JÚLIA
Uma novela criada e escrita por
RAMON FERNANDES
CAPÍTULO 11
CENA 01. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior.
JÚLIA TENTA FECHAR A PORTA, MAS ROBERTO IMPEDE, COLOCANDO SUA MÃO NELA.
JÚLIA — Eu não quero o senhor na minha casa. Fora daqui!
ROBERTO — Não sem antes nós termos uma conversa muito séria.
JÚLIA INSISTE EM FECHAR, MAS ROBERTO ENTRA, A PEGANDO PEÇO BRAÇO.
JÚLIA — (Berra) Me solta, desgraçado! Socorro!
ROBERTO FECHA A PORTA COM AGRESSIVIDADE. E A SOLTA DENTRO DO APARTAMENTO. JÚLIA OLHA COM EXTREMO ÓDIO PARA ELE.
ROBERTO — Não precisa pedir socorro, eu não vou te matar... Ainda.
JÚLIA — Eu vou ligar pra polícia.
ROBERTO — Não, você não vai. O que eu tenho pra falar é rápido e muito direto. Quer dizer, eu não sei se será tão direto, porque quando eu fui objetivo com você a anos atrás, você não entendeu.
JÚLIA — Olha, eu não sei do que você tá falando, mas se for por causa do seu filho/
ROBERTO — (Por cima) Você sabe do que eu tô falando sim, e é por causa dele sim, que eu tô tendo o desprazer de olhar pra essa sua cara mais uma vez. (Tom) Escuta aqui, eu vou ser reto, se você não sair da vida do Davi, se você não sair do meu caminho, eu vou te tirar a força. Você não vai gostar.
JÚLIA O ENCARA. ELA DÁ UMA GARGALHADA. ROBERTO EXTREMAMENTE FURIOSO COM ELA.
JÚLIA — O senhor, doutor Roberto Assunção, tão distinto, tão bem informado, deveria saber que quem está correndo atrás de alguém aqui, não sou eu. É o seu filhinho que veio me procurar. Duas vezes, aliás! Eu só pisei na sua casa, pra visitar o meu pai que tá doente.
ROBERTO — Outra coisa, eu não quero mais o seu pai naquela casa/
JÚLIA — Nem precisa se dar o trabalho de demitir o meu pai, ou chantagear ele com emprego, como vocês fizeram anos atrás. Meu pai mesmo vai se demitir. Graças a Deus, nem ele, e nem eu precisamos mais do seu dinheiro.
ROBERTO — Graças a Deus, não! Graças a mim! Eu que mandei você pra Paris, cursar numa das melhores instituições, paguei tudo pra você. Financiei sua vida na França/
JÚLIA — (Tom alto) Financiou porque te interessava! Financiou porque queria me afastar da sua vida, da sua casa/
ROBERTO — (Por cima) Do meu filho!
JÚLIA — Do seu filho. Exatamente. E eu, até agora estou cumprindo suas exigências, doutor Roberto Assunção. Eu estou longe do seu filho, mantendo o máximo de distância que eu consigo.
ROBERTO — Se estivesse mesmo, não teria voltado.
JÚLIA — Voltei por causa do meu pai que está doente. Não por sua causa, ou por causa do seu filho. Pelo contrário, eu tenho nojo da sua família. São todos farinha do mesmo saco. Ninguém da sua família, doutor Roberto, vale o chão que pisa. E eu vou falar com todas as letras, pra ver se o senhor entende: Eu não quero nada com o Davi, ou com qualquer pessoa da sua família nojenta!
ROBERTO SORRI COM DEBOCHE.
ROBERTO — Obrigado. Era isso que eu precisava ouvir.
JÚLIA VAI ATÉ A PORTA E A ESCANCARA, APONTANDO A RUA.
JÚLIA — Ótimo! Já ouviu, agora pode ir embora!
