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A Promessa - Capítulo 19 (Reprise)


CAPÍTULO 19 


uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 29 + Capítulo 30 + Parte do Capítulo 31 ORIGINAL (SEM CORTES)


CENA 01: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA 

Raabe, ao lado de Salmon, prega para o povo. 

RAABE— E é por isso que o Senhor está disposto a inclinar seus ouvidos às nossas orações. Basta que O busquemos! 

A maioria compreende e aceita. Tamires, que está por ali, fala para todos ouvirem. 

TAMIRES Mas que absurdo sem tamanho! Onde já se viu uma prostituta pregando sobre Deus em plena luz do dia?! 

Apesar do que Tamires fala, Raabe a observa serenamente. Salmon fecha o semblante. 

TAMIRES Não sabiam? Essa mulher, Raabe! Uma rameira! Meretriz! Prostituta! E agora fica aí, esbravejando aos quatro ventos, falando de Deus como se fosse a mais pura dos hebreus! Aliás, nem hebreia essa aí é! Cananeia imunda! Cananeia e prostituta!!! 

Murmúrios para todos os lados. Raabe, serena, toma a palavra. 

RAABE Ao contrário do que essa senhora pode pensar, eu não tenho nenhum problema com a minha história, com o meu passado, pois verdadeiramente mudei de vida. Deus transformou a minha vida e me deu uma nova razão de viver. Fui prostituta em Jericó? Fui, e todos sabem disso. Mas se estou aqui hoje, casada com um dos maiores guerreiros do exército de Josué e pregando a vocês a vontade do Todo-Poderoso, é porque meu coração foi completamente entregue ao nosso Senhor e totalmente transformado por Suas mãos. Naquela cidade eu era nada, mas Deus, que enxerga muito além do que os nossos olhos podem ver, sabia que ali, em meio à miséria, ao lamaçal e à imundície, havia uma alma necessitada. Um coração disposto a amar e pronto a servir! 

O povo murmura um pouco, mas ninguém a contradiz. 

SALMON Como alguém pode se lembrar disso e se esquecer que foi por meio dela que os espias puderam fugir de Jericó?! Não conhecem a história da conquista desta terra???!!! 

RAABE Meus irmãos, minhas irmãs... Vocês sabem que o que Salmon e eu pregamos é nada mais que o que o Senhor já nos passou por meio de Moisés, dos sacerdotes, dos juízes, dos anciães... Apenas nos concentremos nisso e façamos o que é certo. Belém há de reerguer! 

A multidão concorda e Tamires percebe que não tem muita influência ali. Então vai embora. 

 

CENA 02: EXT. CASA DE BOAZ – FRENTE – DIA 

Em frente à casa, Salmon, Raabe e Josias conversam com Neb. 

SALMON Eu entendo, meu sobrinho, você já falou sobre esse rato. Mas também peço que entenda que não é uma situação muito agradável ter alguém invadindo um lugar onde estão guardados seus pertences. 

NEB Tudo bem, tio, tudo bem. 

Neb parece um tanto ressentido. 

SALMON Pois então aceite trabalhar conosco. Vamos ter muitos serviços aqui e poderemos te pagar bem. 

NEB Não, meu tio, não precisa se preocupar. De forma alguma. Isso não é necessário. Posso ajuda-los sem ser um empregado. 

Neb começa a se afastar para ir embora. 

SALMON Por favor, Neb... 

NEB Não, não. Minha ajuda é de coração, meu tio. E se Boaz e Josias quiserem arrumar boas moças pra se casarem, é só me procurarem. Shalom. 

Ele vai embora de vez. 

BOAZ Como é que alguém com alergia a casamento pode ajudar com isso?... 

Boaz e Josias riem e Salmon e Raabe observam o sobrinho indo embora. 

 

CENA 03: EXT. CASA DE SEGISMUNDO – OFICINA – DIA 

Segismundo mexe em seus objetos quando Tamires chega ali, vindo da rua. 

SEGISMUNDO— Que susto, Tamires... 

TAMIRES— Ainda bem que te encontrei. Não aguentava mais ver tanta gentinha. 

