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A Promessa - Capítulo 23


A Promessa
CAPÍTULO 23

webnovela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

livre adaptação do livro de Rute

No capítulo anterior: Rute diz para Myra que levantou e encontrou Aylla no corredor, pois ela é sonâmbula; Aylla confirma e Myra acredita. Raabe diz para o dono da hospedaria servir Neb. Segismundo, Gael e quatro homens partem de Belém em busca da família de Noemi, e Tamires diz que estará esperando pelas boas novas. Orfa diz que Rute não encontrou Aylla no corredor, e Rute conta a verdade. Orfa a repreende, mas diz que guardará esse segredo. Elimeleque e os filhos decidem ir para os vilarejos do norte, mas logo conhecem Dov, um rapaz que revela que toda Israel está do mesmo jeito, e que está indo para outro reino, Moabe. A família decide ir para lá também, e Dov sai para buscar lenha. Pouco depois, ele volta, preso nos braços de Gael, que mantém um punhal em seu pescoço. Toda a Caravana da Morte chega ali, e os homens sacam suas espadas. Segismundo pergunta a Elimeleque se ele se lembra dele.

FADE IN:

CENA 1: EXT. DESERTO – MANHÃ

A várias dezenas de metros da árvore onde Elimeleque e os filhos encaram a Caravana da Morte, um grupo de homens de vestes longas e negras, e usando turbante na cabeça, para ao avistar apenas a carroça com as coisas da família de Noemi. São saqueadores.
SAQUEADOR
Veja, senhor! Lá! Uma carroça repleta!
O chefe olha.
CHEFE
Tem razão... E dessa vez não é nenhuma miragem. Vamos até lá!
SAQUEADOR
Senhor, espere! Olhe lá, atrás daquelas folhas... Parecem vultos...
O chefe caminha alguns passos e observa.
CHEFE
Uma carroça dessa, em tempos como esse, perdida no deserto, seria bom demais pra ser verdade... Por outro lado, são apenas três homens e uma mulher, pelo que consigo ver... Estamos em oito, podemos vencê-los com facilidade.
SAQUEADOR
Com toda certeza.
CHEFE
Homens! Vamos!
Eles correm silenciosamente na direção da árvore.
Lá, forte tensão. Pouco atrás de Elimeleque armado, Malom e Quiliom com as espadas em posição de combate. Segismundo, mais à vontade, aponta a ponta da espada para Elimeleque. Atrás dele, Gael com Dov e os quatro homens em posições ameaçadoras.
ELIMELEQUE
É claro que me lembro de você, Segismundo. E como disse daquela vez, volto a dizer: não quero conflito.
SEGISMUNDO
Daquela vez o motivo era outro. Era sobre a sua presunção, a sua arrogância! Você e sua família, por dobrarem os joelhos pra Deus todos os dias, sempre se acharam superiores aos outros hebreus.
ELIMELEQUE
Não sabe o que diz, Segismundo. Nunca nos achamos superiores. Acontece que quem está na luz luta para que os que estão nas trevas saiam dela.
SEGISMUNDO
E quem é você, Elimeleque, pra se ver na luz e julgar que os outros estão nas trevas?! Mas não precisa responder, porque como eu disse, não estamos aqui por causa disso.
ELIMELEQUE
Por que, então?
SEGISMUNDO
Por causa da fome, dessa maldita praga. Nós precisamos sobreviver, e você, sozinho aqui no deserto, é o alvo mais fácil e mais apetitoso que poderíamos ter.
ELIMELEQUE
Por causa da fome, han?! Então é pelo mesmo motivo de antes, Segismundo! Essa fome veio por causa dos sucessivos erros do povo! E nós, dia após dia, tentávamos alertá-los!
SEGISMUNDO
Fale baixo, Elimeleque! Perdeu a noção do perigo?!
Elimeleque encara Segismundo.
ELIMELEQUE
Soltem o rapaz, ele não tem nada a ver com isso. E podem levar tudo, não é necessário usar de violência.
SEGISMUNDO
O problema, Elimeleque, é que há algo a mais aqui para ser feito.
ELIMELEQUE
Do que está falando?
Segismundo sorri. Pouco atrás dos filhos, Noemi parece estar cada vez mais tensa e assustada. Respira ofegante.
ELIMELEQUE
(sem desgrudar os olhos de Segismundo) Não se preocupe, Noemi, eles não nos farão nenhum mal.
SEGISMUNDO
(se aproximando mais) Está me subestimando, Elimeleque???!!! É isso???!!! Acha que não estamos falando sério???!!!
ELIMELEQUE
Calma, Segismundo, calma! Não é necessário--
SEGISMUNDO
Pelo jeito você acha que estamos aqui de brincadeira!!! Mas nem imagina você que há pessoas na cidade que querem o sangue de toda sua família escorrendo pela terra! Acha que cavalgamos de Belém até aqui à toa?! Você vai ver que não há futilidade no trabalho da Caravana da Morte! Gael, mostre pra eles que não viemos aqui brincar!
Sem esboçar reação alguma e olhando para Elimeleque, Gael faz um movimento rápido com o punhal e corta a garganta de Dov. Todos se assustam! Por alguns segundos o rapaz agoniza sangrando e cai esfregando em Gael. Esse chuta levemente o corpo para desencostar de suas pernas.
Noemi grita chocada. Malom e Quiliom assustados e instáveis. Elimeleque surpreso e indignado.
Segismundo sorri de orelha a orelha.
SEGISMUNDO
Conseguiu agora ter noção do que viemos fazer, Elimeleque?
Elimeleque olha horrorizado para Dov, morto, jogado no chão.
