Capítulo
12
-
No capítulo anterior:
BEATRIZ:
O que você fez?
BETO:
Me perdoe, foi inevitável, de repente me veio esse impulso. Não
deveria ter feito isso...
BEATRIZ:
Eu acho melhor irmos dormir, já está tarde, nós estamos
cansados e nem estamos nos dando conta disso.
BETO:
Tem razão, eu vou para o meu quarto, boa noite!
BEATRIZ:
Boa noite, durma bem!
BETO:
(Vai para o seu quarto, logo em seguida Beatriz fecha a porta).
BEATRIZ:
(Encosta-se de costas para a porta fechada de seu quarto) O que
foi isso? Porque eu estou assim?
(No
quarto de Beto)
BETO:
(Lembra-se do beijo) Será que ela também gostou ou será que
ficou chateada comigo? Que estranha sensação de querer ficar perto
dela...
----
BETO:
Boa tarde, Seu Benedito! (Cumprimenta).
BENEDITO:
Sangue de cristo tem poder, misericórdia! (Diz ao olhar para
Orlando).
ORLANDO:
Agora eu tenho certeza, você consegue me ver, não é?
-
Fique agora com o capítulo de hoje!
Cena 01 – Casa de
Benedito [Interna/Tarde]
(Beto
se espanta com a forma que Benedito lhe olha).
BENEDITO:
Sai da minha casa alma penada, some daqui espírito ruim!
BETO:
Seu Benedito, porque o senhor está falando assim comigo?
BENEDITO:
Sai daqui, sai! (Grita).
(Beatriz
e Clarissa saem da cozinha assustadas ao ouvirem os gritos de
Benedito).
CLARISSA:
Vovô, que gritos são esses? O que aconteceu?
BEATRIZ:
Calma Seu Benedito, explica o que está acontecendo.
BENEDITO:
Eu não vou explicar nada, nada! (Esbraveja e vai para o seu
quarto).
CLARISSA:
Gente, mil desculpas... Eu não sei o que pode ter acontecido com
o meu avô.
BETO:
Eu juro que não entendo o que pode ter acontecido. Ele entrou,
eu o cumprimentei e ele começou a gritar de repente.
BEATRIZ:
Eu acho melhor a gente ir embora, não queremos causa problemas
amiga.
CLARISSA:
Problema nenhum, pode deixar... Eu vou dar um jeito nisso e vai
ser já!
Cena 02 – Ruas
[Externa/Tarde]
(Carolina
dirige seu carro em velocidade reduzida na região onde viu Cadu
andando).
CAROLINA:
Foi exatamente aqui que ele apareceu, será que vai passar por
aqui hoje? Será que ele vem sempre aqui? Porque será que ele está
escondido e não nos denunciou? E quem será aquela mulher que estava
com ele?
(O
carro de Carolina acelera e sai cantando pneu pela avenida).
Cena 03 –
Apartamento de Dinho [Interna/Tarde]
(Dinho
fuma e bebe com duas garotas de programa em seu apartamento, quando
alguém toca a campainha).
MULHER
1: Não vai abrir?
DINHO:
Hoje eu não estou para ninguém, deixa tocar!
MULHER
2: Mas quem está tocando é insistente, já deu para perceber
que não vai desistir...
DINHO:
Mas que droga, quem será? (Levanta-se para abrir a porta).
(Dinho
anda até a porta, ao abri-la surpreende-se com a visita).
DINHO:
Você? O que está fazendo aqui?
ALBERTO:
Precisamos conversar, é urgente!
Cena 04 – Casa de
Benedito [Interna/Tarde]
(Benedito
senta na cama completamente aterrorizado com o espírito do homem que
acabara de ver em sua sala de estar).
BENEDITO:
Meu Deus, o que está acontecendo comigo? Eu estou vendo
fantasmas e isso nunca aconteceu antes. É o mesmo fantasma da festa,
porque ele está sempre ao lado daquele homem? (Fala consigo mesmo).
ORLANDO:
Não precisa ter medo, eu não vou lhe fazer mal! (Diz ao
aparecer no quarto de Benedito).
BENEDITO:
Valha-me Deus, não é alucinação, eu não estou ficando louco.
Você está mesmo aqui...
ORLANDO:
Sim, eu estou e já vi que você é diferente dos outros, você
consegue me ver, me ouvir. Talvez você possa me ajudar!
BENEDITO:
Te ajudar? Mas como?
(Clarissa
entra no quarto do avô sem bater, furiosa).