SEGISMUNDO Por falar nisso, eu estava pensando aqui... Quando é que você vai chamar o tal do Iago pra fazer parte da Caravana? 

TAMIRES O que é que isso tem a ver com o que falei, Segismundo? 

SEGISMUNDO Nada. Quero é saber. 

TAMIRES Bom, eu vou falar... 

SEGISMUNDO É mesmo? Quando? 

TAMIRES A verdade, Segismundo, é que eu tenho receio da reação de Iago e da minha amiga quando souberem que eu tenho relação com todos esses ataques de que tanto estão falando. 

SEGISMUNDO Receio? Receio?! Que receio o quê, mulher! Esses dois tem é que te agradecer, visto que se não fosse assim, sua amiga poderia já ter perdido o bebê que espera! 

TAMIRES Você tem razão... Não se preocupe, eu falarei com eles. 

 

CENA 04: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

Faruk, junto a Orfa e Aylla, entram na sala e a atravessam, se aproximando do trono onde está Zylom. Os três fazem uma reverência ao rei. 

FARUK Com sua licença, soberano. Eis aqui Aylla, a menina de que falamos, a preferida ao posto de nova oferenda aos deuses. 

Zylom observa Aylla da cabeça aos pés. 

ZYLOM Que interessante... Pois bem. Realize o banho de uma vez. 

Faruk faz sinal para um servo, e ele se aproxima com uma vasilha cheia de água e pedaços de plantas. Aylla pega a vasilha das mãos do servo e sobe as escadinhas até aos pés de Zylom. A menina se abaixa e mexe no conteúdo da vasilha. 

ZYLOM Quando quiser, minha querida. 

Aylla olha para o rei e de volta para a vasilha. Então pega o pé de Zylom com delicadeza, sobe um pouco as vestes e despeja a água com a mão. Em seguida o massageia. 

ORFA Com licença, meu rei. 

Orfa faz uma reverência e sai, mas Zylom nem a nota, está aproveitando o ato de Aylla. Faruk observa contente. 

ZYLOM Que gostoso... Ah, delícia... 

 

CENA 05: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA 

A casa de Leila é no fundo de sua loja. Elimeleque, Noemi, Malom, Quiliom e Leila vem dos outros cômodos e param ali. 

ELIMELEQUE É razoável que fiquemos por aqui. 

NOEMI Quanto nos custará? 

LEILA Ah, muitas e muitas horas de histórias sobre o seu povo! 

Noemi fica admirada e todos ali riem. 

NOEMI Você é realmente muito interessada em Israel... 

Leila sorri feliz. 

 

CENA 06: INT. CASA DE IAGO – SALA – DIA 

Iago coloca a orelha na barriga de Maya. 

IAGO— Não escuto nada... 

MAYA E como poderia? Ele mal deve ter tamanho... 

IAGO Ah, filho meu não vai ser assim, não. Tem que ser vigoroso, cheio de energia, igual ao pai! 

Iago beija e faz cócegas com a boca na barriga de Maya, que gargalha. Tamires chega ali. 

TAMIRES Shalom. 

IAGO Shalom. 

MAYA Shalom, Tamires. 

TAMIRES Maya, Iago... eu tenho algo para contar pra vocês. 

IAGO Oh... Vai finalmente nos revelar o seu segredo? 

Tamires pensa por alguns segundos. 

TAMIRES Sim. Sabem esse grupo que está atacando e roubando por aí? A Caravana da Morte? 

Maya e Iago parecem começar a entender. 

MAYA Sim... Claro... 

TAMIRES Pois bem. Eu faço parte desse grupo. 

Iago e Maya a encaram. Tamires espera pela reação deles. Maya parece mais impressionada que Iago, que encara Tamires. 

MAYA— Como é, Tamires?... 

TAMIRES— É isso. E eu não só faço parte como sou a criadora, a idealizadora. 

MAYA— Agora as coisas fazem sentido... 

TAMIRES— Iago!... Gostaria de te convidar a também fazer parte da Caravana. Junte-se a nós! Lute com nós! Vamos atrás de nossa sobrevivência! 

