Débora
CAPÍTULO 26
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
FADE
IN:
CENA 1: INT.
PALÁCIO – CASA - COZINHA – DIA
Bastante discretos, Eloá e Danilo,
da porta da cozinha, espiam o progresso das 5 candidatas à serva. Darda, apesar
de ágil, está bastante atenta ao andamento de suas concorrentes.
Ao perceber que uma veio para o seu
lado, propositalmente ela vira e tem um encontrão com a moça, fazendo o trigo
dessa cair no chão. A moça se assusta e Darda finge.
CANDIDATA 1
O que você
fez?!
DARDA
Me
desculpe, eu não a vi...
CANDIDATA 1
E agora?! O
meu trigo! O que eu vou fazer?!
Mas Darda não perde tempo: vira e
continua trabalhando enquanto a moça encara desolada o trigo derramado. Eloá e
Danilo trocam olhares de desconfiança.
Darda vai então para o balcão do
outro lado da cozinha, onde está a comida de outra candidata, ficando de costa
para o casal na entrada. Esse, ainda mais desconfiado, tenta ver o que ela está
fazendo, mas nenhum dos dois conseguem. Se conseguissem, veriam Darda tirando
um frasco minúsculo do bolso e despejando o líquido na refeição de sua
concorrente. Rapidamente ela guarda e volta para seu próprio preparo.
Eloá
e Danilo se entreolham sabendo que ali tem coisa.
CENA 2:
INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Débora está conversando com Elian e
Tamar.
ELIAN
Viajar?!
Para lutar?!
Tamar, se desesperando, se aproxima
de Débora e a abraça.
TAMAR
Não diga
uma coisa dessa, minha filha!
DÉBORA
Minha
mãe... Os sonhos... A voz... Minha habilidade com espada... Nada disso pode ser
em vão.
Elian ri.
ELIAN
Não importa
a idade, Débora sempre vai me impressionar negativamente. Onde já se viu uma
mulher segurando uma espada?! Nem nas proibidas lendas babilônicas isso existe.
DÉBORA
Existirá na
vida real, meu pai. Aqui, em Israel.
Elian ri novamente.
ELIAN
Escute, o
seu marido por acaso bateu na sua cabeça?
Um fio de raiva passa pelo
semblante de Débora.
DÉBORA
O senhor
deve estar se enganando... Não sou casada com Éder.
Elian encara a filha. Sentindo que
passou do ponto, Débora fecha os olhos e respira fundo. Tamar olha feio para o
marido e passa o braço pela nuca de Débora, segurando o outro ombro.
DÉBORA
Pai, o
senhor não sabe que eu treino à espada?
ELIAN
Sim. Já sei
há muito tempo. Sei inclusive que fazia isso na mocidade, quando ainda estava
debaixo do meu teto. Sei de como ocultamente passava por cima de minhas ordens.
DÉBORA
Pois então
essa peraltice de moça terá grande serventia, meu pai. Trará bem para todos!
Elian ri...
ELIAN
Você
realmente acha, em sã consciência, que tem alguma chance de sucesso
nessa loucura que quer fazer? Acha que os seus treinozinhos criminosos com
Jaziel são suficientes para enfrentar soldados que respiram violência desde
criança?! Homens que conhecem não só o cheiro, mas até o sabor de sangue?!
Débora apenas ouve o pai.
ELIAN
De todas as
bizarrices que você já nos trouxe, Débora, essa é a maior delas. Tenho certeza
de que partirá de Betel e nunca mais pisará aqui.
TAMAR
(chorosa) Pare,
Elian!
ELIAN
Estou
falando apenas a verdade, Tamar! E é bom que você se prepare, está entendendo?!
Não sou eu o errado, mas ela! Uma mulher egoísta! Acha que Débora está
preocupada se a mãe e o marido terão que chorar amargamente e sepultá-la?! Ela
quer apenas amaciar o próprio ego! É a mesma menininha de sempre! Desesperada
por atenção! Ávida por mostrar para o mundo o que não é, nunca foi e jamais
será!
