ESPERANÇA
Capítulo 28
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA
1. INT. MANSÃO DE MATTEO – ESCRITÓRIO – DIA
Matteo
fecha a porta enquanto Firmino o aguarda.
MATTEO –
Agora pode falar.
FIRMINO –
Os homens que colocamos de tocaia na fazenda descobriram que toda a safra de
café foi colhida e está armazenada no depósito. Amanhã começa o transporte para
a fábrica.
Matteo
anda de um lado para o outro, pensativo. Ele para, olhando diretamente para
Firmino.
MATTEO –
Então precisamos agir hoje à noite.
FIRMINO –
O que você quer que façamos?
MATTEO – Reúna
os homens. Toquem fogo em todo o café.
FIRMINO –
Entendido, patrão.
MATTEO – Mas ouça
bem: não quero que ninguém morra.
FIRMINO –
Pode deixar, patrão. Ninguém vai se machucar.
Firmino
sai rapidamente para organizar os homens. Matteo permanece parado com os olhos
brilhando pela vingança que fará contra o Coronel Almeida.
CORTA PARA:
CENA
2. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SALA – NOITE
A
sala da mansão de Inácio está luxuosamente decorada devido a festa de casamento
dele. Camila e Inácio, estão no centro da sala, recebendo os cumprimentos dos
convidados, que conversam e riem alegremente. Entre os convidados, Candoca,
Angislanclécia e Chandra Dafni observam a sala admiradas com a decoração. Padre
Olavo está com um grupo de homens, incluindo Delegado Afrânio, Homero e
Fernando, conversando sobre a política local.
AFRÂNIO –
O senhor não estava presente na reunião convocada pelo Coronel Almeida, padre. Vai
apoiar o candidato da oposição?
PADRE OLAVO –
Mas o candidato da oposição não seria o Coronel? Porque o prefeito que é
governo está apoiando o Matteo.
FERNANDO –
O padre tem razão, se o atual prefeito está apoiando o Matteo, oposição é o Coronel
Almeida.
HOMERO – Essa
posição do Fontes foi um disparate, imagine apoiar um aventureiro que saiu
corrido dessa cidade há mais de 10 anos.
FERNANDO –
Esse aventureiro se mostra uma boa opção, é jovem, preside um grupo de empresas,
pode agregar muito à essa cidade que parou no tempo.
AFRÂNIO (INDAGA) –
O juiz vai apoiar o Matteo Bellini?
FERNANDO (SORRI) –
O voto é secreto, delegado, por mais que aqui se tenha o costume de não ser.
Dorotéia
está do outro lado da sala, conversando com Helena, enquanto Marcos observa a
sala de longe, com um ar reservado. Coronel Almeida, como sempre, circula com
autoridade, cumprimentando as pessoas, até que ele ergue sua taça de champanhe,
batendo levemente nela com um anel. O som ecoa pelo salão, silenciando as
conversas. Todos os olhares se voltam para ele.
ALMEIDA –
Senhoras e senhores, por favor, sua atenção.
Os
convidados se ajeitam, atentos ao coronel. Camila e Inácio, de mãos dadas,
olham para Almeida com expressões diferentes. Inácio com um sorriso respeitoso,
Camila com um olhar distante.
ALMEIDA –
Hoje, estamos reunidos para celebrar uma ocasião que, para mim, é motivo de
grande alegria. Minha filha Camila, minha maior joia, encontrou um homem digno,
trabalhador e leal como Inácio.
Ele
faz uma pausa, percorrendo os olhos pelo salão como se quisesse garantir que
todos concordassem com suas palavras.
ALMEIDA –
Inácio, você não apenas conquistou o coração da minha filha, mas também o meu
respeito. E agora faz parte da minha família.
Os
convidados aplaudem educadamente. Almeida olha diretamente para Inácio.
ALMEIDA (ENFÁTICO) –
A felicidade de Camila agora é sua maior responsabilidade, mas tenho certeza de
que você estará à altura.