ROBERTO CONCORDA E SE APROXIMA DA SAÍDA, MAS AINDA DÁ UMA ÚLTIMA OLHADA EM JÚLIA.
ROBERTO — Eu espero não me arrepender de ter te dado mais essa chance.
JÚLIA — Aproveita e me dá a terceira e mais importante: A de não olhar nunca mais pra sua cara!
ROBERTO SORRI E SAI. JÚLIA FECHA A PORTA COM FORÇA.
JÚLIA — (Berra) Ah, que ódio! Homenzinho presunçoso!
EM JÚLIA FURIOSA. CAI SENTADA NO SOFÁ, PASSANDO A MÃO PELOS CABELOS.
CORTA PARA
CENA 02. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
MÚSICA: “Rocket Man” – John Kip
AMANHECENDO NO RIO. PAISAGENS BELÍSSIMAS SENDO MOSTRADAS. ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DA MANSÃO ASSUNÇÃO.
CORTA PARA
CENA 03. MANSÃO ASSUNÇÃO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
MÚSICA OFF. MESA POSTA. APENAS DAVI NA MESA, COME UM PEDAÇO DE BOLO, SEM MUITA VONTADE. ROBERTO ENTRA EM CENA. DAVI ENCARA E VAI LEVANTAR.
ROBERTO — Não precisa sair só porque eu cheguei. Vai ser rápido.
DAVI — Eu não tô nem um pouco afim de te ouvir, tá legal? Fui!
ROBERTO — Espera. É sobre a Júlia.
DAVI O ENCARA. ROBERTO PEGA SEU CELULAR E DÁ PLAY EM UMA GRAVAÇÃO.
JÚLIA — (OFF) Do seu filho. Exatamente. E eu, até agora estou cumprindo suas exigências, doutor Roberto Assunção. Eu estou longe do seu filho, mantendo o máximo de distância que eu consigo.
ROBERTO — (OFF) Se estivesse mesmo, não teria voltado.
JÚLIA — (OFF) Voltei por causa do meu pai que está doente. Não por sua causa, ou por causa do seu filho. Pelo contrário, eu tenho nojo da sua família. São todos farinha do mesmo saco. Ninguém da sua família, doutor Roberto, vale o chão que pisa. E eu vou falar com todas as letras, pra ver se o senhor entende: Eu não quero nada com o Davi, ou com qualquer pessoa da sua família nojenta!
DAVI ENGOLE SECO. ROBERTO OLHA PARA ELE SERIAMENTE.
DAVI — Você foi atrás dela/
ROBERTO — (Por cima) Fui! Fui ontem a noite, depois do seu papelão com a Vitória. Fui saber quais eram as intenções reais dessa garota. E o resultado foi esse que você acabou de ouvir. Você ainda vai ficar correndo atrás de alguém que tem nojo de você, Davi?
DAVI O ENCARA. EXPRESSÃO DE DECEPÇÃO E SAI RAPIDAMENTE. ROBERTO SENTA-SE EM SEU LUGAR, SORRI SATISFEITO.
ROBERTO — Ponto pra você, Roberto! Ponto pra você!
NELE, TOMANDO CAFÉ.
CORTA PARA
CENA 04. MANSÃO ASSUNÇÃO. SALA. INTERIOR. DIA
JÁ ABRE EM MARIA EDUARDA E FELIPE, DE PÉ, PRÓXIMOS A PORTA DA SALA PRINCIPAL.
M. EDUARDA — Você tem certeza absoluta disso, Felipe? Você sabe o quanto eu prezo pelos seus serviços. Nós todos dessa casa gostamos muito de você.
FELIPE — Eu compreendo, dona Maria Eduarda. Mas depois do que houve com a Julinha anos atrás, a nossa relação nunca mais foi a mesma.
M. EDUARDA — O que houve com a sua filha não interfere o seu profissional, Felipe.
FELIPE — Infelizmente interfere sim, dona Eduarda. A Júlia é minha filha, minha única filha. E agora que ela voltou do extrangeiro, eu preciso ficar com ela. Fora que eu também quero descansar.