Chorando, Tamar abraça a filha, que
apenas encara o pai.
DÉBORA
Não se
preocupe, mãe... O pai se esquece de que existe um Deus com promessa de
liberdade para todos nós.
ELIAN
Sim, sim,
Deus tem sim uma promessa de liberdade para nós. Mas essa liberdade não virá
pela mão de uma mulher. Muito menos pela mão de uma como você: arrogante,
prepotente... e louca!
Com os olhos extremamente
marejados, Débora é firme ao continuar olhando para Elian.
DÉBORA
Então... dê
um abraço em sua filha, meu pai. Já que é a última vez que a verá...
Elian, pego de surpreso, fica sem
jeito. Constrangido, morde os lábios e olha para baixo...
ELIAN
Não... Não,
não farei isso. Se o fizer, significará que estarei compactuando com sua
loucura.
Imediatamente ele passa por elas,
abre a porta e sai.
Tamar
desaba a chorar nos braços de Débora, cujas lágrimas finalmente transbordam e
riscam seu rosto.
CENA 3:
INT. FORTALEZA – ALOJAMENTO – DIA
É um cômodo grande, porém
pobríssimo em decoração. As paredes lisas, frias e vazias contrastam o chão
forrado de pedaços retangulares de tecidos, sobre os quais há uma hebreia
deitada em cada um.
Próxima à parede, Sama conversa
melancolicamente com a mulher ao seu lado.
MULHER
(chorosa) Não sei...
porque Deus... permitiu isso conosco...
SAMA
Você ainda
acredita em Deus?
A mulher olha para ela.
MULHER
Você não?
Sama respira fundo.
SAMA
Sim... Sim,
eu acredito. Mas não vejo muitos hebreus iguais a mim por aí. A maioria se
converteu aos deuses dos hazoritas há muito tempo e adoram apenas a eles.
MULHER
Parece. Apenas
parece. As coisas já vinham mudando, Sama. Não ouviu dizer que lá mais para o
sul, nas bandas de Efraim, aumentaram os burburinhos sobre o Deus único de
Israel?
Sama franze a testa.
SAMA
Mesmo?
MULHER
Sim. Muito
me alegrei quando soube... Se os boatos forem verdadeiros, o povo está se
voltando para o Senhor. E, pelas histórias que meu avô me contava, esse é o prenúncio
para a libertação.
Sama ouve atenta.
MULHER
Eu só não
entendo porque então, com o povo se voltando para Deus, Ele permitiu que isso
nos acontecesse.
SAMA
Eu sei
exatamente porque isso tudo aconteceu em minha vida.
MULHER
O que quer
dizer com isso?...
Sama respira fundo.
SAMA
Há muitos
anos eu fiz todas as escolhas erradas. E desde então venho pagando caro por
isso.
MULHER
Não
entendo...
SAMA
20 anos
atrás... Eu abandonei o grande amor da minha vida. Seu nome era Jaziel. Ainda
é... eu acho.
MULHER
Por que fez
isso?
SAMA
Porque eu
era fraca... covarde... e egoísta. A família dele não aprovava a nossa união
pela razão de minha família ser pobre. Ao invés de lutar contra tudo ao lado
dele, como ele bem queria, escolhi esperar por um moço cuja família me
receberia de braços abertos... E assim foi. Conheci Iru e... não poderia ser
melhor recebida. Seus pais pareciam ser meus pais. Pensei que finalmente havia
encontrado o meu príncipe... O homem com quem dividiria minha vida inteira.
Ledo engano...
A mulher escuta com atenção.
SAMA
Depois que
nos casamos não demorou muito para surgirem os primeiros sinais da verdadeira
natureza de Iru. Paciência curta, tom de voz mais elevado, um objeto atirado ao
chão... E logo veio o primeiro tapa. O primeiro empurrão. O primeiro soco...