CLARISSA:
Agora já chega, vovô! O senhor tem que parar de comportar desse
jeito, como se estivesse perdendo a razão. É grosseiro com os
nossos convidados, Beatriz é minha amiga desde quando éramos
crianças e o Beto é um cavalheiro, extremamente gentil. Que mal ele
te fez para que o senhor se comportasse de forma tão mal educada?
BENEDITO:
Não é isso minha neta, eu posso explicar...
CLARISSA:
Eu sei que pode, mas eu não quero ouvir explicações. Eu quero
que o senhor vá até a sala, desculpe-se com os meus convidados e
almoce conosco como uma pessoa normal. Eu não vou tolerar mais esse
comportamento com eles, entendeu? Não precisa ficar bancando o
esotérico, apenas comporte-se como uma pessoa normal.
BENEDITO:
Mas Clarissa...
CLARISSA:
(Interrompe o avô) Mas nada, já pra sala seu Benedito... Vamos!
(Benedito
atravessa o quarto, encara Orlando e sai. Clarissa sai logo em
seguida, sem perceber a presença de Orlando, fechando a porta).
Cena
05 – Apartamento de Dinho [Interna/Tarde]
(Já
sozinhos, Alberto explica a Dinho o motivo da visita).
DINHO:
Mas como é possível? Eu não consigo entender como o seu irmão
está andando por ai, sem querer o que é dele, sem dinheiro e o
principal, sem te denunciar para a polícia.
ALBERTO:
Isso é o que nós precisamos descobrir. Até agora sabemos muito
pouco, a Carolina o viu atravessar a rua, ele estava acompanhado de
uma mulher grávida, ela tem certeza que era ele.
DINHO:
Nós dois sabemos que as chances de ser o seu irmão são bem
grandes, ele não morreu naquele dia, o cara conseguiu fugir bem
debaixo do nosso nariz. Precisamos encontrá-lo e dar um jeito de
calar a boca dele antes que ele pense em falar.
ALBERTO:
Eu também penso assim, no caminho para cá eu tive algumas
ideias. Precisamos fazer o seguinte...
Cena
06 – Casa de Benedito [Interna/Tarde]
(Clarissa
e Beatriz conversam após o almoço, enquanto Benedito e Beto seguem
em silêncio).
BEATRIZ:
O almoço estava realmente uma delícia, precisamos repetir mais
vezes.
CLARISSA:
E iremos, não vamos mais nos afastar amiga. Eu vou retirar a
louça e preparar um café.
BEATRIZ:
Eu te ajudo com a louça! (Beatriz e Clarissa retiram os pratos
da mesa e seguem para a cozinha).
BETO:
Agora que estamos sozinhos, o senhor precisa me contar o que está
acontecendo, porque me olha desse jeito sempre que nos encontramos.
Por acaso o senhor me conhece de algum lugar? Eu preciso saber, é
terrível não saber quem eu sou, sem memória, esse vazio na minha
cabeça... Me diga a verdade!
BENEDITO:
Então você não pode vê-lo?
BETO:
Ver? Quem? O senhor viu alguém?
BENEDITO:
Eu estou falando desse homem que sempre lhe acompanha.
BETO:
Que homem é esse que me acompanha? Me explica!
(Beatriz
e Clarissa voltam, interrompendo a conversa).
CLARISSA:
Fica, eu faço o café rapidinho...
BEATRIZ:
Não, já atrapalhamos demais a rotina de vocês. Vamos Beto?
BETO:
Eu... É... Vamos, vamos sim! (Diz olhando para Benedito).
CLARISSA:
Bom, já que vocês insistem, eu abro a porta que é para vocês
voltarem mais vezes, não é vovô?
BENEDITO:
Sim, sim... Voltem quando quiser! (Responde olhando fixamente
para Beto, percebendo que Orlando está logo atrás).
Cena
07 – Casa de Laurinha [Interna/Noite]
(Laurinha
prepara a mesa para que ela e Eulália possam jantar).
LAURINHA:
Filha, vamos jantar... Eu fiz um baião de dois caprichado, do
jeitinho que você gosta... (Diz pousando a panela sobre a mesa).
Eulália? Cadê você menina?
(No
quarto de Eulália)
Música
da cena: Quem Me Dera – Márcia Fellipe e Jerry Smith
EULÁLIA:
(Está deitada na cama dormindo profundamente. Enquanto isso, ela
aperta o travesseiro próximo ao corpo e geme, por conta do sonho que
está tendo) Sai grosseirão, se afaste de mim com essas suas mãos
grandes e cheirando a cavalos.
(No
quarto de sala de jantar)
LAURINHA:
(Ouve os gemidos de Eulália) Oxente, que diabos de barulho é
esse? Eulália? Filha? (Chama, porém não ouve resposta da filha.
