Capítulo
01 - Estréia
Uma novela de:
Felipe Vilim
Cena 01 – Recife
[Externa/Dia]
Música da Cena: Hoy
Me Voy – Juanes ft. Colbie Caillat
(O dia amanhece,
imagens da cidade são apresentadas conforme as pessoas começam a
transitar pelas ruas seguindo sua rotina de vida. As imagens
percorrem até chegar a Igreja do Carmo. Orlando fotografa os noivos
que acabaram de se casar, enquanto eles estão sob uma grande chuva
de arroz).
ORLANDO: (Com a
câmera nas mãos, orienta os noivos de como se posicionarem para as
próximas fotos) Isso, mais uma... Estão ficando muito boas!
Cena 02 –
Auditório da Divina [Interna/Dia]
(Vera Aldama discursa
para uma grande plateia, entre os convidados está uma grande
quantidade membros da imprensa. A empresária acabara de receber mais
um prêmio por conta de sua revista de modas, Divina).
VERA: (Segura o
prêmio com uma das mãos, enquanto fala para todos) Esse prêmio
representa o esforço de muitas pessoas envolvidas em um projeto no
qual eu me sinto muito orgulhosa. Todos os dias eu fico muito feliz
como tudo tem se encaminhado, mas seria uma deselegância não
compartilhar essa conquista com a pessoa que tem sido meu verdadeiro
braço direito e tem tocado esse projeto com tanto amor quanto eu e
isso pode-se notar somente pelo seu jeito de escrever... Senhoras e
senhores, gostaria de pedir muitos aplausos para minha editora,
Beatriz Grimaldi!
GUILHERME:
Brilha sua linda, brilha! (Diz quando Beatriz passa por ele em meio
aos convidados.
(Sob uma forte chuva de
aplausos, Bia sobe até o palco para encontrar com Vera).
BEATRIZ: (Fala
ao microfone) É realmente uma honra fazer parte desse projeto e ser
reconhecida pela forma como temos dado voz há tantas outras
mulheres. Esse feedback me faz querer conquistar cada vez mais
leitoras em todo país e quem sabe o mundo. Devemos levar autoestima,
respeito e emponderamento feminino, as mulheres precisam se aceitar
como são, plurais. Respeitar uma as outras, lutar por nossos
direitos nessa sociedade tão machista e preconceituosa, o lugar da
mulher é onde ela quer estar, o lugar da mulher é o topo. Muito
obrigada!
(Vera fala baixinho,
próximo ao ouvido de Bia).
VERA: Se você
continuar desse jeito, a sua promoção virá muito mais rápido que
imagina!
BEATRIZ: Pode
apostar que ela virá.
(Após a premiação,
Beatriz caminha até o estacionamento e espera por alguns minutos,
até que o motorista trás o seu carro).
Música da Cena: A
Gente Nunca Conversou (Ei, Moça) – Lagum
BEATRIZ: (Fala
consigo mesma ao entrar no carro) Promoção... Tudo o que eu mais
quero e vou conseguir!
Cena 03 – Haras
Ferraz [Externa/Dia]
Correntes –
Pernambuco
Música da Cena:
Toada – Boca Livre
(Clarissa confere a
sela do cavalo, após constatar que está bem presa, ela faz carinho
no cavalo chamado de Corisco e em seguida monta monta nele. Severino
e outro funcionário do haras começam a observar a jovem correr com
um dos cavalos de Tobias Ferraz).
SEVERINO: Eu
fico impressionado como ela consegue domar essa fera. O Corisco é um
cavalo muito arredio.
ISRAEL: Ela
trata os bichos com amor, eles sentem, por isso correspondem assim.
SEVERINO: Deve
ser isso mesmo, você está certo.
(Em câmera lenta, com
cabelos soltos ao vendo, Clarissa corre com o cavalo pela propriedade
do haras, como sempre costuma fazer antes de ir dar aulas para as
crianças das redondezas).
SEVERINO: Não
vai dar aula hoje, professora? (Questiona ao ver Clarissa se
aproximando, já em menor velocidade).
CLARISSA: Vou
sim, vim só dar uma olhada no meu amigo Corisco, não é meu amor?
Amanhã eu volto, você sempre será o meu grande amigo. (Diz após
descer do cavalo e acariciá-lo novamente).
(De longe, da janela de
seu quarto, Tobias observa a toda a cena).
CLARISSA:
(Percebe que está sendo observada e troca olhares com Tobias, indo
embora em seguida).
Cena 04 – Feira (Correntes) [Externa/Tarde]
(Luiza caminha pela
feira de Correntes. Pelo caminho, ela cumprimenta alguns pessoas,
confere algumas verduras e legumes, prova algumas frutas até chegar
a barraca de Benedito).
