trabalhando lá em casa, não vai faltar nada para vocês.

FIRMINO (EMOCIONADO) – Não sei nem como agradecer por essa ajuda que você está me dando.

MATTEO – Não precisa agradecer, Firmino. Eu também já fui vítima dos abusos do Coronel Almeida. E é por isso que eu voltei a essa cidade, para me vingar daquele homem e eu preciso da sua ajuda para isso.

FIRMINO – No que eu puder ajudar para desgraçar aquele homem, eu te ajudo.

MATTEO – Você trabalhou na fazenda por muito tempo, deve conhecer tudo por lá.

FIRMINO – Foram vários anos senhorzinho, conheço cada pedacinho daquela fazenda e como tudo funciona.

MATTEO – Eu fiquei sabendo que antes de tudo isso acontecer você estava viajando a mando do coronel, o que exatamente ele queria?

FIRMINO – Ele me mandou percorrer as fazendas da região, porque uma praga tem infestado as plantações de café e é a mesma praga que afetou uma parte da fazenda na safra passada, e ele queria trocar informações e saber o que estavam usando para combater essa praga e não correr risco de ela afetar as plantações nessa safra.

MATTEO – Se essa praga afetou parte da safra ele deve ter tido um grande prejuízo.

FIRMINO – Sim, foi um grande prejuízo, o que salvou as plantações da fazenda próxima a estrada de ferro, essas não foram atingidas pela praga.

MATTEO – A fazenda próxima a estrada de ferro era a antiga fazenda Bellini, a fazenda da minha família que o coronel comprou a preço de banana depois de ter tocado fogo na nossa casa e matado a minha mãe.

FIRMINO – Eu já ouvir falar dessa história, não sabia que era a família do senhor.

MATTEO – E quem são os compradores do café que eles colhem?

FIRMINO – Tudo que a fazenda produz vai pra um único lugar, a fábrica café Esperança, eles compram toda a safra da fazenda.

MATTEO – Vou precisar da sua ajuda Firmino, eu quero dar um grande baque no coronel Almeida e vai ser através do café.

FIRMINO – O que o senhor quer fazer?

MATTEO – Quero que você consiga uns homens para te ajudar, assim que toda a safra da fazenda Almeida tiver colhida e ensacada, nós vamos incendiar as sacas de café e assim causaremos um prejuízo de um trabalho de um ano inteiro.

FIRMINO (SORRI) – Pode deixar senhorzinho, vou ter é prazer de queimar tudo!

Matteo olha para Firmino com um olhar sério e decidido.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – DIA

O ambiente está parcialmente destruído. Pedaços de madeira, papéis rasgados e vidros quebrados estão espalhados pelo chão. Angislanclécia e Eriberto estão agachados, tentando organizar a bagunça. Ela segura uma pilha de jornais enquanto Eriberto coloca algumas cadeiras no lugar.

ANGISLANCLÉCIA – Olha isso, Eriberto, parece até que um furacão passou por aqui. Como vamos nos reerguer depois disso?

ERIBERTO – Pelo menos não destruíram a gráfica nem os arquivos importantes. Já é uma sorte.

ANGISLANCLÉCIA (INQUIETA) – Mas até quando? O Coronel Almeida não vai parar. Ele quer nos calar a qualquer custo.

ERIBERTO – E é exatamente por isso que a gente não pode desistir. O jornal é a única voz que o povo de Esperança tem contra ele.

Angislanclécia respira fundo, tentando conter a ansiedade. Ela se aproxima de Eriberto com um olhar preocupado.

ANGISLANCLÉCIA – E o Henrique? Você sabe como ele está?

ERIBERTO – Está sob os cuidados do Dr. Romeo. Foi só um tiro de raspão, ele está bem, e eu estive com ele e ele disse que pretende vir aqui hoje mesmo.

ANGISLANCLÉCIA (SURPRESA) – Hoje? Depois do que aconteceu? Ele deveria ao menos se recuperar.

