ESPERANÇA
Capítulo 30
Novela criada e escrita por
Wesley Franco
CENA
1. EXT. ESTRADA DE TERRA – NOITE
O
carro de Fontes trafega calmamente, com os faróis cortando o breu. De repente,
dois carros surgem rapidamente pelo retrovisor, acelerando e ultrapassando o
carro de Fontes. Um deles para bruscamente à frente, enquanto o outro bloqueia
a retaguarda. Fontes freia com força, o carro derrapa levemente e para. Ele
olha ao redor, visivelmente alarmado. As portas de um dos carros pretos se
abrem e dois homens armados descem e caminham em direção ao carro de Fontes.
LUCAS (APONTANDO A ARMA) – Sai do carro, agora!
FONTES (ASSUSTADO) –
O que vocês querem? Quem é você?
DIEGO (GRITANDO) –
Disse pra sair! Saia agora!
Fontes
levanta as mãos suavemente e abre a porta. Diego o puxa com brutalidade,
jogando-o contra o capô. Lucas amarra suas mãos com uma corda grossa, apertando
com força.
FONTES (NERVOSO) –
Vocês estão cometendo um erro! Eu sou o prefeito da cidade.
Os
homens o ignoram e o colocam no banco de trás do carro que ficou na retaguarda.
O motorista desse carro é Ezequiel, enquanto no banco do passageiro está
Coronel Almeida. O rosto de Fontes se contorce em choque ao ver Almeida.
FONTES – Almeida!
Eu devia ter imagino.
ALMEIDA –
Você não achou que ficaria impune, achou?
FONTES (GRITANDO) –
Você é um tirano! Um dia, sua arrogância será sua ruína!
ALMEIDA (SORRINDO) –
Talvez, mas você não está vivo para ver.
O
carro segue pela estrada, com os outros veículos atrás. Os carros chegam a uma
área isolada. O local está iluminado pelos faróis dos veículos, revelando uma
cova recém cavada, com a terra solta ao redor. Ezequiel, puxa Fontes do carro,
jogando-o no chão. Ele cai de joelhos, olhando para a cova aberta. Almeida
desce do carro.
FONTES – Você
acha que pode silenciar todos que que se opõem a você? O povo de Esperança não
vai se curvar a um monstruoso como você para sempre!
ALMEIDA –
Silenciar? Não. Mas posso ensinar uma lição para quem acha que pode me trair. E
você, Fontes, foi o maior traidor de todos.
FONTES (GRITANDO) –
Traidor? Eu só fiz o que era certo! Cansei de ser sua marionete!
ALMEIDA –
E por isso você vai pagar. Não há espaço para traição, Fontes.
Ele
sinaliza para Ezequiel, que levanta Fontes com brutalidade e o empurra para
dentro da cova.
FONTES – Você
vai me calar, mas não vai conseguir conter o movimento contra você.
ALMEIDA (RINDO) –
Talvez não. Mas calar você já é um bom começo.
Almeida
puxa um revólver do coldre, mirando na cabeça de Fontes. A respiração de Fontes
é pesada e ele mostra desespero no rosto.
ALMEIDA –
Dar um tiro na sua cabeça seria rápido demais. Você merece algo mais duradouro!
Almeida
se aproxima da beira da cova, pega um pouco de areia e joga sobre o rosto de
Fontes.
ALMEIDA (FRIO) –
Grite, Fontes. Chame por seu Deus, pelos seus aliados, por quem quiser.
Ezequiel,
Lucas e Diego começam a jogar terra com pás na cova. Fontes grita e se debate
em desespero, enquanto a areia vai sendo jogada sobre seu corpo. Almeida
observa tudo com um olhar frio. Conforme a cova vai se fechando, os gritos de
Fontes ficam mais baixos até desaparecerem completamente.
ALMEIDA –
Que isso sirva de aviso para quem ousar me trair.
EZEQUIEL –
Diego, pega o carro do Fontes e jogue no rio, assim fará parecer que ele sofreu
um acidente e seu corpo se perdeu pelo rio.
DIEGO – Pode
deixar.
Almeida
caminha em direção ao seu carro.
CORTA
PARA:
CENA
2. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE
Matteo,
Eriberto, Augusto, Marcos, Henrique, Angislanclécia, Dr. Romeo, Padre Olavo e
Rodolfo estão reunidos na redação do jornal, discutindo os próximos passos da
campanha de Matteo.
MARCOS –
Pessoal, ouçam só! Esse é o jingle que eu e o Augusto trabalhamos para campanha
do Matteo.
Marcos
começa a cantar, batendo o ritmo com as mãos na mesa:
MARCOS (CANTANDO) –
Chega de opressão,
Porque maiores são os poderes do povo,
Dessa grande nação.
Valeu a luta, lado a lado com você.
Valeu a luta, por você.
Esperança, Esperança,
Todas as janelas vão se abrir,
Deixe entrar o sol da liberdade,
Que a grande vitória vem aí.
Foram tantos anos de injustiça,
Agora não dá mais pra segurar
Por toda a cidade, ó, ó,
O povo de Esperança quer cantar:
Eu quero ver um tempo novo de crescer e construir,
Esperança vai mudar, trabalhando com Matteo.
Eu quero ver um tempo novo de crescer e construir,
Esperança vai mudar, trabalhando com Matteo.
Ao
terminar, todos começam a bater palmas e rir, gostando da criatividade de
Marcos e Augusto. Matteo sorri, visivelmente satisfeito.