Inácio
assente com firmeza, enquanto Camila desvia o olhar, forçando um pequeno
sorriso.
Almeida
ergue a taça.
ALMEIDA –
Um brinde aos noivos! À felicidade deles e ao futuro promissor que
construiremos juntos.
Todos
erguem as taças e brindam aos noivos.
O
salão é preenchido por aplausos e risadas.
CORTA PARA:
CENA
3. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA - DEPÓSITO – NOITE
Firmino
e seus homens chegam a cavalo ao depósito, carregando latas de gasolina. Eles
se movem com bastante precisão. Um vigia está sentado próximo à entrada,
cochilando com uma lanterna ao lado. Firmino faz um gesto para seus homens
pararem e sussurra.
FIRMINO – Esperem.
Vou resolver isso.
Firmino
desce do cavalo e avança silenciosamente. Em seguida, agarra o vigia por trás,
tampando sua boca. O vigia acorda assustando, e tenta se soltar.
FIRMINO –
Fique quieto e ninguém se machuca.
Dois
homens amarram o vigia e colocam ele em um canto afastado do depósito. Firmino
pega uma lata de gasolina e faz sinal para seus homens, eles entram no depósito
e começam a derramar gasolina ao longo das pilhas de sacas de café.
FIRMINO –
Vamos peãozada! Quero que isso aqui vire cinzas antes da meia-noite.
Os
homens trabalham rapidamente, cobrindo cada canto do depósito com gasolina.
Firmino para no central do local, ele pega uma caixa de fósforos e acende um. O
pequeno brilho ilumina brevemente seu rosto antes que ele jogue o fósforo sobre
as sacas de café. Em segundos, as chamas começam a se espalhar, crescendo
rapidamente e iluminando o interior do depósito.
FIRMINO (GRITANDO) –
Vamos! Saiam agora!
Os
homens correm para fora do depósito enquanto as chamas começam a engolir o
depósito. Do lado de fora, eles observam as janelas explodindo e as chamas
iluminando o céu escuro.
FIRMINO (FRIO) –
Agora vamos embora, e esperar que o coronel chegue e encontre o que restou do
seu café.
O
fogo crepita, lançando fagulhas no ar. Firmino olha para o depósito em chamas
por mais alguns segundos antes de subir no cavalo e desaparecer na escuridão
junto com seus homens.
CORTA PARA:
CENA
4. INT. MANSÃO DE MATTEO – SALA – NOITE
Flávio,
Matteo e Rodolfo estão sentados em poltronas, conversando casualmente enquanto
aguardam o jantar. A porta da sala se abre, e Patrícia e Flora entram, após
chegarem de São Paulo.
FLÁVIO – Patrícia,
Flora! Bem-vindas de volta. Como foi em São Paulo? Conseguiram resolver o problema?
PATRÍCIA –
Aquela cidade está cada dia mais caótica. O trânsito, as pessoas...tudo parece
uma grande confusão. Mas conseguimos sim, resolvemos tudo que estava pendente.
FLÁVIO (RINDO) –
É por isso que prefiro a calma de Esperança. E esse ar puro, é maravilhoso.
RODOLFO (BRINCA) –
Principalmente para os seus pulmões.
Todos
riem. Magali aparece na porta da sala com um avental, secando as mãos com um
pano.
MAGALI – O jantar
está pronto. Vou servir.
Todos
se levantam e começam a caminhar em direção à sala de jantar. Flora segura o
braço de Matteo, parando-o.
FLORA –
Matteo, precisamos conversar.
MATTEO –
Agora? Não pode ser depois do jantar?
FLORA (SÉRIA) –
É um assunto urgente.
Matteo
hesita, mas concorda. Eles se afastam dos outros, ficando sozinhos na sala.
MATTEO (INTRIGADO) –
O que houve, Flora?
FLORA (NERVOSA) –
Nos últimos dias minha menstruação atrasou e eu venho sentindo enjoos. Acho que
estou grávida.