LUIZA: Bom dia,
Seu Benedito. Como vai?
BENEDITO: Vou
muito bem, minha filha. E você, como vai?
LUIZA: Vou bem,
também. Muito obrigada! Estou procurando aquela cidreira que o
senhor vende, não sei o que faz, deve plantar com muito esmero,
porque o chá dela, fica incrível. Eu detesto comprar aqueles chás
prontos de supermercados, prefiro esse daqui do senhor, natural e do
campo.
BENEDITO:
Prontinho, aqui está! (Entrega para Luiza um punhado de erva
cidreira numa sacola). E a Bia, tem notícias dela?
LUIZA: Já faz
quase dois meses que fui até Recife, sabe como são esses jovens,
vidrados em trabalho e tecnologia, ela detesta vir pra esse lugar,
foge de tudo o que ela busca. Eu tenho conversado com a minha
sobrinha mais por telefone do que qualquer outra coisa...
BENEDITO: É,
isso vai mudar em breve.
LUIZA: Desculpe,
o que disse?
BENEDITO: Nada
demais... Disse que te espero aqui na feira ou lá em casa para
conversarmos em breve.
LUIZA: Estou
devendo mesmo uma visita, nunca mais vi a Clarissa. E pensar que
quando ela era uma menininha, vivia lá em casa com a Bia, enfim, não
vou mais tomar o seu tempo, até outra hora. (Luiza e Benedito se
despedem e ela parte para casa).
BENEDITO: (Fala
sozinho) Sua sobrinha vai voltar a viver nesse lugar muito antes do
que imagina...
(Luiza chega em casa e
vai até a cozinha com as sacolas).
LUIZA: (Deixa as
sacolas em cima da mesa e caminha em direção a sala. Ao cruzar o
ambiente, ela abre as cortinas e deixa a luz adentrar o espaço) É...
Sempre sozinha, como seria se eu tivesse me casado com você? E se
aquela maldita não tivesse roubado o meu destino? Era pra essa casa
estar cheia, com você, nossos filhos e talvez até netos... Em vez
disso, olha o que me restou... A solidão!
Música da Cena: Eu
Preciso Te Esquecer – Marina Elali
Cena 05 –
Apartamento de Beatriz e Orlando [Interna/Noite]
(Orlando sai do
banheiro só de toalha após tomar um banho, enquanto isso, Beatriz
está deitada na cama com o notebook no colo, lendo algumas matérias
que entrarão na próxima edição da revista).
ORLANDO: Você
tinha que ver amor, os olhos deles dois brilhavam... Acho que nunca
fotografei um casal tão apaixonado, me lembrou ao nosso casamento.
(Orlando percebe que Beatriz segue distraída com os relatórios no
notebook). Bia, você me ouviu?
BEATRIZ: Oi...
Sim, eu ouvi sim. Que bom que teve um dia produtivo no trabalho.
ORLANDO: (Se
aproxima, tira o notebook do colo da esposa e a beija).
BEATRIZ: Amor,
eu preciso trabalhar, me devolve o meu computador.
ORLANDO: Não,
está confiscado. Você tem trabalhado demais ultimamente, quero
namorar um pouquinho. Esse ano, você lembra né?
BEATRIZ: Eu
lembro? Do que está falando?
ORLANDO: Do
bebê, Beatriz. Você me prometeu, esse ano teríamos um bebê. Eu
quero muito um filho nosso, meu e seu... Já estamos casados há
cinco anos, é o meu sonho.
BEATRIZ: Eu sei,
amor. Eu também quero muito, vamos ter um filho, agora é apenas
questão de tempo...
ORLANDO: Ótimo,
você já parou de tomar remédio, não é?
BEATRIZ: O
remédio? (Fica pensativa). Parei, parei sim.
ORLANDO: Que
bom, quando você engravidar... Eu nem sei o que vou fazer, eu serei
o homem mais feliz do mundo. (Abraça a esposa e deita em seu colo em
seguida).
BEATRIZ: (Faz
cafuné no cabelo do marido com um ar de pensativa com relação ao
que acabara de ouvir).
** ABERTURA / VINHETA
**
Cena 06 – Casa de
Benedito [Interna/Noite]
Música da cena: Não
Olha Assim - OutroEu
(Clarissa coloca o café
na garrafa através do coador, enquanto relembra do momento em que
viu Tobias na janela de sua fazenda, sem perceber que seu avô
acabara de adentrar no local).
BENEDITO: Um
tostão pelo seu pensamento... (Diz ao colocar algumas sacolas em
cima da mesa).
CLARISSA: Vô,
eu nem vi que o senhor estava aí. Estou passando um café, está
pronto, aceita um pouco?