M. EDUARDA — Bem, então tá bom. Eu vou fazer as suas contas e você vem para acertarmos tudo. Tudo bem pra você?
FELIPE — Tudo, sim senhora.
M. EDUARDA — É uma pena terminar assim. Foram anos.
FELIPE — Eu, apesar de tudo, tenho muito a agradecer a senhora e ao seu Roberto. De verdade.
ELA CONCORDA, AINDA CONTRARIADA. EM FELIPE.
CORTA PARA
CENA 05. MANSÃO ASSUNÇÃO. ALA DE EMPREGADOS. QUARTO DE FELIPE. INTERIOR. DIA
FELIPE ARRUMA SUAS COISAS NA MALA, QUASE PRONTA. PAULINA ENTRA NO QUARTO.
PAULINA — Felipe.
FELIPE — Não bate mais na porta, coisa ruim?
PAULINA — Eu vim ver com os meus próprios olhos a besteira que você tá fazendo.
FELIPE — E porque você não se mete com as suas coisas, Paulina?
PAULINA — Cê tá fazendo uma burrada grande, saindo dessa casa, de onde sempre teve de tudo, pra se enfiar debaixo da saia da sua filha.
FELIPE A OLHA COM CARA DE POUCOS AMIGOS.
FELIPE — Faça um favor, saia daqui.
PAULINA — (Debochada) Depois de velho vai pedir penico pra filhinha, porque ela voltou da Europa com dinheiro. Que feio, Felipe!
FELIPE VOA PARA CIMA DELA, E A PEGA PELOS BRAÇOS. PAULINA ARREGALA OS OLHOS.
FELIPE — Um dia, Paulina, você vai morrer engasgada com o seu próprio veneno! Um dia você vai pagar por tanta maldade!
PAULINA — Vamos ver quem vai pagar alguma coisa aqui, Felipe.
OS DOIS SE ENCARAM PRÓXIMOS. FELIPE A SOLTA. PAULINA SAI DO QUARTO. FELIPE BUFA DE RAIVA.
CORTA PARA
CENA 06. UFRJ. EXTERIOR. DIA
MÚSICA: “Never Be Alone” – Shawn Mendes
MOVIMENTAÇÃO DO PÁTIO DA UNIVERSIDADE. DIA COMUM, CIRCULAÇÃO DOS ALUNOS. ENTRE ELES, GABY VEM VINDO SOZINHA PELA ENTRADA PRINCIPAL. ELA PROCURA POR ALGUÉM. PASSA POR ALGUNS GRUPOS DE ALUNOS, TENTA NO CELULAR E NÃO OBTÉM SUCESSO.
CORTA PARA UM DOS CORREDORES, GABY ANDANDO POR ALI. DO SEU PV: BRUNO CONVERSANDO COM UM COLEGA. ELA SE APRESSA E SE APROXIMA DELE. MÚSICA OFF.
GABY — Bruno!
BRUNO A ENCARA. O OUTRO COLEGA VAI EMBORA. BRUNO NÃO EXPRESSA NENHUMA REAÇÃO. GABY SE APROXIMA DELE.
GABY — Eu tentei te ligar várias vezes, te mandei mensagem no WhatsApp e nada. Aconteceu alguma coisa?
BRUNO — (Sem graça) Foi mal, Gaby. Eu precisava tirar um tempo pra pensar. Só isso.
GABY — Pensar? Mas pensar em quê? Eu fiz alguma coisa?
BRUNO — Não! Não foi você! (Pausa) Sou eu mesmo. É a minha mãe.
GABY — (Suspira) Eu sabia que tinha alguma coisa a ver com a minha visita na sua casa ontem, né?
BRUNO — É. Infelizmente, depois que você saiu de lá, e eu fui conversar com ela... Bem, as coisas ficaram meio pesadas.