MATTEO (EM CHOQUE) –
Grávida? Flora, você tem certeza?
Flora
pega um envelope dentro da bolsa.
FLORA –
Aproveitei que estava em São Paulo com mamãe, e fui ao médico e fiz um exame.
Está aqui.
Ela
entrega o envelope para Matteo, que abre apressadamente. Ele lê o resultado,
visivelmente abalado.
MATTEO –
Então é verdade.
FLORA – Você
não está feliz?
MATTEO (FORÇANDO UM SORRISO) – Claro que estou feliz. Sempre quis ser pai...só não
esperava que fosse assim, tão de repente.
FLORA – E agora?
O que vamos fazer? Eu não posso ser mãe solteira, Matteo. Minha reputação
ficaria manchada para sempre.
MATTEO – Isso
não vai acontecer, não se preocupe. Vou me casar com você, Flora. Vamos dar um
nome e uma família ao nosso filho.
Flora
sorri, aliviada e triunfante. Ela o abraça com força, enquanto Matteo permanece
imóvel, com um olhar perdido.
CORTA
PARA:
CENA
5. INT. MANSÃO DE INÁCIO – QUARTO DE INÁCIO – NOITE
Inácio
e Camila entram no quarto de Inácio. Camila olha ao redor, nervosa.
CAMILA – Nós vamos
dormir no mesmo quarto?
INÁCIO (SORRINDO) –
Achei que sim. Agora somos marido e mulher, não é?
CAMILA –
Inácio, você lembra do acordo que fizemos? Este casamento é para dar um nome ao
meu filho. Continuaríamos sendo apenas amigos.
Inácio
se aproxima lentamente, acariciando o rosto de Camila.
INÁCIO – Eu achei
que com o tempo, você pudesse esquecer o Matteo e aprender a me amar. E que
poderíamos ser mais do que amigos.
CAMILA (DESVIA O OLHAR) –
Talvez um dia, mas agora...Eu ainda amo o Matteo e eu só consigo te ver como um
amigo.
O
rosto de Inácio muda de sereno para sombrio. Ele dá um passo para trás.
INÁCIO (FRIO) –
Entendi.
Ele
se dirige à porta e abre com um gesto brusco.
INÁCIO –
Venha comigo, irei lhe mostrar o seu quarto.
CORTA PARA:
CENA
6. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SÓTÃO – NOITE
Inácio
leva Camila até o sótão da casa. Ele abre uma porta pesa, revelando um quarto
simples, com uma cama de ferro e uma janela com grades.
CAMILA (ASSUSTADA) –
Que lugar é esse? Você quer que eu fique aqui?
INÁCIO (SORRINDO) – Exatamente.
Se você se recusa a ser minha mulher, então é aqui que vai dormir.
CAMILA (EM CHOQUE) –
Que brincadeira sem graça é essa, Inácio?
INÁCIO – Isso
não é uma brincadeira, querida. Você não achou que um homem como eu aceitaria
um casamento de aparências para dar um nome a esse bastardinho que você carrega
na barriga? Enquanto você não aceitar ser minha mulher de verdade, este será o
seu lugar.
Inácio
sai e tranca a porta por fora. Camila corre até a porta, batendo nela com
força.
CAMILA (DESESPERADA) –
Inácio! Abra essa porta! Você não pode fazer isso comigo!
Do
lado de fora, Inácio ignora os gritos de Camila e desce as escadas lentamente,
com um sorriso satisfeito. Camila cai de joelhos, chorando descontroladamente.
CORTA PARA:
CENA
7. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA – FRENTE DA CASA – NOITE
O
automóvel do Coronel para em frente à casa principal. Ele está ao volante, com
Dorotéia ao lado. Almeida desliga o motor, antes que ele possa sair, Ezequiel
surge correndo em sua direção, visivelmente aflito.
EZEQUIEL (OFEGANTE) –
Coronel! Coronel! O depósito...ele pegou fogo!
ALMEIDA –
O que disse, homem?