ERIBERTO – Ele quer escrever uma matéria sobre o ataque sofremos. Ricardo acha que a melhor forma de responder é expondo o coronel.

Angislanclécia começa a andar de um lado para o outro, preocupada. Ela segura um pedaço de jornal rasgado nas mãos, sem perceber.

ANGISLANCLÉCIA – Isso só vai atiçar ainda mais a ira do coronel...E se ele mandar mais jagunços? E se o próximo ataque for pior?

ERIBERTO (FIRME) – Angislanclécia, agora não tem mais volta. Nós já estamos enfrentando ele. E é isso que temos que fazer: resistir.

ANGISLANCLÉCIA – Eu tenho medo de perdemos tudo.

ERIBERTO – Se perdemos tudo, pelo menos saberemos que não ficamos de braços cruzados.

                                                         CORTA PARA:

CENA 7. INT. FÓRUM DE ESPERANÇA – ESCRITÓRIO DE FERNANDO – DIA

O fórum é uma construção imponente para os padrões da cidade de Esperança. Homero e Almeida caminham com passos firmes pelo corredor e entram no escritório de Fernando sem bater. Fernando, de pé, folheira um processo e ergue os olhos surpreso ao ver os dois. Ele ajeita os óculos e fecha a pasta, colocando-a sobre a mesa.

FERNANDO (SURPRESO) – Pai...Coronel Almeida. Não esperava vê-los aqui. A que devo essa visita inesperada?

Antes que Homero possa responder, Almeida avança, apontando o dedo para Fernando.

ALMEIDA (IRRITADO) – Você sabe muito bem por que estamos aqui, rapaz! Quero saber que ideia absurda foi essa de mandar soltar o Firmino.

Fernando mantém a calma diante do tom agressivo de Almeida.

FERNANDO (FIRME) – Coronel, esta não é nem a hora, nem o lugar e muito menos o jeito de se questionar uma decisão judicial.

ALMEIDA (ESBRAVEJANDO) – Decisão judicial? Você soltou um criminoso! Um homem que tentou me matar!

HOMERO – Fernando, filho, eu também acho que essa sua decisão foi precipitada. Você colocou na rua alguém que representa um perigo!

FERNANDO – Firmino foi preso sem provas suficientes. Os autos do processo não traziam nenhum elemento contundente que justificasse mantê-lo na cadeia.

ALMEIDA – A minha palavra o acusando já não é suficiente?

FERNANDO – Sua palavra não basta, coronel. Como juiz, minha obrigação é aplicar a lei, e não agir conforme a vontade de alguém.

Almeida dá um passo à frente, tentando impor sua presença.

ALMEIDA (COM RAIVA) – Você é insolente, garoto. Se pensa que pode desafiar a mim e às minhas regras em Esperança, está muito enganado!

Fernando mantém a postura, firme, enquanto Almeida se aproxima. Homero observa preocupado, mas não intervém.

FERNANDO – Regras? As únicas regras que importam aqui são as da lei, coronel. E no meu tribunal, é assim que as coisas funcionam. Se você tem alguma acusação contra o Firmino, apresente provas. Caso contrário, ele continuará solto e se for a julgamento será inocentado.

Almeida, furioso, aponta o dedo no rosto de Fernando.

ALMEIDA – Você vai se arrepender de me desafiar, moleque! Eu exijo que você revogue essa decisão e mande o Firmino de volta para a prisão.

Fernando afasta o dedo do coronel com calma.

FERNANDO – E eu exijo que o senhor me respeite, coronel. Sou juiz desta comarca e não recebo ordens de ninguém, muito menos de quem tenta impor sua vontade à força.

HOMERO – Almeida, calma. Vamos resolver isso de forma racional.

FERNANDO – Pai, eu sempre respeitei suas decisões no banco e nunca me meti no seu trabalho. Peço que faça o mesmo e não interfira no meu.