GABY SE APROXIMA DELE. O TOCA NO ROSTO.
GABY — O que ela disse?
BRUNO — Ela veio com um papo super preconceituoso, que nós dois não devíamos ficar juntos, que nós somos de mundos diferentes/
GABY — (Por cima) Ah, não, Bruno! Eu não posso acreditar que você tá se afastando de mim, por causa de algo tão absurdo desses. Por um motivo tão preconceituoso da sua mãe. Me desculpa, mas ela tá errada. Completamente errada!
BRUNO — Eu sei, Gaby. Mas ela é minha mãe... E ela tá doente. Tá com câncer, em uma fase tão complicada. Eu não quero contrariar ela nesse momento. Não vou bater de frente logo agora. Você me entende?
GABY — Eu sei que é egoísta da minha parte falar isso, mas e nós? Como nós ficamos nessa história toda?
BRUNO — (Indeciso) Eu não sei.
GABY O ENCARA. ACENA POSITIVAMENTE COM A CABEÇA.
GABY — Não sabe...
BRUNO — Escuta, eu não quero que isso fique assim desse jeito, mal resolvido, mal interpretado, ou pela metade. Vamos fazer o seguinte, vamos nos encontrar hoje a noite? Sei lá, sair, conversar? Pra espairecer um pouco as ideias e poder conversar melhor sobre isso tudo. Tá bom?
GABY — (Respira fundo/ Concorda) Tá bom. Nós vamos sair e conversar. Você me manda uma mensagem avisando onde?
BRUNO CONCORDA COM A CABEÇA. GABY SE APROXIMA DELE, LHE DÁ UM BEIJO NO ROSTO. ELE FECHA OS OLHOS. ELA FAZ UM CARINHO EM SEU ROSTO. ELE QUER SE APROXIMAR, MAS NÃO CONSEGUE. ELA FICA FRUSTRADA E SAI CORREDOR A FORA. EM BRUNO, PENSATIVO E SE SENTINDO CULPADO.
CORTA PARA
CENA 07. FLAT DE JÚLIA. QUARTO DE VINÍCIUS. INTERIOR. DIA
VINÍCIUS ESTÁ BRINCANDO COM SEUS BRINQUEDOS PELO CHÃO. JÚLIA ENTRA COM A BABÁ.
JÚLIA — Vinny, vem dar um beijo em mim. Tô indo ver as obras do estúdio.
VINÍCIUS — Posso ir com você, mamãe?
JÚLIA — Hoje não. Você vai ficar com a Ana. Mas outro dia, eu levo você, tá?
VINÍCIUS — Poxa, mãe. Queria tanto conhecer onde você vai trabalhar.
JÚLIA — Está em obras ainda, meu amor. Mas te prometo que quando tudo estiver pronto, eu te levo pra ver tudinho, tá bom?
VINÍCIUS CONCORDA. JÚLIA LHE DÁ UM BEIJO NO ROSTO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA
CENA 08. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. DIA
JÚLIA VEM DO INTERIOR DO FLAT. QUANDO ABRE A PORTA, DÁ UM PULO PARA TRÁS. CÂM REVELA ALI NA PORTA, PARADA EM SUA FRENTE, VITÓRIA.
JÚLIA — O que tá fazendo aqui?
VITÓRIA — (Já entrando) Eu vim falar com você!
JÚLIA — Ei, pra fora da minha casa! Aqui só entra quem eu quero, e você não é convidada!
VITÓRIA OLHA EM VOLTA COM CARA DE NOJO. ENCARA JÚLIA.
VITÓRIA — Eu vou ser rápida, até porque não quero respirar o mesmo ar que você, aqui nesse muquifo.
JÚLIA — Dá o fora!
VITÓRIA — (Alterada) Dá o fora você da vida do Davi! Eu vim aqui ser muito clara, se você não sair do meu caminho, eu te mato!
JÚLIA OLHA COM DEBOCHE PARA VITÓRIA, QUE A ENCARA, DECIDIDA.