ELIMELEQUE
Covarde... Desgraçado... Vocês vão pagar por isso! Quiliom, proteja sua mãe! Malom, comigo!
Quiliom se afasta e leva Noemi para trás da árvore e Malom fica ao lado de Elimeleque.
SEGISMUNDO
Que venha.
Gritando, Elimeleque e Malom avançam, esse contra os quatro homens e aquele contra Segismundo. Aflita, Noemi assiste de trás da árvore. Ninguém ali é um soldado, mas a luta é dura e violenta. Gael, afastado, assiste ao confronto como se fosse inatingível.
Elimeleque e Segismundo estão em igualdade. Golpes em cima, embaixo, empurrões, defesas...
Malom, porém, tem dificuldade contra os quatro homens e está quase sendo derrotado.
NOEMI
(para Quiliom) Vá ajudar seu irmão, eu me cuido.
QUILIOM
Tem certeza, mãe?!
NOEMI
Vá logo, Quiliom!
Quiliom sai de trás da árvore e surpreende um dos homens com uma forte cotovelada. Em seguida fere a mão de outro.
MALOM
Na hora certa!
QUILIOM
Muita atenção, irmãozinho!
Revigorados, Malom e Quiliom lutam ferozmente contra dois. Elimeleque desvia de um golpe e acerta o rosto de Segismundo com o punho da espada. O líder da Caravana tenta revidar, mas Elimeleque o agarra pelo pescoço e mete-lhe uma cabeçada na testa. Segismundo cai para trás e, no chão, vê que o que levou a cotovelada de Quiliom está se levantando.
SEGISMUNDO
(para ele) Deixe-os! A mulher! Pegue ela!
O homem corre até onde está Noemi. Malom, aflito, percebe e, entre os ataques e defesas, pega uma pedra no chão e atira na cabeça do homem antes que ele alcance sua mãe. Noemi o vê cair desacordado na sua frente.
Segismundo se levanta e volta a enfrentar Elimeleque em igualdade. Malom e Quiliom dão voltas, jogam terra no rosto dos inimigos para os cegar, tentam feri-los, desviam das espadas a altas velocidades... Então viram de costas um para o outro, protegendo os dois lados.
MALOM
Se eu morrer aqui, case com duas mulheres, meu irmão! Uma por mim!
QUILIOM
Acho que o perigo está te deixando ruim das ideias, Malom!
Os dois inimigos voltam a ataca-los. Os irmãos ajudam um ao outro. Se defendem, se auxiliam nos golpes... Até que conseguem desarmar um dos homens e o ferem com um corte rápido no peito. O homem sai cambaleando. O que havia sido ferido anteriormente na mão manca raivoso em direção a Elimeleque, se aproximando por trás. Noemi, prevendo o pior, pega a espada do homem desacordado e corre em auxílio ao marido; com o punho da espada acerta a cabeça do homem que se aproximava por trás. Ele cai ferido, mas não desmaia. O que sofreu um corte no peito se aproxima para chutá-la, mas Malom se afasta de Quiliom e empurra o homem no chão. Depois desfere dois fortes socos.
ELIMELEQUE
Continuem! Estamos vencendo!
SEGISMUNDO
É mesmo?!
Segismundo ergue a espada e ataca Elimeleque, mas ele bloqueia o golpe.
ELIMELEQUE
É sim!
Elimeleque torce o braço de Segismundo que segura a espada e ele grita de dor.
ELIMELEQUE
Solta! Solta!...
Segismundo grita até que sua mão se abre e a espada cai. Elimeleque dá um soco no rosto e o chuta no estômago. Segismundo cai sentado. Elimeleque pega a espada do inimigo e avança. Os homens feridos pelos rapazes e por Noemi tentam impedi-lo, mas ele os desarma a todos e os tira de seu caminho.
Nesse momento, os saqueadores chegam ali perto.
SAQUEADOR
É mesmo uma briga, senhor!
CHEFE
Pois que briguem até se matarem. Vamos aproveitar e pegar tudo da carroça! Vamos!
Segurando as duas espadas, Elimeleque se aproxima de Segismundo, caído, e as aponta para ele. Mas Segismundo, aflito, olha algo lá atrás. Elimeleque estranha e vira também. Então vê os saqueadores se aproximando da carroça.
SEGISMUNDO
Não, isso não pode acontecer! Detenham-nos! Rápido!
Os homens da Caravana, apesar de exaustos, correm até os saqueadores.
SEGISMUNDO
Gael, você também! Vá!
Gael sai de sua posição intocável e corre contra os saqueadores.
CHEFE
Inferno! Peguem as espadas, agora!
Segismundo aproveita que Elimeleque está surpreso com o novo grupo ali e lhe aplica uma rasteira. Então toma as duas espadas caídas e corre para lutar contra os saqueadores.
Elimeleque se levanta e vê que a carroça ainda está sozinha e intocada.
ELIMELEQUE
Precisamos aproveitar que estão lutando entre si! Peguem a carroça, rápido!
Malom pega a corda e puxa o cavalo. Quiliom tenta ajuntar as ovelhas para partirem.
ELIMELEQUE
Precisamos sair daqui!
Elimeleque corre até Noemi e a ajuda a se levantar.
ELIMELEQUE
Você está bem? Está ferida?
NOEMI
Não, não, eu estou bem... Vamos!...
Quiliom tenta agrupar as ovelhas, mas elas estão assustadas e se espalham.
ELIMELEQUE
Deixe as ovelhas! Vamos, Quiliom!
Elimeleque ajuda Malom a puxar a carroça. Quiliom vai ao lado de Noemi, escoltando-a. Eles caminham em direção às árvores. Segismundo os vê partir, mas não pode fazer nada, pois os saqueadores são muitos e estão dando trabalho. A família de Elimeleque entra pelos arbustos e some.
ABERTURA