BENEDITO: Eu não
nasci ontem, Clarissa. Não mude de assunto, eu falei por falar, mas
sei muito bem em quem você estava pensando. Seus pensamentos,
coração e suspiros, tudo tem nome: Tobias Ferraz!
CLARISSA: Que
história, o senhor só pode está ficando caduco. Eu só estava
distraída, acontece sabia?
BENEDITO: Está
bem, quer continuar fingindo que eu não sei de nada, vamos continuar
fazendo esse joguinho. Você sabe que eu sei de muitas coisas, não
sabe?
CLARISSA: Eu
sei. O senhor sabe coisas até demais para o meu gosto. Eu também
sei que o senhor deveria ir tomar um banho, que daqui a pouco eu vou
servir o jantar e vai esfriar se continuar com esse “converseiro”.
Já para o banho, Seu Benedito!
BENEDITO: Está
bem, eu já volto. (Benedito deixa o local para ir tomar um banho).
CLARISSA: (Ao
perceber que está sozinha novamente, começa a pensar em voz alta)
Tobias... Quem me dera, você nunca reparou em mim, nunca vai
reparar!
Cena 07 –
Apartamento de Beatriz e Orlando [Interna/Dia]
(O banheiro da suíte
está completamente coberto pelo vapor, já que Beatriz estava a
tomar um longo banho quente, quando foi interrompida pelo marido).
ORLANDO: Amor,
já que você só vai para a revista a tarde, me empresta o seu carro
hoje? O meu vai ter que ir para a oficina, está fazendo aquele
barulho estranho no motor de novo.
BEATRIZ: Está
bem, mas a tarde eu tenho uma reunião importante, não posso me
atrasar, entendeu? (Fala enquanto tira o excesso de shampoo do
cabelo).
ORLANDO: Tudo
bem, onde você deixou as chaves?
BEATRIZ: Na
minha bolsa, em cima do sofá.
(Após alguns
instantes, Beatriz sai do banheiro enrolada numa toalha e com uma das
mãos, secava o cabelo com outra toalha de cor branca. Ao chegar na
sala, ela se deparou com o marido sentado no sofá, com um semblante
muito sério).
BEATRIZ: Ué,
você não ia sair?
ORLANDO: Você
pode me explicar o que significa isso, Beatriz? (Questiona com uma
cartela de anticoncepcionais na mão).
BEATRIZ: Calma,
eu posso explicar!
ORLANDO: Pode
explicar? Então explica, explica como foi que você teve a coragem
de mentir para mim desse jeito. Nós estávamos conversando sobre
isso ontem... Como você pode?
BEATRIZ: Eu
tinha parado, eu ainda nem comecei a tomar esse daí... Tenta me
entender, Orlando... Eu estou muito focada na minha carreira, eu
estou prestes a ser promovida, um filho agora não se encaixa nos
meus planos...
ORLANDO: É o
meu sonho! (Grita).
BEATRIZ: Mas não
é o meu...
ORLANDO: (Encara
a esposa, joga a bolsa dela no sofá, pega a chave do carro e caminha
em direção a porta).
BEATRIZ: Espera,
onde você vai... Orlando, espera, vamos conversar!
ORLANDO: Me
deixa, nós não temos mais nada para conversar. (Orlando sai de
casa).
(No estacionamento do
prédio, Orlando chora com as duas mãos no volante. Já fazia muito
tempo que planejava ter um filho com a esposa, não poderia tolerar
essa mentira. As portas do elevador se abriram no andar do
estacionamento, Beatriz ainda estava enrolada na toalha e começara a
andar apressadamente em direção ao carro).
BEATRIZ:
Orlando, desce do carro... A gente precisa conversar. Você não pode
sair e dirigir desse jeito...
ORLANDO: (Ao
perceber que a esposa se aproximava, Orlando arranca com o carro e
sai cantando pneu).
Cena 08 – Avenida
Guararapes [Externa/Dia]
(Orlando dirige
transtornado pelas ruas de Recife sem prestar atenção ao seu
redor).
ORLANDO: Porque
você mentiu pra mim? Porque? (Questiona).
(Sem perceber, Orlando
bate num motociclista que cai da moto).
ORLANDO: (Ao
notar que causou um acidente, rapidamente Orlando desce do carro e
vai prestar socorro) Cara, me desculpa... Eu não te vi, eu vou pagar
todo o seu prejuízo.
MOTOQUEIRO: Olha
o que você fez seu babaca, você vai pagar mesmo todo o prejuízo.
ORLANDO: Pode
ficar tranquilo, eu vou pagar tudo, vou te passar meu telefone e...
