Cena 1. Fazenda Martins. Sala. Noite.
Sala escura. Por uma fresta da janela da sala, o capanga de Heloísa despeja a gasolina, em seguida acende um palito de fósforo e joga em cima do líquido. Uma enorme chama se forma naquele ambiente...
Cena 2. Fazenda Martins. Exterior. Noite.
O homem sai do interior da casa e vai andando até chegar na porteira, sempre olhando para trás. Da janela, vemos uma chama e fumaça.
Cena 3. Estrada de Terra. Noite.
O homem caminha pela estrada de terra, falando ao celular.
Homem: (cel) Dona Heloísa? Tá feito!
Cena 4. Ap dos Vieira Paes. Lavanderia. Noite.
Heloísa ao celular.
Heloísa: (cel) Ótimo! O dinheiro já está na sua conta! (T) Devo precisar de você pra mais alguns serviços, fica na área!
Ela desliga.
Heloísa: É hoje que essa gentalha vira churrasco! Ninguém mandou mexer com a filha de Heloísa Vieira Paes, ninguém!
No olhar malicioso de Heloísa,
Cena 5. Estrada de Terra. Noite.
A caminhonete de Rodolfo percorre a estrada até parar na porteira da fazenda Martins. Ele desce, abre a porteira, volta para a caminhonete e segue com ela.
Cena 6. Caminhonete. Noite.
Rodolfo dirigindo, pensativo e tenso.
Rodolfo: Eu preciso do perdão da Talita!
Cena 7. Fazenda Martins. Qto de Talita e Mya. Noite.
Talita abre os olhos, se levanta da cama e calça suas pantufas. Ela sente um cheiro estranho.
Talita: Que cheiro de fumaça... O que será que tão queimando por aqui?
Ela se abana para tentar afastar o cheiro e vai saindo do quarto.
Cena 8. Fazenda Martins. Sala. Noite.
Ao sair do corredor e pisar na sala, Talita se depara com a chama tomando conta da sala. Muita fumaça.
Talita: Ai meu Deus! (Grita) Socorro! Tá pegando fogo!
Talita começa a tossir e fica desesperada.
Cena 9. Fazenda Martins. Ext. Noite.
Rodolfo sai da caminhonete. Ao olhar pra frente, ele vê a luz do fogo pela janela da casa, além da fumaça. Ele se atenta.
Rodolfo: Quê isso? Tá pegando fogo a casa!
Talita: (off/grita) SOCORROOOO!
Rodolfo: Talita!
Ele sai correndo em direção ao interior da casa. Ele pega na maçaneta da porta, mas acaba queimando sua mão.
Rodolfo: Droga! Talita aguenta aí! Eu vou te salvar!
Ele corre para ir até a lateral da casa.
Cena 10. Fazenda Martins. Laterais da casa. Noite.
Tudo tomado pelo fogo. Rodolfo vem correndo e percebe que não irá conseguir passar.
Cena 11. Fazenda Martins. Qto do Casal. Noite.
Kátia e Antônio dormindo. Talita, Rafael e Mya entram com tudo no quarto, tossindo.
Talita: A casa tá pegando fogo! Vamos sair!
Kátia e Antônio acordam completamente desnorteados.
Talita: (grita) Mãe, Antônio, venham! A casa tá sendo tomada pelo fogo!
Kátia: Como assim?
Antônio: O quê que foi?
Eles vão se levantando. Na confusão da cena, corta:
Cena 12. Shopping. Sala de Cinema. Noite.
Marcelo e Priscila, com as bocas borradas de batom, chocados diante do funcionário do cinema.
Marcelo: Parceiro, calma! Vamos conversar!
Funcionário: Tem conversa não, irmão! Cês tavam de safadeza no cinema. Com tanto motel nessa cidade, cês resolveram fazer justo aqui num lugar público?
Priscila se levanta do colo de Marcelo.
Priscila: Ai moço... Motel a gente já tá saturado! A gente tava mesmo a fim de reviver experiências que deram certo no início do nosso love... Você é casado?
Funcionário: Nã/
Priscila: (interrompe) Sabe aquela fase do casamento quando o relacionamento esfria? Então, nessa fase, isso eu falo com propriedade, foi a nossa terapeuta de casal que disse, a gente precisa resgatar aventuras antigas que deram certo no início/
Funcionário: Chega de conversa fiada, dona! Eu vou chamar o segurança e vocês se viram com ele!
