Débora
CAPÍTULO 18
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: EXT.
CASA DE SANGAR – FRENTE – NOITE
Débora e Éder se encaram na rua
vazia. Ambos com os olhos marejados; ela de frustração, ele de raiva.
ÉDER
Entendeu
bem, Débora? Nunca mais me envergonhe na frente das pessoas! Contenha seus
impulsos emocionais ou teremos graves problemas em nosso casamento.
Débora se esforça para falar o que
precisa falar.
DÉBORA
(a
contragosto) Eu não farei mais aquilo...
De repente a porta da casa se abre
e Tamar aparece.
TAMAR
Está tudo
bem?!
Débora olha para a mãe e de volta
para o noivo.
ÉDER
Volte para
dentro.
Débora funga e limpa o rosto.
DÉBORA
Está tudo
bem, mãe.
E
sai rapidamente. Tamar observa a filha passando por ela seguida por Éder, que
seca o rosto.
CENA 2:
INT. CASA DE TAMAR – SALA – NOITE
Mais tarde, Débora, Éder, Elian e
Tamar chegam em casa. Revoltado, Elian fecha a porta e já descarrega para cima
da filha.
ELIAN
Você não
deveria ter feito aquilo! Meu Deus, que vergonha! Que vergonha eu, como pai,
passei essa noite! Foi a pior da minha vida inteira! Não consigo nem
lembrar disso sem sentir um embrulho gélido nas entranhas! A vergonha que você
fez todos nós passar! Que absurdo! Onde você estava com a cabeça,
Débora?!
TAMAR
Você não
está exagerando, Elian?
ELIAN
Pergunte ao
seu futuro genro se estou exagerando, Tamar!
Todos ali ficam quietos por alguns
segundos.
Por fim, Débora finalmente se
ajeita para falar.
DÉBORA
Apesar de
eu não concordar com uma palavra sequer que o senhor e Éder dizem, não farei
mais isso. Já disse.
ELIAN
Você não
tem o direito de não concordar, você tem só que aceitar! Esqueceu que é
mulher?! Você é filha, noiva! Por enquanto sou eu, mas em breve será Éder quem
estará à sua frente!
Débora encara o pai com uma leve
mas visível raiva no olhar. Percebendo, ele se aproxima devagar.
ELIAN
(provocando-a) Fale...
Fale, Débora. Transforme em palavras o que esse seu olhar quer me dizer.
Coloque para fora, vamos...
Débora, no entanto, nada fala,
porém seus olhos estão mais vermelhos e marejados do que nunca. Elian para bem
perto da filha.
ELIAN
Quando não
convém, você é uma intrometida. Mas quando quero que fale, nada diz.
DÉBORA
(segurando
o choro) Eu sei... que está apenas me provocando... Não vou cair nessa
cilada.
Elian se aproxima ainda mais da
garota.
ELIAN
Se você não
quer falar, nós falamos. E preste bem atenção porque isso será um ensinamento.
Não deve jamais se esquecer. Éder, diga quais são as qualidades que uma mulher
deve ter para se casar!
Éder se aproxima olhando fixamente
em Débora, que ainda encara o pai.
ÉDER
Obediente.
Reservada. Quieta.
Éder para ao lado de Elian, que
então aponta o dedo para o rosto da filha.
ELIAN
Obediente.
Reservada. Quieta. Quieta! Falar apenas quando convidada! Essas são
as qualidades de uma mulher de verdade. De uma esposa de qualidade. São as qualidades
que eu e Éder queremos em você daqui até o resto de seus dias.
Débora, ainda com os olhos fixos
nos do pai, se esforça muito para não explodir em raiva e frustração.
ELIAN
Entendido?!
Alguns segundos...
DÉBORA
Sim.
ELIAN
Pois bem.
Agora vamos comer.
Elian imediatamente sai dali e vai
para a mesa.
DÉBORA
(ríspida) Perdi a
fome.