Quanto mais eu demorava a gerar, mais constantes eram todas essas coisas. E o
pior: não havia uma vez sequer em que, depois da agressão, ele não voltava se
dizendo arrependido, se colocando como vítima, como injustiçado...
A mulher está impressionada com a
história de Sama.
SAMA
Há muito
tempo eu quero apenas proteger minha filha.
MULHER
Você ainda
foi arranjar filha com esse homem?!
SAMA
E o que eu
podia fazer?! Ele chegava bêbado e me queria... Não havia como impedir.
MULHER
E onde ela
está? Sua filha...
SAMA
Está com
ele... Com Iru. Espero muito que ele venha me visitar para eu vê-la... Mas não
me surpreenderia se nunca mais pudesse fazer isso. Eu nasci pra sofrer... Para
errar e pagar pelos erros. Estar aqui, nesse lugar... é só mais uma de minhas
consequências.
Quieta,
a mulher lamenta com o olhar...
CENA 4:
INT. CASA DO AMOR – DIA
Sísera chega ao estabelecimento
quase vazio e vai direto para o balcão. Atrás está Hanna.
HANNA
Não está
cedo para o Capitão?
SÍSERA
Apenas me sirva.
HANNA
Servirei
duplamente!
Hanna enche dois copos de vinho.
SÍSERA
E por quê?
Ela entrega os copos para Sísera.
HANNA
Enquanto
você me enrolou, um homem rico veio até aqui e me deu o dinheiro de que eu tanto
precisava.
SÍSERA
(bebendo) De bom
grado?
HANNA
E o que
nesse mundo é feito de bom grado?!... O preço foi fazer tudo o que ele queria,
e mais um pouco. A noite toda. Sem descanso algum, nem para tomar água ou
vinho. Amanheci morta... Mas valeu o esforço.
SÍSERA
Eu acho é
bom por não ter que desembolsar meu ouro.
HANNA
Você é
ruim, mesmo.
Sísera ri e bebe.
HANNA
Apesar de
ter quitado minha dívida, não sei se continuarei com a Casa.
Sísera franze a testa.
SÍSERA
Mas era o
seu sonho...
HANNA
Que já foi
alcançado e realizado. Agora eu tenho um novo sonho.
SÍSERA
E qual
seria?
Sísera vira o restante do vinho e
Hanna se inclina para ele.
HANNA
Já ouviu
falar das feiticeiras?
Sísera
franze a testa...
CENA 5:
INT. PALÁCIO – CASA – SALA – DIA
Najara está sentada à mesa. Atrás
dela, em pé, estão Eloá e Danilo. E à frente, do outro lado da mesa e também de
pé, Darda e as outras 4 moças. Na mesa, os 5 diferentes pratos.
NAJARA
Muito bem.
Najara então começa a provar um
pouco de cada prato... Saboreia-os por um bom tempo. Enquanto isso, Darda
mantém o olhar fixo para ela.
Por fim Najara limpa a boca e as
mãos e olha para as moças.
NAJARA
Já tenho
minha decisão. Já sei quem será eliminada.
As moças aguardam ansiosas.
NAJARA
(apontando) Será você.
É a candidata 1, cujo trigo foi
derramado no encontrão com Darda. Ao ouvir a decisão, essa pisca aliviada, mas
a candidata eliminada se aflige.
NAJARA
(pegando a
comida) Veja, olhe que bolo esquisito... Está todo estranho esse
negócio. Claramente falta trigo na massa. Eloá, Danilo!
Eles tremem e se aproximam.
NAJARA
Vamos,
provem isso. Digam-me se não está uma porcaria.
Eloá e Danilo comem e, antes mesmo
de saborearem, já confirmam com a cabeça.
DANILO
Tem razão,
senhora.
ELOÁ
Horrível.
NAJARA
Não estou
dizendo?
