Julia - Capitulo 22

JÚLIA

Uma novela criada e escrita por 

RAMON FERNANDES

CAPÍTULO 22

Últimas Semanas

CENA 01. FLAT DE JÚLIA. SALA. INTERIOR. DIA

Continuação imediata do capítulo anterior.

JÚLIA SENTA NO SOFÁ. DAVI AINDA A ENCARA.

DAVI    — Júlia, escuta, eu te amo. O Leandro não te ama! Ele nunca te amou! Era um plano dele e do meu pai, o tempo todo!

JÚLIA ATORDOADA, COLOCA A MÃO NA CABEÇA, PENSANDO. FELIPE VEM DO INTERIOR DO FLAT. 

FELIPE    — Rapaz, eu acho que tá na sua hora. Por favor, Davi, vai embora.

DAVI    — Mas seu Felipe.

FELIPE    — Vai embora, Davi! Você saiu no meio da sua cerimônia de casamento. Ainda tem muitas explicações pra dar pra muita gente. Deixa que com a minha filha, eu converso.

DAVI ENCARA JÚLIA. ELA SE APROXIMA.

JÚLIA    — Se isso for verdade, Davi/

DAVI    — Isso é verdade, Júlia. Tenta conversar com o meu irmão. Eu vou casar com a Vitória sim, eu vou finalmente cumprir a minha parte no acordo, mas conversa com ele. Se ele é tão digno quanto diz ser, ele vai te falar toda a verdade.

DAVI ENCARA FELIPE.

DAVI    — Boa noite, seu Felipe.

FELIPE ACENA COM A CABEÇA. DAVI SAI DO FLAT. JÚLIA ENCARA O PAI, LÁGRIMAS NOS OLHOS.

JÚLIA    — Será, pai?

FELIPE    — Você quer mesmo a minha opinião? Dá um voto de confiança ao Leandro.

JÚLIA    — Como assim, pai? Você mesmo falou que eu não deveria confiar em ninguém daquela família. Agora me aconselha justamente o contrário?

FELIPE    — E continuo com a mesma opinião, mas você se apaixonou pelo Leandro. Você tá gostando desse rapaz, o mínimo que você pode dar pra ele é a chance dele se explicar, não acha?

JÚLIA PENSATIVA. ACENA QUE SIM. NELA.

CORTA PARA

CENA 02. MANSÃO ASSUNÇÃO. QUARTO DE HÓSPEDES. INTERIOR. DIA

VITÓRIA ESTÁ UMA PILHA DE NERVOS, ANDA DE UM LADO PARA O OUTRO. MARIA EDUARDA E INGRID ESTÃO ALI COM ELA. TENTAM ACALMÁ-LA, EM VÃO.

VITÓRIA    — (Tom) Eu vou matar o Davi! Eu juro que eu mato o Davi!

M. EDUARDA    — Vitória, calma! O Davi vai aparecer! Eu tenho certeza/

VITÓRIA    — (Por cima/ Furiosa) Ah, tem certeza, Maria Eduarda? Ah, e como você tem certeza? Tem tanta certeza assim, como tinha que ele tinha se afastado da pobretona desgraçada? A mesma certeza que ele ia casar comigo a seis anos atrás?

INGRID    — Maria Eduarda, eu exijo que esse garoto apareça imediatamente! Ele não vai deixar a minha filha plantada no altar, no dia de hoje!

MARIA EDUARDA PASSA A MÃO PELOS CABELOS, NERVOSA. A PORTA SE ABRE, LEANDRO ENTRA.

LEANDRO    — Eu tento ligar no celular dele, mas o Davi não atende. Só dá caixa postal.

VITÓRIA GRITA DE ÓDIO E QUEBRA MAIS ALGUM OBJETO QUE ESTÁ POR ALI. EDUARDA ENCARA LEANDRO.

M. EDUARDA    — Vai atrás dele naquele maldito flat da filha do motorista, Leandro. Traz o Davi arrastado! Faz alguma coisa, pelo amor de Deus!

LEANDRO    — Mãe, eu não posso/

INGRID    — Como não pode? Leandro, você me decepcionou!

LEANDRO    — Eu não posso invadir a casa da Júlia nesse momento.

VITÓRIA    — Que momento, hein? O momento que os pombinhos vão ficar juntos? Eu não tô acreditando nisso, mamãe!