Na mesma hora ela passa por Éder,
pelos pais e vai para a escada.
ELIAN
Volte aqui.
Débora para em um dos degraus e
olha para Elian.
DÉBORA
Querem
mesmo minha presença com essa cara o tempo todo? Pois ela não vai mudar, é
assim que vou ficar.
Silêncio absoluto...
Entendendo, Débora faz que sim e
volta a subir; some lá em cima.
Elian, um tanto constrangido, olha
para Éder.
ELIAN
Queira me
desculpar por todo esse infortúnio, Éder. Quando se casarem, você terá toda a
liberdade para corrigi-la como bem entender.
ÉDER
Farei isso
sim, senhor Elian.
Tamar toma a direção da escada.
ELIAN
Tamar, não
vá atrás dessa menina. Chega de adular e passar a mão na cabeça dela.
Tamar para e olha para o marido.
TAMAR
Eu vou sim.
ELIAN
Eu estou
mandando você ficar!
Tamar, encarando o marido, parece
tomar um pouco mais de coragem.
TAMAR
Elian, você
acha mesmo que tem moral para falar dessa forma comigo? Acha que tem moral até
pra falar essas coisas com a Débora, visto tudo o que você já fez?!
Pego de surpresa, Elian fica
constrangido.
TAMAR
Você quer
que eu o relembre do que fez, Elian?
Sem jeito, Elian olha para Éder,
que não entende nada, e de volta para Tamar.
ELIAN
Vá. Vá
logo.
Tamar, satisfeita, vira e sobe a
escada.
Elian
respira fundo.
CENA 3:
INT. CASA DE TAMAR – QUARTO DE DÉBORA – NOITE
Débora, jogada de qualquer jeito em
sua cama, está chorando quando a porta abre devagar e Tamar entra.
DÉBORA
Não é uma
boa hora, mãe...
TAMAR
É a exata
hora de eu estar aqui, com minha filha.
Tamar fecha a porta e vai até a
cama onde arruma as pernas da filha e senta ao seu lado. Então limpa as
lágrimas do rosto da garota.
DÉBORA
(chorando) Eu me
esforço pra gostar do pai... e até para agradá-lo... (funga) Mas ele se
esforça muito mais para impedir que isso aconteça!... Não sei o que acontece,
ele nem parece o mesmo que me apoiou quando tentei convencer o povo a lutar
anos atrás...
Tamar suspira.
TAMAR
A verdade é
que Elian mudou depois que se acomodou em nossa família. E agora está
preocupado com sua própria imagem como chefe de casa, como pai... (acariciando
Débora) Mas você precisa entender nossas funções no mundo, minha filha.
Somos mulheres, temos sentimentos, desejos, queremos escolher, queremos ser
felizes, viver, mas... não podemos, não dessa forma. Porque não é assim
que as coisas funcionam. Eles são os homens da casa, são eles quem têm a
liberdade total.
DÉBORA
A senhora
pensava assim quando o expulsou de casa?
Tamar parece recordar o momento em
sua mente...
TAMAR
Para ser
sincera, Débora, muitas vezes eu me envergonho do que fiz.
Débora olha para ela com surpresa e
indignação.
TAMAR
Não que o
que o seu pai fez não foi algo horrível, desprezível... Mas o que eu fiz foi
uma afronta muito grande à autoridade de marido. Talvez... (suspira) Não
sei, talvez eu devesse ter chamado os anciães para resolverem nosso caso.
DÉBORA
Eu sinto é
orgulho pelo que a senhora fez.
TAMAR
Foi uma
forte emoção que me motivou na época. O sentimento de defesa, proteção...
Apesar do choro, Débora sorri.
DÉBORA
Mas então
eu devo apenas aceitar que o meu destino... é viver o resto da minha vida com
Éder.