Marcelo se levanta rapidamente.
Marcelo: Ô meu parceiro, calma, chega aqui! Até parece que você nunca fez uma safadezinha de vez em quando... Vem cá! O senhor vai ganhar o quê denunciando a gente?
Funcionário: Não vou ganhar nada, mas vou estar mantendo a minha dignidade, a minha honestidade!
Marcelo: Ou seja...
Marcelo e Priscila: (juntos) Que não vai levar a nada!
Marcelo tira sua carteira do bolso, abre-a e tira 4 notas de cem reais.
Marcelo: Aqui meu amigo! Presente pra você!
Marcelo vai colocando o dinheiro dentro do bolso da camisa do homem.
Funcionário: Eu não quero isso!
Priscila: Larga de ser burro homem! 400 pila pra você calar a boca! Tão simples! Larga de ser otário! É por isso que tá nesse emprego de segunda linha, não tem ambição!
Funcionário: Olha lá como fala comigo!
Marcelo: (repreendendo) Priscila, cala a boca... (ao homem) Ela tá nervosa, releva! Mas bem, o senhor aceitou, já estamos combinados e estamos indo embora. Foi bom fazer negócio com você.
Marcelo pega Priscila pela mão e os dois seguem até a saída da sala do cinema. O funcionário pega as notas de dinheiro no bolso e as olha...
Funcionário: É... Até que eu me dei bem...
Cena 13. Rio de Janeiro. Centro. Avenida. Noite.
O carro de Priscila e Marcelo percorre uma avenida movimentada do centro.
Cena 14. Carro de Marcelo. Noite.
Marcelo no volante, Priscila ao lado.
Marcelo: A gente se safou por pouco, hein.
Priscila: Sujeitinho idiota aquele do cinema... Preferir ferrar os outros do que ganhar uma graninha de graça...
Marcelo: Também nunca vi isso! (Rindo) Cara burro!
Priscila: E você, hein? Cheio de medinho, saindo correndo... Tô te estranhando. Casei com um homem ou com um rato?
Marcelo: Priscila, meu amor! Eu sou um homem de negócios, tenho um grande patrimônio e uma reputação a zelar! Você devia ser mais ligada nisso!
Priscila bufa. Neste momento o celular de Priscila toca. Ela atende.
Priscila: (cel) Yara? (T) Chegou no aeroporto? (T) A gente tá pertinho! (T) Já estamos chegando!
Ela desliga.
Priscila: A Yara chegou! Toca pro Galeão, Marcelo!
Marcelo: Só se for agora.
Marcelo vira o carro em uma rua.
Cena 15. Fazenda Martins. Laterais. Noite.
Rodolfo joga um balde de água em cima do fogo e consegue apagá-lo.
Cena 16. Fazenda Martins. Sala. Noite.
Antônio e um vizinho acionam um extintor de incêndio na chama que havia se formado na sala. O fogo é apagado. Vemos que pouca coisa se perdeu (apenas as cortinas e as paredes se queimaram). Muita fumaça no local.
Cena 17. Fazenda Martins. Exterior. Noite.
Talita, Kátia, Mya, Rafael e alguns vizinhos por ali, observando.
Vizinha 1: Sorte que não queimou muita coisa.
Rodolfo, Antônio e o Vizinho saem do interior da casa.
Talita: Como você veio parar aqui, Rodolfo?
Rodolfo: Talita, eu vim aqui pra dizer que eu prestei o depoimento e nele fui completamente ao seu favor! Ô Talita... Eu preciso que você me perdoe.
Talita: Você não fez mais que a sua obrigação indo ao meu favor! Eu não fiz nada pra cair de paraquedas nesse jogo sujo de vocês dois.
Rodolfo: Eu não tenho nada a ver com/
Kátia: (interrompe) Olha rapaz, eu agradeço por ter ajudado a apagar o fogo da nossa casa, mas a minha filha não tá em condições de discutir agora! O dia foi cheio, muita coisa na cabecinha dela... Acho melhor você pegar seu carro e ir embora!
Rodolfo: Mas/
Talita: Tchau Rodolfo!