EZEQUIEL (DESESPERADO) –
Os peões tentaram controlar o incêndio, mas foi inútil. Perdemos tudo.
Dorotéia
leva a mão à boca, horrorizada, enquanto Almeida aperta os punhos, a raiva já
fervendo em seu olhar.
DOROTÉIA –
Todo o café?
EZEQUIEL –
Tudo senhora.
ALMEIDA –
Vamos lá, imediatamente.
CORTA PARA:
CENA
8. EXT. FAZENDA DOS ALMEIDA – DEPÓSITO – NOITE
O
depósito é agora um amontado de cinzas fumegantes. Marcos e Helena estão ao
lado de alguns peões, todos observando os destroços com expressões sombrias.
Almeida chega, acompanhado por Ezequiel e Dorotéia. Ele para abruptamente ao
ver a destruição, seus olhos se arregalam de fúria.
MARCOS – Pai...perdemos
tudo. Toda a colheita foi destruída.
Almeida
avança sobre as cinzas como se procurasse algo para culpar. Ele se vira para os
peões, seu rosto vermelho de raiva.
ALMEIDA (GRITANDO) –
Incompetentes! Um bando de inúteis! Não conseguiram apagar um fogo? Para que eu
pago todos vocês?
Os
peões baixam a cabeça, sem coragem de responder.
EZEQUIEL –
Coronel, isso não foi um acidente. Não havia nada no depósito que pudesse
causar um incêndio. Isso foi criminoso, não há dúvidas de que alguém encomendou
esse incêndio.
ALMEIDA –
Eu não tenho dúvidas disso. E sei até quem pode ter sido: Matteo Bellini.
MARCOS – Pai,
você não pode acusar o Matteo sem provas.
ALMEIDA (FURIOSO) –
Cale-se! Eu posso acusar quem eu quiser! Matteo é o maior beneficiado pela
minha destruição.
MARCOS – O que
ele ganharia com isso?
ALMEIDA (GRITANDO) –
Vingança!
MARCOS – Então
você finalmente admite que mandou incendiar a fazenda dele há 10 anos?
ALMEIDA –
Eu não mandei fazer nada! Mas ele acredita que fui eu, e é por isso que ele quis
se vingar de mim agora.
DOROTÉIA –
Almeida, por favor, não tire conclusões precipitadas.
ALMEIDA –
Isso não vai ficar assim, eu vou acabar com ele!
CORTA PARA:
CENA
9. INT. MANSÃO DE MATTEO – SALA – DIA
A
luz suave da manhã entra pelas janelas. Matteo desce as escadas, ainda ajeitando
os punhos da camisa, quando vê Delegado Afrânio sentado no sofá da sala com
Flávio ao seu lado.
MATTEO (INTRIGADO) –
Delegado Afrânio...Que surpresa a essa hora da manhã. O que lhe traz aqui?
O
delegado se levanta.
AFRÂNIO –
Bom dia, Matteo. Eu precisava vim falar com você.
MATTEO –
Sobre o quê?
AFRÂNIO –
Houve um incêndio ontem à noite no depósito da fazenda Almeida.
MATTEO (ESPANTADO) –
Incêndio? Que tragédia. Alguém morreu?
AFRÂNIO –
Não, não houve feridos. Mas o coronel Almeida o acusa de ser o autor do
incêndio.
Matteo
rir com um tom de incredulidade, sacudindo a cabeça.
MATTEO (IRÔNICO) –
Eu? Isso é um absurdo. Lamento pelo ocorrido, mas não sei de nada.
AFRÂNIO (COM SERIEDADE) –
Mesmo assim, preciso fazer algumas perguntas.
MATTEO –
Claro, delegado. Se quiser me interrogar pode me intimar e eu comparecerei à
delegacia com meu advogado e responderei tudo o que for necessário.
AFRÂNIO –
Entendido, mas será por enquanto não pode me responder uma única pergunta? Onde
estava ontem à noite?