TAMAR
Débora,
apesar de tudo... eu sou feliz com Elian. Poderia ser melhor, poderia ser muito
melhor. Mas eu tenho tudo de que preciso. A vida é um eterno aprendizado, e não
demora muito para descobrirmos que o que sonhamos e idealizamos na juventude
não passa de uma ilusão, ou um plano muito exagerado e enfeitado.
Débora fica abatida.
TAMAR
E eu
preciso pedir cuidado para você agora que Lapidote voltou. Você está noiva, tem
um compromisso. Seria um desrespeito não só a Éder, mas a Deus.
DÉBORA
Eu jamais
trairia Éder. E muito menos o meu Deus. Mas... não posso deixar de pensar que
seria muito bom se fosse me casar com Lapidote, e não com Éder. Se eu pudesse
escolher assim como os homens podem... terminaria tudo com Éder e só então me
aproximaria de Lapidote.
Tamar lamenta com o olhar e respira
bem fundo.
TAMAR
Oh, minha
filha... Sempre esse Lapidote. Quando vai tirá-lo da cabeça?
DÉBORA
Vou tentar
fazer isso o mais depressa possível...
Tamar faz que sim.
DÉBORA
Lapidote é
tão diferente... Ele me elogia, mãe. E eu não estou acostumada com elogios
quando faço as coisas que faço. Em tudo ele fica admirado... Lembro que era
exatamente assim 6 anos atrás. Desde jovenzinho...
TAMAR
Orarei para
esse encanto todo desaparecer. Débora é de Éder e Lapidote de outra.
DÉBORA
Orar, tudo
bem. Mas dizer o que disse agora não ajuda em nada, mãe.
TAMAR
Mas é a
realidade. E temos que ser maduros o suficiente para enfrenta-la.
Débora
respira fundo.
CENA 4:
INT. CASA DE TAMAR – SALA – NOITE
Elian e Éder conversam sentados à
mesa.
ELIAN
Já está
tudo acertado com os músicos?
ÉDER
Sim. Já
paguei o adiantamento.
ELIAN
Ótimo.
Então não falta muita coisa.
ÉDER
Senhor...
Eu... tenho algo a lhe falar.
ELIAN
Pois fale.
ÉDER
Hoje na rua
eu vi Débora com um tal de Lapidote, que ela confessou ter sido seu namorado há
alguns anos.
Imediatamente o rosto de Elian se
empalidece e sua boca abre um pouco involuntariamente.
ELIAN
Como é?...
ÉDER
Débora...
Ela estava com um tal de Lapidote... Eu os flagrei andando juntos e conversando
na rua hoje mais cedo...
ELIAN
Éder, você
tem certeza do que está dizendo?! Era realmente Lapidote o nome desse rapaz?!
ÉDER
(confuso) Sim...
Tenho certeza. Débora mesma disse seu nome. Há algum problema, senhor?
ELIAN
Não!...
Não, não, não há problema. Eu só pensei... ser outra pessoa.
Enquanto
Éder, desconfiado, bebe seu vinho, Elian encara o nada visivelmente preocupado.
CENA 5:
EXT. DESERTO – DIA
A noite passa e o dia amanhece.
Na aridez do deserto, os primeiros
carros de ferro da frota avançam sem muita pressa pelo chão seco. Em cada um
vão dois soldados hazoritas, sendo um para guiar o cavalo. No carro da frente
estão Sísera, com o olhar concentrado no horizonte, e seu Primeiro Oficial segurando
as rédeas do cavalo.
Após os intermináveis 900 carros e
cavalos, o restante do gigantesco exército marcha firmemente.
A manhã avança e o sol ascende cada
vez mais na abóboda celeste...
Finalmente os carros da linha de
frente chegam em uma região onde se consegue ver toda a planície à frente e,
mediante um sinal de Sísera, param antes de o terreno fazer um descida até lá.
Sísera nota algo do outro lado da planície, assim como os soldados ali da
frente também notam: um exército inteiro parado.
