CAPÍTULO 17
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 26 + Capítulo 27 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: INT. TEMPLO – JARDIM – NOITE
Rute caminha tranquilamente pelo jardim, aproveitando a noite fresca e estrelada. Orfa passa por ali.
ORFA— Não vai dormir, Rute?
RUTE— Vou ficar mais um pouco apreciando as estrelas, sentindo a brisa da noite...
ORFA— Certo... Até mais, então.
Orfa sai. Rute vai até um banco de madeira, senta e fica olhando para o céu.
De repente, um barulho vindo do outro lado do jardim. Ela olha, mas não consegue enxergar direito por causa de algumas plantas ao seu lado. Então levanta um pouco e consegue notar, do outro lado, Faruk passando furtivamente. Rute franze o cenho, estranha aquele comportamento cuidadoso e discreto do Sumo Sacerdote.
Faruk garante que ninguém está lhe vendo e corre para um corredor que sai do jardim. Rute se abaixa e senta novamente. Confusa, ela pensa no que acabou de ver. Então se levanta como se fosse atrás, mas desiste e volta a sentar. Está curiosa, incomodada... Levanta de novo e para, mas em pé... Olha para os lados, pensa... e finalmente vai atrás.
CENA 2: INT. TEMPLO – CORREDORES – NOITE
Rute corre de forma mais silenciosa possível. É atenta a cada novo corredor que toma. A sacerdotisa para em uma virada ao finalmente encontrar Faruk andando rápido, porém discreto.
RUTE— (ofegante) Está indo... para a câmara de sacrifícios?...
Rute espera ele se distanciar e vai atrás.
Faruk chega à entrada da câmara. Rute se joga para trás de um pilar. Ele olha para trás, conferindo se ninguém o seguiu, e entra na câmara. Rute sai de trás do pilar e vem correndo.
Ao chegar na entrada, ela para e espia lá dentro. Um grande pilar na entrada impede a visão completa da câmara, mas ela consegue ver Faruk, parado, observando um servo trazer um menino de 10 anos à força. O garoto grita, mas em vão. Estão aos pés de um púlpito onde há uma mesa de pedra. E atrás, na parede, uma grande estátua de um monstro, algum deus moabita.
MENINO— Me solta, me solta! Socorro! Me solta, me larga! O que vocês querem?! Socorro!
CENA 3: INT. TEMPLO – CÂMARA DE SACRIFÍCIOS – NOITE
Rute está chocada. Ela entra no comecinho da câmara e fica escondida atrás do pilar. Respira ofegante. Está cansada e abismada com o que está acontecendo ali.
FARUK— Garantiu que tudo foi feito com discrição?
SERVO— Sim, senhor. Os poucos que presenciaram pensaram ser um sequestro comum. A família acha que foi levado por mercadores de escravos.
FARUK— Ótimo, bom trabalho.
Rute cada vez pior... Ela tampa a boca com a mão, seus olhos estão arregalados. O garoto chora amargamente.
FARUK— Cale-o.
O servo molha um pano com um líquido e coloca na boca do garoto que, momentos depois, desmaia. Pega uma corda e amarra suas mãos. Rute arrisca uma olhada... Não acredita que aquilo está acontecendo.
De repente, ela se desequilibra e faz um barulho involuntário com os pés. Faruk olha assustado para a entrada da câmara. De onde está, ele não consegue ver o corredor por conta do pilar.
FARUK— Vá checar.
O servo larga tudo e vai para a entrada. Rute escuta seus passos se aproximando. Ao chegar no pilar, o servo é cuidadoso. Vai pela direita... Rute, extremamente atenta aos ruídos, se afasta um pouco para a esquerda. Muita tensão. Se ela for para o corredor, será vista. Se tiver que ir demais para a esquerda, aparecerá do outro lado e será vista por Faruk.
O servo aproxima mais pela direita, está na lateral do pilar. Rute aflita por estar se aproximando demais da outra lateral, onde será vista pelo Sumo Sacerdote. Então, ao olhar para sua mão no pilar, ela parece ter uma ideia.
Rute arranca um de seus anéis, o olha e então o joga por cima de onde o servo se aproxima. Ele não nota o anel que voa sobre sua cabeça e cai do outro lado, entre várias mesas e estantes. Rute está no limite de ser vista, tanto por um quanto pelo outro, quando os dois se assustam com o barulho e voltam sua atenção para aquele canto onde o anel caiu. Rute aproveita para correr para o corredor.