MATTEO –
Aqui, nesta sala. Estava com o meu padrinho Flávio, meu irmão Rodolfo, a
Patrícia, Flora e a Magali. Todos podem confirmar que eu estive aqui a noite
toda.
AFRÂNIO –
Por enquanto, isso basta. Mas, se eu precisar de mais informações, te intimarei
para que vá até a delegacia.
MATTEO (SARCASTICAMENTE) – Antes de ir, delegado, por favor, mande minhas condolências
ao coronel Almeida. Sei bem como é perder tudo em um incêndio.
Afrânio
estreita os olhos, captando o recado implícito. Ele ajeita o chapéu e caminha
em direção à porta.
AFRÂNIO –
Bom dia, Matteo.
Matteo
assente, observando o delegado sair. Assim que Afrânio sai, Flávio se levanta,
olhando para Matteo com uma expressão grave.
FLÁVIO – Você
está brincando com fogo, Matteo.
MATTEO – Quem
está no controle do fogo, sou eu, e quem controla o fogo...controla tudo.
CORTA PARA:
CENA
10. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SÓTÃO – DIA
Camila
está encolhida na cama simples, dormindo, com o rosto marcado pelo cansaço e o
choro. A porta se abre, Inácio entra e se aproxima da cama, sacudindo o ombro
de Camila.
INÁCIO – Camila,
meu amor, acorde.
Camila
acorda assustada, sentando-se na cama e recuando rapidamente para o canto.
CAMILA (ASSUSTADA) –
O que você quer? Fique longe de mim!
INÁCIO (CALMO) –
Não precisa ter medo de mim, eu sou seu marido.
CAMILA (CHORANDO) –
Você me enganou! Passou todo esse tempo fingindo ser um homem bom, mas é um
monstro. Você me prendeu aqui nesse lugar como se eu fosse um animal!
INÁCIO –
Camila, acalme-se....
Inácio
se aproxima de Camila.
CAMILA (GRITANDO) –
Sai de perto de mim! Eu vou embora, Inácio! Eu vou me separar de você.
Inácio
perde a paciência e dá um tapa forte no rosto de Camila. Ela leva a mão ao
rosto, chocada. Lágrimas escorrem de seus olhos.
INÁCIO (GRITANDO) –
Controle-se!
Camila
tenta passar por ele em direção à porta, mas Inácio a empurra de volta para
cama com força. Ela cai sentada, tremendo de medo.
CAMILA (DESESPERADA) –
Você não pode me manter aqui!
INÁCIO – Você
é minha mulher agora. Se for embora dessa casa, eu te acuso de abandono de lar
e fico com a guarda do seu filho.
CAMILA (CHORANDO) –
O filho não é seu, e você sabe disso! Esse filho é meu e do Matteo.
Inácio
ri friamente, sua expressão assume um tom sádico.
INÁCIO – Você
vai contar a alguém sobre isso? Vamos ver o que o coronel Almeida fará quando
souber que terá um neto filho do Matteo Bellini. Você sabe tão bem quanto eu
que ele mataria essa criança sem pensar duas vezes.
Camila
desaba em chorar, cobrindo o rosto com as mãos.
CAMILA – Você
é um monstro!
INÁCIO – Aos poucos
você vai aprender a não em desafiar. Agora, levante-se, vista um belo vestido,
desça para tomar o café da manhã e finja que nada disso aconteceu. É melhor
para você...e para essa criança que você carrega no ventre.
Inácio
sai do sótão. Camila fica na cama, chorando incontrolavelmente.
CORTA PARA:
CENA
11. INT. CASA PAROQUIAL - DIA
Chandra
Dafni entra segurando uma bandeja com um bolo. Ela está animada, mas um pouco
ansiosa, chamando pelo padre enquanto coloca a bandeja sobre a mesa.
CHANDRA DAFNI –
Padre Olavo? Trouxe bolo quentinho para o senhor!
Ninguém
responde, ela franze a testa, ouvindo um leve barulho vindo do corredor.