Rodolfo se entristece, vira-se de costas e entra em sua caminhonete, partindo logo em seguida.
Mya: (desconfiada) É muito estranho essa casa ter pegado fogo do nada.
Rafael: Não faz o menor sentido.
Kátia se afasta um pouco. Todos olham pra ela.
Kátia: Pra mim só pode ter sido uma coisa. E foi armação. Armação daquela família. Dos Vieira Paes!
Talita: Mãe, não é bom acusar sem provas.
Kátia: Deixa de ser boba, Talita. Tá na cara que esse incêndio foi criminoso! Aqui não tinha nada que pudesse causar um incêndio assim! Nem vela acesa, nem produto inflamável, nada! Esse incêndio foi por vingança, foi criminoso.
Talita coloca as mãos na cabeça, preocupada.
Kátia: E eles não vão desistir até te destruírem, minha filha! Não vão!
Talita: A gente precisa denunciar isso.
Kátia: E o que vai adiantar? Essa gente milionária compra a polícia fácil. O certo é nós ficarmos na nossa, ignorar até onde der! Mexer com essa família é uma enrascada.
Close em Talita desnorteada.
— Abertura —
Cena 18. Fazenda Martins. Mata. Ext. Noite.
No meio da mata, Antônio e Rafael terminam de armar uma grande barraca. Talita, Kátia e Mya descem uma ribanceira trazendo vários travesseiros e cobertores.
Kátia: Acho que isso dá!
Talita: Pelo menos pra uma coisa esse incêndio serviu... Pra gente acampar aqui como nos velhos tempos... Todo mundo dormindo juntinho!
Mya: Dormir lá dentro com aquele cheiro de fumaça... Ninguém merece!
Kátia: Então vamos colocar tudo isso dentro da barraca.
Música: Sonhos - Caetano Veloso (até o fim da cena 19)
Elas colocam os travesseiros e os cobertores dentro da barraca.
Kátia: Pra qualquer coisa...
Ela pega uma espingarda e mostra.
Kátia: A gente se defende com ela.
Cena 19. Dentro da Barraca. Noite.
Sons de grilo lá fora. Kátia, Antônio, Mya, Rafael dormem um ao lado do outro. No canto, Talita, ainda de olhos abertos, pensando na vida, tensa...
Cena 20. Aeroporto Galeão. Saguão. Noite.
Yara desce as escadas rolantes trazendo suas malas. Lá embaixo, Priscila e Marcelo, à sua espera.
Priscila: Yara! (Acena)
Yara: (os avista/feliz) Pri, Marcelo!
A escada rolante chega ao fim e Yara vai ao encontro dos amigos. Priscila a abraça, muito feliz.
Priscila: Quem bom que você chegou!
Yara: Ai Pri, tô morta de cansada, mas tô tão feliz também!
Elas se soltam.
Marcelo: Como vai, Dona Yara?
Yara: Marcelo!
Yara e Marcelo se abraçam, saudosos.
Yara: Que saudades, meu amigo!
Marcelo: (se soltando) E então, vamos pra sua nova casa?
Priscila: Seu apê tá preparado te esperando!
Yara: Ai que chique!
Priscila: Tenho tantos babados também pra te contar!
Yara: Ihh, quero saber de todos!
E os três saem até o portão de saída do aeroporto, conversando fora de áudio, animados.
Cena 21. Diamantina. Stock Shots. Dia.
Amanhece na cidade. Ouve-se o sino da igreja tocando, melancolicamente...
Cena 22. Cemitério. Entrada. Dia.
O caixão de Alice é carregado por alguns homens. Logo atrás vêm Heloísa, de óculos escuros, chorando, juntamente de Fernando. Muitas pessoas acompanham o enterro, a maioria de roupas pretas.
Após alguns minutos de caminhada, a cova se aproxima e o caixão é colocado lá dentro pelos homens. Heloísa joga uma flor. Instantes e Fernando faz o mesmo. Atrás de algumas pessoas, Giovanna e Yasmim observam o enterro.
Giovanna: Apesar de tudo que ela fez... É triste ver uma pessoa jovem morrer assim...
Yasmim: Ela procurou esse caminho... É triste, mas é a realidade.