MATTEO (SORRINDO) –
Ficou excelente! Eu não poderia imaginar algo melhor. Isso tem força, tem
energia.
ERIBERTO –
Eu disse que ele tinha talento! Quem diria, hein, o administrador da fazenda
Almeida compondo jingles.
ANGISLANCLÉCIA –
Jingles do candidato de oposição ao próprio pai.
AUGUSTO (BRINCA) – Marcos,
se um dia quiser largar o café, tem emprego garantido como músico.
MARCOS (RINDO) –
Calma, pessoal! Foi só uma inspiração. Mas se isso ajudar a campanha, já fico
feliz.
Todos
riem, descontraídos, até que Hismeria entra pela porta da redação.
HISMERIA –
Desculpem o atraso, mas tive que terminar umas coisas na prefeitura.
MATTEO – Bem-vinda,
Hismeria. Estávamos aqui ouvindo o jingle da campanha, escrito pelo compositor
Marcos. E o Fontes, ele não vem?
HISMERIA –
O Fontes saiu mais cedo, ele foi até a delegacia fazer uma ocorrência. Ele contou
que estava sendo seguido por um carro ontem à noite, quando voltava para casa.
Ele acredita que são capangas do coronel Almeida tentando intimidá-lo.
O
clima na sala muda instantaneamente. Todos trocam olhares sérios, a
descontração anterior desaparece.
ERIBERTO –
O delegado Afrânio não vai querer mover um dedo. Ele é um capacho do coronel.
PADRE OLAVO (PREOCUPADO) –
É uma situação perigosa. Almeida está se sentindo acuado, e homens como ele se
tornam ainda mais cruéis quando estão encurralados.
DR. ROMEO –
Mas o que podemos fazer? Se nem o delegado age, como proteger o Fontes?
MATTEO – Eu já
tomei uma atitude. Entrei com uma ação pedindo que a conduta do Afrânio fosse
investigada e que outro delegado fosse enviado para supervisionar o trabalho
dele.
HENRIQUE –
E acha que isso vai dar certo?
MATTEO – Se conseguirmos
trazer alguém imparcial para essa cidade, já é um avanço.
ANGISLANCLÉCIA –
Podemos usar o jornal para expor que o Fontes está sendo seguido. Talvez isso
iniba o coronel de fazer alguma coisa.
RODOLFO –
Se o Almeida acha que vai nos intimidar, ele está muito enganado.
MATTEO –
Exatamente. Unidos, ninguém vai nos parar.
Todos
assentem, visivelmente motivados.
CORTA
PARA:
CENA
3. INT. CASA DE HOMERO – SALA – NOITE
Fernando
está sentado em uma poltrona de couro, concentrado em um livro. Cândida,
vestida em um vestido de seda preto, levemente decotado, entra na sala.
Fernando ergue o olhar rapidamente, apenas para abaixar novamente, fingindo que
não a viu.
CÂNDIDA –
Fernando...tão tarde e ainda perdido nos livros? Algum romance?
FERNANDO –
História. Pelo menos as histórias do papel não mentem.
Cândida
sorri de canto, divertindo-se com a resposta. Ela se senta em uma cadeira
próxima, cruzando as pernas lentamente, de forma provocativa.
CÂNDIDA –
Não precisa me tratar assim. Somos uma família agora.
FERNANDO –
Família? Você tem coragem de chamar isso de família?
CÂNDIDA –
Por que tanta raiva, Fernando? Você me trata como se eu fosse um monstro.
Fernando
fecha o livro com força, visivelmente irritado, e se levanta.
FERNANDO –
Eu já disse para você ficar longe de mim e falar comigo apenas o necessário.
Cândida
se levanta com um sorriso sedutor.
CÂNDIDA –
E por que deveria? Você nunca reclamou antes...
Ela
caminha até ele, parando atrás de Fernando. Cândida pousa as mãos no ombro dele.
Fernando fecha os olhos, respirando fundo.
FERNANDO –
Não faça isso.
CÂNDIDA (SUSSURRANDO) –
Por quê? Do que você tem medo? Medo de mim ou medo do que sente.
Fernando
vira-se bruscamente, segurando os braços de Cândida com firmeza. Seu olhar é
intenso, cheio de raiva e desejo. Ela o encara de perto, sem desviar os olhos,
como se o desafiasse.
FERNANDO –
Você é cruel. Se envolveu comigo ao mesmo tempo que se envolvia com o meu pai.
E ainda tem coragem de brincar com isso?
CÂNDIDA –
Eu não estou brincando. Você sabe que não. Entre você e seu pai, eu prefiro
você.
Cândida
se aproxima do rosto dele. Fernando olha para ela, dividido entre a raiva e
desejo. Ele solta os braços dela, mas não se afasta.
FERNANDO –
Você não deveria estar fazendo isso, meu pai está dormindo lá em cima.
CÂNDIDA (PROVOCANTE) –
Mas estou. E você não quer que eu vá embora.
Fernando
agarra Cândida pela cintura e a beija com intensidade, misturando raiva e
paixão. O beijo é avassalador, quase violento. Cândida retribui, segurando o
rosto dele com as mãos, satisfeita por ter conseguido seduzir Fernando.