MOTOQUEIRO:
(Interrompe) Telefone? Você acha mesmo que eu vou acreditar nessa
conversa? Eu quero o dinheiro na minha mão agora. (Fala ao se
levantar).
ORLANDO: Eu não
saí com a minha mochila, ficou tudo em casa. Pode ficar tranquilo,
eu vou te passar meu telefone, meu endereço...
MOTOQUEIRO: Você
não entendeu, eu quero meu dinheiro agora, seu babaca!
ORLANDO: Olha
aqui cara, eu estava errado... Mas eu já disse que vou assumir a
droga do prejuízo, dá para você se acalmar e baixar sua bola? Eu
não vou aceitar mais nenhuma grosseria, entendeu? (Orlando coloca a
mão no bolso e tira um cartão). Aqui está o meu cartão, meu
seguro cobrirá tudo e mesmo que não cobrisse, faço questão de
arcar com tudo. Basta entrar em contato e me passar seus dados, que
farei o pagamento. Agora se me permite, como você está bem, eu vou
embora. (Orlando caminha de volta aonde deixou o carro parado).
(Orlando entra no
carro, respira fundo e logo em seguida afivela o cinto de segurança,
sem perceber que o perigo se aproximava. Pelo vidro da janela do
carro, podia-se notar a presença de alguém se aproximar, era o
motoqueiro do acidente).
MOTOQUEIRO: Eu
não vou ficar no prejuízo, seu... (Fala ao sacar uma arma da
cintura).
ORLANDO: (Olha
para o motoqueiro boquiaberto e sem esboçar reação, ouve um forte
barulho, seguido um grande clarão).
(Ao redor, as pessoas
que por ali transitavam começaram a correr, gritar, enquanto outros
motoristas começavam a pegar a contramão em pânico, o motoqueiro
acabara de disparar dois tiros com arma de fogo no carro de Orlando).
Cena 09 – Divina
(Sala de Beatriz) [Interna/Tarde]
(Após algumas
tentativas sem sucesso, Beatriz chegou a conclusão de que não
conseguiria se concentrar).
BEATRIZ: Cadê
você? Atende Orlando, atende... (Fala sozinha, enquanto liga para o
marido).
VERA: (Bate na
porta da sala de Beatriz que está aberta) Toc, toc!
BEATRIZ: Oi
Vera, entra... Você está precisando de alguma coisa?
VERA: Na verdade
não, eu só vim até aqui te comunicar uma coisa.
BEATRIZ: Pode
dizer...
VERA: (Estende a
mão) Eu gostaria de cumprimentar a minha nova editora-chefe da
Divina. Parabéns, você foi promovida!
BEATRIZ:
Promovida? Eu? (Beatriz grita de felicidade). Eu não tô acreditando
nisso, eu fui promovida!
(O telefone celular de
Beatriz que está em cima da mesa começa a tocar).
BEATRIZ: Deve
ser o Orlando, eu tenho que atender... É rápido, não sai daí
Vera... Alô, sim é ela... Beatriz Grimaldi! (Responde ao atender o
celular).
Cena 10 – Hospital
Geral do Recife [Interna/Tarde]
(Beatriz corre em
direção a recepção do hospital, Vera chega logo após).
BEATRIZ: Eu
preciso de notícias do meu marido, recepcionista. O Nome dele é
Orlando Novaes, ele foi trazido para esse hospital, parece que foi um
acidente...
VERA: Calma,
Beatriz! Você vai ver que não foi nada grave.
RECEPCIONISTA:
Só um momento, senhora. (Começa a realizar uma busca no computador
e em seguida faz uma ligação). O médico está vindo falar com a
senhora.
BEATRIZ: Está
bem e o meu marido? Eu posso vê-lo?
RECEPCIONISTA: É
melhor a senhora esperar por ele.
BEATRIZ: Como
assim esperar? Porque eu não posso ver o meu marido? Está
acontecendo alguma coisa?
VERA: Aí vem o
médico, vamos falar com ele.
BEATRIZ: Oi
Doutor, eu sou Beatriz Grimaldi Novaes, esposa de Orlando Novaes, eu
preciso saber como eu meu marido está... Eu posso vê-lo?
MÉDICO:
Infelizmente as notícias que eu trago não são boas...
BEATRIZ: Como
assim não são boas? É grave o estado do meu marido? Eu quero
saber, pode me dizer a verdade.
MÉDICO: Seu
marido foi baleado. Um dos tiros atingiu uma área importante no
cérebro dele e após realizarmos alguns testes e exames, constatamos
que ele teve morte cerebral...
BEATRIZ: O que?
Você disse que o meu marido está morto? (Surpreende-se).
A câmera foca no rosto
de Beatriz, a cena congela e o capítulo encerra com o a tela azul da
cor do céu.
Trilha Sonora
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