Os coveiros começam a colocar terra por cima do caixão. Heloísa não para de chorar nem por um minuto, as pessoas observam... A imagem escurece.
ALGUNS DIAS DEPOIS...
Cena 23. Fazenda Martins. Sala de jantar. Dia.
Imagem clareia. Mesa farta. Kátia e Antônio tomam café. Talita entra na sala, com uma roupa pronta para sair.
Kátia: Bom dia filha! Senta aí pra tomar um café!
Talita vai se sentando.
Talita: Tô meio sem fome! É hoje que o juiz vai dar a sentença! Vai ficar provado se a morte da...
Kátia: (interrompe) Nem fala o nome dela!
Talita: (cont.) Se a morte da inominável foi ou não culpa minha!
Antônio: E você tá preocupada por quê, se é inocente?
Talita: Ai Antônio, sei lá... A gente vê todo dia gente inocente sendo colocada na cadeia por incompetência do Estado... Eu tenho medo de acabar sendo presa por algum erro da decisão do juiz.
Kátia: Você tá neurótica, filha e eu entendo. É muita coisa passando na sua cabecinha. Mas você tem que acreditar, antes de tudo, na sua verdade! O juiz vai dar a decisão correta! Tenha fé!
Talita olha pra mãe e respira fundo...
Cena 24. Fórum. Sala de Julgamento. Dia.
O juiz lendo sua decisão.
Juiz: Ficou comprovado a legítima defesa do ato. Portanto, defiro que a parte acusada Talita Martins Bianchini, brasileira, solteira e devidamente declarada nos autos do processo, seja considerada inocente.
Nessa hora, Talita fecha os olhos e deixa as lágrimas de emoção caírem, respirando fundo e aliviada. O advogado ao seu lado a abraça, contente. Ela retribui, muito emocionada.
Juiz: Declaro que sua ação seja enquadrada nos termos do artigo 25 do código penal, em que se exclui a ilicitude do fato quando se repele uma agressão injusta, atual ou iminente. Constando os fatos, declaro essa audiência de julgamento encerrada.
O juiz bate o martelo. Da plateia, Kátia e Antônio se abraçam, emocionados.
Kátia: Até que enfim esse pesadelo acabou!
Do outro lado: Heloísa, ao lado de Fernando, revoltadíssima com a decisão:
Heloísa: Não! Tá errado! Essa vadia comprou o juiz.
Fernando: (conformado) O melhor que nós temos a fazer é aceitar! Chega Heloísa, eu preciso de um pouco de paz! Eu não aguento mais os seus chiliques.
Heloísa: Você nunca vai entender!
Fernando: O que eu entendo é que pode ser por causa dessa educação duvidosa que você deu pra Alice, que a nossa filha não tá mais aqui com a gente!
Heloísa: Tá insinuando que a culpa é minha?
Fernando: (frio) Tô!
Dito isso, Fernando sai, deixando Heloísa mordida de ódio.
Cena 25. Fórum. Rua. Dia.
Fernando sai do fórum, chateado e pensativo.
Fernando: Eu me casei com uma maluca! Ela já fez a cabeça de uma filha minha, não vai fazer a de outra.
No close de Fernando,
Cena 26. Casa de Seita. Dia.
Iluminação sempre vermelha. Duas filas de membros da irmandade segurando tambores. Quando o "chefe" sai por uma porta, os tambores rufam. O chefe passa no meio das duas filas e para em frente as pessoas. Os tambores param.
Chefe: Hoje faz vinte dias que perdemos um membro muito importante dessa nossa irmandade. Alice Vieira Paes! Irmã que ajudava a causa, colaborava com os demais membros e morreu dando o sangue pela luta incansável pela prosperidade. Hoje Alice se encontra na eternidade, e quem sabe lá, consiga o que tanto quis aqui na terra! Eu peço respeito à memória de Alice e por isso, pregaremos, aqui, nestas paredes um retrato desse nosso incrível membro: Alice Vieira Paes!
Dois homens entram trazendo um quadro com a foto de Alice e pregam bem ali no meio do ambiente. Os membros aplaudem o retrato, respeitosamente... Imagem escurece.
Cena 27. Casa de Praia. Sala de jantar. Dia.
Imagem clareia. Marcelo (de terno e gravata) e Priscila tomam café à mesa. Denise, a empregada, os serve.