CORTA PARA:
CENA
4. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – DIA
O
sol brilha fonte sobre as movimentadas ruas da cidade de Esperança. Jornaleiros
entregam jornais gratuitos a todos que passam. A manchete chama atenção “Irmã
do candidato Matteo Bellini acusada de exploração de menores”. Pessoas param em
grupos para ler a notícia, trocando olhares de indignação e cochichando entre
si.
MORADOR 1 (INDIGNADO) –
Eu sabia que esse Matteo Bellini não era tão honrado assim!
MORADOR 2 –
Se isso for verdade, o meu voto ele não tem, irei votar no coronel Almeida.
Angislanclécia
anda apressada pela rua. Ela vê uma mulher lendo o jornal e pega um exemplar
jogado em uma calçada. Ao ler a manchete, seu rosto se contorce de espanto.
ANGISLANCLÉCIA –
Exploração de menores? Isso só pode ser mentira!
Sem
perder tempo, ela sai correndo pelas ruas, segurando o jornal, em direção à
redação do jornal o amigo do povo.
CORTA
PARA:
CENA
5. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – DIA
Henrique
está sentado revisando textos, enquanto Eriberto organiza os próximos
exemplares. Angislanclécia entra apressada e coloca o jornal sobre a mesa de
Eriberto.
ANGISLANCLÉCIA –
Vocês viram isso?
Henrique
e Eriberto olham para o jornal com curiosidade. Eriberto pega o jornal, ajusta
os óculos e lê a manchete em voz alta.
ERIBERTO (LENDO) –
“Irmã do candidato Matteo Bellini acusada de exploração de menores”. Que
absurdo é esse?
Henrique
pega o jornal da mão de Eriberto.
HENRIQUE –
Que jornal é esse? Não é o nosso. Só o nosso circula por Esperança.
ANGISLANCLÉCIA –
Eu não sei de onde veio! Tinha gente entregando isso de graça por toda a
cidade.
HENRIQUE –
Olha só...Nenhum nome de editor, nenhuma informação sobre a gráfica. Parece
coisa plantada.
ERIBERTO (INDIGNADO) –
isso é jogo sujo! E pior, pode acabar com a campanha do Matteo.
ANGISLANCLÉCIA (PREOCUPADA) – Vocês sabem como o povo é. Não importa se é mentira ou
verdade, só a acusação já causa estrago.
HENRIQUE –
Essa acusação é gravíssima.
ERIBERTO -
Eu vou até a casa do Matteo agora mesmo. Ele precisa saber disso imediatamente.
CORTA PARA:
CENA
6. EXT. CASA DE CANDOCA – DIA
Do
lado de fora da casa de Candoca, Flora está observando o movimento. Ela vê
Chandra Dafni saindo, carregando uma bíblia. Flora rapidamente se aproxima, com
um olhar incisivo.
FLORA –
Chandra Dafni, preciso falar com você.
CHANDRA DAFNI (SURPRESA) –
Não posso falar agora, estou atrasada para missa.
FLORA – Eu vi
o que aconteceu na igreja ontem. Você e aquele seminarista se agarrando dentro
da igreja. Que espetáculo lamentável.
CHANDRA DAFNI (NERVOSA) –
Eu...eu não sei do que você está falando.
FLORA (SORRINDO) –
Não se faça de inocente. Eu estava lá, vi tudo, e você também me viu, tanto que
saiu correndo. Um escândalo desses, se chegar aos ouvidos da cidade...
CHANDRA DAFNI (IMPLORA) –
Por favor, Flora, não conte a ninguém. Eu cometi um erro, mas não quero que
ninguém saiba.
FLORA – Bem,
talvez eu possa ficar calada, mas isso vai depender de você.
CHANDRA DAFNI (ANSIOSA) –
O que você quer?
FLORA –
Quero que você costure algo para mim. Uma barriga falsa, de grávida.
CHANDRA DAFNI –
Uma barriga falsa? Para quê? Você não está grávida?
FLORA (IRRITADA) –
Não faça perguntas! Apenas aceite o trato ou conto a todos o que vi.
CHANDRA DAFNI –
Está bem, eu faço.
FLORA (SORRI) –
Ótimo. Quero que seja perfeita.
CORTA
PARA:
CENA
7. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
Teodora
desce lentamente as escadas, carregando uma pequena mala de couro. Ela tenta
ser discreta, mas seu movimento chama a atenção de Robervaldo, que está
limpando o balcão do bar.
ROBERVALDO –
Teodora, para onde você vai com essa mala? Tá indo viajar?
TEODORA –
Não, só vou fazer uma doação de algumas roupas que não uso mais.
ROBERVALDO (DESCONFIADO) –
Doação? Desde quando você é tão caridosa assim?
TEODORA –
Sempre fui caridosa. Você é que nunca notou.
ROBERVALDO –
Hummm...Sei. Mas ainda acho isso estranho. O que vai acontecer, hein? Tá
fugindo de alguma coisa?
TEODORA (IMPACIENTE) –
Robervaldo, eu não tenho tempo pras suas perguntas sem sentido. Tenho coisas
importantes para resolver.
Teodora
continua caminhando rapidamente para a porta. Robervaldo a observa, cruzando os
braços, visivelmente desconfiado.
ROBERVALDO –
Tem coisa aí.
CORTA PARA:
CENA
8. EXT. RUAS DE ESPERANÇA – DIA
Teodora
sai do bordel e caminha apressada até um carro que está estacionado logo em
frente. Dentro do carro estão David e Laura, esperando por ela. Assim que ela
entra no carro, Laura lhe entrega um envelope com dinheiro.