CENA 2: INT. HOSPEDARIA – SALÃO – MANHÃ

Alegre, Neb lambe cada dedo com resto de comida. Em seguida olha para o dono atrás do balcão.
NEB
Meu querido, traga mais um pouco desse prato, por favor.
DONO
Não vai dar, não. A comida é pouca!
NEB
Você está sendo pago, isso não vai sair de graça.
DONO
Você não está me pagando nada!
NEB
Por acaso o senhor não ouviu a grande e sábia senhora Raabe? Ela e seu marido pagarão.
O dono fica ainda mais carrancudo, mas pega mais comida e, a contragosto, leva até Neb e o serve.
DONO
Estou lhe avisando, se sobrar um pouco que for--
NEB
Não se preocupe, não sobrará nem uma migalha. O prato será limpo aqui mesmo.
DONO
(enojado) Rum!
O dono sai pisando duro e Neb se delicia.

CENA 3: EXT. BELÉM – RUA – MANHÃ

Tani caminha pela rua quando cruza com Yuri.
YURI
Tani, Shalom...
TANI
Shalom, Yuri. Há quanto tempo, han?
Yuri ri.
YURI
Muito tempo...
Tani sorri, mas não demora a voltar seu semblante de tristeza. Todos ali na rua estão em situação semelhante.
TANI
Não está sendo fácil...
YURI
Nem um pouco... A cidade está arrasada. Talvez Elimeleque tenha feito o certo...
TANI
O que quer dizer?
YURI
Estou pensando em fazer como os nossos amigos e voltar para minha cidade natal, Hebrom.
TANI
Yuri...
YURI
Não há mais campo algum para cuidar por Elimeleque... Vou conversar com minha esposa.
Tani ouve triste.

CENA 4: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE BOAZ – MANHÃ

Meio dormindo, meio acordado, Josias se mexe em sua cama.
BOAZ
Acorde, Josias. Levante...
JOSIAS
Ahn, deixe eu dormir mais um pouquinho aqui...
BOAZ
Levante, rapaz. Precisamos ir conhecer a cidade, saber o que está acontecendo... Ver se podemos ser úteis de alguma forma!
Josias finalmente levanta e senta na cama, mas o rosto está marcado.
JOSIAS
Eu mal dormi...
BOAZ
Vamos, levante e se arrume. Na certa meu pai já está pensando em algo...

