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FILHOS DO PAPAI NOEL - CAPÍTULO 01

 


Escrita por: Mathias Vianna


Capítulo 1: Cartas para o Papai Noel


Era uma tarde fria de dezembro, e o céu estava encoberto por nuvens densas que prometiam chuva a qualquer momento. O vento cortava as ruas da pequena cidade de Santa Clara com uma leveza cortante, fazendo as folhas secas dançarem pelo chão. A escola estava começando a esvaziar, com crianças correndo para os portões, animadas por poder finalmente ir para casa. O som do sino ainda ecoava pelo pátio, anunciando o final das aulas.


No pátio da escola, Pedro estava com os ombros suados, sujo de terra e com o uniforme bagunçado. Ele, sempre o último a sair, ajudava os colegas a arrumar suas mochilas antes de finalmente colocar a dele nas costas. Quando viu Clara e Lucas, acenou com um sorriso tímido, tentando esconder um leve cansaço de um dia agitado.


“Oi, Clara! Lucas!” – disse ele, com a voz cheia de energia.



Clara, com os cabelos arrumados e a trança bem feita, olhou para ele com um sorriso no rosto, mas algo em seus olhos denunciava uma tristeza que ela tentava disfarçar. Era difícil disfarçar a realidade de um lar onde os pais brigavam constantemente, e o Natal estava se aproximando com mais preocupações do que alegrias.


"Oi, Pedro! Vamos logo, está frio, e o Natal está chegando!” – respondeu Clara, tentando ser positiva.



Lucas, de olhar distante, parecia alheio à animação dos outros. Com os cabelos cortados de forma impecável, o uniforme da escola estava perfeitamente alinhado, mas ele, por dentro, sentia a falta da presença dos pais. Ele sempre foi tratado como uma criança privilegiada, mas o vazio em seu peito aumentava com o passar dos anos, especialmente nas datas comemorativas.


“Eu só espero que o Natal não seja tão vazio este ano...” – disse Lucas em tom baixo, como se falasse consigo mesmo, mas Pedro e Clara ouviram e olharam para ele com preocupação.


“Vai ser diferente, vai dar tudo certo para todo mundo.” – respondeu Clara, tentando confortar Lucas, embora, no fundo, ela soubesse que o Natal seria simples em sua casa. E para Pedro, a promessa de algo melhor parecia distante.


“É, tomara. Bom, até amanhã!” – Pedro disse, se despedindo rapidamente.



Os três se afastaram, cada um indo para sua casa, em direções completamente diferentes, mas unidos pela amizade que os fazia acreditar que o Natal poderia, talvez, ser mais do que eles imaginavam.



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A casa de Pedro

Pedro entrou em casa com o coração apertado. O céu ainda estava cinza, e o vento gelado que entrava pela janela da sala fazia a cortina se mover lentamente, como uma dança triste. Dona Lúcia estava na cozinha, cortando legumes para o jantar. O cheiro de arroz com feijão e alho frito invadia a casa, tornando o ambiente mais acolhedor, mas a falta de recursos era clara.


Pedro foi até a cozinha e sentou-se na mesa, observando a mãe, que estava com as mãos sujas de farinha e restos de comida, mas com um sorriso suave no rosto.


“Oi, mãe. Está bom o cheiro. O que a senhora está fazendo?” – perguntou Pedro, tentando esconder a tristeza da própria voz.


“Estou fazendo o que posso, filho. Vai ficar tudo bem. É simples, mas o importante é que temos comida. Não precisamos de mais nada.” – Dona Lúcia respondeu com uma expressão cansada, mas que tentava transmitir tranquilidade.



Pedro olhou para a mãe e deu um sorriso tímido. Ele sabia que ela fazia o melhor possível, mas o medo de que a vida fosse dura demais para ela o assombrava. A mulher que sempre o amou com tanta dedicação estava exausta, e Pedro sentia que, muitas vezes, ele precisava ser forte para ela. Ele não queria um Natal grandioso, não queria brinquedos novos, apenas a companhia de sua mãe, sem as preocupações, sem a pressão de fazer um Natal perfeito.


No fundo, ele desejava apenas uma coisa: que sua mãe descansasse, que ela não se preocupasse tanto com a vida. Ele queria que ela tivesse paz. Então, sentado em sua cama, Pedro começou a escrever sua carta para o Papai Noel. As palavras saíam com dificuldade, mas sua mensagem era clara. Ele não queria presentes. Só queria ver sua mãe feliz.