LAURA – Aqui
está o combinado. Pegue o dinheiro e vá embora o mais rápido possível
DAVID – O jornal
já está circulando. É questão de tempo até isso explodir.
TEODORA –
Eu vou, mas antes preciso me despedir da minha filha que é criada por uma tia minha.
LAURA – Cuidado,
querida. Cada minuto que você fica aqui é um risco. Pegue o primeiro trem para
São Paulo e desapareça.
Teodora
sai do carro, ajeita a mala e começa a caminhar.
CORTA PARA:
CENA
9. INT. MANSÃO DE INÁCIO – SALA – DIA
Dorotéia
desce do carro, ajeitando o vestido e chapéu. Ela toca a campainha, e a porta é
aberta por Inácio, que exibe um sorriso controlado.
INÁCIO – Dona
Dorotéia, que surpresa agradável.
DOROTÉIA –
Boa tarde, Inácio. Vim ver a minha filha.
INÁCIO –
Camila está dormindo. Ela tem se sentido indisposta ultimamente.
DOROTÉIA –
Dormindo de novo? Na última vez que estive aqui para vê-la, ela também estava
dormindo. Ela está bem?
INÁCIO – São os
sintomas da gravidez. Camila precisa de tranquilidade, e o médico recomendou
que ela descansasse.
DOROTÉIA –
Mesmo assim quero vê-la.
INÁCIO – Dona
Dorotéia, eu entendo sua preocupação, mas a Camila está descansando. Não quero
incomodá-la. Garanto que ela está sendo muito bem cuidada.
DOROTÉIA –
Eu sou a mãe dela, Inácio. Tenho o direito de vê-la.
INÁCIO – Eu respeito
isso, mas agora não é um bom momento. Prometo que assim que ela se sentir
melhor, eu mesmo a levo até a fazenda para vê-la.
DOROTÉIA –
Tudo bem, mas assim que ela acorda, avise que estive aqui. Tenha um bom dia.
Dorotéia
ajusta seu chapéu e sai da casa de Inácio, que a observa enquanto ela vai
embora.
INÁCIO –
Velha intrometida!
CORTA PARA:
CENA
10. INT. DELEGACIA – DIA
Delegado
Afrânio está sentado em sua mesa, revisando documentos, até que a porta se
abre, revelando Delegado Vicente, um homem alto e de postura imponente. Afrânio
levanta os olhos, surpreso.
AFRÂNIO –
Em que posso ajudar?
VICENTE –
Eu sou o Delegado Vicente. Fui designado pelo secretário de segurança pública para
supervisionar suas atividades aqui em Esperança.
Afrânio
se levanta.
AFRÂNIO –
Supervisionar? Que absurdo é esse?
VICENTE –
Você está sendo investigado por abuso de poder, delegado Afrânio. Minha função
aqui é garantir que o trabalho da delegacia seja feito de acordo com a lei.
AFRÂNIO (FURIOSO) –
Isso é um ultraje! Sempre cumprir meu dever com seriedade! Tudo feito com base
na lei!
VICENTE –
Se o senhor não cometeu abusos, não tem nada a temer. Ao final da investigação,
certamente não será indiciado.
AFRÂNIO –
A sua presença aqui é uma interferência absurda no meu trabalho.
VICENTE –
Encare isso como uma oportunidade de provar sua integridade. Quanto mais
transparente for, menos tempo precisarei supervisionar.
AFRÂNIO – Muito
bem, delegado Vicente. Vamos ver até onde isso vai.
VICENTE –
Espero que seja uma convivência tranquila. Afinal, estamos todos do mesmo lado:
o lado da lei.
CORTA PARA:
CENA
11. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
Matteo
entra acompanhado de Eriberto, ambos com expressões sérias. Robervaldo, que
está atrás do balcão limpando copos, fica surpreso ao vê-los.
ROBERVALDO –
Matteo Bellini? Isso sim é uma visita inesperada.
MATTEO –
Preciso falar com a minha irmã, a Isabella.
ROBERVALDO –
Claro, claro. Um momento.
Robervaldo
sai apressado, subindo as escadas. Matteo e Eriberto permanecem em silêncio,
observando o ambiente. Após alguns segundos, Isabella desce as escadas,
surpresa com a presença de Matteo.
ISABELLA –
Matteo? Você aqui, que surpresa.
MATTEO – Eu queria
que você visse isso.
Matteo
entrega o jornal para Isabella, que pega e começa a ler. Ao ver a manchete, seu
rosto se contorce em choque.
ISABELLA (INCRÉDULA) –
Mas o que é isso?
MATTEO – Eu vim
ouvir de você, Isabella. É verdade?
ISABELLA –
Claro que não! Como você pode acreditar nisso, Matteo? Aqui não há menores de
idade trabalhando. Essa acusação é absurda!
Robervaldo
pega o jornal da mão de Isabella, lendo rapidamente.
ROBERVALDO –
Meu Deus...Isso é nojento! A Isabella nunca permitiria algo assim aqui.
MATTEO (ALIVIADO) –
Eu já imaginava. Isso só pode ser uma tentativa de me atacar. Estão usando você
para sujar meu nome e minha campanha.
ISABELLA (EMOTIVA) –
Me desculpe, Matteo. Eu nunca quis que minha vida aqui atrapalhasse a sua.