SÍSERA
Quem são
eles?...
PRIMEIRO
OFICIAL
Os
amonitas... Provavelmente fomos descobertos, senhor. Mensageiros devem ter
alertado o rei de Amom sobre nosso avanço. Ao que parece não será uma invasão,
mas uma batalha.
SÍSERA
Que seja.
Com esses carros de ferro os esmagaremos antes que espada encontre espada.
Chame a atenção de todos.
Então o Primeiro Oficial pega uma
trombeta e toca um som característico, ao que todos os soldados olham para
Sísera.
SÍSERA
Homens de
Hazor! Para os que não perceberam, o exército amonita está à nossa frente!
Esses selvagens ousaram saírem de suas tocas, se colocarem em nosso caminho e
nos desafiarem! Mas agora nós temos em nossas mãos a melhor arma que um
exército poderia ter, e muitos de vocês estão sobre ela! Eu sei que não tiveram
tempo suficiente de treinarem, apenas de ouvirem instrução, mas não será muito
diferente de uma carruagem comum. A diferença é que a comum serve apenas de
transporte, enquanto essa... essa é a nossa arma. Vamos provocar um verdadeiro
terror em nossos inimigos! Além do barulho das rodas de ferro, o segundo soldado
de cada carro deve bater incessantemente sua espada na lateral! Quando
finalmente os alcançarmos, estarão paralisados de medo, assombro, à beira da
loucura! Serão um alvo fácil. E, se sobrar algo, o restante do exército destrói
com facilidade.
Todos os soldados então gritam animando
uns aos outros e alguns já batem suas espadas na lateral dos carros de ferro.
Sísera,
confiante, vira para frente e encara o distante e estático exército amonita.
CENA 6: EXT.
BETEL – RUA PRINCIPAL – DIA
Perto do portão da cidade, Baraque
conversa com Débora e Jaziel.
BARAQUE
Jaziel,
Débora... Eu os agradeço muito por terem me ajudado. Mas agora está na hora de
eu voltar para casa.
JAZIEL
Você
desistiu do tal tesouro?
BARAQUE
Não,
jamais. Mas vou procurar estudar melhor o pergaminho e também a história de
minha família... Acho que vai ajudar.
DÉBORA
Baraque,
será que eu posso lhe dar um conselho?
BARAQUE
Claro,
Débora.
DÉBORA
Durante
essa sua busca seja mais discreto. Não fale tanto sobre esse tesouro, e de
forma tão aberta... Infelizmente as pessoas podem ter algo contrário no oculto
de seus corações. Nem sempre um sorriso é evidência de coisa boa, pode ser um
mero disfarce. Enfim, que você faça uma boa viagem e tenha cuidado. E mande
saudações do povo de Betel ao povo de Quedes.
BARAQUE
Pode
deixar, eles serão saudados. Mais uma vez agradeço, Débora. Vou guardar no
coração o seu conselho.
Baraque então monta em um cavalo
ali ao lado, onde já estão suas coisas presas.
BARAQUE
Shalom!
DÉBORA,
JAZIEL
Shalom!
Baraque cavalga para a saída,
atravessa o portão e some lá fora.
JAZIEL
É cada peça
que aparece nessa cidade...
SAMA
Oi... Shalom,
gente!
Os dois olham e sorriem para Sama,
que chegou ali.
DÉBORA
Shalom, minha
prima!
JAZIEL
Meu amor...
Jaziel pega as mãos da namorada.
SAMA
Ahn, sei
que vocês treinaram durante a manhã toda, e devem estar famintos, mas... será
que antes eu posso falar com você, Jaziel?
JAZIEL
Sim,
claro...
DÉBORA
(sorrindo) Eu os
espero.
SAMA
Obrigada,
prima.
Sama e Jaziel se afastam um pouco e
se olham.
JAZIEL
E então,
meu amor? O que tem para falar?