Homero parece hesitar, mas assente lentamente. Almeida, por outro lado, perde a paciência de vez. Ele ajusta o chapéu e se vira para sair, mas lança um último olhar a Fernando.

ALMEIDA – Isso não vai ficar assim!

Ele sai da sala batendo a porta com força. Homero suspira e olha para o filho, que já voltou sua atenção aos papéis na mesa, fingindo calma.

HOMERO – Fernando, você sabe que o coronel não é homem de engolir afrontas.

FERNANDO – Eu também não sou homem de tolerar intimidações.

Homero balança a cabeça, desapontado, e sai para acompanhar Almeida. Fernando suspira profundamente e se recosta na cadeira, passando a mão pelo rosto.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. EXT. FAZENDA ALMEIDA – DIA

Matteo cavalga lentamente pelo vasto campo da antiga fazenda Bellini, agora integrado à fazenda Almeida.

FLASHBACKS: Matteo, adolescente, correndo com os irmãos pelos campos. Francesca, sua mãe, rindo enquanto espalha milho para as galinhas. Giuliano, seu pai, ensinando Rodolfo a montar no cavalo pela primeira.

Matteo respira fundo, afagando o pescoço do seu cavalo.

Matteo desce do cavalo e amarra as rédeas num tronco próximo. Ele caminha até o depósito, suas botas rangendo na madeira desgastada. Lá dentro, Marcos, com uma prancheta nas mãos, anota algo num caderno. Ele ergue os olhos e se surpreende ao ver Matteo.

MARCOS – Matteo! Não acredito! Você por aqui?

MATTEO (SORRINDO) – Marcos, meu amigo! Estava te devendo essa visita.

Eles se abraçam calorosamente.

MARCOS (FELIZ) – Eu esperava que um dia você viesse até aqui.

MATTEO – Vim matar a saudades...esses campos, tudo está tão igual e tão diferente ao mesmo tempo.

MATTEO (BRINCANDO) – Bom, eu ainda sou o mesmo, só com um pouco mais de preocupações e cabelos brancos.

MATTEO – Ah, não diga isso! Você ainda tem o mesmo jeito de sempre e não vejo esses cabelos brancos que fala. Mas me diga, como estão as coisas por aqui?

MARCOS (SUSPIRA) – Complicadas...mas antes, me conte de você! Alguma novidade?

MATTEO (ANIMADO) – Estou namorando...sua irmã, Camila.

Marcos arregala os olhos, mas logo abre um sorriso de satisfação.

MARCOS (RINDO) – Você não perde tempo! Camila e você, eu sempre soube que um dia vocês ficariam juntos.

MATTEO – Mas nem todos vão ficar felizes quanto você. Seu pai é contra, quando ele descobrir, vai querer nos separar.

MARCOS (REFLEXIVO) – Ah, meu pai, sempre contra tudo que não controla. Mas, Matteo, não desista! Lutem pelo amor de vocês.

Marcos baia o olhar por um instante.

MARCOS – Eu não lutei por ser quem eu sou, e agora estou preso num casamento sem amor.

MATTEO (CURIOSO) – Por que não pede o desquite? Se você e a Helena não estão felizes, vocês merecem outra chance.

MARCOS – Matteo, para uma mulher, o desquite é uma marca cruel. Helena não merece isso. Ela também é vítima desse casamento.

MATTEO (FIRME) – Marcos, prende-se a isso só prolonga o sofrimento. Vocês dois merecem ser felizes, assim como outras pessoas. Pense nisso.

Marcos fica em silêncio, pensativo.

MATTEO – Quanto a seu pai, ele está passando dos limites. A agressão contra o ex-funcionário, o jornal destruído a mando dele pelos jagunços, e agora um homem que teve a língua arrancada, isso precisa acabar.

MARCOS (INDIGNADO) – Eu estou cansado dessas atrocidades! Não consigo mais fechar os olhos para isso.