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A casa de Clara

Clara entrou em casa e encontrou seus pais novamente discutindo. O clima estava tenso, como sempre, e o Natal parecia ser mais uma data que traria mais brigas do que alegrias. O cheiro de comida caseira, de arroz e galinha, estava no ar, mas o ambiente era pesado. O pai de Clara, Marcos, estava com o rosto vermelho de raiva, e sua mãe, Carla, estava sentada à mesa, com os olhos baixos, tentando evitar mais uma discussão.


“Eu não sei mais o que fazer, Carla! Estamos com tantos problemas financeiros, e você acha que o Natal vai resolver tudo?” – disse Marcos, levantando a voz.


“Eu só quero que a gente tenha algo de bom esse ano, Marcos! Algo para as crianças! Não é tão difícil fazer um Natal decente!” – respondeu Carla, com lágrimas nos olhos.



Clara, que estava na porta ouvindo a discussão, suspirou. Sabia que, em seu lar, o Natal seria muito simples. Mas ela também sabia que eles ainda teriam a comida na mesa, e a sua família ainda estaria ali, apesar de todas as dificuldades. Ela se aproximou lentamente dos pais e falou com voz suave.


“Eu só queria que as brigas parassem... e que o Pedro não passasse mais fome, sabe?” – disse Clara, olhando para os dois com um olhar que expressava o peso das palavras que ela não conseguia mais esconder.



Ela queria muito mais do que brinquedos. Ela queria que todos estivessem bem, e que Pedro, seu amigo, não tivesse que esconder suas necessidades para tentar proteger a mãe. Ela não podia deixar de pensar nisso, e na hora de escrever a carta para o Papai Noel, seus pedidos eram claros, mas ainda carregados de dor e de esperança.



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A casa de Lucas

Lucas chegou à sua casa vazia, como sempre. A mansão estava silenciosa, e o perfume de limpeza e móveis novos enchia o ar. Mas Lucas não se importava com as coisas materiais. Ele só queria que os pais estivessem ali, que ele tivesse a presença deles, que houvesse calor humano e não apenas presentes caros, brinquedos de lugares distantes, roupas de grife. Ele se sentou sozinho em sua enorme sala de estar, olhando para as grandes portas de vidro que davam para o jardim. Nada ali parecia preenchê-lo. O que faltava era a presença que seus pais nunca estavam dispostos a dar.


Ele olhou em volta, sentindo-se sozinho, e então, com uma tristeza profunda, começou a escrever sua carta para o Papai Noel. Não pediu presentes. Não queria mais brinquedos, roupas caras ou viagens luxuosas. Ele só queria algo simples: seus pais ao seu lado. Ele só queria uma família presente.



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As Cartas

À noite, antes de dormir, os três se sentaram em seus cantos tranquilos, cada um com sua carta nas mãos. Eles estavam sozinhos, mas com um desejo comum. Cada um queria um Natal diferente, um Natal com mais amor, mais união e mais compreensão. O papel estava ali, com as palavras de seus corações, ainda frágeis e inocentes.


A carta de Pedro:


“Querido Papai Noel, eu não preciso de nada, só da minha mãe descansada, sem preocupações. Quero que ela saiba que eu a amo muito, e que o presente que eu mais quero é ver ela feliz, sem problemas para nos deixar tristes. Só isso. O resto, a gente dá um jeito. Prometo que vou me comportar. Obrigado, Papai Noel.”


A carta de Clara:


“Querido Papai Noel, este ano, mesmo com tudo o que passamos, ainda teremos comida. Mas eu não quero brinquedos. Eu quero que a minha família brigue menos e que o Pedro não passe mais dificuldades. Eu sei que ele tenta esconder, mas eu sei, e ele merece um Natal feliz também. Eu não quero nada para mim, só para ele. Espero que você possa fazer isso, por nós.”


A carta de Lucas:


“Querido Papai Noel, eu não quero brinquedos. Eu só quero que meus pais passem o Natal comigo, sem estar longe, sem viajar, sem trabalho. Só quero um Natal com eles. Por favor, faz isso por mim. Só quero um Natal com minha família, juntos, como deve ser.”


As cartas ficaram ali, silenciosas, esperando o amanhecer, talvez com a esperança de um Natal diferente.





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