Sama parece um tanto aflita.
SAMA
Jaziel,
eu... Sinceramente, eu nem sei como dizer isso... Não sei qual a melhor forma,
mas...
Jaziel franze a testa.
SAMA
Eu tenho
que dizer e só sei dizer dessa forma... Eu... Eu estou terminando o nosso
namoro.
Jaziel,
espantado, franze ainda mais a testa.
CENA 7:
EXT. DESERTO – DIA
Ao sinal de Sísera, todos os 900
carros de ferro e os soldados à pé correm descendo a ladeira e avançando pela
planície.
Centenas de metros à frente, os
soldados amonitas, tensos com a frota que se aproxima violentamente, aguardam o
sinal de seu Comandante. Finalmente esse aponta o braço para frente e os
amonitas, todos à pé, correm contra os hazoritas.
O barulho das centenas de cavalos,
das rodas de ferro e das espadas começa a aumentar colossalmente, e diversos
amonitas, com medo, simplesmente param de correr. Sísera e os seus gritam
apontando as espadas para frente. Logo os dois exércitos colidem, mas é um
banho de sangue generalizado. Os carros de ferro passam pelos soldados inimigos
como se esses não fossem nada, e não demora muito para a planície ficar banhada
em sangue e lotada de cadáveres despedaçados.
Pouco depois são poucos os amonitas
que restam, e todos horrorizados e em pânico com o que aconteceu. Imediatamente
o restante do exército hazorita se aproxima e, sem encontrar quase nenhuma
dificuldade, mata a todos ao fio da espada.
Apesar
de impressionado com o estrago que sua frota de carros de ferro foi capaz de
fazer, Sísera não perde tempo e aponta para frente; todo o exército avança.
CENA 8:
EXT. BETEL – RUA PRINCIPAL – DIA
Incrédulo, Jaziel encara Sama.
JAZIEL
Do que você
está falando, Sama?!
SAMA
(começando
a chorar) Exatamente do que eu disse...
JAZIEL
Eu... Não
estou entendendo! Isso é alguma brincadeira, meu amor?!
Apesar de chorosa, Sama fecha o
semblante.
SAMA
Não passei
a noite chorando e pensando em uma brincadeira.
JAZIEL
Eu estou em
choque, Sama! O que é isso?! Não vejo motivo algum para você fazer isso comigo,
me abandonar!
SAMA
Não mesmo,
Jaziel? Nada passa pela sua cabeça?
Jaziel parece se lembrar.
JAZIEL
Bom, você
falou... sobre os meus pais, mas eu já te disse, isso não é nada! Isso não nos
separará e não impedirá que nos casemos!
SAMA
Não,
Jaziel. Eu não suporto mais... Não suporto ser tão malvista assim por sua
família. Ser tão maltratada, humilhada. Nunca na minha vida as coisas foram desse
jeito. Cresci pobre, sim, mas rodeada de pessoas maravilhosas, amorosas,
carinhosas umas com as outras... E sentir esse tipo de tratamento foi a pior
coisa.
Os olhos de Jaziel começam a
marejar.
JAZIEL
Tudo isso
por causa da vez que te convidei para jantar em minha casa.
SAMA
Não. Ontem,
depois que você entrou, eu ouvi sua mãe. Ouvi tudo.
Jaziel então chora.
JAZIEL
Sama! Por
favor, não se importe com os meus pais!
SAMA
(chorando
mais) Jaziel, por mais que o ame... Por mais que eu o ame muito, eu
não sou o suficiente para você, e essa é que é a verdade. Você também não
merece ficar ouvindo aquelas coisas dos seus pais. Você merece uma moça boa, do
seu nível, que combine com você.
JAZIEL
Você é que
é boa para mim!!! É você quem eu amo!
SAMA
(limpando
as lágrimas) Por favor, Jaziel, não insista. Não torne isso tudo
ainda mais difícil do que é. Eu estou com meu coração despedaçado, mas não dá
mais! Antes, quando eu me deitava, pensava em nós, sonhava com um futuro.