INGRID    — Eu vou falar com o seu pai, Vitória! Nós vamos dar um jeito nisso! Fica aqui e tenta ficar calma!

VITÓRIA CHORA DE RAIVA. INGRID DÁ UMA ÚLTIMA ENCARADA EM LEANDRO E MARIA EDUARDA. TAMBÉM SAI DALI, BATENDO A PORTA. EDUARDA ENCARA LEANDRO.

M. EDUARDA    — O que tá acontecendo aqui, Leandro?

LEANDRO OLHA PARA A MÃE E DESVIA O OLHAR PARA VITÓRIA, DESOLADA E FURIOSA, OLHANDO PELA JANELA.

CORTA PARA

CENA 03. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. DIA

OS CONVIDADOS JÁ COMENTAM IMPACIENTES SOBRE O ATRASO DA CERIMÔNIA. O PADRE NO ALTAR, SE APROXIMA DE ROBERTO.

PADRE    — Meu filho, essa cerimônia já está a uma hora atrasada. O que está acontecendo?

ROBERTO    — Pade, eu peço que aguarde só mais um pouco. Eu garanto que vou dar um jeito nisso.

ARTHUR SE APROXIMA DOS DOIS. O PADRE CONCORDA E SAI.

ARTHUR    — Até porque se você não resolver isso, Roberto. Ao invés de um casamento, aproveitamos o padre e vai haver um funeral. O seu!

ROBERTO O ENCARA. SAI DALI. EM ARTHUR NERVOSO.

CÂM VAI BUSCAR UM OUTRO PONTO DA FESTA, ONDE ROBERTO ESTÁ QUASE ENTRANDO NA MANSÃO, QUANDO LEANDRO O INTERCEPTA.

LEANDRO    — Pai, o Davi sumiu/

ROBERTO    — (Por cima) E porque você não foi atrás dele, Leandro? Você é um banana mesmo! Que sina a minha ter tido filhos que não prestaram pra nada! Nada!

ROBERTO EMPURRA LEANDRO, QUE FICA ALI, COM RAIVA DE ROBERTO.

CÂM CORTA PARA OUTRO PONTO, NAS CADEIRAS, ONDE GABY TENTA FALAR COM BRUNO AO CELULAR. SEM SUCESSO. NELA, AFLITA.

CÂM AGORA BUSCA OUTRO PONTO, ONDE PAULINA ESTÁ OLHANDO TODA A MOVIMENTAÇÃO DO LOCAL, CURIOSA.

CORTA PARA

CENA 04. APARTAMENTO WILLIAM E CAROL. QUARTO DO CASAL. INTERIOR. DIA

WILLIAM ENTRA NO QUARTO.

WILLIAM    — Carol, você tá aí?

WILLIAM PROCURA POR CAROL, NÃO A ENCONTRA. ELE VAI ATÉ O ARMÁRIO E PROCURA ALGO EM UMA CAIXA. FAZ UMA REAÇÃO SURPRESA.

WILLIAM    — A minha arma. Não tá aqui!

WILLIAM SAI NERVOSO.

CORTA PARA

CENA 05. ASSUNÇÃO ENGENHARIA. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA

POUCA MOVIMENTAÇÃO NA RECEPÇÃO DA ASSUNÇÃO ENGENHARIA. WILLIAM VAI ENTRANDO POR ALI, OLHA EM TORNO. VAI DIRETO FALAR COM A RECEPCIONISTA.

WILLIAM    — Boa tarde. Sabe me dizer se o doutor Roberto Assunção tá por aí?

RECEPCIONISTA        — Doutor Roberto hoje não tá na construtora. É casamento do filho dele.

WILLIAM    — Entendi. E sabe me dizer onde tá sendo a festa? Se vai ser na casa do doutor Roberto mesmo?

RECEPCIONISTA        — Sim. A cerimônia e a festa serão na casa do doutor Roberto. Mas o senhor quer deixar algum recado? O que o senhor é dele?

WILLIAM NADA RESPONDE E SAI EM DISPARADA. A RECEPCIONISTA FICA ALI SEM ENTENDER NADA.

CORTA PARA

CENA 06. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. DIA

ENTRE OS CONVIDADOS, UM CLIMA DE TENSÃO PAIRA NO AMBIENTE. CÂM VAI BUSCAR, PRÓXIMA A ÁREA DOS CONVIDADOS, EM UMA CADEIRA, CAROL, SENTADA, COM CARA DE POUCOS AMIGOS. CLOSE NELA.