MATTEO (SÉRIO) – Por isso decidir: vou me candidatar a prefeito de Esperança. Quero pôr fim ao controle do coronel sobre essa cidade.

Marcos abre um sorriso, surpreso e esperançoso.

MARCOS – Você tem meu apoio, Matteo. Mesmo que isso irrite meu pai, eu vou estar ao seu lado.

Camila aparece à porta, ela observa os dois com um sorriso curioso.

CAMILA – O que são esses sorrisos? Você está tramando alguma coisa?

MATTEO (BRINCANDO) – Eu conto depois meu amor, mas não aqui. Vamos caminhar e eu te conto.

Matteo estende a mão, e Camila sorri enquanto caminha pelo campo

                                                        CORTA PARA:

CENA 9. EXT. BORDEL DE MADAME YVETTE- DIA

Rodolfo para sua lambreta em frente ao bordel de Madame Yvette. Ele desce da lambreta com uma pose exagerada, ajeitando os cabelos. Carolina, que estava parada na calçada, o olha com os olhos arregalados.

CAROLINA – Rodolfo? Você...de lambreta?

RODOLFO (SORRINDO) – Gostou? É presente do Matteo! Acabou de chegar de São Paulo.

CAROLINA – Muito bonita! Mas por que nunca mais me desviou? Achei que tinha me esquecido.

RODOLFO (GALANTEADOR) – Esquecer você? Impossível. Estive ocupado com coisas importantes, mas sempre pensando em você.

Carolina tenta manter a pose séria, mas começa a ceder ao charme de Rodolfo. Ele segura sua mão com delicadeza.

RODOLFO – Você é mais bonita do que eu lembrava. Como poderia esquecer de você?

Carolina suspira, derrotada e sorri.

CAROLINA – Está bem...está perdoado.

Rodolfo a segura pela cintura.

RODOLFO – Então...o que acha de dar uma volta comigo? Quero te mostrar como essa lambreta combina comigo e com você.

CAROLINA (RINDO) – Combinamos? Então me convença.

Rodolfo a puxa gentilmente para a lambreta. Eles sobem juntos e ele acelera, arrancando risadas de Carolina enquanto cruzam as ruas da cidade.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT. FAZENDA ALMEIDA – DIA

Camila e Matteo caminham lado a lado pela fazenda em um caminho cercado de árvores.

CAMILA (SORRINDO) – Contei para minha mãe.

MATTEO – Contou, o quê, exatamente?

CAMILA (RINDO) – Sobre nós, Matteo. Sobre estarmos juntos.

MATTEO (ALEGRE) – E o que ela disse?

CAMILA – Ela nos deu a benção. Disse que está feliz por mim, e que nos apoiará quando chegar a hora de contarmos ao meu pai.

Matteo segura as mãos de Camila.

MATTEO – Que notícia boa, deve ser muito importante para você ter o apoio de sua mãe.

CAMILA – E você? Contou para alguém?

MATTEO – Sim, para o Marcos.

CAMILA – Ah, então era isso que vocês estavam cochichando no depósito?

MATTEO (RINDO) – Foi parte da conversa.

CAMILA (CURIOSA) – E qual foi a outra parte?

MATTEO – Camila, irei me candidatar a prefeito de Esperança...Vou disputar contra o seu pai.

CAMILA (SURPRESA) – Você? Candidato contra meu pai? Isso é sério?

MATTEO (DETERMIANDO) – Mais sério do que nunca. Não quero mais ver essa cidade nas mãos dele. E o Marcos vai me apoiar.

CAMILA – Eu...não sei o que dizer. Você realmente está disposto a enfrentar isso?

MATTEO (SORRINDO) – Alguém tem que tentar. E espero contar com o seu apoio também.

CAMILA (SORRINDO) – Matteo, você sabe que política nunca foi a minha preferência, apesar do meu pai estar inserido nela, mas eu jamais deixaria de te apoiar em algo que você acredita, e eu espero que você ganhe e possa mudar as coisas por aqui.