MAYA— É bem mais que sobrevivência, Tamires. Não, Iago não fará parte disso. Os perigos, a violência... Não quero perde-lo justo agora que consegui engravidar. 

IAGO— Não se preocupe, meu amor, não vou participar de nada, até porque isso não é necessário. Tamires continua morando conosco e trazendo comida para todos nós. 

TAMIRES— Iago-- 

IAGO— (interrompendo) Sem “Iago”. Não vou lutar. Não quero saber de grupo algum. Só quero saber de Maya. E é isso. 

Tamires fica quieta. 

 

CENA 07: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

Aylla continua a lavar e a massagear os pés de Zylom, que não esconde sua cara de satisfação. Faruk, antes contente, parece estar um pouco incomodado com o fato de todos ali na sala poderem ver aquilo. Constrangido, Faruk sobe as escadinhas e se aproxima do rei com toda a cautela. 

FARUK— Com licença, senhor... 

Faruk se inclina para falar de forma que só Zylom ouça. 

FARUK— Meu senhor, com todo o respeito, mas não acha que poderia ser... um tanto inadequado o senhor desejar... essas coisas... com uma menina dessa? Que será oferecida aos deuses?... 

ZYLOM— (sem abandonar os semblantes de prazer) Eu sei, Faruk, eu sei... Estou apenas indo até o máximo que posso. Embora seja contraditório que haja um “máximo” para mim, o rei! 

FARUK— Meu rei, eu posso chamar quem o senhor desejar para se deitar com o soberano. 

ZYLOM— Pare, Faruk, pare. Meu aniversário está apenas começando, e ainda vou ter muitas tórridas noites para aproveitar com as mulheres. 

Faruk faz que sim devagar. Aylla continua a lavar os pés do rei. 

 

CENA 08: INT. CASA DE LEILA – QUARTO DE NOEMI – DIA 

Malom e Quiliom aproveitam a cama macia enquanto Noemi e Elimeleque separam seus pertences e os organiza no quarto. 

QUILIOM— Que sorte tivemos, hein! Encontrar, aqui em Moabe, uma admiradora dos hebreus! 

ELIMELEQUE— Não foi sorte, meu filho, mas preparação divina. 

MALOM— Mãe, pai... Eu vou sair um pouco, conhecer a cidade. 

QUILIOM— Eu vou junto. 

NOEMI— Não demorem, pois temos que arrumar as coisas e precisaremos da ajuda dos dois. 

MALOM— Pode deixar, mãe. 

NOEMI— E tomem cuidado, meus filhos. Muito cuidado em tempos como esses. 

Eles fazem que sim e se aproximam para beijar Noemi e Elimeleque. Em seguida saem. 

 

CENA 09: EXT. TEMPLO – JARDIM – DIA 

Caminhando vagarosamente pelo pátio com uma taça de vinho na mão, Rute pensa. Orfa chega ali e a alcança, tirando-a de seus pensamentos. 

RUTE— E então? 

ORFA— Não tenho o que dizer. Aylla está lá, banhando os pés do rei. 

Rute certifica-se de que não há mais ninguém ali e se aproxima mais de Orfa. 

RUTE— (com raiva) Eu vou te dizer que acho isso um absurdo! Uma menina como a Aylla fazendo um serviço como esse, em um homem como aquele! 

ORFA— (sussurrando) Rute!!! Enlouqueceu???!!! Aquele homem é o rei!!! Se te ouvem, cortam o seu pescoço e espalham seus pedaços por todo o reino! 

RUTE— Continuo com a mesma opinião! 

Orfa olha para um lado, olha para o outro, olha ao redor... e fala baixo com Rute. 

ORFA— Eu não sou nada apegada a essa menina como você é, mas também não gostei nem um pouco de saber disso, tanto que nem permaneci na sala do trono. 

RUTE— Não quero nem imaginar. 

ORFA— Escuta, Rute, vamos sair? Vamos aproveitar que é aniversário do rei e andar pelas ruas, como não fazemos há muito tempo? 

RUTE— Não sei se quero estar no meio do movimento... 

ORFA— Vamos, Rute. Vai ser bom refrescar a cabeça. 

RUTE— Hum... Está bem... 