MATTEO – Você
não tem que se desculpar, Isabella. Você é tão vítima disso quanto eu. E eu vou
ajuda-la a desmentir essa calúnia
ERIBERTO –
Precisamos investigar isso. Quem está por trás dessa mentira?
MATTEO – O jornal
menciona uma testemunha, uma tal de Teodora. Ela trabalha aqui?
ISABELLA –
Sim, ela é uma das meninas que trabalha aqui. Robervaldo, vá chama-la, ela precisa
se explicar.
ROBERVALDO –
A Teodora saiu mais cedo, com uma mala. Disse que ia fazer uma doação de
roupas, mas bem que eu desconfiei que tinha algo errado.
ERIBERTO –
Ela sabia que seria descoberta. Deve ter fugido.
MATTEO –
Então temos que ir atrás dela. Ela precisa desmentir essa história.
ERIBERTO –
Vamos até a estação de trem. É o lugar mais lógico para quem quer sair da
cidade.
MATTEO –
Vamos agora. Isabella, você vem conosco.
ISABELLA –
Claro que vou.
Os
três saem apressados, deixando Robervaldo para trás. Assim que a porta se
fecha, Carolina aparece.
CAROLINA –
Eu ouvi tudo. É verdade que a Teodora acusou a Isabella de explorar menores?
ROBERVALDO –
Sim. Ela jogou baixo, muito baixo.
CAROLINA (INDIGNADA) –
Que absurdo! Teodora sempre teve inveja da Isabella. Fez isso só por maldade.
ROBERVALDO –
E o pior é que a Isabella foi vítima de abuso. E agora sendo acusada de explorar
menores, isso deve estar destruindo ela por dentro.
CAROLINA (CONFUSA) –
Vítima de abuso? Do que você está falando?
Robervaldo
percebe que falou demais.
ROBERVALDO –
Esquece, Carolina. Não é nada...
CAROLINA (INSISTE) –
Você começou. Agora termine. Fala logo!
ROBERVALDO –
Promete que não vai contar pra ninguém?
CAROLINA –
Prometo.
ROBERVALDO –
Uma vez, a Isabella estava bêbada e acabou me contando que foi abusada quando
era menor, pelo próprio tio, o Jerônimo. Por isso que ela veio parar aqui.
CAROLINA (CHOCADA) –
Meu Deus...Então é por isso que ela sempre foi tão reservada sobre o passado.
ROBERVALDO –
E agora ela tem que lidar com essa acusação nojenta. Teodora foi cruel demais.
CAROLINA –
A Isabella não merecia isso.
ROBERVALDO –
Eu espero que eles consigam alcançar aquela safada da Teodora.
CORTA PARA:
CENA
12. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – SALA – DIA
Jerônimo
está sentado na poltrona com um jornal aberto em suas mãos. Martina entra na
sala com um pano de prato na mão, secando as mãos após lavar louça.
JERÔNIMO –
Olha isso, Martina. Essa sua sobrinha desavergonhada finalmente mostrou quem é.
Exploração de menores! Bem típico dela.
MARTINA –
O que você está falando, Jerônimo?
Jerônimo
joga o jornal em direção a Martina. Ela pega e lê a manchete, claramente
chocada.
MARTINA –
“Irmã do candidato Matteo Bellini acusada de exploração de menores...”
JERÔNIMO –
Tá vendo? Sempre falei que essa menina não prestava. Desde pequena era uma vagabunda.
MARTINA (INDIGNADA) –
Isso não pode ser verdade! Isabella nunca faria algo assim.
JERÔNIMO (DEBOCHA) –
Você é uma burra, Martina. Se está no jornal, é porque tem alguma verdade. Essa
garota nunca foi flor que se cheire, sempre dava em cima de mim.
MARTINA –
Você insiste com essa história. Cada dia que passa eu me convenço mais que foi
você que deu em cima dela.
Jerônimo
levanta-se furioso, sua expressão é de puro ódio. Ele se aproxima rapidamente e
dá um tapa no rosto de Martina, que cambaleia para trás, surpresa e assustada.
JERÔNIMO (GRITANDO) –
Nunca mais repita isso! Sou seu marido, e o que eu digo é a verdade. Aquela
vagabunda dava em cima de mim, e você não tem o direito de duvidar de mim.
Martina
com a mão no rosto, os olhos cheios de lágrimas, continua a enfrentar Jerônimo.
MARTINA –
Talvez você seja o mentiroso aqui.
Jerônimo
se afasta com um olhar raivoso, enquanto Martina permanece parada.
CORTA PARA:
CENA
13. INT. ESTAÇÃO DE TREM – DIA
A
estação está movimentada, com pessoas carregando malas e embarcando. Matteo,
Isabella e Eriberto entram apressados, olhando ao redor. Eles avistam Teodora
na plataforma, segurando uma mala e prestes a embarcar.
ISABELLA (APONTANDO PARA TEODORA) – Lá está ela!
Teodora
percebendo que foi vista, começa a caminhar rapidamente na direção oposta.
ERIBERTO (GRITANDO) –
Teodora! Pare agora mesmo!
Teodora
ignora e tenta correr, mas Matteo é mais rápido. Ele a alcança e segura pelo
braço. Ela tenta se soltar, mas sem sucesso.
MATTEO – Você
vai explicar agora mesmo essa mentira nojenta que fez sobre minha irmã!
TEODORA –
Eu não menti. Tudo o que eu disse é verdade.
ISABELLA –
Você sabe que isso é mentira, Teodora! Trabalhou comigo por anos e sabe que
nunca permitiria menores no bordel.