Priscila: Denise, pro almoço pode preparar aquele camarão na abóbora que você arrasa e arroz com brócolis também!
Marcelo: Humm... Eu que não perco esse almoço por nada! Vou até sair mais cedo da boutique.
Denise: Que milagre hein, Dona Pri? Deixou a dieta por hoje?
Priscila: Deixei! A Yara adora esse prato e eu vou acompanhar! E também um dia só...
Yara desce as escadas e vai indo até a mesa.
Yara: Bom dia, meus queridos!
Priscila: Bom dia, senta aqui!
Marcelo: Você chegando e eu saindo, tô atrasadíssimo!
Marcelo se levanta e abraça Yara.
Marcelo: Fica a vontade, Yara!
Yara: Brigada!
Marcelo sobe as escadas em direção ao quarto, enquanto Yara se senta.
Priscila: E aí, dormiu bem?
Yara: Muito, mas muito bem, amiga! Que casa maravilhosa, que quarto! Dormir sentindo a maresia, o ventinho... Eu nasci pra isso! Te dizer que eu não aguentava mais aquela barulheira de Belo Horizonte, tanto carro, tanta buzina. Isso aqui é o paraíso!
Priscila: A Denise vai dar uma faxina hoje no seu apê! Aí se você quiser, se muda amanhã mesmo pra lá.
Yara: Eu vou decidir isso mais tarde. Mas antes... Vamo pegar uma praia?
Priscila: (Desanimada) Ah... Eu tenho que ir pra loja... Chegou uma coleção nova de biquinis...
Yara: Ih... Nem vem! Não tava doida pra mudar de vida, focar em você? E além do mais, cê tá muito branquinha, nem parece que já foi uma musa tropical!
Priscila: Me convenceu! Vou avisar que vou chegar mais tarde na loja hoje! Vou aproveitar a praia com você.
Yara: Assim que se fala!
As duas sorriem.
Cena 28. Praia. Mar. Dia.
Yara e Priscila correm pela areia de mãos dadas, até chegarem no mar, felizes e saltitantes como duas adolescentes. Elas mergulham e jogam água uma na outra. Clima de felicidade.
Cena 29. Colégio. Exterior. Dia.
Movimentação de estudantes saindo do colégio. Foco em Mya e Rafael.
Rafael: Eu vou encontrar com os meninos ali na pracinha!
Mya: A mamãe e a Talita falaram pra gente não ficar dando mole na rua.
Rafael: Ih, Mya, fica de boa! São meus parças, não vai acontecer nada não! Relaxa!
Mya: Bom, eu vou pra casa! Não vou ficar marcando bobeira. Tô indo lá pegar a van.
Rafael: A gente se encontra em casa.
Rafael se afasta e vai encontrar os amigos. Mya atravessa a rua e vira em uma esquina.
Cena 30. Diamantina. Rua. Dia.
Mya descendo a rua, de mochilas nas costas. Ao andar mais um pouco ela se surpreende ao ver uma velhinha caída, gemendo de dor. Ela se preocupa.
Velhinha: Ai, ai, ai! Me ajuda aqui, minha filha.
Mya: Meu Deus! A senhora caiu?
Velhinha: Caí. Tá doendo muito!
Mya: Tá doendo aonde?
Velhinha: Aqui no joelho.
Mya se abaixa para ver o joelho da senhora e é nesse momento que ela leva uma forte paulada na cabeça, desmaiando na mesma hora. O homem que lhe deu a paulada, carrega-a e entra com ela no banco de trás de um carro, que parte na mesmo instante, cantando pneu. A velhinha se levanta do chão com um pouco de dificuldade e se escora em um poste.
Velhinha: É... Até que valeu esse bico de atriz!
Ela tira cerca de dez notas de cem de dentro do sutiã e as conta, satisfeita.
Cena 31. Fórum. Toalete Feminino. Dia.
Talita entra no toalete, vai diretamente até a pia e molha o rosto. Quando ela desliga a torneira, vê nada menos que Heloísa pelo reflexo do espelho, imediatamente se espantando.
Heloísa: Muito bem, Talita! Você venceu dessa vez.
Talita, exausta, se vira para ela.
Talita: Venci o quê, Heloísa?
