Débora
CAPÍTULO 40
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uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
escrita por
FELIPE LIMA BORGES
baseada nos capítulos 3 a 5 do livro
de Juízes
CENA 1: INT.
PALÁCIO – CASA – SALA - DIA
Elisa está preocupada, Eloá surpresa
e Danilo incisivo ao questionar Darda. Essa finge surpresa.
DARDA
Como assim eu
tentei envenenar a senhora Najara?! Que é isso que está dizendo, Danilo?!
DANILO
É exatamente
isso. Eu conheço os venenos, meu pai era curandeiro e muitos dos remédios têm fórmulas
parecidas com as de alguns venenos. Pequenas doses de certos ingredientes
separam a morte da cura. E você queria matar a senhora Najara, não queria?
Darda engole em seco.
ELOÁ
Por que
queria fazer isso?
ELISA
(aflita) Darda... É
verdade, minha amiga?...
Diante deles todos, Darda então se
revolta.
DARDA
Como são as
coisas, não é?! Aquela hebreia, Débora, chega aqui pra matar Najara,
Sísera, o rei Jabim, mandar todo mundo para a vala, e o que vocês fazem?!
Recebem-na, ajudam-na e se alegram! Mas comigo, diante de mera desconfiança, já
me julgam e me olham como se olhassem o pior dos criminosos! Qual é a diferença
entre a hebreia e eu?! Por acaso Débora é melhor, é superior a mim?!
ELOÁ
(baixo, mas
no imperativo) A missão de Débora era nobre. Seu povo foi
escravizado e violentamente oprimido.
Darda não responde nada. Dá uma
olhada para a porta e se aproxima deles fazendo sinais para que se aproximem;
assim o fazem.
DARDA
Nós somos
mesmo um grupo unido conforme vem parecendo nos últimos tempos?
Eloá, Danilo e Elisa demoram, mas
fazem que sim.
DARDA
Pois bem,
eu vou lhes contar a verdade.
Eles a encaram ansiosos.
DARDA
Eu tentei
mesmo envenenar a senhora Najara. Estou nesse palácio apenas por esse motivo.
ELOÁ
Mas por que
isso?!
DARDA
Porque
Najara e Sísera mataram os meus pais. E minha mãe, antes de dar o último suspiro,
me fez jurar vingança.
Eloá,
Danilo e Elisa escutam impressionados.
CENA 2:
EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Sísera, parado no alto da escada,
observa as diversas ruas da cidade lá embaixo. Um soldado vem subindo a escada.
Ele se aproxima, é Gadi.
GADI
(reverenciando) Capitão...
SÍSERA
Como vai, Gadi?
GADI
Tudo muito
bem, graças aos deuses.
SÍSERA
Foi bom termos
nos encontrado, Gadi, pois tenho um comunicado a lhe fazer: você acaba de se
tornar o Primeiro Oficial do exército.
Surpreso e impressionado, Gadi
arregala os olhos.
SÍSERA
Desde que perdemos
Bogotai eu sinto falta de um Primeiro Oficial. Além do mais, confio muito em
você.
GADI
Senhor... Não
tenho palavras para agradecer e expressar a honra que sinto.
SÍSERA
Passe essa
noite em minha sala, receberá as devidas instruções.
GADI
Obrigado, meu
senhor.
SÍSERA
Agora vou
me encontrar com o rei. Até mais tarde.
GADI
Até, senhor.
CENA 3:
EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Conversando, Débora e Elian se
aproximam da tenda sob a palmeira.
ELIAN
Débora...
Existe alguma chance de reunir os homens e atacar Hazor? Porque hoje, na minha
visão, isso já não é necessário. Há semanas os hazoritas não nos perturbam.
Aparentemente decidiram fugir depois de verem as coisas maravilhosas que foram
feitas por meio de você.
DÉBORA
Não se
engane, meu pai, pois essa é uma falsa paz. Deus me alertou de que há um plano
cheio de astúcia por trás desse recuo e silêncio.
ELIAN
Bom, sendo
assim, a situação é completamente diferente... Então não é caso justamente de
reunir os homens de toda a nação e irmos com tudo contra os hazoritas?
DÉBORA
Pode ser que
Jabim esteja esperando por isso. Ou até mesmo torcendo. Mas, de qualquer
forma, só agirei quando e se Deus me ordenar. Se o Senhor mandar reunir o povo
e subirmos até Hazor, então assim faremos.