Agora... é tudo escuro, é tudo medonho... Eu tenho medo desse futuro que se
aproximava de nós quando namorados.
JAZIEL
Não fale
assim, Sama! Se for preciso nós fugimos! Vamos embora de Betel para algum lugar
bem longe, Sama! Para outra tribo! Seremos só nós! Só nós dois!... Juntos,
juntos até o fim! Nós dois, Sama... Nós dois contra o mundo!
SAMA
Jaziel...
Entenda. Eu te amo. Eu te amo muito, mais do que qualquer uma que já te amou e
mais do que qualquer uma pode te amar. Mas eu pensei muito nisso e, se não
fizermos assim, se não nos separarmos de uma vez por todas... jamais seremos
felizes nessa vida.
JAZIEL
Por
favor!...
SAMA
Adeus... Eu
nunca me esquecerei de você. Nunca, jamais.
JAZIEL
Sama, meu
amor, não faça isso comigo... Vamos conversar...
SAMA
Já está
tudo esclarecido... Tudo explicado... Não há mais o que conversar, porque não
há mais como as coisas mudarem. (pequena pausa) Adeus.
Sama então passa por ele e vai
embora. A respiração de Jaziel aumenta, fica mais ofegante, e ele vira para
trás a tempo de vê-la sumir por entre o povo. Desesperado, ele cai de joelhos e
chora amargamente. Logo Débora chega ali correndo.
DÉBORA
Jaziel! O
que aconteceu?!
JAZIEL
Sama!...
Sama me deixou, Débora!...
E
desaba a chorar. Surpresa, Débora fica momentaneamente sem reação.
CENA 9:
EXT. CIDADE AMONITA – DIA
A cidade dos amonitas é pega de
surpresa. Gritos e correria em todas as ruas.
No lado de fora, os carros de ferro
param. Sísera desce de seu carro e corre na direção do portão da cidade.
SÍSERA
Vamos,
avante!!!
Os soldados hazoritas então correm
contra o portão fechado e, após insistência violenta, conseguem quebra-lo e
invadir a cidade.
Nas ruas a violência é desenfreada.
Os hazoritas matam a todos, soldados, velhos, mulheres... Tudo o que há pela
frente é destruído, depredado e incendiado.
Logo
Sísera chega ao palácio. Seus soldados matam os guardas e eles entram.
CENA 10:
INT. PALÁCIO AMONITA – DIA
Na sala do trono, o velho rei
amonita, ouvindo os barulhos e gritarias distantes, mas a cada momento mais
próximos, faz sinal para um jovem servo seu fechar todas as portas.
Quando assim o faz, o rei senta no
trono e o servo, amedrontado, se mantém ao lado, um pouco atrás.
REI AMONITA
(angustiado) Malditos
hazoritas... Como não prevemos?! Deveríamos ter sido mais firmes e incisivos!
Maldição! Jabim é um louco, onde já se viu adquirir carros de ferro?! Quase mil
carros de ferro! Que loucura é essa?! (respira aflito) Vamos, sirva-me
um pouco de vinho. Não aguento tanta tensão!
O rei espera, mas não ouve o servo
agir.
REI AMONITA
(virando
para o servo) Não ouviu o que eu disse?!
Mas ele paralisa ao ver que o
servo, ainda de pé, agoniza com uma flecha recém cravada em seu peito. Assustado,
o rei olha para frente e vê um soldado hazorita segurando um arco em posição. O
rei olha novamente para o servo, que cai morto. Um barulho e ele olha de novo
para frente: Sísera sai das sombras e se aproxima devagar. A espada na bainha.
SÍSERA
Quando o
seu servo fechou a sala, nós já estávamos aqui.
O rei, indefeso em seu trono, treme
com a presença dos inimigos.