Curiosa, ela segue o som em silêncio. Caminhando pelo corredor, ela ouve ruídos
de um dos quartos. A porta está entreaberta, e pela fresta da porta ela vê
Gustavo, o jovem seminarista, nu, trocando de roupa. Ele está de costas, mas a
visão o deixa encantadoramente vulnerável.
CHANDRA DAFNI (FASCINADA) – Meu Deus do céu...
Sem
perceber, ela se aproxima mais da porta, sua respiração fica pesada. De
repente, ela tropeça no tapete do corredor e cai para dentro do quarto. O
barulho faz Gustavo se virar rapidamente. Ele arregala os olhos, apressando-se
para cobrir sua nudez com o lençol da cama.
GUSTAVO (ASSUSTADO) –
Chandra! O que está fazendo aqui?
CHANDRA DAFNI (HIPNOTIZADA) – Eu...Eu não sabia que você era tão...bonito.
Ela
se levanta e dá alguns passos na direção dele, enquanto Gustavo recua,
segurando o lençol.
GUSTAVO (DESESPERADO) –
Por favor, Chandra, isso não é certo!
CHANDRA DAFNI (SORRINDO) –
Não diga isso...não precisa ter vergonha.
Ela
avança e tenta agarrá-lo, empurrando-a para cama. Gustavo tenta resistir, mas
ela é insistente, segurando seu rosto e tentando beijá-lo.
GUSTAVO –
Chandra, pare! Isso é pecado!
CHANDRA DAFNI –
Pecado ou não, eu quero sentir você.
Gustavo
finalmente consegue se desvencilhar e correr para pegar suas roupas. Chandra
Dafni percebe que estava dominada pelo desejo e recua.
GUSTAVO (OFEGANTE) –
Você precisa ir embora. Agora.
CHANDRA DAFNI (ASSUSTADA) – Eu não deveria ter feito isso. Eu pequei! Eu pequei! Minha
nossa senhora!
Ela
sai do quarto, perturbada, deixando Gustavo sozinho, ainda visivelmente abalado
e lutando para processar o que aconteceu.
CORTA
PARA:
CENA
12. INT. IGREJA – DIA
Chandra
Dafni entra correndo na igreja, visivelmente perturbada, segurando um terço em
suas mãos. Ela para ofegante diante de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima,
ajoelha-se rapidamente e começa a rezar com fervor, sua voz é trêmula.
CHANDRA DAFNI –
Senhor, tenha misericórdia de mim...
Ela
começa a rezar o terço, apertando as contas com força.
CHANDRA DAFNI –
Eterno Pai, eu vos ofereço o corpo e o sangue, a alma e a revelação...
Sua
voz se torna mais intensa, quase desesperada.
CHANDRA DAFNI -
...de vosso diletíssimo filho, nosso senhor Jesus Cristo, em expiação dos
nossos pecados e do mundo inteiro.
CORTA PARA:
CENA
13. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SALA DE JANTAR - DIA
Inácio
e sua mãe, Leonora, estão sentados tomando café da manhã. Camila entra na sala,
trajando um vestido simples, mas elegante. Ela está visivelmente cansada, mas
tenta disfarçar.
LEONORA (SORRINDO) –
Bom dia, minha querida. Dormiu bem?
CAMILA (FORÇANDO UM SORRISO) – Sim, senhora.
INÁCIO (SORRINDO) –
A noite foi maravilhosa. Se eu soubesse que casar era tão bom, teria casado
antes.
Camila
abaixa os olhos, tentando esconder o desconforto. Leonora ri, animada.
LEONORA –
Os primeiros dias de casados são sempre os melhores. Vocês serão muito felizes
juntos.
De
repente, Coronel Almeida entra na sala apressado.
ALMEIDA –
Desculpa entrar na sua casa assim, mas preciso falar com você, Inácio.
INÁCIO – Não precisa
de cerimônia, coronel. Esta também é a casa de sua filha.
CAMILA (PREOCUPADA) –
Aconteceu alguma coisa, pai?