ORFA— Pois vamos. 

As duas saem. 

 

CENA 10: EXT. BELÉM – CAMPOS – DIA 

Próximos à cidade, em meio ao campo varrido, Salmon e Raabe estão de frente para uma multidão de belemitas. Uma porção da terra aos pés de Salmon está lavrada. 

SALMON— Agradeço por terem nos acompanhado até aqui. 

Raabe lhe entrega algo pequeno e ele mostra para o povo. 

SALMON— Isso aqui é uma semente de trigo vinda de terras distantes, de além de nossas fronteiras. Aqui, onde até pouco tempo havia trigo com abundância, essa semente será plantada e devidamente cuidada. E nós, enquanto isso, vamos realizar as atividades que combinamos, de um puro e sincero coração. Se tudo for feito exatamente assim, essa semente crescerá e dará fruto. E isso indicará se as bênçãos de Deus estarão voltando a Israel. 

O povo sorri esperançoso. 

SALMON— Mas não se iludam! Não será uma tarefa fácil. Para que a fúria dos céus descarregasse sobre nossa terra daquela forma, a desobediência e a idolatria eram gravíssimas! Precisaremos reconquistar o coração de Deus. 

Os belemitas sorriem mais timidamente. Tamires, que estava ali escondida, faz que não e sai, de volta para a cidade. Salmon a nota e a observa se afastar. 

 

CENA 11: EXT. BELÉM – RUA – DIA 

Tamires está andando quando encontra Segismundo. 

SEGISMUNDO— Tamires... 

TAMIRES— Segismundo... Eu falei com Iago, contei tudo a eles. Mas ele não está nada disposto a entrar para a Caravana, está satisfeito com a comida que eu estou levando. 

SEGISMUNDO— Já que ele está resistente, então que você dê um jeito para que ele aceite, caso faça tanta questão. Eu não vou ficar atrás. Mais homens estão aderindo à nossa causa, nosso grupo está a cada dia mais forte e mais invencível. 

TAMIRES— Será que você pode falar mais baixo? Imagine só descobrirem que os cabeças da Caravana estão aqui mesmo, em Belém! 

Segismundo olha ao redor, certificando-se de que ninguém o ouviu. 

TAMIRES— Salmon acabou de plantar uma semente de trigo no campo. 

SEGISMUNDO— E daí? 

TAMIRES— Eu quero roubá-la. Assim, esse metido e sua esposa rameira cairão em descrédito com o povo. 

SEGISMUNDO— Sinceramente, não me importo nem um pouco com esses dois. Resolva você os seus problemas. 

Segismundo sai. 

TAMIRES— (para si) Sim, eu vou resolver. 

 

CENA 12: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA 

Tani está passando por ali quando cruza com o Ancião. 

TANI— Shalom, senhor. 

ANCIÃO— Shalom, Tani, Shalom. 

TANI— Tem boas novas sobre os soldados, senhor? 

ANCIÃO— Já foi providenciado, o mensageiro já está a caminho de Hebrom. Muito em breve os reforços deverão estar chegando à cidade. 

TANI— Que ótimo! Com essa tal Caravana à solta por aí, só Deus para nos livrar. 

ANCIÃO— Por que você não passa mais tarde no nosso templo, Tani? Podemos orar. 

TANI— Oh, sim, será um prazer, senhor. 

ANCIÃO— Ótimo. Até lá, então. 

O Ancião sorri e sai. 

 

CENA 13: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA 

Noemi e Elimeleque estão sentados à mesa. Leila, realizando seus serviços, anda de um lado para o outro. 

LEILA— Vocês devem estar famintos! Vou preparar um banquete para recepciona-los e ouvir tudo sobre Israel! 

NOEMI— Leila, por favor... Não é necessário que se preocupe com isso. 

LEILA— Não! Para mim é um prazer cozinhar para hebreus! Em minha casa! Assim como a cidade, eu também tenho razões para comemorar! 

NOEMI— Então eu irei ajuda-la. 

LEILA— Oh, ótimo! Assim poderemos adiantar alguns assuntos. 

ELIMELEQUE— Leila, há algo que sua cozinha está precisando? Eu posso ir comprar. 