TEODORA –
Eu só contei o que vi...
ERIBERTO –
Se é verdade, então você vai provar. Vamos direto para a delegacia. Quero ver
você sustentar essa história lá. Caso contrário, vai responder por calúnia e
difamação.
Teodora
começa a demonstrar nervosismo.
ISABELLA (IMPLORA) –
Teodora, pense na sua filha. Se você for presa, quem vai mandar dinheiro para
ela?
TEODORA –
Eu fui pagar para mentir.
MATTEO – Quem
pagou?
TEODORA –
Um homem e uma mulher, me abordaram e me ofereceram dinheiro para inventar essa
história.
ERIBERTO –
Você sabe o nome deles?
TEODORA –
Eles não me falaram, só me pagaram para que inventasse essa história e
confirmasse pro jornal.
MATTEO – Eles
devem estar a mando do Coronel Almeida.
ERIBERTO –
Agora você vai até o meu jornal dar esse depoimento. Vamos desmentir essa
calúnia publicamente.
TEODORA –
Tudo bem. Eu vou.
Os
três conduzem Teodora para fora da estação.
CORTA PARA:
CENA
14. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – DIA
Matteo
está sentado ao lado de Eriberto, que digita furiosamente em uma máquina de
escrever.
ERIBERTO –
Estou terminando o texto. Precisamos publicar isso amanhã cedo para desmentir essas
acusações contra a Isabella.
MATTEO – Isso
precisa sair o quanto antes. Não podemos deixar que essa mentira ganhe ainda
mais força.
Hismeria
e Augusto entram, visivelmente aflitos. Matteo e Eriberto se voltam para eles
imediatamente.
HISMERIA (DESESPERADA) –
Matteo, Eriberto, temos um problema!
MATTEO – O que
aconteceu?
AUGUSTO (TENSO) –
O prefeito Fontes desapareceu.
ERIBERTO (SURPRESO) –
Como assim, desapareceu?
HISMERIA –
Ele não chegou em casa ontem à noite. A esposa achou que ele tivesse dormido na
cidade, mas ninguém o viu. Ele simplesmente sumiu.
MATTEO (PREOCUPADO) –
isso é muito grave. Precisamos agir rápido.
ERIBERTO (PARA MATTEO) –
Você está pensando no mesmo que eu?
MATTEO – Não quero
especular, mas com certeza isso tem dedo do Almeida. Vamos à delegacia agora
mesmo registrar uma queixa. A polícia precisa começar a investigar
imediatamente.
HISMERIA –
Vamos! Quanto mais rápido agirmos, melhor.
Matteo
pega sua jaqueta et odos saem da redação em direção à delegacia, com expressões
sérias e apreensivas.
CORTA PARA:
CENA
15. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – SALA
Dorotéia
está sentada em uma poltrona, com um semblante preocupado. Almeida está em pé,
bebendo um copo de uísque, com a postura relaxada, mas o olhar distante.
DOROTÉIA –
Almeida, precisamos conversar sobre a Camila.
ALMEIDA –
O que tem a Camila?
DOROTÉIA (INCOMODADA) –
Algo estranho está acontecendo na casa dela e do Inácio. Já fui lá várias
vezes, e em todas ele diz que ela está dormindo. Nunca consigo vê-la.
ALMEIDA –
E daí? Ela deve estar cansada.
DOROTÉIA –
Isso não é normal, Almeida. Parece que estão escondendo algo.
ALMEIDA – A
Camila está casa, ela tem um marido agora. Deixe que ele cuide dela.
DOROTÉIA –
Ela é minha filha! Não vou ficar de braços cruzados enquanto algo pode estar
acontecendo.
ALMEIDA –
Eu tenho assuntos mais importantes para resolver do que suas paranoias.
Dorotéia
abre a boca para responder, mas a conversa é interrompida pelo som de batidas
na porta. Nina abre a porta, David e Laura entram, carregando pastas e papéis.
Almeida esboça um sorriso ao vê-los e se levanta.
ALMEIDA (PARA DOROTÉIA) -
A conversa termina aqui.
Ele
vira-se para David e Laura.
ALMEIDA –
Vamos ao escritório.
Dorotéia
fica parada, visivelmente irritada, enquanto Almeida sai com os dois.
CORTA PARA:
CENA
16. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO – DIA
Almeida
senta-se atrás da mesa, enquanto David e Laura ocupam as cadeiras à sua frente.
DAVID –
Coronel, a primeira etapa já começou. O jornal com as acusações contra Isabella
foi distribuído pela cidade desde cedo. A repercussão é bastante negativa
contra o Matteo.
LAURA – E não
vamos parar por aí. Temos mais ideias para desestabilizar o Matteo e
impulsionar sua campanha.
ALMEIDA –
Bom. Isso tem que funcionar.
DAVID – Irá funcionar,
mas vamos precisar de mais recursos. O impacto precisa ser maior, e isso exige
investimento. Nós encomendamos um jingle para ser cantado ao longo da campanha,
o povo gosta de música, e os jingles ajudam muito na campanha.
ALMEIDA –
Coloquei uma das minhas fazendas à venda. Assim que fechar o negócio, vocês
terão o dinheiro que precisam.
LAURA –
Perfeito. Vamos continuar avançando. O senhor pode contar conosco.
Almeida
acena positivamente, enquanto David e Laura continuam detalhando os próximos
passos.