                             SONOPLASTIA: CLOSE TO YOU – CIDIAN E DAN

Matteo sorri e se aproxima de Camila. Eles se beijam, com o pôr do sol ao fundo.

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE

Sentados ao redor de uma mesa estão Henrique, Eriberto, Angislanclécia, Dr. Romeo, Padre Olavo, Augusto, Marcos, Matteo e Rodolfo. Matteo está no centro, gesticulando com entusiasmo enquanto fala. Todos estão atentos.

MATTEO – O povo dessa cidade merece algo melhor. Não podemos continuar à sombra do coronel Almeida, com seus jagunços e suas ameaças sufocando a cidade. É hora de mudarmos isso. A reunião de vocês aqui, pessoas tão distintas, é a prova de que podemos fazer história. Gostaria de dar boas-vindas ao Marcos, filho do coronel Almeida, mas que nunca concordou com as atitudes do pai e hoje está aqui ao meu lado, pronto para me ajudar nessa caminhada.

MARCOS (SORRINDO) – Pode contar comigo, Matteo. O que eu puder fazer para ajudar a tirar essa cidade do controle do meu pai, eu farei.

HENRIQUE – Amanhã publicaremos mais uma matéria contra o coronel, contando todo esse ataque que ele orquestrou contra esse jornal. Cumprindo com nosso compromisso de publicar tudo o que for preciso para expor as injustiças do coronel.

ANGISLANCLÉCIA – Mas precisamos ser estratégicos. Se mexermos com o Almeida sem cuidado, ele pode retaliar. E sabemos que ele é capaz de coisas absurdas.

MATTEO (DETERMINADO) – Sei dos riscos, mas não vou voltar atrás.

DR. ROMEO – Matteo, você já pensou em como vai convencer os indecisos? O coronel tem muita influência, especialmente entre os pequenos fazendeiros.

ERIBERTO – O povo precisa saber que tem outra opção. Que você está aqui para defende-los.

De repente, a porta da redação se abre, e Hismeria entra acompanhada do prefeito Fontes. O ambiente mergulha em um silêncio surpreso. Todos os olhos se voltam para eles.

HISMERIA (SORRINDO) – Espero não estar interrompendo nada importante.

AUGUSTO (SORRINDO) – Enfim, chegaram.

Matteo se levanta.

MATTEO – Você deve ser a Hismeria, o Augusto falou que você viria...Prefeito Fontes! Feliz em vê-los aqui.

FONTES – Matteo Bellini. O prazer é meu. Esperei muito tempo para ver alguém com coragem suficiente para enfrentar o coronel Almeida.

MATTEO – Agradeço as palavras, Prefeito. Mas confesso que não acreditei que o senhor viria.

Fontes aperta a mão de Matteo firmemente, cumprimentando-o e o olhando diretamente nos olhos.

FONTES – Estou aqui porque acredito que essa cidade precisa de mudança, e você parece ser o homem para isso.

ERIBERTO – Prefeito, com todo respeito. O senhor esteve com o Almeida durante todos esses anos, por que agora muda de lado?

FONTES – Porque eu nunca tive coragem de enfrenta-lo, fui covarde, mas isso acabou e agora que o Matteo está abrindo um caminho que eu não consegui abrir, irei apoia-lo. Não pude combater o Almeida diretamente, mas posso garantir que você terá apoio político e logístico contra ele.

O grupo troca olhares, ainda digerindo a surpresa.

HENRIQUE – E o Almeida? Ele vai saber disso, prefeito. Você está preparado para lidar com as consequências?

FONTES (FIRME) – Já lido com o Almeida há anos. Chegou a hora de traçar uma linha no chão. Matteo, você está disposto a ir até o fim?

MATTEO – Estou. Não por mim, mas por Esperança.

Fontes sorri, satisfeito.

FONTES – Então conte comigo, estarei ao seu lado.

FIM DO CAPÍTULO

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