CENA 4: EXT. TEMPLO – JARDIM – NOITE
Rute corre como se fugisse de um monstro. Perto do banco onde estava anteriormente, ela tropeça e cai. Não há ninguém ali para ver. Rapidamente ela se levanta e senta no banco, ofegante e assustada. Olha para o corredor de onde veio... respira fundo... e vai embora.
CENA 5: INT. CASA DE YURI – SALA – NOITE
A ESPOSA de Yuri pega o filho pequeno do chão e vai para a mesa, onde estão Yuri e Tani.
YURI— Nós resolvemos te chamar, Tani, porque é a única amiga de verdade que nos restou depois de Elimeleque e sua família terem ido embora. Ela tem as vizinhas como amigas, mas todos ainda estão muito assustados com o que aconteceu ontem.
TANI— Entendo... Então vão mesmo partir de Belém.
YURI— Vamos tentar reiniciar nossas vidas na minha terra natal, Hebrom.
ESPOSA— Tani, você realmente não quer ir conosco?...
TANI— Agradeço o convite, mas prefiro ficar aqui e ajudar os que estão dispostos a reconstruir a cidade. Também quero esperar por Noemi e sua família. Vou cuidar da casa deles, garantir que nada se perca em sua ausência...
YURI— Noemi e Elimeleque...
TANI— Onde estarão a essa hora?...
CENA 6: EXT. DESERTO – NOITE
Elimeleque está deitado, mas acordado. Então se senta. Confere se Noemi, ao seu lado, está dormindo, e põe-se de pé. Olha para os filhos, logo ali; também dormem. Então ele se afasta para longe do calor e da luz da fogueira quase apagada.
A algumas dezenas de metros de sua família, em meio à escuridão, Elimeleque observa o céu forrado de estrelas. De repente ele desaba e cai de joelhos. Olhando para as estrelas, ele desabafa.
ELIMELEQUE— (sussurrando) Senhor... Meu Senhor... Apesar de me mostrar confiante com eles, a cada momento que passa... eu fico mais temeroso. Por outro lado, eu sei que se tivesse ficado em Belém seria pior...
Seus olhos começam a marejar.
ELIMELEQUE— Apenas Te peço, Senhor... que não nos deixe desfalecer no deserto. Guie-nos... Ilumine a minha mente para que eu não falhe com minha família. Para que eu não os leve ao padecimento.
Elimeleque chora.
CENA 7: EXT. HOSPEDARIA – ENTRADA – NOITE
Boaz e Josias conversam escorados na entrada da hospedaria. Então Neb passa por eles, saindo do local.
NEB— Shalom.
BOAZ, JOSIAS— Shalom...
JOSIAS— Sujeito engraçado esse Neb.
BOAZ— Josias, você percebeu a alergia à casamento que ele tem?
Eles riem.
JOSIAS— Boaz, vamos aprontar uma com ele...
CENA 8: EXT. BELÉM – RUA – NOITE
Neb está andando. Boaz e Josias se aproximam por trás.
BOAZ— Neb! Neb...
Neb para e olha.
NEB— Boaz, Josias... Sim?
BOAZ— Neb... Você havia comentado sobre ajudar, ser útil, algo assim, não foi?
NEB— Sim, sim, é meu desejo--
BOAZ— (interrompendo) Há algumas moças aqui perto que estão com dificuldade para organizar suas coisas. Estão na porta de casa. Por que não nos acompanha até lá?
NEB— Bom, eu... me referia a ajudar... a sua família, Boaz.
BOAZ— Quem ajuda a um belemita ajuda à minha família, Neb.
Josias segura para não rir.
NEB— É, tudo bem... Vamos lá ver isso.
Boaz, Joias e Neb se aproximam de uma casa onde algumas moças tentam arrumar objetos pesados.
BOAZ— Shalom.
Todas respondem.
BOAZ— Estávamos passando por aquela rua quando vimos as moças com dificuldades... Aceitam que as ajudemos?
MOÇA 1— Ah, se puderem...
MOÇA 2— Seria ótimo!
MOÇA 3— Chegaram na hora certa!
BOAZ— Pois bem. Vamos.
Os três se espalham e cada um ajuda de uma forma.
JOSIAS— Neb... E aquela história sua de não querer casar?
As mulheres olham Neb de canto de olho.
NEB— Não querer casar? Minha história? Mas que absurdo... É claro que... é claro que eu... que eu... (espirra!) que eu quero casar.
Algumas riem.
JOSIAS— Bem que suspeitávamos, han, Boaz?!