CORTA PARA
CENA 09. APARTAMENTO DE CAROL E WILLIAM. SALA. INTERIOR. DIA
CAROL ESTÁ SENTADA NO SOFÁ, VENDO TV. PENSATIVA, LONGE. A PORTA ABRE, E WILLIAM ENTRA, COM ROUPA DE ACADEMIA.
WILLIAM — Oi, meu amor. Já chegou?!
CAROL — Já. Eu vim mais cedo, não tava passando muito bem.
WILLIAM LHE DÁ UM SELINHO. SENTA NO TAPETE DA SALA, PRÓXIMO A ELA.
WILLIAM — Ué, o que aconteceu? Tá com alguma dor?
CAROL — Não... Eu só não estava me sentindo bem mesmo na construtora. Pedi pra vir mais cedo.
WILLIAM — Mas você nunca foi disso, Carol. Aconteceu alguma coisa? Discutiu com alguém de lá?
CAROL FICA PENSATIVA. OLHA COM UM SORRISO AMARELO PARA WILLIAM.
CAROL — Não, amor. Eu só não sei se lá é realmente um lugar onde eu queira trabalhar. Talvez eu tenha me precipitado.
WILLIAM — Eu não tô entendendo. Você tava tão animada, meu amor. Fala. O que aconteceu?
CAROL PENSATIVA, RETICENTE. FLASHES DA CONVERSA ENTRE ELA E ROBERTO. ELA MUDA A EXPRESSÃO.
CAROL — Não foi nada. Bobagem. Mas me conta, como foi o seu dia?
WILLIAM — Então, vamos lá... Primeiro/
WILLIAM VAI FALANDO EM OFF, MAS CAROL ESTÁ AINDA MUITO PENSATIVA E RETICENTE. NELA.
CORTA PARA
CENA 10. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. DIA
Continuação imediata da cena 08.
JÚLIA ABRE A PORTA E APONTA PARA FORA.
JÚLIA — Eu não sou obrigada a ficar escutando coisas sem nexo, então pode sair.
VITÓRIA — Não saio!
JÚLIA FECHA A PORTA COM RAIVA. ENCARA VITÓRIA.
JÚLIA — Qual a de vocês todos, hein? Acham que a minha casa agora virou ponto turístico ou saco de pancadas pra virem toda hora falar do Davi? Vocês não acham que ele tá bem grandinho pra ter tanta babá assim, hein?
VITÓRIA — Eu conheço bem as mulherzinhas do seu tipo, Júlia.
JÚLIA — (Ri) Ah, conhece? E qual é o meu tipo?
VITÓRIA — Do tipo de quinta. Uma mulherzinha que se faz de sonsa, pra abocanhar o namorado das outras. Você não se coloca no seu lugar não, hein?
JÚLIA — Querida, quem não se coloca aqui em algum lugar sensato é você. Papel de ridículo a essa hora do dia, amada? Tá com febre? Vai ver se é Corona Vírus, viu! Um perigo!
VITÓRIA — (De dedo) Você não sabe com quem tá mexendo, pobretona!
JÚLIA — Você se acha muito melhor que eu, só porque tem dinheiro, não é, Vitória?
VITÓRIA — Eu não acho, querida. Eu sou muito melhor que você. E é melhor sair do meu caminho!
JÚLIA — Engraçado, porque se você fosse realmente melhor que eu, o Davi estaria correndo atrás de você, e não de mim. Olha que irônico!
VITÓRIA — Tá avisada, Júlia. Saia do meu caminho e tira essas garras de urubu de cima do meu noivo. Eu passo por cima de você, como um rolo compressor!
JÚLIA ABRE A PORTA PARA VITÓRIA.