CANDIDATA 1
Senhora...
Sinto muito, mas... Ela... Darda... Ela esbarrou em mim, fez com que o meu
trigo caísse todo no chão e se perdesse!... E eu jamais colocaria algo sujo na
refeição de uma mulher como a senhora. A culpa é de Darda...
Darda olha preocupada para Najara.
NAJARA
(para a
candidata) Por que então você não se desviou de Darda? Por que não prestou
mais atenção e foi cuidadosa com os seus ingredientes? Darda não teve nenhuma
das suas coisas jogada ao chão. Eu queria a melhor refeição. Não me interessa o
processo para chegar até ela. Você está eliminada e conversa encerrada. Serva!
Acompanhe essa moça. Pegue suas coisas e a leve para fora do palácio.
Acompanhada de uma serva, a moça
sai dali chorando. Najara então olha sorridente para Darda e as outras 3.
NAJARA
Meus para--
Najara é interrompida por uma forte
vontade de espirrar... E espirra!
NAJARA
Desculpem-me.
Como eu dizia, meus--
Mas a vontade volta e Najara
espirra novamente. Olha para as moças, mas espirra outra vez. E mais outra. E
mais uma vez... Ela tem uma forte crise de espirros.
ELOÁ
Senhora
Najara, está tudo bem?!
As moças a olham sem entender, mas
Darda parece saber o que está acontecendo.
Suspeitando, Najara pega cada um
dos pratos e os cheira... No penúltimo, ela parece sentir um embrulho no
estômago e espirra mais e mais!
Furiosa, olha para as moças.
NAJARA
De quem é
esse prato?!
Uma das candidatas, apreensiva,
levanta o dedo.
CANDIDATA 2
Meu,
senhora...
NAJARA
O que você
colocou aqui?! Hein?!
CANDIDATA 2
Eu... Nada
demais... Somente carne, vinho... Ervas...
NAJARA
Jamais, jamais
eu poderia ter uma serva assim! Tão desastrada e que usa ingredientes que
me causam alergia! (espirra)
CANDIDATA 2
Minha
senhora... Perdão... Usei apenas os ingredientes que a senhora disponibilizou--
NAJARA
(interrompendo) Não quero
saber! Você também está eliminada! Fora! Agora!!!
A moça corre dali desesperada. Eloá
e Danilo, porém, olham com suspeita para Darda, que mantém o olhar baixo.
Najara espirra e olha para as 3 restantes.
NAJARA
Vocês...
Podem descansar. Foram aprovadas nessa etapa. (massageando o nariz
avermelhado) Em breve as chamarei para falar da próxima tarefa.
As
3 fazem uma reverência com a cabeça. Najara espirra. Darda finge que nada
sabe... e sai com as outras. Eloá e Danilo se entreolham.
CENA 6:
INT. CASA DE DÉBORA – QUARTO – NOITE
O dia passa e a noite cai.
Lapidote ajuda Débora a arrumar o
que ela vai precisar levar para a viagem.
Por
um momento eles param... se olham... trocam um carinho... sorriem suavemente...
e continuam.
CENA 7: INT.
CASA DO AMOR – NOITE
No palco, Laís termina sua dança.
Então vira para trás para descer,
mas dá de cara com Gadi.
LAÍS
Que
susto!...
Gadi sorri.
LAÍS
Não o vi
aí. Por que não quis ficar na frente como sempre?
GADI
Porque é da
penumbra que se aprecia melhor as estrelas.
Laís gosta do elogio e seu sorriso
se abre. Por estar mais alta que ele, ela pula em seu colo e os dois se agarram
e se beijam ali mesmo.
Levando-a
pendurada em si, Gadi vai para a escada e eles sobem se beijando afoitamente.
CENA 8:
INT. CASA DE TAMAR – SALA – NOITE
Tamar e Elian jantam sentados à
mesa, mas ela está de cara fechada.