Heloísa: Você conseguiu se safar. Deve ter dado pro juiz, com certeza!
Talita: Não julgue os outros por você! Eu não sou da sua laia não, Heloísa. Se conforma que eu só me defendi! Eu não queria matar sua filha, ela sim queria me matar! Entende isso de uma vez!
Heloísa: Isso não vai ficar de graça não!
Talita: O quê que você quer mais? Chega! Todo mundo já sofreu muito com essa história! A sua filha fez eu perder a minha vaga na universidade, ela roubou meu namorado, meus projetos e de quebra ainda conseguiu estragar com a minha vida! Eu tenho pesadelo toda noite, é um inferno ficar lembrando daquela cena...
Heloísa: (fria) É pouco! Você merece muito mais! Eu te desejo todo mal do mundo, eu quero que você morra seca!
Talita levanta a mão para dar um tapa em Heloísa, mas cai em si e desiste.
Heloísa: Bate! Aproveita que você já tá num fórum lotado de policiais!
Algumas lágrimas caem dos olhos de Talita.
Talita: Eu não vou te agredir, não precisa tremer de medo. Essa ruindade toda que você tem aí dentro só vai fazer mal a você mesma! Eu tenho a consciência limpa, não cometi ilicitude nenhuma, pelo contrário. Você não, você é uma mulher com a consciência pesada. Carrega o fardo de não ter educado direito a filha e agora quer se vingar da única vítima dessa história suja que ela armou! Se enxerga Heloísa, se olha no espelho! Olha tudo que você fez!
Heloísa: Eu não vou te deixar em paz!
Talita: Faz o que você quiser! Eu não tenho medo de você!
Talita vai caminhando até a porta de saída do banheiro, mas Heloísa dispara:
Heloísa: Mas a sua família pode ter!
Talita se vira, indignada e mordida de ódio.
Talita: Experimenta mexer com a minha família!
Talita olha bem nos olhos de Heloísa.
Talita: Se você encostar um dedo sequer em algum deles, aí eu já não vou ter mais medo de polícia, nem de cadeia! Eu te mato! E não vai ser acidentalmente como foi com a sua filha. Eu faço questão de te torturar antes! Sua cadela, infeliz.
Heloísa: Vagabunda, suburbana! Eu vou acabar com você!
Talita sai do banheiro e bate a porta bem forte. Heloísa fica possessa de raiva.
Heloísa: Acha que eu tenho medo de você, Talitinha? Pois saiba que sua irmãzinha é quem vai pagar por essa sua grosseria!
Heloísa tira o celular e faz uma ligação.
Heloísa: (cel) Alô? (T) Pegou a menina? (T) Leva pro galpão combinado! (T) Cê quer abusar da garota? Faz o que quiser com ela, só não mata... Ainda!
Cena 32. Carro. Dia.
Mya desmaiada no banco de trás do carro, com a cabeça deitada no colo de um homem. Muita tensão. A imagem escurece.
ALGUMAS HORAS DEPOIS...
Cena 33. Fazenda Martins. Exterior. Tarde.
Imagem clareia. A caminhonete de Antônio estaciona no gramado da fazenda. Descem Talita, Kátia e Antônio.
Kátia: Finalmente estamos livres desse pesadelo.
Talita: Mas a cobra da Heloísa já avisou que não vai me deixar em paz... Eu tô com medo dessa mulher, mãe! Não por mim, mas por você, pelo Antônio, pela Mya, pelo Rafa...
Rafael sai do interior da casa, com um semblante preocupado.
Rafael: Gente, a Mya veio com vocês?
Kátia: Não! Ela não tá em casa?
Rafael: Ela veio na frente, de van! Eu fiquei de vir depois, mas quando eu cheguei ela não tava aqui em lugar nenhum!
Antônio: E o celular? Ela não atende?
Rafael: Não! Já liguei mil vezes e dá desligado!
Talita olha para a mãe, desesperada.
Talita: (atordoada) Mãe, só pode ter sido a Heloísa! A Heloísa pegou a Mya!
Kátia tapa a boca, tensa. Talita começa a chorar. No desespero de todos, close em Talita.
— Foco em Talita / A imagem congela em preto e branco e se despedaça.
Encerramento: Sonhos - Caetano Veloso
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