ELIAN
Está certo.
Eles chegam na tenda.
DÉBORA
Sente-se
ali, pai. Agora pago dois servos, eles se revezam, cada um em um dia. A comida
e a bebida já estão preparadas. Tem água, leite, vinho, pães frescos, biscoitos,
frutas, mel... Coma e beba à vontade.
ELIAN
A tentação
é grande, mas eu agradeço... minha filha. Quero me concentrar... no seu
trabalho.
Débora sorri. Então vai até a mesa
e senta em sua cadeira. Faz sinal para alguém ali perto: uma mulher, que se
aproxima ansiosa. Débora se levanta, cumprimenta-a, recebe-a e elas se sentam.
DÉBORA
No que
posso ajuda-la, senhora?
CENA 4: INT.
SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Sozinho ali, Lapidote trabalha no
conserto de um sapato. É quando Éder, passando na rua, o vê e para. Sorrindo, vira
para a entrada e encara Lapidote.
ÉDER
Até hoje
tivemos muitas senhoras de Israel, mulheres dos grandes homens de Deus. Mas os
tempos estão mudados, as coisas estão invertidas... Hoje o que temos é um... senhor
de Israel.
Éder ri. Lapidote, tendo reconhecido
a voz, apenas para seu serviço.
ÉDER
Lapidote...
Sapateiro... Marido da juíza de Israel.
Éder ri novamente. Lapidote vira
para a rua, dá uma olhada em Éder, e volta a trabalhar.
ÉDER
(provocativamente)
Lapidote...
Lapidote ignora.
ÉDER
Lapidote?...
Lapidote finge não ouvir.
ÉDER
Lapidote...
Olhe para mim, Lapidote...
De repente Lapidote larga suas
coisas de uma vez, levanta-se e caminha até a entrada da loja, mas não sai
dela. Éder sorri e se aproxima mais. Ambos se encaram: Éder, ali fora; Lapidote,
no limite da loja.
ÉDER
Lapidote...
Como é a vida de vocês dois? Débora chega em casa no final do dia e o manda ir
preparar a comida? (risadinha) E aí depois você lava os utensílios
enquanto ela vai dormir?
Apesar da zombaria de Éder,
Lapidote apenas o encara.
ÉDER
Olha, é bom
você ir varrer a casa pra agradar a esposa, hein... Senão vai ter que levar uns
bons sopapos, ou até uma espada lambendo seu pescoço!...
Éder
ri bastante com o que fala, e é assim que vira e vai embora pela rua. Lapidote
apenas o observa se afastar...
CENA 5: INT.
PALÁCIO – CASA – COZINHA – DIA
Eloá e Danilo estão muito confusos
com tudo o que acabaram de ouvir.
ELISA
Jamais
imaginei que a senhora Najara fosse cruel a esse ponto...
DARDA
Ela é ainda
pior. E por isso merece morrer agonizando! Mas espero segredo de todos
vocês, todos! Pois somos um grupo. Uma família... A resistência dentro
dessa fortaleza de trevas.
Todos ficam quietos...
DARDA
Agora vou atrás
do meu dinheiro, pois esse veneno é uma porcaria.
Darda
vira e sai rapidamente. Após a porta se fechar, os 3 mal sabem o que dizer.
CENA 6:
INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sísera atravessa o salão na direção
do trono, mas já nota que o mesmo está vazio. Ao chegar aos pés da escadinha,
olha para os lados; ninguém.
SÍSERA
Rei Jabim?
Ninguém responde. Sísera então vai até
uma porta lateral no fundo, que dá para uma pequena câmara de pedra. Para na
porta ao ver, ali dentro, Jabim bebendo do conteúdo de um pequeno pote, o qual trata-se
de um amontoado de folhas amassadas envoltas em um líquido escuro. Ao beber
aquilo, Jabim parece sentir um grande prazer...
SÍSERA
Jamais
imaginei que o meu rei fazia uso de goculemas.
Jabim olha para ele.
JABIM
É... Há muito
tempo, já. Principalmente nos momentos tensos ou de ansiedade.
SÍSERA
O que o
aflige, soberano? Qual das duas coisas?
JABIM
A
ansiedade... Ou o tédio. Já nem sei o que sinto...
SÍSERA
Tédio? Essa
seria a última sensação que eu arriscaria dizer que o senhor sente.