CORTA PARA

CENA 07. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

CLIMA DE TENSÃO. VAI ANOITECENDO NA CIDADE. ÚLTIMO TAKE NA FACHADA DA MANSÃO ASSUNÇÃO.

CORTA PARA

CENA 08.  MANSÃO ASSUNÇÃO. SALA. INTERIOR. NOITE

 ALGUNS CONVIDADOS CIRCULAM PELO AMBIENTE. A PORTA SE ABRE, E ENTRE AS PESSOAS, VAI SURGINDO DAVI. ELE VAI SUBIR AS ESCADAS, QUANDO É INTERCEPTADO POR ROBERTO.

ROBERTO    — Onde você estava, seu moleque?

DAVI    — Eu preciso falar com a Vitória, pai.

ROBERTO    — Falar não! Você vai casar com essa garota!

DAVI SE SOLTA DE ROBERTO, COM TRUCULÊNCIA. O ENCARA FIRME.

DAVI    — Nunca mais me fale o que eu devo fazer ou não! Nunca mais!

DAVI SOBE AS ESCADAS. ROBERTO FICA ALI ATORDOADO. ENTRA NO ESCRITÓRIO, FECHA A PORTA COM FORÇA. PAULINA, POR ALI, VENDO A SITUAÇÃO TODA. EXPRESSÃO CURIOSA.

CORTA PARA

CENA 09. MANSÃO ASSUNÇÃO. QUARTO DE HÓSPEDES. INTERIOR. NOITE

VITÓRIA ESTÁ CHORANDO NA CAMA, DESOLADA. INGRID ALI COM ELA. MARIA EDUARDA EM UM CANTO, TENTANDO FALAR AO CELULAR. A PORTA SE ABRE, CÂM REVELA DAVI.

DAVI    — Vitória!

VITÓRIA O ENCARA COM RAIVA, VAI PARA CIMA DELE.

VITÓRIA    — Berrando) Seu desgraçado! Eu vou te matar, Davi!

DAVI SEGURA VITÓRIA PELOS BRAÇOS.

DAVI    — Vitória! Eu tô aqui! Eu cheguei, Vitória!

VITÓRIA VAI CAINDO NO CHÃO, CHORANDO, DRAMÁTICA. INGRID VAI ATÉ ELA, SEMPRE ENCARANDO DAVI.

INGRID    — Você é um irresponsável, Davi. Um garoto idiota que nunca honra nada! Não sabe o valor de ninguém! Eu sinto muito mesmo pela minha filha amar tanto uma pessoa igual você.

M. EDUARDA    — Davi, onde você tava? Furiosa) Não precisa nem responder, devia estar com aquela miserável/

DAVI    — Por cima) Ei, chega! Eu tô aqui, tá legal?! Vitória, eu preciso falar com você!

DAVI OLHA PARA INGRID E EDUARDA.

DAVI    — A sós.

INGRID    — Não vai falar com a minha filha a sós. Pode falar na minha frente.

VITÓRIA    — Mamãe, saia.

INGRID    — Mas, amor/

VITÓRIA    — Berra) Sai, mãe!

INGRID A ENCARA. OLHA EDUARDA E SAI DO QUARTO. MARIA EDUARDA A SEGUE. VITÓRIA OLHANDO FURIOSA PARA DAVI.

VITÓRIA    — Qual a mentira que você vai me contar agora, hein, Davi? Qual a desculpa que você vai me dizer pra usar como justificativa e não casar? Eu tô esperando igual uma idiota, a mais de seis anos. Você sabe o que são seis anos esperando a pessoa que você ama, decidir casar com você?

DAVI    — Eu vou casar com você, Vitória!

VITÓRIA SURPRESA, O ENCARA SEM ACREDITAR.

CORTA PARA

CENA 10. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. NOITE

POUCOS CONVIDADOS ESTÃO POR ALI, A FESTA DE CERIMÔNIA DO CASAMENTO DE DAVI E VITÓRIA JÁ É UM FRACASSO. OS POUCOS CONVIDADOS QUE RESTARAM DEMONSTRAM MUITO CANSAÇO. GARÇONS CIRCULANDO, MAS SEM MUITA VONTADE. NO ALTAR, O PADRE COCHILA. EM UMA ÁREA PRÓXIMA DAS CADEIRAS ESTÁ GABY, ELA DE PÉ, AO TELEFONE. ABRE O WHATSAPP, CONTATO DE BRUNO. ENVIA UM ÁUDIO. 