ELIAN
Por que
está assim, Tamar?
Ela olha para ele.
TAMAR
Ainda
pergunta. Isso é vergonha! É decepção! Pelo seu desprezo com Débora. Por sua
total falta de amor. Pela própria filha!
ELIAN
Você não
sabe o que diz, apoiando uma insanidade dessa. Sempre foi assim: apoia Débora
em tudo!
TAMAR
E você
sempre foi assim, Elian: nunca teve amor por Débora. Aliás, o que poderia
esperar de alguém que tentou sumir com ela quando era apenas uma bebê, não é
mesmo?
Elian fica desconfortável.
ELIAN
Pare de
remexer no passado.
TAMAR
Se não quer
saber do passado, por que então não abandona o velho homem, o velho Elian?
Elian fica quieto, mas Tamar parece
se arrepender do falou há pouco.
TAMAR
Me
desculpe... Porque, na verdade... eu acredito que, com o tempo, mesmo do seu
jeito torto... você aprendeu a sentir algo por sua filha. Não é possível que
não.
Elian a encara.
ELIAN
Enquanto
Débora for a criança imatura de sempre, que acha que pode agir como um homem,
eu não mexerei um único músculo para mudar. Débora é quem tem que se adequar ao
mundo, à realidade, e não eu me adequar às suas loucuras.
Tamar nada diz, mas expira
frustrada.
ELIAN
Seria muito
melhor se ela tivesse se casado com Éder. Lapidote é um fraco. Tenho certeza de
que Débora manda nele. Faz do marido o que bem quer. Se fosse Éder, Débora
seria uma boa esposa. Submissa, obediente... Não teria tempo para maquinar
sandices. E já teria me dado neto, também. Mulher sem ter o que fazer pensa
demais, se ilude demais, cria fantasias demais! Veja Isabel... uma esposa
exemplar! Débora deveria aprender com a prima.
Tamar parece tomar um pouco de
coragem.
TAMAR
Veja
Isabel... Uma mulher sofrida. Deveria aprender com a prima e enfrentar as
maldades do marido.
Elian se irrita.
ELIAN
Você tome
cuidado, Tamar. Se embarcar nas loucuras de Débora e tentar implementar essas
coisas aqui em casa, nós teremos graves problemas em nosso casamento, está
entendendo?! Graves problemas!
TAMAR
(um tanto
constrangida) Não... Não estou fazendo isso, Elian!
ELIAN
Pois ótimo!
Elian
bebe vinho e Tamar encara o nada...
CENA 9:
INT. CASA DE ADÉLIA – SALA – NOITE
Adélia traz seu prato para mesa e
se senta. Laila já está jantando.
ADÉLIA
E então,
irmãzinha? Pensou naquele assuntozinho que eu havia lhe comentado?
LAILA
O
assuntozinho que havia me comentado ou o assuntozinho que já me comentou umas
mil vezes?
Adélia sorri em tom jocoso.
LAILA
Pois
então... Eu pensei sim, Adélia, e... (sorrindo) Acho que pode mesmo ser
uma boa ideia.
ADÉLIA
Ai, que
legal!!!
Adélia faz um carinho no rosto da irmã
e quase derruba o vinho.
ADÉLIA
Desculpe...
LAILA
Rum.
ADÉLIA
Bom, mas
nós precisaremos de novidades na loja. Precisamos inaugurá-la com ares de
frescor! Para isso estou pensando em minha nova receita, o doce inspirado na
senhora Débora. Ela vem ajudando tantas pessoas...
LAILA
Adélia,
você tem é que pensar em uma receita que atraia os moços! Uma que eles comam e
não queiram mais sair daqui!
Adélia arregala os olhos.
ADÉLIA
Melhor: uma
receita que faça com que eles se apaixonem! Que se apaixonem por nós, Laila!
LAILA
Eu já ouvi
falar de algo assim... Mas não sei se realmente existe.