 

CENA 14: EXT. MOABE – RUA – DIA 

As comemorações nas ruas aumentam cada vez mais. Malom e Quiliom observam tudo ao redor admirados. Olham, apontam... Apesar disso, Malom é um pouco mais contido. Eles passam por um lugar onde algumas prostitutas os assediam, com convites e passadas de mão no cabelo, no pescoço... Malom, à frente, aperta o passo, ignorando-as. 

MALOM— Seja forte, meu irmão. 

QUILIOM— Meu fraco não são essas mulheres, mas as bebidas... Estão tão chamativas... 

MALOM— Logo poderemos comprar. Diferente de Israel, essa é uma terra farta! 

Mais à frente, Rute e Orfa vem conversando descontraidamente. Malom e Quiliom continuam atentos ao seu redor. As duas duplas se aproximam cada vez mais, cada vez mais... e se cruzam sem se notarem. 

De repente, atrás de Malom e Quiliom, uma estrutura improvisada de madeira desaba e despenca na rua. Eles se assustam e viram para trás. Rute e Orfa, que estavam um pouco atrás, também viram com o barulho do acidente. Por alguns segundos, os enfeites que estavam no topo da estrutura caem e enchem o ar de diversas cores lindas. 

É quando os olhares de Malom e Quiliom encontram os olhares de Rute e Orfa. Admirados, e com o ar colorido entre eles, se encaram...

 

CENA 15: EXT. BELÉM – RUA – DIA 

Tani caminha tristonha pela rua, assim como a maioria que circula por ali. 

De repente ela avista, jogada em um canto, uma fruta não notada por ninguém. Tani sorri e corre para pegá-la. Examina-a e, constatado que está boa, guarda na veste. É quando ela vê, perto dali, um menino sentado no chão e claramente faminto. Tocada, Tani vai até ele, que olha para ela. Ela então tira a fruta da veste e dá para o menino. Alegre, ele a pega. 

MENINO— Obrigado! 

Tani faz que sim sorrindo e sai, novamente tristonha. 

 

CENA 16: EXT. MOABE – RUA – DIA 

Malom, Quiliom, Rute e Orfa ajudam as pessoas que foram atingidas pela estrutura que desabara, porém, paralelamente, os olhares se cruzam a todo momento, um tanto curiosos. 

MALOM— (para um atingido, porém olhando elas) Você está bem? Nada grave? Está tudo bem? 

ORFA— (da mesma forma) Tem certeza que não se machucou? 

Uma vez que as pessoas estão seguras, eles se aproximam delas. 

MALOM— Vocês duas estão bem? 

RUTE— Sim, obrigada. Assim como vocês, não fomos atingidas... Só ouvimos tudo cair atrás de nós... 

MALOM— Como nós... 

ORFA— Como vocês... 

QUILIOM— Exatamente igual... 

Por alguns segundos eles se encaram... Até que Malom quebra o clima estranho. 

MALOM— (para Rute) Qual é o seu nome?... 

RUTE— Vocês não sabem quem nós somos? 

MALOM— Não... 

ORFA— Uau... Somos as sacerdotisas de Moabe, servas da Sacerdotisa Myra e do Sumo Sacerdote Faruk... 

RUTE— Ao menos eles vocês devem saber quem são. 

QUILIOM— Não. Nós chegamos hoje à cidade, não somos moabitas. Somos de Israel. 

RUTE— Hebreus?! 

ORFA— Nossos antigos inimigos... 

Quiliom está muito impressionado com a beleza de Orfa. 

QUILIOM— Escute, onde poderíamos encontrá-las? 

Apesar de também estar abalado pela beleza de Rute, Malom olha com leve estranheza para o irmão. 

ORFA— (sorrindo) Isso não é possível. Nós habitamos no templo. 

QUILIOM— Onde é? Diga-nos, e poderemos ir até lá. 

ORFA— Para quê? 

Quiliom fica meio sem graça. 

QUILIOM— Bom, para... para saber se vocês estão bem... 

Orfa ri. 

ORFA— Não fomos atingidas nem por uma lasca de madeira. 