BOAZ— Bastou estar perto das moças e a alergia passou!
JOSIAS— Curou!
Boaz e Josias riem. Algumas se constrangem, mas a maioria sorri timidamente. Neb começa a ficar vermelho e a tremer. Olha feio para eles.
NEB— Do que é que-que estão falando? Não estou entenden-den-dendo essas gracinhas... O que estão apron-pron... aprontando?!
Uma das moças sorri diferente. Apesar da timidez, ela olha para Neb aparentando interesse. Boaz e Josias percebem e a indicam com o olhar para Neb. Cada vez mais vermelho e mais trêmulo, ele começa a espirrar. E espirrar. E espirra sem parar!...
Boaz e Josias não se aguentam e caem na gargalhada. Algumas moças fazem o mesmo. É quando Tamires aparece por ali e se aproxima.
TAMIRES— Mas que falta de vergonha, hein! Que insensibilidade!
Todos ali param de rir e olham para ela.
TAMIRES— A cidade toda ardendo em sofrimento, e vocês aqui, algazarrando como cabras acasalando. Problema de quem não tem o que fazer!
MOÇA 1— Até parece que você se importa com a cidade. Vi como tratou a senhora Noemi e a senhora Tani na rua há um tempo. Essas sim se importavam com Belém.
Tamires, encarando a moça, se aproxima dela.
TAMIRES— Quem é você para falar assim comigo, garota?
A moça encara Tamires. Essa então vira para Boaz e Josias.
TAMIRES— Vão embora, os dois.
Boaz é firme ao encará-la.
BOAZ— Ao contrário do que disse, nós temos sim o que fazer. Viemos ajudar essas moças, justamente para que o sofrimento da cidade diminua um pouco que seja.
TAMIRES— É muito conveniente que tenham vindo ajudar justo as moças.
BOAZ— Espere, você... não é aquela mulher da entrada?...
TAMIRES— Boa memória. E já que são novos em Belém, comecem a aprender as regras daqui.
Neb espirra e Tamires olha para ele.
TAMIRES— E quanto a você, não tem que estar se misturando com esse povo, que nem é da tua idade.
NEB— Estou apenas ajudando-os. Dê um tempo, Tamires. Não tenho que te dar satisfações do que faço.
Tamires olha feio para ele. Depois para todos os outros.
TAMIRES— É bom trabalharem mesmo. Bem direitinho. Para que tudo volte a ser como era antes.
Então ela vira com o nariz empinado e sai caminhando cheia de si. Os dois e as moças a encaram com raiva.
NEB— Ela gosta de mim.
Eles olham para ele com estranheza.
CENA 9: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE
Rute entra no quarto correndo e cai sentada em sua cama, de boca aberta.
ORFA— Valha-me, Rute! Mas o que é isso?! Que aconteceu?!
RUTE— Eu... eu... eu... eu... Não consigo!...
Assustada, Orfa serve água em um copo e entrega para Rute, que bebe de um só gole.
ORFA— Agora respire. Isso, respire fundo...
Rute respira fundo algumas vezes. Orfa lhe seca o suor da testa.
ORFA— Pronto? Acalmou?
Rute engole em seco e respira fundo uma última vez.
RUTE— Apenas o suficiente para te contar.
ORFA— Pois conte, Rute. O que te deixou assim?!
Rute conta tudo o que viu, desde Faruk furtivo no jardim até sua fuga usando o anel. Orfa, impressionada, se afasta.
ORFA— Isso é mesmo verdade, Rute?!
Rute começa a chorar de desespero.
RUTE— Posso te garantir que sim... Aquilo tirou meu chão, Orfa... Sempre vi o Sumo Sacerdote como um homem justo, incorruptível, fiel aos deuses... Mas fazer isso... utilizar uma criança sequestrada para realizar um sacrifício... sequestrar uma criança!...
Ela gesticula muito.
RUTE— Ver ele fazer aquilo, uma coisa tão... tão...
Mexe as mãos energicamente, mas não encontra palavras. Olha para Orfa.
RUTE— E agora?!
Orfa a encara aflita. Rute, sem chão e com os olhos vermelhos e molhados, chora desiludida.
CENA 10: INT. CASA DE IAGO – SALA – NOITE
Tamires entra em casa murmurando.
TAMIRES— Jovens imbecis...
Ela fecha a porta quando vê Iago, em meio a penumbra, sentado à mesa com um copo de água, pensativo.
TAMIRES— Iago?... Onde está Maya?
Ele olha para ela.