JABIM
Culpa daquela
maldita. Débora! Semanas já se passaram e ela não deu sinal algum... Os
olheiros não veem nada, apenas desertos, campos, morros verdes!
SÍSERA
Partirei
agora mesmo em busca de pistas que podem ter passado despercebidas aos olhos
desses homens.
JABIM
Tudo bem.
Jabim bebe mais um pouco do conteúdo
do pote.
SÍSERA
Senhor, eu
promovi há pouco o soldado Gadi ao posto de Primeiro Oficial. Achei que o
senhor deveria saber.
JABIM
Promova
quem quiser, Capitão. Eu confio em você.
SÍSERA
Meu rei...
Precisa de algo mais?
JABIM
Não. Ou
sim... Se você conseguir algo diferente... dessas ervas aqui... Há anos faço
uso dessas mesmas. Uma mesmice... Previsível... Não estou satisfeito. Quem dera
se houvesse aqui em Hazor goculemas da outra espécie... Experimentei quando era
moço na ocasião em que visitei o acampamento dos queneus junto ao meu pai... Eles
são especialistas no cultivo da outra espécie de goculemas.
SÍSERA
Se o senhor
quiser posso ir até o acampamento dos queneus e tentar comprar uma boa
quantidade. Ou até mesmo pegar uma boa quantidade.
JABIM
Verei isso depois...
Há questões mais importantes no momento. Vá, vá à procura de pistas de
movimentação de Débora e seus homens.
SÍSERA
(reverenciando) Com sua
licença.
Sísera
sai. Jabim continua a beber da goculema.
CENA 7: INT.
CAVERNA – DIA
É uma caverna não muito grande em
largura, mas suas paredes de pedras são altíssimas... ou talvez profundas. A
verdade é que, lá embaixo, dois homens caminham por entre as pedras: Baraque e seu
pai Abinoão. Conseguem enxergar graças à luz do dia que passa pela comprida
fenda lá no alto.
ABINOÃO
Já estou me
arrependendo... Mas ainda assim prefiro fazer companhia ao cabeça-dura do meu
filho. Rum... Tesouro.
BARAQUE
O senhor
ainda se alegrará muito com esse tesouro, meu pai.
De repente, o pé de Abinoão
arrebenta uma fina linha esticada pouco acima do solo. Um som vem da lateral e
Abinoão olha no exato momento em que uma massa sai da fenda na parede e vem em
sua direção. Por muito pouco ele se abaixa. Ao invés de se levantar, vai para
trás e olha: o corpo que saiu da fenda é uma tora de madeira amarrada por duas
cordas em algum lugar inacessível aos olhos. Ela ainda balança de um lado para
o outro violentamente, mas perdendo a força aos poucos.
ABINOÃO
(apavorado) Armadilha!
Armadilha, Baraque!
BARAQUE
(felicíssimo) Armadilha!
Armadilha, meu pai!
Abinoão se levanta e encara o
filho.
ABINOÃO
Como pode
se alegrar com isso?!
BARAQUE
Pai, não
vê?! Se há armadilha é porque há tesouro! Estamos no lugar certo! Vamos! Vamos
continuar!
A contragosto, Abinoão continua acompanhando
Baraque. Caminham por um bom tempo, cuidadosos com os locais onde pisam, e
atentos a possíveis novas armadilhas.
ABINOÃO
Há tantas
coisas que você poderia fazer... Sabe, Baraque, dá pra se contar nos dedos de
uma única mão a quantidade de homens em Israel que possuem habilidades com espada.
E você é um deles.
BARAQUE
E o que tem
isso?
ABINOÃO
Há tanto pra
fazer com isso, Baraque! Mas não! Fica atrás de algo sem futuro!
BARAQUE
O futuro
brilha, meu pai!
Só então Abinoão perceba que Baraque
também está se referindo a algo lá na frente. Ele olha e, em meio a escuridão,
num lugar onde a caverna se estreita exageradamente, assemelhando-se a um
pequeno corredor, algo brilha em meio às trevas.
Eles correm até lá, adentram o
corredor de pedra e chegam no fundo, onde há uma parede com entalhes, porém a
poeira e a teia de aranha impedem a leitura das gravuras, e o que brilha são as
supostas letras.
Sem falar nada os dois passam as
mãos pela parede e retiram toda a sujeira. Afastam-se e leem.
A cada palavra lida, o semblante de
Baraque cai: de êxtase a total decepção...