SÍSERA
Isso o que
está sentindo... O medo... Não é muito comum a um rei, não é mesmo? Esse
sabor... amargo... mas que gruda, impregna na língua e nas narinas... E o
cheiro... O cheiro do pesadelo.
Sísera se aproxima mais da
escadinha que leva ao trono.
SÍSERA
Eu sou o
seu pesadelo, ó rei. O Capitão mais poderoso da Terra.
Sísera pisa no primeiro degrau e
começa a subir.
SÍSERA
(devagar) Sou o
homem que sobe à imponência das alturas dos montes onde se assentam os reis,
olha-os nos olhos... e os destrona.
Sísera então pega no braço do rei,
trêmulo de aflição, e o puxa com delicadeza. O velho se levanta e se afasta. Devagar,
Sísera se ajeita e senta no trono. Olha para frente apreciando a visão.
REI AMONITA
Quem é
você?! Sei que não era você o Capitão de Hazor!
Sísera olha para ele.
SÍSERA
Sou Sísera,
o novo Capitão de Hazor. Mas pode me chamar de o “destronador” de reis.
Horrorizado, o rei encara Sísera,
que o encara com um olhar absolutamente maligno... Até que Sísera se levanta,
arranca sua espada e a crava nas entranhas do rei.
REI AMONITA
Maldito...
Sísera arranca a espada e joga o
corpo, que rola na escadinha e para lá embaixo. Logo mais soldados hazoritas
entram no salão e observam o rei morto e Sísera ao lado do trono.
SÍSERA
Que todos
saibam que a partir de agora Amom é território de Hazor!
Os
soldados ali presentes bradam em comemoração, e Sísera sorri.
CENA 11:
EXT. CASA DE TAMAR – FRENTE – DIA
Tamar ajuda Elian em um conserto na
frente de casa.
ELIAN
Você se
lembra daquele rapaz que namorou Débora, o Lapidote? Filho do Misael?
TAMAR
(tentando
disfarçar) Sim... Claro.
ELIAN
Ele voltou.
Voltou para Betel.
TAMAR
Mesmo?
ELIAN
Você sabia?
Tamar engole em seco.
TAMAR
Sim. Débora
me contou.
ELIAN
Olhe,
Tamar, eu já me indispus demais com Débora. Que essa garota não venha arranjar
o menor dos problemas com esse rapaz. E que não venha a irritar Éder, porque
senão tomarei medidas drásticas.
Tamar
claramente não gosta do que ouve, mas fica quieta.
CENA 12:
INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Algum tempo do dia se passa.
Sujo, Sísera está de pé diante do
trono de Jabim, mas um sorriso cansado está estampado em seu rosto.
JABIM
Meus
parabéns, Capitão! Rá, mas que campanha maravilhosa, que feito!
SÍSERA
Muito
obrigado, meu rei. E os carros de ferro se mostraram uma maravilha sem igual.
Destruíram os amonitas como faca quente em manteiga. E em poucas horas os
boatos se espalharão por toda a terra de Canaã e o terror será geral. Todos
temerão o reino de Hazor e o grande rei Jabim, senhor de Canaã.
JABIM
Mas agora é
hora de festa! Que todo o povo comemore por muitos dias a nossa vitória sobre
Amom!
Os nobres ali perto comemoram e
conversam animados entre si.
JABIM
Quanto a
você, Sísera, tenha seu descanso merecido e comemore junto aos outros. Mas por
menos tempo. Quero que aproveite e se prepare para atacarmos Israel.
Sísera sorri e faz uma pequena
reverência.
SÍSERA
Como
ordena, meu grande rei.
Jabim sorri. No misterioso sorriso
de Sísera, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Definhando, Sangar passa um importante último
recado para Débora. Najara descobre a verdade sobre as saídas de Jeboão. E o
namoro de Débora e Éder encontra seu destino.
Obrigado pelo seu comentário!