IAGO— Já foi dormir.
TAMIRES— Hum.
Tamires entra na sala de vez.
IAGO— Tamires... E quanto àquele seu plano?
TAMIRES— No tempo certo você saberá.
IAGO— O tempo certo já chegou, Tamires. A comida é extremamente escassa e Maya precisa para agora!
TAMIRES— E você acha que não estou pensando em Maya? Não adianta você querer se apressar, Iago. Adiantar as coisas só farão com que elas não funcionem.
Tamires também senta à mesa e bebe água.
TAMIRES— Deixe-me te perguntar uma coisa, Iago... O que você pensa dos rumores de que há pessoas que estão se reunindo em grupos e atacando e roubando por aí?
Iago é indiferente.
IAGO— Eu nem mesmo soube desses rumores.
TAMIRES— Pois está acontecendo. Belemitas comuns estão fazendo isso.
IAGO— Então é melhor protegermos o pouco que ainda temos.
TAMIRES— Mas... eu digo assim, Iago... O que você pensa dessas pessoas como indivíduos?... Você se veria fazendo isso?...
Iago parece continuar pensando.
IAGO— Eu entenderia quem fizesse isso. E se fosse preciso, eu faria também para salvar Maya e meu filho.
Um tanto satisfeita, Tamires faz que sim.
IAGO— Mas não é minha primeira opção. No momento aguardo pelo seu plano, Tamires. E então? Diga-me de uma vez!
TAMIRES— No tempo certo, Iago. No tempo certo.
Ele balança a cabeça insatisfeito.
CENA 11: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE
Apesar da escuridão da madrugada, Rute, deitada, encara o nada com os olhos bem abertos. Abalada pelo que presenciou, ela pensa. Pensa muito...
CENA 12: EXT. DESERTO – MANHÃ
A noite passa e o sol nasce.
No meio da vasta planície, Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom estão levantando.
MALOM— Vejam essa luz da manhã! Esse frescor!
QUILIOM— Aproveite, porque logo o sol subirá pela abóboda celeste e o calor voltará a queimar nosso couro. Mas não posso negar que foi uma noite muito bem dormida, apesar do chão duro.
ELIMELEQUE— (olhando para Noemi) Foi muito bom lembrar dos tempos de mocidade.
NOEMI— Eu demorei a dormir depois de tudo que presenciamos ontem, mas foi uma boa experiência de sono.
MALOM— E o que comeremos?
ELIMELEQUE— Restou carne de ontem à noite?
Eles sentam. Elimeleque aprecia a paisagem ao redor.
ELIMELEQUE— Como é linda a Terra Prometida...
CENA 13: EXT. BELÉM – PRAÇA – MANHÃ
Tani acompanha Yuri e sua esposa com o filho no colo.
YURI— Apesar de estarmos indo embora, não quero abandonar Belém de vez. Viremos de quando em quando visitar você e Elimeleque quando eles retornarem.
TANI— Venham mesmo.
Eles estão passando pela rua lateral da praça. Ali, há algumas dezenas de pessoas e, à frente deles, o Ancião, Salmon e Raabe.
TANI— O que está acontecendo? Nem soube de nada...
Eles se aproximam para ver. Salmon fala com o Ancião.
SALMON— Já há um número considerável de belemitas?
ANCIÃO— Para mim, que pensava que ninguém viria, é um número mais que considerável. Na certa estão muito afetados por tudo, e mais dispostos a um consolo, a ouvir a vontade de Deus.
SALMON— Certo. Com licença, vou tomar a palavra.
Salmon vira para os belemitas.
SALMON— Hebreus! Povo de Belém! Meus irmãos... Primeiramente gostaria de agradecê-los por terem vindo. Para quem não sabe, eu sou Salmon, filho de Nassom, e essa é minha esposa Raabe. Dela, tenho certeza que a maioria já ouviu falar. Há muitos anos, quando ainda éramos jovens e eu lutava no exército de Josué para conquistarmos essa terra, Raabe foi fundamental na conquista da cidade de Jericó.
Raabe sorri.
SALMON— A fé de Raabe, a crença de que nós, aquele povo estrangeiro que se aproximava cada vez mais das muralhas, com supostas lendas de mares se abrindo e rios interrompendo seu curso os precedendo, permitiu hoje estarmos aqui, vivendo nessa terra. E é por essa fé, meus irmãos, que nós queremos reconstruir a cidade. Juntos! Todos nós unidos numa mesma comunhão. Para isso, para que nosso plano dê certo, precisamos que todos se comprometam a buscar ao Senhor.