ALMEIDA –
Incendiaram o depósito da fazenda.
Camila
leva a mão à boca, chocada. Inácio gesticula para Almeida o acompanhar.
INÁCIO –
Venha, vamos ao meu escritório.
CORTA PARA:
CENA
14. INT. MANSÃO DE INÁCIO – ESCRITÓRIO – DIA
Almeida
entra, claramente abalado, enquanto Inácio fecha a porta.
INÁCIO – O que
aconteceu?
ALMEIDA –
Todo o depósito da minha fazenda foi incendiado criminalmente, perdemos todas
as sacas de café. Não tenho como entregar o que foi vendido para sua fábrica.
INÁCIO – Já paguei
por toda a colheita. O prejuízo será enorme.
ALMEIDA –
Eu sei, e eu me comprometo a devolver o dinheiro, mas vou precisar de um tempo.
Esse incêndio foi um golpe devastador nas minhas finanças.
INÁCIO –
Entendo a gravidade da situação, coronel. Como sou seu genro, vou esperar o
tempo que for necessário. Mas vou precisar de outro fornecedor urgente para não
prejudicar a produção da minha fábrica.
ALMEIDA –
Obrigado pela compreensão, Inácio. Estou arruinado, não sei o que fazer.
INÁCIO – Você
suspeita de quem tenha sido o mandante deste incêndio?
ALMEIDA (COM RAIVA) –
Matteo Bellini. Só pode ser ele.
INÁCIO – Mas você
tem como provar?
ALMEIDA –
Ainda não! Mas ele é quem mais se beneficia com minha derrocada.
INÁCIO –
Enquanto não houver provas, sugiro cautela. Ele é um homem de muitas posses e
contatos na capital. Mas se ele for o culpado, não deixaremos isso passar.
CORTA PARA:
CENA
15. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – DIA
Henrique
segurando uma pilha de jornais, caminha chamando a atenção dos moradores.
HENRIQUE (GRITANDO) –
Leiam a última edição do Amigo do Povo! Saiba tudo sobre o incêndio na fazenda
do coronel Almeida!
Ele
anda pelas ruas da cidade, parando para oferecer jornais às pessoas. Mariana
caminha sozinha em direção à igreja, segurando uma sombrinha branca. Eles se
cruzam e trocam olhares. Henrique sorri amigavelmente, e Mariana desvia o olhar
timidamente antes de sorrir de volta. Henrique aproveita a oportunidade e se
aproxima.
HENRIQUE (SORRINDO) –
Bom dia, senhorita. Gostaria de comprar um jornal?
MARIANA (SORRINDO) –
Não, obrigada. Não leio jornais.
HENRIQUE (CURIOSO) –
E por que não?
MARIANA –
Minha mãe diz que os jornais só falam coisas ruins e que não é virtuoso para
uma mulher ler esse tipo de coisa.
HENRIQUE –
Sua mãe está enganada. O jornal fala sobre a realidade, e nem sempre é algo
ruim. Quer um exemplo?
Mariana
hesita, mas Henrique já está folheando o jornal. Ele aponta uma manchete no
rodapé da página.
HENRIQUE –
Aqui. “Alfabetização aumenta no Brasil e mais crianças sabem ler e escrever”.
Não é uma notícia boa?
MARIANA (SORRRINDO) –
Sim, acho que é.
HENRIQUE –
Então, veja, não é só tragédia. Há boas histórias também.
Ele
estende o jornal para ela.
HENRIQUE –
Pegue. Pode levar de graça.
MARIANA –
Minha mãe não vai gostar.
HENRIQUE (SORRINDO) –
Então leia escondido. Não tem problema.
Mariana
ri, pega o jornal e o guarda dentro da bolsa.
MARIANA –
Obrigada.
HENRIQUE –
Prometo que valerá a pena.
Ela
sorri, agradece novamente e continua seu caminho até a igreja. Henrique fica
parado, observando-a a entrar, encantado com a beleza de Mariana.