Laurinha deixa de arrumar a mesa de jantar e resolve ir até o quarto
de Eulália).
(No
quarto de Eulália)
LAURINHA:
(Abre a porta do quarto e encontra Eulália dormindo,
remexendo-se na cama e apertando o travesseiro entre as pernas)
Filha!
EULÁLIA:
(Acorda atordoada e senta-se na cama) Mamãe! Eu estava tendo um
pesadelo...
LAURINHA:
Pesadelo? Isso está me aparentando ser outra coisa.
EULÁLIA:
Estava era? O que?
LAURINHA:
Minha filha, eu já tive a sua idade... Isso daí não era
pesadelo não, tá mais para sonho erótico.
EULÁLIA:
Ave Maria! Credo e cruz, eu sou moça decente, não tenho espaço
para esse tipo de pensamento.
LAURINHA:
Filha, não precisa mentir. Eu juro que não consigo entender
porque você é assim, sempre fui tão aberta para conversar com
você, sempre te deixei bem livre para que vivesse a vida que você
queria para si, eu lembro quando você era uma menininha e dizia que
queria ser freira. Eu respeito sua religiosidade, mas você nunca
pensou em como seria ter um namorado? Se casar, ter filhos, formar
uma família?
EULÁLIA:
Não, eu nunca pensei em perder minha pureza com homem nenhum,
eles não prestam, são como... Deixa para lá! (Fica em silêncio).
LAURINHA:
São como quem? O seu pai? Filha, não é porque o meu casamento
e o do seu pai não deu certo, que você tenha que desistir da sua
vida afetiva, você pode ser feliz, pode se apaixonar e ter uma bela
vida a dois...
EULÁLIA:
Já chega, mamãe! Eu não quero mais falar sobre isso.
LAURINHA:
Tudo bem, eu paro de falar sobre isso com uma condição.
EULÁLIA:
Que condição?
LAURINHA:
Quem é o grosseirão que você estava sussurrando em sonhos?
EULÁLIA:
(Afunda na cama e cobre o rosto com o travesseiro).
Cena
08 – Cobertura Montenegro [Interna/Noite]
(Carolina
está na sala de estar e se prepara para gravar um vídeo para suas
redes sociais).
CAROLINA:
(Fala sozinha consigo mesma) Lá vai mais um vídeo de conteúdo
para aquele monte de seguidor pobre e fedorento, como é díficil
fingir ser acessível... Vamos lá 3,2,1... Gravando! (Aperta o play
da câmera). Oi Carolfãns, como vão os meus amores, hein meus
queridos? Que saudades de vocês! Espero que esteja tudo bem por aí,
no vídeo de hoje eu vou trazer dicas de maquiagens com uma paleta de
cores que eu comprei numa viagem que fiz para a França.
(De
longe, Doralice observa Carolina gravar o tutorial de maquiagem e a
imita com as mãos, sem fazer barulho).
CAROLINA:
Agora eu vou passar essa base aqui do meu tom de pele, essa
também foi muito cara, tá? Talvez vocês não consigam adquirir,
mas podem testar com outras dessas lojinhas que cês costumam
comprar...
(Rangel
abre a porta para que Alberto entre).
RANGEL:
Boa noite, senhor!
ALBERTO:
Boa noite, Rangel. O que ela está fazendo? (Refere-se a
Carolina).
RANGEL:
A senhora está gravando um vídeo para as redes sociais. O
senhor vai querer jantar agora?
ALBERTO:
Não, agora não. Eu ainda não estou com fome, pode se retirar e
qualquer coisa eu te chamo.
(Alberto
aproveita que Rangel se retirou e se aproxima e Carolina).
RANGEL:
Desliga isso daí agora e vamos conversar.
CAROLINA:
(Encara Alberto).
(No
escritório).
ALBERTO:
Eu tomei algumas decisões e já começamos a investigar o
paradeiro do Cadu, logo descobriremos onde ele está.
CAROLINA:
E você quer que eu faça o que? Te aplauda? Logo o seu irmão
vai aparecer, vai nos colocar na cadeia e não veremos a cor da
fortuna dele.
ALBERTO:
E o que é que você quer que eu faça?
CAROLINA:
Não adianta, nada do que você me diga ou faça vai me fazer
acreditar em você de novo. Tínhamos um plano, você falhou e mentiu
para mim.
ALBERTO:
Do que você está falando?