Alguns murmúrios, mas ninguém rebate.
SALMON— Eu tenho certeza, meus irmãos, que se nós nos unirmos e nos voltarmos ao Senhor de um puro e sincero coração, as coisas hão de melhorar. Ainda que de forma gradativa.
Tani sorri.
YURI— Passarei essa mensagem em Hebrom.
CENA 14: EXT. BELÉM – RUA – ENTRADA DA CIDADE – MANHÃ
Momentos depois, Yuri e a esposa despedem de Tani na saída da cidade.
YURI— Shalom, Tani.
TANI— Shalom, Yuri.
ESPOSA— Shalom, minha amiga.
TANI— Shalom. Que Deus os acompanhe!
Tani beija o filho deles. Em seguida eles viram e saem da cidade. Tani os observa um pouco e então vira para voltar. É quando dá de cara com Tamires!
TANI— Ai! Que susto!...
Tamires sorri.
TAMIRES— Mais covardes indo embora. Primeiro sua amiguinha e o maridinho frouxo dela, e agora esses idiotas.
TANI— Todos eles foram embora por extrema necessidade, na ânsia de salvarem suas famílias! Mas sabe, Tamires, apesar de fazer muito tempo, eu me lembro que você foi embora de Belém porque não aguentou ficar na mesma cidade que o homem que te rejeitou. Não teve capacidade de olhá-lo com a cabeça erguida. Das covardias, qual a maior?
TAMIRES— Desgraçada!
Tamires mete o tapa em Tani, que leva a mão ao rosto. Tamires a encara furiosa.
TANI— Bate, Tamires... Pode bater. Nada disso vai me afetar. E é bom que você também fique em paz, pois precisaremos de muita se quisermos reconquistar o coração de Deus. Shalom.
Tani passa por Tamires e vai embora. Essa, mordida de raiva, murmura.
TAMIRES— Se cuida, mulher... Ou fará companhia à sua amiguinha no nosso alvo...
CENA 15: INT. TEMPLO – SALA DE REFEIÇÃO – MANHÃ
É um grande salão. Há uma mesa central repleta de comida e várias outras espalhadas. Sentadas em uma delas, Rute e Orfa desjejuam.
ORFA— É notável o seu estado, Rute. Você está muito estranha. Dá pra ver que não dormiu nada.
RUTE— Não dormi mesmo. Estou decepcionada, desiludida... As coisas ao meu redor soam estranhas, não fazem sentido... E o pior é que não posso denunciar a ninguém, nem ao rei. O Sumo Sacerdote tem muito poder e influência no reino.
ORFA— Iiihhh, uma sacerdotisa no seu estado não será nada bom. Principalmente se Faruk perceber.
Rute apenas olha Orfa. Atrás dela, Myra adentra o salão.
ORFA— Não é Faruk, mas é bom você se ajeitar.
Rute se ajeita e passa as mãos no rosto. Myra se aproxima da mesa delas.
MYRA— Bom dia, sacerdotisas. Como vão?
RUTE— Bom dia, senhora.
ORFA— Bom dia. Muito bem, obrigada.
MYRA— Que ótimo. Venho para dizer apenas que a comemoração do aniversário do rei está próxima, e que o trabalho de vocês, a partir de hoje, será quase totalmente voltado para isso. Como vai a preparação do banho dos pés?
RUTE— Os ingredientes já estão todos guardados, graças a Aylla.
MYRA— Ótimo.
Myra pega uma maçã na mesa delas e morde.
MYRA— Tenham um bom dia.
Myra sai. Orfa encara Rute.
CENA 16: EXT. DESERTO – MANHÃ
A família está com quase tudo pronto para partir.
ELIMELEQUE— E então, revigorados?!
MALOM— Depois de comer, com toda certeza.
NOEMI— Que animação, hein, meu amor!
ELIMELEQUE— À noite eu orei e senti muito a presença de Deus. Sinto que estamos no caminho certo, fazendo o que tem de ser feito!
NOEMI— Isso é tão bom, essa sensação... Esse prazer com Deus, essa confiança, fé...
ELIMELEQUE— É maravilhoso! É algo que só possamos alcançar com Ele! (gritando para toda a planície) Com o Senhor, o único Deus!
A voz bate nos montes e ecoa. Malom e Quiliom sorriem e abraçam os pais. Pouco depois, eles retomam a caminhada.