CORTA PARA:
CENA
16. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – DIA
Angislanclécia,
Eriberto, Dr. Romeo, Rodolfo e Matteo estão reunidos ao redor de uma mesa discutindo
com entusiasmo.
ERIBERTO –
Esse incêndio foi um golpe para o coronel Almeida, e é exatamente isso que
precisamos para alavancar sua campanha, Matteo.
RODOLFO –
Com menos dinheiro no bolso, ele vai ficar vulnerável. Esse é o momento de
sermos mais agressivos.
ANGISLANCLÉCIA –
Vocês têm razão, mas precisamos ter cuidado. Não podemos parecer que estamos
aproveitando a tragédia.
MATTEO –
Concordo. Mas não podemos ignorar a oportunidade. É o momento de mostrar ao
povo que há uma alternativa para a tirania do coronel.
DR. ROMEO –
Seja qual for o próximo passo, Matteo, você precisa ser o símbolo da mudança.
Eles precisam confiar que você é melhor do que ele.
MATTEO (SORRINDO) –
E falando nisso, há algo que preciso compartilhar com vocês.
Todos
se viram para ele, curiosos.
MATTEO – Vou
ser pai!
O
grupo fica surpreso, trocando olhares.
RODOLFO –
E vai se casar com a mãe da criança, a Flora.
ANGISLANCLÉCIA –
Casar? Ate outro dia você não estava apaixonado pela Camila.
ERIBERTO –
O que aconteceu?
DR. ROMEO –
Mas a Camila se casou com outro, é justo que ele se case também.
MATTEO – A Flora
está grávida de mim. Eu tenho o dever de me casar com ela.
O
grupo fica em silêncio por um momento. Eriberto, sorri e quebra o gelo.
ERIBERTO (RINDO) –
Isso pode ser positivo. Politicamente, um homem casado é visto como mais
responsável.
Todos
começam a rir, aliviando a tensão.
CORTA PARA:
CENA
17. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA
Ezequiel
entra no escritório e encontra Almeida sentado na sua cadeira de couro, fumando
um charuto.
EZEQUIEL –
Mandou me chamar, coronel?
ALMEIDA –
Sente-se, Ezequiel. Temos um assunto delicado para tratar.
Ezequiel
se senta, ajeitando o chapéu que segura nas mãos.
ALMEIDA –
Vou precisar, mais uma vez, contar com sua lealdade.
EZEQUIEL –
O senhor sabe que sempre pode contar comigo. O que precisa?
Almeida
apaga o charuto no cinzeiro.
ALMEIDA –
O incêndio no depósito foi um golpe duro. A minha situação financeira se
encontra em um estado delicado, estou com muitas dívidas. Talvez tenha que
abrir mão de uma parte da fazenda.
EZEQUIEL –
Imagino, coronel. Perder toda uma safra, o baque foi grande.
ALMEIDA –
Minha única esperança agora é vencer as eleições. Se eu me tornar prefeito,
posso recuperar o que perdi, mas para isso eu preciso do prefeito ao meu lado.
EZEQUIEL –
Mas o prefeito Fontes apoia o Bellini, não é?
ALMEIDA –
Exato. E é aí que está o problema. Enquanto Fontes estiver no poder, concorrer sem
o apoio dele será quase impossível. Ele tem a máquina pública nas mãos. E é por
isso que preciso de você.
EZEQUIEL –
O que o senhor está pensando?
ALMEIDA –
Precisamos matar o Fontes.
EZEQUIEL (EM CHOQUE) –
Matar o prefeito?
ALMEIDA –
Isso mesmo. Mas tem que parecer um acidente...ou um assalto. Algo que não
levante nenhuma suspeita contra mim.
EZEQUIEL –
Coronel, isso é muito arriscado. Fontes é o prefeito...
ALMEIDA –
E é exatamente por isso que ele precisa desaparecer. Enquanto estiver vivo, ele
será o maior obstáculo entre mim e a prefeitura.
FIM DO CAPÍTULO
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