QUILIOM— Os sintomas podem vir depois... 

Orfa ri mais. 

ORFA— Por acaso são médicos? Desculpe... Mas não será possível. 

Rute, mais atenta a Malom, se incomoda com a resposta de Orfa. 

RUTE— É possível se permitirmos. 

Orfa olha estranhando. 

RUTE— Vão até o portão do templo, na noite de amanhã... 

Malom e Quiliom sorriem. 

RUTE— Mas não se enganem e nem me interpretem mal. Disseram que são hebreus, não é? Como sacerdotisas queremos saber mais de Israel e sua cultura de adoração. 

Orfa, olhando para Quiliom, faz que sim. 

MALOM— Mas quais são os nomes das sacerdotisas? 

RUTE— Eu sou Rute. 

ORFA— E eu sou Orfa. 

MALOM— Rute... Meu nome é Malom. 

QUILIOM— Quiliom. 

Elas sorriem, fazem uma minúscula reverência com a cabeça e saem rapidamente. Sorridentes, Malom e Quiliom as observam se distanciar. Rute olha uma vez para trás e logo continua. 

ORFA— O que foi aquilo, Rute? Por que permitiu que eles fossem até o templo? Por que decidiu recebê-los? 

RUTE— Você sabe muito bem, Orfa. Como sacerdotisas devemos sempre estar estudando, conhecendo outras culturas, outros costumes... 

ORFA— É só por isso mesmo? 

Rute não responde. Sem parar de andar, ela olha para os lados e então fala baixo. 

RUTE— Você também não tem um motivo específico para recebê-los, Orfa? 

ORFA— Bom... Talvez... Talvez eu tenha... 

Rute ri. Então Orfa também acaba rindo... E continuam a andar. 

Em outro ponto da cidade, Malom e Quiliom caminham animados. De repente eles param e Quiliom bate no peito de Malom. 

QUILIOM— O que é que foi aquilo, Malom?! O que foi que nós vimos, meu irmão?! Eram anjos?! 

MALOM— Quiliom, eu vou te dizer uma coisa, viu... Acho que vou ter que repensar aquela história de não me casar... 

QUILIOM— Se você escrevesse isso e eu tivesse um anel, selava embaixo agora! 

MALOM— Se bem... Se bem que... 

QUILIOM— O que foi, Malom? Se bem que o quê?! 

MALOM— Você sabe. Isso não está certo, elas são estrangeiras. Cultuadoras de deuses pagãos. 

Quiliom fica triste e respira fundo. Então eles retomam a caminhada... Até que param de novo. 

QUILIOM— Mas são tão lindas! Lindas, lindas!!! 

MALOM— São sim, Quiliom! Exuberantes!!! 

Novamente animados, eles voltam a caminhar. 

Em uma rua não muito distante dali, Elimeleque paga uma compra em uma barraca e sai. Passa pelos festeiros e, em seguida, pega um beco. É quando algumas prostitutas, vestidas provocativamente, começam a chamá-lo. Ao notar quem elas são, Elimeleque olha para frente e continua a caminhar. 

Mas mais delas surgem em seu caminho, chamando-o e passando a mão em seus braços. Ele se desvencilha e segue. Então a mais bonita de todas bloqueia seu caminho e o encara com um olhar provocativo. 

PROSTITUTA— Olá, meu guerreiro... 

Elimeleque revira os olhos devagar e olha sério para ela. 

PROSTITUTA— (se aproximando) De longe eu notei você vindo... Tão bonito, tão forte... Você parece ser muito rico. (passando a mão em seu próprio corpo) Com certeza tem ouro para se deitar com as melhores mulheres. 

ELIMELEQUE— Eu sou casado. 

Ela se aproxima mais. 

PROSTITUTA— Ah, a maioria é... Não se preocupe, forte guerreiro, ninguém saberá... Tudo ficará perdido aqui, nos becos de Moabe. 

Ela então acaricia o rosto dele. É quando ele pega a mão dela, a tira de seu rosto e segura com firmeza. 

ELIMELEQUE— Não toque em mim! 

Ela o encara surpresa. Em Elimeleque, IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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