GABY    — Áudio) Bruno, eu já te procurei em todo canto dessa casa, e eu realmente não sei o que aconteceu com você. Não me deixa sem notícia, eu tô desesperada atrás de você. Eu tô indo embora, não sei se você tá em casa, espero que sim. Por favor, não me deixa sem notícia... Eu te amo.

GABY FINALIZA O ÁUDIO. PREOCUPADA, PEGA SUA BOLSA E SAI DA FESTA.

CORTA PARA UM PONTO DA MANSÃO, ONDE CAROL ESTÁ SORRATEIRA. ELA OLHA PARA OS LADOS, VERIFICA SUA ARMA NA BOLSA QUE CARREGA. ENTRA NA MANSÃO, SEM QUE ALGUÉM PERCEBA.

CORTA PARA PRÓXIMO DOS FUNDOS DO JARDIM, WILLIAM PULA O MURO DA RESIDÊNCIA. BATE A TERRA DA CALÇA DA PERNA E OLHA PARA DIREÇÃO DA MANSÃO. ALGUNS CONVIDADOS CIRCULANDO AO LONGE. ELE VAI SE APROXIMANDO DA FESTA, TENTANDO SER O MAIS DISCRETO POSSÍVEL. NELE, E SUA EXPRESSÃO PREOCUPADA. 

CORTA PARA

CENA 11. MANSÃO ASSUNÇÃO. QUARTO DE HÓSPEDES. INTERIOR. NOITE

VITÓRIA ABISMADA DIANTE DE DAVI, DECIDIDO.

VITÓRIA    — Vai?! Davi, que brincadeira é essa? Você vai casar comigo mesmo?

DAVI    — Eu vou, Vitória.

VITÓRIA SORRI IMEDIATAMENTE E SE AGARRA A DAVI, ELE INERTE, SEM REAÇÃO.

VITÓRIA    — Eu te amo, Davi! Eu te amo, e sabia que você ia descobrir que me ama também!

DAVI    — Vitória. A afasta/ Encara) Eu não te amo!

VITÓRIA O ENCARA, DESFAZ O SORRISO.

DAVI    — Eu tô casando porque não tem mais jeito. Eu fui falar com a Júlia, eu descobri que quando ela foi embora daqui dessa casa, anos atrás, ela estava grávida.

VITÓRIA    — O quê?!

DAVI    — A Júlia e eu tivemos um filho. Hoje ele tem cinco anos, é um menino lindo, incrível/

VITÓRIA DÁ UM BERRO DE DOR. DAVI SE CALA NO ATO.

VITÓRIA    — Eu não acredito que até isso, aquela desgraçada teve mais sorte que eu! Eu não acredito! Maldita!

DAVI    — Do que você tá falando, Vitória?

VITÓRIA DISCRETAMENTE COLOCA A MÃO NA SUA BARRIGA, LEMBRA DO ABORTO. O ENCARA.

VITÓRIA    — Se você e a maldita filha do motorista tiveram um filho, se vocês ainda se amam/

DAVI    — A Júlia não me ama.

DAVI COM OS OLHOS MAREJADOS.

DAVI    — Não mais. Ela está apaixonada pelo Leandro. Pelo meu irmão.

VITÓRIA    — E eu sou o prêmio de consolação, é isso?

DAVI    — Você sempre soube que eu nunca te amei. Senti um carinho por você, a muito tempo, e você sabe que isso acabou, Vitória. Há muito tempo.

VITÓRIA O ENCARA, COM OS OLHOS MAREJADOS. ELA SE APROXIMA DELE, HUMILHADA.

VITÓRIA    — Eu te amo, Davi. Eu nunca amei ninguém como eu te amo.

DAVI    — Você é obcecada, Vitória. Você ainda não percebeu o quanto, isso que você chama de amor, é prejudicial pra você?

VITÓRIA    — Eu não me importo com isso. Eu não me importo se você não me ama. Eu te amo. Eu amo pelos dois.

DAVI    — Cê tá se humilhando.

VITÓRIA    — Berra) Não me importa! Eu faria tudo de novo pra casar com você. Pra ficar com você, Davi. Você ainda vai ver que nunca, ninguém, jamais, vai te amar, vai te querer do jeito que eu te amo, do jeito que eu te quero!