CORTA PARA:
CENA
17. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
Isabella
está no salão, pensativa, após as acusações contra ela terem sido desmentidas.
Matteo entra, sério.
MATTEO –
Isabella, temos que conversar.
ISABELLA –
Primeiro, preciso agradecer. Obrigado por me ajudar a desmentir aquela mentira
nojenta.
MATTEO – Não me
agradeça. Sou seu irmão. É meu papel te defender, mesmo que eu tenha falhado
nisso por tanto tempo.
ISABELLA (EMOCIONADA) –
Como é bom ouvir que você é meu irmão.
MATTEO –
Desde que voltei a Esperança, tenho evitado você. Não por falta de amor, mas
por não saber lidar com suas escolhas.
ISABELLA –
Isso me dói tanto. Dói porque você e o Rodolfo são tudo o que me resta da nossa
família, e tanto você quanto ele, me evitam.
MATTEO – Eu sei,
e me arrependo profundamente por isso. Não concordo com o caminho que você
tomou, mas respeito suas decisões. Você merece meu respeito, meu apoio, e acima
de tudo, meu amor, como irmão.
Isabella
começa a chorar, com um sorriso tímido.
ISABELLA –
Você não sabe o quanto isso significa pra mim.
Matteo
segura os ombros dela com carinho.
MATTEO – Eu vim
aqui para me desculpar. Prometo que nunca mais vou te abandonar, daqui pra
frente quero estar ao seu lado, como deveria ter estado esse tempo todo. Você
me perdoa?
ISABELLA –
Claro que perdoo, Matteo. Esse é um dos dias mais felizes da minha vida.
Isabella
abraça Matteo com força, com lágrimas nos olhos, em um momento de pura
reconciliação.
CORTA PARA:
CENA
18. EXT. BORDEL DE MADAME YVETTE – DIA
Rodolfo
está encostado na lambreta, olhando para o bordel com impaciência. Carolina sai
apressada, ajeitando a bolsa no ombro.
RODOLFO –
Finalmente, hein? Achei que não ia sair mais.
CAROLINA –
Eu estava ouvindo uma parte da conversa entre Matteo e Isabella, parece que
estão fazendo as pazes.
RODOLFO (IRRITADO) –
Ah, claro. Meu irmão ainda perde tempo ouvindo aquela meretriz.
CAROLINA –
Rodolfo, não acredito que você ainda fala assim da sua própria irmã.
RODOLFO –
Mas é o que ela é. Ela que escolheu essa vida.
CAROLINA –
Você já parou para se perguntar por que a Isabella veio parar no bordel?
RODOLFO (DESDENHA) –
Porque ela é uma sem vergonha.
Carolina
o encara, decidida a contar o que ouviu de Robervaldo.
CAROLINA –
Ela foi abusada pelo seu tio Jerônimo.
Rodolfo
congela, sua expressão muda para puro choque.
RODOLFO (EM CHOQUE) –
O quê?
CAROLINA –
Ela nunca te contou porque queria proteger a você e a sua tia Martina. Mas foi isso
que aconteceu, ela foi abusada e teve que parar aqui.
RODOLFO –
Meu Deus...Eu a rejeitei todos esses anos. Eu a julguei sem saber de nada.
CAROLINA –
Talvez seja a hora de mudar isso.
CORTA PARA:
CENA
19. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – DIA
Isabella
e Matteo ainda estão abraçados em um momento de emoção. Rodolfo entra,
visivelmente abalado.
RODOLFO –
Isabella...É verdade?
ISABELLA (CONFUSA) –
O que é verdade, Rodolfo?
RODOLFO –
O Jerônimo abusou de você?
Isabella
desaba. Ela cobre o rosto com as mãos e começa a chorar descontroladamente.
Matteo, horrorizado, se aproxima dela.
MATTEO (CHOCADO) –
Isabella, fala comigo. É verdade?
ISABELLA –
Sim...Ele abusou de mim e me ameaçou. Disse que mataria a tia Martina e o
Rodolfo se eu contasse. Por isso eu fugir para cá, assim eu protegeria vocês e
me livrava daquele homem.
Rodolfo
chora bastante e segura a mão de Isabella, cheio de culpa.
RODOLFO (CHORANDO) –
Eu te julguei. Achei que você tinha me abandonado, mas você estava apenas me
protegendo. Me desculpe, Isabella...
ISABELLA –
É claro que eu te desculpo, Rodolfo. Eu jamais te abandonaria. Eu só fui embora
porque eu precisava ir.
Rodolfo
chorando, abraça Isabella. Matteo, emocionado, se junta ao abraço dos irmãos.
CORTA PARA:
CENA
20. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – DIA
Jerônimo
abre a porta, surpreso ao ver Matteo e Rodolfo em sua entrada. Antes que ele
consiga dizer algo, Rodolfo o empurra com força, invadindo o espaço.
RODOLFO (GRITANDO) –
Seu desgraçado! A gente já sabe o que você fez com a Isabella!
JERÔNIMO –
O que vocês estão falando? Eu não fiz nada!
MATTEO – Não adianta
negar, Jerônimo. Nós já sabemos de tudo.
Rodolfo
avança e dá um soco no rosto de Jerônimo, que cai para trás, derrubando uma
cadeira. Jerônimo se levanta com dificuldade, limpando o sangue dos lábios.
RODOLFO –
Você é um desgraçado! Vou acabar de você!