JÚLIA — Poderia te dizer que você não sabe o que tá falando, te dar vários conselhos de como não correr atrás de um homem, de auto valorização, de gostar de quem gosta de você. Poderia ficar horas falando de como você é uma paranóica, louca, obsessiva, mas sabe porque nada disso ia adiantar? Porque você não escuta, você acredita nessas bobagens todas que você falou. É triste quando vemos uma mulher que simplesmente não se basta pra ser feliz!
VITÓRIA A OLHANDO COM OS OLHOS MAREJADOS. SENTIU AS PALAVRAS, ENGOLE SECO.
JÚLIA — Agora sai, que eu tô atrasada com coisas realmente importantes! E não apareça mais, porque da próxima vez, eu não vou nem perder o meu tempo escutando. Chamo direto a segurança e te coloco pra fora!
AS DUAS SE ENCARAM FRIAMENTE. VITÓRIA SAI DALI, BATENDO O PÉ. JÚLIA FECHA A PORTA. RESPIRA FUNDO, BALANÇANDO A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
CORTA PARA
CENA 11. CONSTRUTORA ASSUNÇÃO. SALA DA PRESIDÊNCIA. INTERIOR. DIA
ROBERTO EM SUA MESA, ANALISANDO ALGUNS DOCUMENTOS. BATIDAS NA PORTA, E VERA ENTRA.
VERA — Doutor Roberto, licença.
ROBERTO — Eu estou ocupado, dona Vera,
VERA — É que o senhor Arthur está aqui fora. Ele quer falar com o senhor.
ROBERTO — (Vira os olhos) Ai, meu saco. O dia começou bem. (Guardando os documentos) Manda entrar.
VERA SAI. ARTHUR ENTRA NA SALA. ROBERTO LEVANTA, COM UM SORRISO.
ROBERTO — Arthur, bom dia. Que surpresa em te ver aqui logo cedo!
ARTHUR — Será mesmo que você tá surpreso, Roberto?
ROBERTO — Como assim? Não tô entendendo.
ARTHUR SENTA-SE A FRENTE DE ROBERTO. ROBERTO SENTA EM SUA CADEIRA. ARTHUR COM CARA DE POUCOS AMIGOS. COLOCA UMA PASTA SOBRE A MESA.
ROBERTO — Se você veio falar sobre o que aconteceu com a sua filha e o Davi ontem/
ARTHUR — (Por cima) Não! Não precisa terminar, porque eu não vim falar da Vitória, ou do canalha do seu filho.
ROBERTO — Então?
ARTHUR EMPURRA A PASTA PARA ROBERTO.
ARTHUR — Trouxe um presente pra você!
BAQUE. ROBERTO OLHA A PASTA E OLHA PARA ARTHUR, DESCONFIADO. ARTHUR INERTE.
ROBERTO — O que é isso?
ARTHUR — É uma surpresa! Só não sei se vai gostar tanto quanto eu.
ROBERTO LENTAMENTE ABRE A PASTA. COMEÇA A VER O CONTEÚDO. ARREGALA OS OLHOS. ENCARA ARTHUR.
ROBERTO — Isso aqui/
ARTHUR — (Completa) São provas, documentos, confirmações de anos de trambiques, falcatruas, roubalheiras, enfim, como você quiser chamar, de tudo o que você, meu grande amigo, Roberto Assunção, cometeu durante todo esse tempo. Claro que tudo isso aí, são apenas cópias. Desculpa te trazer o presente pirata, o original é muito caro!
ROBERTO LEVANTA FURIOSO. BATE NA MESA.
ROBERTO — (Berrando) É um absurdo!
ARTHUR — (Debochado) Não é que eu concordo? Roubar tanto tempo assim, desviar tanta grana dos seus sócios, investidores e acionistas, e ninguém ter percebido. Um absurdo!
ROBERTO ESPUMANDO DE RAIVA. ARTHUR DIVERTINDO-SE COM A SITUAÇÃO. CLOSES ALTERNADOS. EM ROBERTO.
CORTA PARA
FIM DO CAPÍTULO 11
Obrigado pelo seu comentário!