DAVI, EM SILÊNCIO, VAI ATÉ O ESPELHO, OLHA SEU REFLEXO. CHORA ABALADO. VITÓRIA SURGE POR TRÁS DELE, OS DOIS SE OLHANDO NO ESPELHO. OS DOIS INFELIZES. 

VITÓRIA    — Eu acho que o meu destino é morrer te amando.

DAVI    — Eu nunca vou te amar.

VITÓRIA O ENCARA POR INSTANTES. CHORA, O ABRAÇA. DAVI SEM REAÇÃO, APENAS OLHANDO SEU REFLEXO.

VITÓRIA    — Eu sei disso.

DAVI A ENCARA. ELE PASSA A MÃO PELO ROSTO DELA.

DAVI    — Vem. Vamos acabar logo com isso.

DAVI SAI DO QUARTO. VITÓRIA FICA ALI, ABALADA. OLHA SEU REFLEXO, ESTÁ DESTRUÍDA, MAS NÃO VAI DESISTIR DO CASAMENTO.

CORTA PARA

CENA 12. MANSÃO ASSUNÇÃO. SUÍTE ROBERTO E EDUARDA. INTERIOR. NOITE

A PORTA SE ABRE. AMBIENTE ESTÁ ESCURO, APENAS A LUZ DO ABAJUR LIGADA. LEANDRO ENTRA. LIGA AS LUZES. VÊ MARIA EDUARDA JOGADA NA CAMA, CHORA DESOLADA.

LEANDRO    — Mãe? O que houve, mãe?

MARIA EDUARDA O ENCARA. LEANDRO SE APROXIMA E OS DOIS SE ABRAÇAM.

M. EDUARDA    — Eu acabei com a minha vida, meu filho. Hoje, eu consigo ver o quanto eu sou infeliz, nesse casamento de fachada, com essa vida de mentiras que eu construí pra mim.

LEANDRO    — Mãe, porque cê tá falando isso? O Davi vai casar com a Vitória, os nossos problemas estão resolvidos.

MARIA EDUARDA ENCARANDO LEANDRO. NEGA COM A CABEÇA.

M. EDUARDA    — A nossa família é um fracasso, Leandro. Olha pra isso tudo, o Davi sendo obrigado a casar com uma mulher que ele não ama, por causa de dinheiro, de dívidas que o seu pai contraiu. Você se envolveu com a Júlia, pra não deixar que essa família fosse pro buraco.

LEANDRO    — Mãe/

M. EDUARDA    — Por cima/ Ignora) E eu? O que eu fiz? Onde eu estava nisso tudo? Eu fracassei como mãe, como pessoa. Eu vivi uma mentira esse tempo todo. Eu sou um fracasso de mulher.

LEANDRO    — Não fala isso, dona Maria Eduarda! A senhora não fracassou! A senhora fez o que achou que deveria fazer. É normal todos errarem. Ninguém é totalmente mocinho, nem totalmente vilão, mãe. Isso é coisa de filme, de livro, novela!

LEANDRO PASSA A MÃO PELO ROSTO DE EDUARDA.

M. EDUARDA    — O culpado disso tudo é o Roberto. Ele tem que pagar, Leandro! Ele vai pagar!

BAQUE. LEANDRO ASSUSTADO COM A MÃE. MARIA EDUARDA FRIA, OLHAR INERTE.

FADE OUT/ 

FADE IN/

CENA 13. CLIPE

CLIMA DE TENSÃO. UM CLIPE COM A SEQUÊNCIA A SEGUIR, MOSTRANDO OS ACONTECIMENTOS.

MÚSICA: "Castle Of Glass" - Linkin Park

01 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ JARDIM/ EXT.

PLANO GERAL, MOSTRANDO POUQUÍSSIMOS CONVIDADOS. CLIMA TRISTE. DAVI NO ALTAR, SEM O MENOR ÂNIMO. O PADRE ALI. VITÓRIA VINDO PELO TAPETE VERMELHO, NÃO ESTÁ FELIZ, EXPRESSÃO DESOLADORA. OS DOIS INFELIZES, INDO SELAR SUA UNIÃO. NO ALTAR, A AUSÊNCIA DOS PAIS DOS NOIVOS. LEANDRO NO ALTAR, ESTRANHA.