Os dias começam a passar. Os quatro caminham, caminham, caminham, caminham muito. Passam por diversas paisagens diferentes. Altos de montes, estreitos, atravessam ribeiros, cruzam planícies, enfrentam o sol ardido, ventos fortes, se abrigam de tempestades de areia...
CENA 17: EXT. MAR MORTO – PROXIMIDADES – DIA
Encontramo-nos andando pelo deserto e uma linha azul à sua esquerda.
QUILIOM— O mar...
CENA 18: EXT. MAR MORTO – PRAIA – DIA
Pouco tempo depois, os quatro chegam à praia. Malom e Quiliom, como dois meninos, pulam e se divertem com as ondas. Elimeleque e Noemi os observam rindo. Ela olha para o marido.
NOEMI— Apesar de tudo que estamos passando, Elimeleque, eu estou com você.
Elimeleque a segura em seus braços e eles caem na areia quando uma onda os atinge. Eles riem e se beijam, apaixonados. Perto dali, Malom e Quiliom percebem.
QUILIOM— Olha lá, Malom, olha lá...
Eles riem. Pouco tempo depois, os quatro partem do mar.
CENA 19: INT. TEMPLO – DIA
Em Moabe, o tempo passa enquanto os moabitas se preparam para as comemorações do aniversário do rei. Orfa e Rute muito envolvidas em tudo. Paralelamente, Rute continua com a seleção da nova oferenda. Em determinado dia, Rute olha para Aylla, Aylla olha para Rute... E Faruk vê Rute, Rute vê Faruk...
CENA 20: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Nas ruas, Salmon e Raabe pregam para o povo. Falam com vigor, entram no meio do povo e expressam tudo que acham necessário.
CENA 21: EXT. CASA DE BOAZ – DIA
Em determinado dia, Salmon, Raabe, Boaz e Josias observam uma grande casa, seu novo lar. Sorriem contentes e entram.
CENA 22: INT. CASA DE BOAZ – DIA
Eles olham todos os cômodos, apreciam a tudo.
CENA 23: EXT. BELÉM – CAMPOS – DIA
A face do campo está vazia. O sol brilha no alto do céu. Salmon e Raabe observam aquilo tudo e Boaz e Josias um pouco afastados.
SALMON— A partir daqui, reergueremos Belém, com a ajuda de Deus.
BOAZ— (para Josias) Será mais que isso. Eu vou contribuir, vou trabalhar e aqui construiremos um império. Com a ajuda de Deus, é claro.
Boaz e Josias sorriem empolgados.
CENA 24: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Dia após dia, a Caravana da Morte aumenta em número de homens. Segismundo discursa, fala, encoraja-os, e, acima de tudo, treinam incessantemente.
CENA 25: EXT. BELÉM – CAMPOS – DIA
No campo, eles treinam. Lutam à espada uns com os outros, os arqueiros praticam atirando nas árvores... E então se preparam para agir. Agora usam um pano no rosto que deixa visíveis apenas os olhos. Montam em cavalos e partem.
Cercam grupos de pessoas caminhando e se aproximam com violência. Socos, empurrões... Roubam tudo que podem.
CENA 26: INT. BELÉM – CASAS – DIA
Ao ouvir o som das cavalgadas, as famílias se trancam, mas em vão. Eles chegam, derrubam as portas e entram. Seja homem, seja mulher, eles agridem, ferem, tiram sangue... E, ao final, levam o que podem.
Em uma das casas, um homem os confronta e acaba por tirar o pano de um dos membros da Caravana, ficando seu rosto visível.
SEGISMUNDO— (para a vítima) Não devia ter feito isso. (para seu homem) Agora que te viu, temos que matar a todos.
O homem grita desesperado, tentando proteger sua família, mas o que teve o rosto revelado lhe crava a espada. Em todos os ataques, Gael apenas observa calmamente.
CENA 27: INT. CASA DE SEGISMUNDO – SALA – DIA
Reunidos em volta da mesa, os homens da Caravana e Tamires realizam a contabilidade de tudo que conseguiram e repartem igualmente. Tamires olha para sua parte com um grande sorriso.
CENA 28: EXT. DESERTO – DIA
Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom descem uma encosta gramada. Lá embaixo, um calmo rio risca a superfície.
Às margens das águas, eles diminuem o passo.
ELIMELEQUE— Estamos no Jordão, na fronteira de Israel com Moabe. A partir de agora... nada mais será o mesmo.
Eles se olham por alguns segundos. Então finalmente avançam, cruzam o rio e adentram o reino de Moabe. IMAGEM CONGELA.
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