CENA 5: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE SALMON E RAABE – MANHÃ

Boaz e Raabe já acordados. Sentado, ele bebe água e fica encarando o nada. Raabe percebe.
RAABE
No que está pensando, Salmon?
SALMON
Nessa situação toda do nosso povo... Precisamos tentar reconstruir Israel, Raabe.
RAABE
(se aproximando) Você e sua vontade de ajudar a todos...
Raabe o abraça por trás e beija sua cabeça. Ele acaricia as mãos dela.
RAABE
Toda Israel é uma tarefa árdua demais. Se ajudarmos aqui em Belém, já teremos feito muito.
SALMON
Será que é isso que Josué diria?
RAABE
Infelizmente Josué já não vive há muito tempo. E você, Salmon, é um saudosista.
SALMON
Você não sente saudades daquele tempo, meu amor?
RAABE
Sinto sim, mas só da queda das muralhas pra cá. Que foi onde nossa história começou...
Eles sorriem e ele a puxa ao seu lado. Se encaram com carinho e então se beijam. Depois se abraçam.
SALMON
Antes de fazermos nossos afazeres, vamos orar?
RAABE
Vamos sim.

CENA 6: INT. TEMPLO – CORREDOR – MANHÃ

Myra caminha pelo corredor. O Sumo Sacerdote Faruk vem de encontro a ela.
MYRA
Sumo Sacerdote?
FARUK
Myra... Como vai?
MYRA
Muito bem, obrigada, senhor.
FARUK
Pois eu te achei um pouco distante, aérea...
MYRA
Ah, são só meus devaneios...
FARUK
A essa hora do dia?
Myra sorri.
MYRA
Bom, eu vinha pensando em Rute...
FARUK
Rute? Por quê?...
MYRA
Hoje mais cedo, eu a encontrei no corredor com a Aylla, aquela candidata à oferenda que vem se destacando na seleção.
Faruk parece interessado e se aproxima mais.
FARUK
Aylla? Rute estava com Aylla?
MYRA
Sim--
FARUK
(interrompendo) Por que motivo?
MYRA
Quando a questionei ela disse que levantou para beber água e encontrou a menina andando dormindo pelo corredor.
FARUK
Andando dormindo... Tem certeza? Era isso mesmo?
MYRA
Sim, senhor... Foi o que as duas me contaram.
FARUK
Myra, você tem absoluta certeza de que essa justificativa é verdadeira?
MYRA
Me pareceu convincente, senhor. Além de as duas terem confirmado...
FARUK
(pensativo) Hum...
MYRA
Me desculpe perguntar, mas por que o senhor se preocupa tanto?
FARUK
Ahn, é que... é que não é bom que a sacerdotisa esteja muito próxima... da menina. Só isso. Já vou indo, Myra.
Faruk sai rápido.
MYRA
Passar bem...
Com uma leve estranheza, Myra o observa se afastar.

CENA 7: EXT. MATA – MANHÃ

Parada no meio de uma mata e próxima a um paredão de pedra, está a carroça da família de Noemi. O cavalo mastiga tranquilamente. Sons distantes de homens falando ou gritando...
No alto do paredão, acima das copas das árvores, é possível ver uma entrada na rocha, um pequeno vão com uma caverna à direita. Ali, espremidos e se segurando para não caírem ou fazerem barulho, estão Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom.
Muita tensão... Cada um se segura como pode na rocha. Elimeleque preocupadíssimo, Noemi aflita e chorosa e Malom e Quiliom com os cenhos franzidos de preocupação e raiva.
ELIMELEQUE
(sussurrando) Vejam...
Sem se mexer, todos levam os olhos para onde Elimeleque vê: dois dos saqueadores sobreviventes correm para longe dali. Certamente a Caravana está em algum ponto da mata ali embaixo.
Pouco tempo depois, as vozes e os barulhos denunciam que os homens da Caravana estão vasculhando a mata de um lado para o outro. Por vários momentos passam próximos ao paredão, mas não veem a carroça.
Mais um tempo depois, as vozes parecem distanciar e sumir...
Os quatro continuam espremidos na rocha, exaustos de se segurarem e aflitos com a situação... IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Orfa diz a Rute que Aylla está se afeiçoando muito a ela e Neb fala demais na rua.

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