02 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ ESCRITÓRIO/ INT.

ROBERTO DE PÉ, BEBE DIRETO EM UMA GARRADA DE UÍSQUE. ELE VAI QUEBRANDO OS OBJETOS DE CIMA DA MESA. CORTES DESCONTÍNUOS DE ROBERTO SURTANDO NO ESCRITÓRIO, GRITA, ENQUANTO VAI QUEBRANDO TUDO O QUE VÊ PELA FRENTE.

03 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ SALA/ INT.

POUCA MOVIMENTAÇÃO. PAULINA ESGUEIRA POR ALI, COM UMA BANDEJA DE CANAPÉS. VÊ O MOVIMENTO. POR ALI, APARECEM MARIA EDUARDA, ELA ESPREITANDO A MOVIMENTAÇÃO. 

04 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ PISO SUPERIOR/ INT.

ARTHUR SAINDO DE UM CÔMODO NÃO ESPECIFICADO, CARA DE POUCOS AMIGOS. DE OUTRO CÔMODO, MINUTOS DEPOIS, INGRID TAMBÉM SAI, ESPREITA O MOVIMENTO. DESCE AS ESCADAS.

05 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ JARDIM/ EXT.

DAVI E VITÓRIA DIANTE DO PADRE. OS DOIS DIZEM SIM, TROCAM ALIANÇAS. LEANDRO ESTRANHANDO A AUSÊNCIA DOS PAIS E DOS PAIS DA NOIVA NO ALTAR. 

06 - MANSÃO ASSUNÇÃO/ ESCRITÓRIO/ INT.

ROBERTO, BEM EMBRIAGADO, EM SUA CADEIRA, DE COSTAS PARA A PORTA. CÂM EM SLOW-MOTION: A PORTA SE ABRE, ALGUÉM ENTRA SORRATEIRAMENTE NO LOCAL. ROBERTO SE VIRA AOS POUCOS. ENCARA A PESSOA. ELE SE LEVANTA COM DIFICULDADE. A PESSOA QUE ENTROU, MIRA UMA ARMA EM DIREÇÃO A ROBERTO. ELE VAI TENTAR ARGUMENTAR, MAS SEUS OLHOS FICAM ARREGALADOS NO MESMO INSTANTE. A ARMA DISPARA E ACERTA EM CHEIO O PEITO DE ROBERTO.

ROBERTO COLOCA A MÃO SOBRE O PEITO, ENCHARCADO DE SANGUE. VAI CAINDO AOS POUCOS NA CADEIRA. A PORTA SE FECHA.

CORTA PARA

CENA 14. MANSÃO ASSUNÇÃO. JARDIM. EXTERIOR. NOITE

DAVI E VITÓRIA TERMINANDO A CELEBRAÇÃO. O PADRE FINALIZANDO. DAVI COLOCA A ALIANÇA NO DEDO DE VITÓRIA, ELA NO DELE. ELA VAI BEIJÁ-LO, MAS ELE DESVIA.

PAULINA    — (OFF) Socorro! Socorro! Alguém me ajuda!

OS CONVIDADOS OLHAM EM DIREÇÃO A ENTRADA DE PAULINA, QUE VEM CORRENDO PELO TAPETE. DAVI, VITÓRIA E LEANDRO OLHANDO EM SUA DIREÇÃO TAMBÉM. MARIA EDUARDA APARECENDO POR ALI, POR TRÁS DO PÚLPITO, ARTHUR E INGRID CHEGANDO JUNTOS TAMBÉM POR ALI, SEM NINGUÉM PERCEBER. PAULINA PARA NO MEIO DO TAPETE, DESESPERADA, ESBAFORIDA.

PAULINA    — Ele morreu! 

DAVI    — Mataram? Que?

VITÓRIA    — Do que esse estrupício tá falando?

LEANDRO VAI CAMINHANDO ATÉ PAULINA, QUE PASSA A MÃO PELO ROSTO, TRANSPIRANDO.

LEANDRO    — Paulina, o que aconteceu?

PAULINA    — Leandro, o seu pai. 

LEANDRO    — O que?!

PAULINA    — (Berrando) Mataram o doutor Roberto!

CLOSES ALTERNADOS DE TODOS OS PRESENTES. ÚLTIMO CLOSE EM PAULINA, CHOCADA.

CORTA PARA

FIM DO CAPÍTULO 22