CAROLINA:
Que a partir de agora é cada um por si para salvar a sua pele,
eu também já comecei a mexer os meus pauzinhos. Como diz o ditado,
cada qual que salve a sua própria pele. Boa noite! (Carolina deixa o
escritório).
Cena
09 – Escola Municipal [Interna/Manhã]
Música
da cena: Anjo – Roupa Nova
(O
dia amanhece, imagens da cidade de Correntes são apresentadas até
chegar a fachada da escola Municipal, onde Clarissa dá aulas).
CLARISSA:
Então crianças, para a aula de hoje eu quero ver como anda a
escrita de vocês e a pontuação, preciso que façam uma redação
sobre alguma pessoa que você admirem, pode ser a mãe, o pai, o
irmão, o tio, a avó, um amigo, qualquer pessoa que vocês admirem e
descrevam o que vocês tem aprendido com essa pessoa.
(Pelo
lado de fora e através da janela, Coruja observa as crianças e
Clarissa na sala de aula).
CLARISSA:
Vocês terão até o fim da aula de hoje para me entregar
começando de agora. (Clarissa observa Coruja do lado de fora).
Crianças, eu vou sair um instante e não me demoro, com licença.
(Clarissa
vai até o lado de fora da escola e se aproxima de Coruja).
CLARISSA:
O seu lugar uma hora dessa também não seria numa sala de aula,
rapazinho?
CORUJA:
Estudar? É o meu maior sonho, moça.
CLARISSA:
Eu não me lembro de ter te visto antes, você é novo aqui?
CORUJA:
(Fica nervoso com a possibilidade de Clarissa descobrir que ele
não tem responsável legal e o mande para um abrigo) Eu... Eu... Sou
de um povoado aqui perto.
CLARISSA:
É? De que povoado está falando? De Barreiras?
CORUJA:
Exatamente, de barreiras. Minha mãe veio até a feira e eu estou
dando uma volta pela cidade.
CLARISSA:
Ah mas que ótimo, tirando a parte de que não existe nenhum
povoado nas redondezas chamado Barreiras, eu diria que você está
mentindo...
CORUJA:
Eu não estou mentindo!
CLARISSA:
Você pode confiar em mim, eu me chamo Clarissa. Qual é o seu
nome?
CORUJA:
Meu nome? (Coruja não responde a pergunta e sai correndo em
disparada logo em seguida).
CLARISSA:
Ei menino, volte aqui... Não precisa ter medo! (Grita, mas logo
em seguida Coruja desaparece no fim da rua).
Cena
10 – Casa de Luiza [Interna/Manhã]
(Luiza
olha alguns álbuns de fotografias que estavam guardados em uma das
suas caixas de recordações quando ouve alguém bater na porta).
LUIZA:
Já vai, já vai... (Abre a porta e se depara com Benedito). Seu
Benedito, que surpresa!
BENEDITO:
Eu fechei minha banca mais cedo e estava passando aqui perto,
resolvi fazer uma visita. Cheguei numa boa hora? Se quiser posso
voltar depois...
LUIZA:
Claro que não, o senhor é um amigo muito querido. Entre, eu vou
fazer um cafezinho e vamos conversar um pouco, que tal?
BENEDITO:
Ótima ideia!
LUIZA:
Então entra, fique à vontade, a casa é sua. (Dá espaço para
que Benedito entre).
BENEDITO:
Engraçado é que a minha neta e a sua sobrinha são amigas desde
crianças e eu quase não venho até aqui, já faz alguns anos...
LUIZA:
Verdade, acho que a última vez que o senhor veio até aqui foi
na festa de aniversário de dezoito anos da Beatriz, já se passaram
mais de dez anos, quanto tempo, não?
BENEDITO:
Pois é, velhos tempos... As vezes tenho a impressão de que a
vida está passando rápido demais. Mas me... (Benedito fica calado
ao avistar um porta-retrato com uma foto em que Beatriz está
acompanhada de um homem).
LUIZA:
Esse daí é o meu falecido genro, digo genro porque a Beatriz é
como se fosse a minha filha, ele era o marido dela. Morreu faz alguns
meses, foi uma verdadeira tragédia, espero que um dia possamos nos
recuperar. (Responde após perceber o olhar de Benedito fixado ao
porta-retrato).
BENEDITO:
(Pega o porta-retrato e reconhece Orlando na fotografia) Então,
você disse que esse era o marido da Beatriz que faleceu?
A
câmera foca no porta-retrato na mão de Benedito revelando uma foto
do casamento de Beatriz e Orlando, a cena congela e o capítulo
encerra com o a tela azul da cor do céu.
Trilha
Sonora Oficial, clique aqui.
Obrigado pelo seu comentário!