JERÔNIMO –
Foi ela que me seduziu! Eu sou homem e não conseguir resistir.
MATTEO (FURIOSO) –
Ela era só uma criança! Você é um doente! Um ser repugnante.
Matteo
acerta um murro em Jerônimo, que cambaleia. Rodolfo grita por Martina, que está
no andar de cima, ouvindo tudo, escondida.
RODOLFO (GRITANDO) – Tia
Martina! Você precisa saber que está casada com um monstro.
JERÔNIMO (DESESPERADO) –
A Martina está dormindo! Vocês são loucos! Saiam da minha casa!
MATTEO – Eu vou
subir e falar com ela. Ela precisa saber com que tipo de homem está casada.
Jerônimo
rapidamente sacada uma arma de um móvel próximo e aponta para Matteo.
JERÔNIMO –
Mais um passo e eu atiro!
No
alto da escada, escondida, Martina observa tudo. Ela sussurra para si mesma,
com lágrimas nos olhos.
MARTINA (SUSSURRANDO) –
Eu sabia...minhas desconfianças estavam certas.
Jerônimo
empurra Matteo e Rodolfo em direção à porta, com a arma ainda apontada para
eles.
JERÔNIMO –
Fora daqui! Agora!
Matteo
e Rodolfo saem, mas antes de cruzarem a porta, Rodolfo se vira e aponta para
Jerônimo.
RODOLFO –
Você vai pagar por tudo que você fez.
Eles
saem. Jerônimo, ainda segurando a arma, tenta recuperar o fôlego. Martina, no
alto da escada, enxuga as lágrimas silenciosamente.
CORTA PARA:
CENA
21. INT. DELEGACIA – DIA
Delegado
Vicente está em pé, folheando um bloco de anotações, enquanto delegado Afrânio
está sentado atrás de sua mesa, visivelmente desconfortável.
VICENTE –
O desaparecimento do prefeito Fontes é uma questão muito séria. Precisamos
partir de algum ponto. Você tem alguma pista? Algum inimigo que ele possa ter?
AFRÂNIO –
Fontes era uma figura pública. Inimigos ele devia ter aos montes.
VICENTE –
Por que você se refere a ele no passado?
AFRÂNIO –
Não sejamos inocentes, Vicente. É claro que ele está morto, ninguém desaparece
do nada.
VICENTE –
Me responda, tem algum caso recente envolvendo o Fontes que vale a pena
investigar?
AFRÂNIO (HESITANDO) –
Há alguns dias ele fez uma ocorrência. Disse que estava sendo seguido.
VICENTE –
E o que foi feito sobre essa ocorrência?
AFRÂNIO –
Foi algo sem importância. Paranoias da cabeça dele.
VICENTE –
Quero ler essa ocorrência.
Afrânio
suspira, começa a remexer os papéis na mesa e, relutante, entrega um documento
a Vicente. Vicente lê com atenção.
VICENTE –
Isso deveria ter sido investigado imediatamente, Afrânio. Ele afirma que eram
capangas do Coronel Almeida que estavam o seguindo.
AFRÂNIO –
Não havia nada de concreto. Ele não tinha certeza de que se tratavam de
capangas do coronel.
VICENTE –
Bom, agora temos um ponto de partida. Amanhã vou começa a conduzir essa
investigação de forma mais afunda.
CORTA PARA:
CENA
22. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – SALA DE JANTAR – NOITE
Martina
serve a comida enquanto Jerônimo está sentado. Ela vai até a cozinha, serve
dois copos de suco, e em um deles ela coloca veneno. No copo envenenado ela
mistura para que o veneno se dissolva a bebida. Ela volta para sala com os dois
copos, colocando o envenenado diante de Jerônimo.
MARTINA –
Aqui está, querido.
JERÔNIMO –
Até que não demorou hoje.
Martina
senta-se a mesa e Jerônimo começa a comer.
MARTINA –
Como você teve coragem, Jerônimo? Como conseguiu fazer aquilo com a Isabella?
JERÔNIMO (IRRITADO) –
Que conversa é essa?
MARTINA –
Eu ouvi tudo. Matteo e Rodolfo vieram aqui nesta tarde e te confrontaram.
JERÔNIMO –
Tudo mentira daquela ingrata! Isabella sempre foi problemática.
MARTINA –
Eu sabia...Sempre soube. Você destruiu a vida dela, foi por causa de você que
ela foi viver no bordel.
JERÔNIMO (FURIOSO) –
Cala essa boca, Martina!
MARTINA –
Você vai pagar, Jerônimo. Tenha certeza que você vai pagar.
JERÔNIMO (DEBOCHA) –
É a palavra dela contra a minha. Eu sou advogado, minha palavra tem mais valor,
do que a palavra de uma puta.
MARTINA (DESAFIA) –
Você pode não pagar nas leis dos homens, mas nas leis de Deus você pagará.
JERÔNIMO (RINDO) –
Deus? Eu não pretendo morrer tão cedo para ter que acertar as contas com ele.
Jerônimo
bebe o suco envenenado, mas logo começa a sentir falta de ar. Ele coloca a mão
do peito, em pânico.
JERÔNIMO (OFEGANTE) –
O que você colocou nesse suco?
MARTINA (CHORANDO) –
Eu coloquei um fim no seu mal.
Jerônimo
se levanta, segurando o peito, demonstrando estar sentido muita dor, ele dá um
gemido e cai no chão, morto.
FIM DO CAPÍTULO
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