ABINOÃO
Não consigo
ler tudo... O que diz aí?
BARAQUE
(raivoso)
AAAAHHHH!!!!
ABINOÃO
O que foi,
Baraque?!
BARAQUE
Isso!... não
passa de um... de uma sepultura!
Abinoão respira fundo.
BARAQUE
Estou
cansado! Estou cansado de andar em túneis que levam a nada, labirintos sem
saída, estou cansado de ser enganado! Até quando isso?! Eu, mais que ninguém,
mereço esse tesouro!
ABINOÃO
Baraque,
meu filho, mas o que é isso?! Você não pode deixar chegar a esse ponto! Ainda
nem tocou o ouro e já está sendo corrompido por ele!...
Frustrado, Baraque esfrega as mãos
na cabeça.
ABINOÃO
Baraque, me
responda uma coisa... Você por acaso sabe de quantos meses Sara está grávida?
BARAQUE
É claro, ela
é minha esposa. Segundo as estimativas dos curandeiros, está grávida de 2
meses.
ABINOÃO
Isso há 1
mês.
Baraque respira fundo.
ABINOÃO
Meu
filho... Não vê o que está fazendo? Não percebe que está desmoronando sua família?
Quantas vezes sua mãe e eu precisamos consolar Sara em prantos enquanto você
estava fora atrás desse bendito tesouro?!
Baraque fica encarando o nada...
ABINOÃO
Vamos.
Vamos voltar pra casa. Vamos, meu filho.
Baraque não se contrapõe, e volta
com o pai.
BARAQUE
Mas eu não
desisti. Não vou desistir.
Abinoão
expira, balança a cabeça em desaprovação... mas opta por voltarem em silêncio.
CENA 8:
INT. CASA DE BARAQUE – SALA – DIA
Renê vem de outro cômodo e encontra
Sara sentada à mesa e encarando uma fruta em suas mãos.
RENÊ
Pensando
nos dois, hum?
Sara olha para a sogra e faz que
sim. Renê, carinhosa, se aproxima e a abraça, consolando-a.
SARA
Senhora, eu
sinto muito por não conseguir mudar a cabeça do meu marido... E por ele ainda
duplicar nossa preocupação fazendo o senhor Abinoão acompanha-lo...
RENÊ
A culpa não
é sua, minha querida. Baraque é extremamente cabeça-dura. (respira fundo) Eu
só temo que meu filho só descubra que essa obsessão está errada quando já for
tarde demais...
Preocupada,
Sara passa a mão pela barriga, levemente saliente.
CENA 9:
EXT. HAROSETE – BECO – DIA
De volta à menor e mais escondida barraca
daquele escuro beco, Darda questiona a mulher que lhe vendeu o veneno.
VENDEDORA
Será que a
senhorita pode ser mais clara?
DARDA
Mais clara
do que isso?! O seu produto não presta! Simples assim!
VENDEDORA
Como não
presta? Isso mata até cavalos de guerra!
DARDA
Usei três, três
gotas, e não resolveu!
VENDEDORA
Você seguiu
todas as minhas instruções?
DARDA
É claro!
VENDEDORA
Você adicionou
à bebida e mexeu bem?
Darda então parece perceber seu
erro... Perde a postura agressiva e fica um tanto constrangida.
VENDEDORA
Não, certo?
E depois a culpa ainda é minha.
DARDA
Coloquei as
3 gotas no fundo da taça e adicionei o leite. Dei... uma mexida... e entreguei
à pessoa.
A vendedora ri... Darda fica de
cara feia.
VENDEDORA
E aí a
pessoa passou mal, não foi?
Darda hesita, mas acaba confirmando
com a cabeça.
VENDEDORA
Mas não morreu,
não é?
DARDA
Foi... Pois
outros a salvaram... com uma porção de ervas de--
VENDEDORA
(interrompendo) As ervas aceleraram
a recuperação, apenas isso, mas ela não morreria, mesmo sem erva alguma. Se o
veneno não for bem misturado à bebida, não funcionará. Faça assim, mexa
bem.
DARDA
Não farei
mais dessa forma. Não adianta insistir em algo que já não deu certo. Acharei
outro meio de concretizar meu objetivo.
Vira e sai. A vendedora, observando-a
se afastar, ri. Em Darda caminhando séria e decidida, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: A semana final de DÉBORA. As fortes e últimas
emoções!
Obrigado pelo seu comentário!