ADÉLIA
Existe. Só
tem que saber fazer.
LAILA
Mas e se
eles comerem e não olharem para nós? E se olharem para uma outra qualquer? Vão
se apaixonar por elas!
ADÉLIA
Então teremos
que dar jeito de sermos vistas.
LAILA
Acho que
posso conseguir isso.
ADÉLIA
Espero que
tenha razão.
LAILA
Então pense
nessa receita e tente agilizá-la.
ADÉLIA
Não se
preocupe, pode deixar comigo. Finalmente vamos casar, irmãzinha!
As
duas riem empolgadas.
CENA 10:
INT. CASA DE BARAQUE – SALA – NOITE
Na cidade de Quedes, Baraque
finalmente entra em sua casa. Ali na sala estão Sara, Renê e ABINOÃO (65 anos),
que se levantam na mesma hora.
BARAQUE
Shalom!
SARA
Graças a
Deus!
Sara corre e abraça o marido. Fica
ao seu lado. Renê e Abinoão se aproximam.
RENÊ
Shalom, meu
filho!
ABINOÃO
Shalom,
Baraque! Finalmente!
SARA
Estávamos
todos tão preocupados, meu amor...
RENÊ
O que é
isso, Baraque?
Ela aponta para um pano enrolado em
seu braço e manchado de sangue.
BARAQUE
Ahn, isso
aqui é porque fui atacado... Por 3 saqueadores.
SARA
Meu
Deus!...
RENÊ
Baraque...
BARAQUE
Eu os
enfrentei... Lutei, usei minhas habilidades e os derrotei.
ABINOÃO
Os três?!
Baraque faz que sim.
ABINOÃO
Baraque,
meu filho... Depois de tanto tempo, será que já não está na hora de esquecer
isso tudo?
Baraque faz que não.
BARAQUE
Não, meu
pai. Vou encontrar esse tesouro e mudarei de vida. Vou cuidar de Sara, dos
filhos que virão... (olhando os pais) e dos senhores, também. Provarei
ao senhor que eu estava certo, e que meu avô também estava.
Renê
encara o filho com preocupação. Abinoão e Sara, desaprovando, fazem que não...
CENA 11:
EXT. BETEL – RUAS – NOITE
A noite avança e a fria madrugada
chega.
Débora e Lapidote, quietos e
abraçados, estão na penumbra da rua, próximos à muralha, no ponto onde fica a
passagem secreta.
DÉBORA
Jaziel já
deve estar chegando...
Pouco tempo depois um som e eles
veem Jaziel, Tamar e Elian chegando ali. Ao ver as coisas que Jaziel carrega e
também a presença do pai, Débora franze a testa. Ela e Lapidote se soltam e
olham para os recém-chegados.
DÉBORA
Eu não
esperava que o senhor viria, meu pai.
ELIAN
Vim porque
sua mãe me arrastou.
Apesar da fraca luz, é visível que
Débora fica um tanto triste. Tamar respira fundo.
DÉBORA
Já que o
senhor acha que essa é a última vez que nos veremos, então que falemos todas as
verdades.
Lapidote não entende e estranha.
DÉBORA
Guardei
isso durante grande parte da minha vida em respeito ao convívio entre nós, e
também na esperança de um dia sermos como uma família normal. Mas parece que
chegou a hora de o senhor saber que eu sei.
LAPIDOTE
Débora--
DÉBORA
(interrompendo) Eu sei que
foi o senhor quem expulsou Lapidote e seu pai Misael quando eu tinha apenas 12
anos.
Elian, surpreso, se empalidece, e
Lapidote olha preocupado da esposa para o sogro.
Na contida revolta de Débora,
IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: O passado vem à tona diante de Débora, Lapidote
e Elian. Hanna conta a Sísera sobre seus planos na feitiçaria. E uma descoberta
pode ajudar Débora em sua missão.
Obrigado pelo seu comentário!