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A Promessa - Capítulo 20 (Reprise)


CAPÍTULO 20 


uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 

 

livre adaptação do livro de Rute 

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 31 + Capítulo 32 + Parte do Capítulo 33 ORIGINAL (SEM CORTES)


CENA 01: EXT. MOABE – RUAS – DIA 

Elimeleque olha com desgosto para a prostituta, se oferecendo a ele. 

ELIMELEQUE— Eu só me interesso por uma mulher, e jamais a trairia. Muito menos ao meu Deus, a quem sirvo! 

PROSTITUTA— Larga a minha mão! 

Elimeleque solta a mão dela. 

ELIMELEQUE— Com licença. 

Ressentida, ela se afasta e ele vai embora. 

 

CENA 02: EXT. CASA DE BOAZ – FRENTE – DIA 

Parados ali, Boaz e Josias olham tristes para a situação das ruas. 

JOSIAS— É só amargura... 

BOAZ— Tsc, prefiro enxergar com um olhar de otimismo... O povo começou a buscar o Senhor novamente... Tenho fé de que as coisas vão melhorar. 

JOSIAS— Amém. 

Pensativo, Boaz encara o movimento. Então olha para Josias. 

BOAZ— Sabe, Josias, acho que estou pensando nesse negócio que meus pais vivem falando... 

JOSIAS— O quê? Casamento? 

BOAZ— Isso... Quem sabe um pouco de alegria não ajude em tempos como esses. 

JOSIAS— O problema é escolher errado e essa alegria virar uma tremenda dor de cabeça. 

Boaz faz que sim sorrindo. 

JOSIAS— Talvez seja o caso de você falar com seu primo, o Neb. 

BOAZ— Neb?! Não... É claro que ele não leva jeito com essas coisas. 

JOSIAS— Bom, por outro lado, pode ser bem divertido... 

BOAZ— É, nisso você tem razão. 

Eles riem. 

 

CENA 03: INT. CASA DE LEILA – COZINHA – DIA 

Enquanto preparam a comida, Leila e Noemi conversam animadamente. Noemi está explicando o ritual do casamento hebreu. 

NOEMI— ...e então a noiva faz assim, desse jeito, por sete vezes... 

LEILA— Sete?! Sete voltas em torno do noivo?! 

NOEMI— Exatamente! Simbolizando a construção das paredes da casa em que os dois vão habitar. 

LEILA— Uau, que diferente!... 

NOEMI— Sim, e aí depois-- 

Ela para ao ouvir um barulho. Olha para a direção da loja. 

LEILA— É o seu marido. 

NOEMI— Ah, sim. 

Elimeleque chega ali com as compras. 

ELIMELEQUE— Trouxe os temperos. 

LEILA— Oh, muito obrigada, Elimeleque! Pode colocar aqui. 

Elimeleque coloca as coisas no balcão. 

NOEMI— Está tudo bem, meu amor? 

Elimeleque olha para ela. 

ELIMELEQUE— Sim, sim, tudo bem... 

Elimeleque se aproxima e a beija. 

ELIMELEQUE— Eu te amo. Muito. 

NOEMI— Eu também te amo... 

Eles sorriem e Leila observa em suspiros. 

LEILA— Como é lindo o amor... 

 

CENA 04: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – DIA 

Rute e Orfa chegam ali. 

RUTE— Não será muito difícil recebê-los amanhã aqui no templo, visto que o reino está em festa e a tendência é que as comemorações se intensifiquem nos próximos dias... 

ORFA— Sim... E a Aylla, hein? 

RUTE— Puxa!, com isso tudo acontecendo, por um momento eu até me esqueci da menina... Coitada... Como ela estará agora?... 

 

CENA 05: INT. CASA DE LEILA – SALA – DIA 

Preparando a comida, Leila e Noemi vão dali para a cozinha e vice-versa o tempo todo. Na mesa da sala, Elimeleque corta alguns legumes. É quando Malom e Quiliom chegam, atravessam a loja e entram na sala. 

MALOM, QUILIOM— Shalom! 

ELIMELEQUE, NOEMI— Shalom! 

LEILA— “Shalom”... Significa paz, não é? Logo eu me acostumo. 

ELIMELEQUE— E esses sorrisos, ahn? O que os dois viram? 

LEILA— (suspeitando) Gostaram muito da cidade... 

QUILIOM— A cidade é muito bonita, mas não como algumas outras coisas... 

LEILA— (já entendendo) Hummm... 

Elimeleque para de cortar os legumes e olha para eles. 

ELIMELEQUE— Vocês por acaso estão assim por causa de mulheres? 

MALOM— Bom, meu pai... A verdade é que Quiliom e eu estamos repensando aquela história de não nos casarmos. 

Elimeleque e Noemi claramente não gostaram do que ouviram e encaram Malom e Quiliom. Leila assiste a tudo.

NOEMI— Como é que é?! 

MALOM— Nós encontramos as mulheres mais lindas de todo o mundo, meus pais! São como anjos... 

QUILIOM— Anjos passeando pela Terra. 

MALOM— A mais linda delas tinha um olhar tão... tão doce, mas ao mesmo tempo... misterioso, meio... como que se fosse uma coisa... uma coisa meio assustada... É uma mistura única, absolutamente incomum e totalmente bela! 

QUILIOM— Na verdade, a mais linda se destacava pelo olhar, ao mesmo tempo doce, selvagem e misterioso... Como um vinho de uvas após um suco de tâmaras com uma pitada de... de... não sei, de azeite, talvez... 

Noemi revira os olhos e ri forçadamente. 

NOEMI— Vocês só podem estar de brincadeira, não é?! Ahn?! Isso tudo é alguma piada, certo?! Afinal, os dois sempre foram assim, aparentando menos idade do que realmente tem! Certo, Malom e Quiliom?! Isso é apenas uma brincadeira, não é?! 

MALOM— Não é brincadeira, mãe. 

NOEMI— O que foi que nós os alertamos antes de saírem?! Leila, por favor, queira me perdoar, de verdade, mas isso vai contra tudo que acreditamos! Por favor, não se ofenda... 

LEILA— Não se preocupe comigo, Noemi. (sorrindo) Me considerem uma hebreia, também. 

ELIMELEQUE— Quem são essas mulheres, hein?! 

QUILIOM— Elas são sacerdotisas-- 

Quiliom se interrompe com o olhar do irmão, mas já é tarde. 

ELIMELEQUE— Sacerdotisas?! Sacerdotisas???!!! 

NOEMI— Não estou acreditando no que estou ouvindo. 

MALOM— Sacerdotisas, sim. Do templo. Do reino. 

NOEMI— E vocês ainda tem coragem de comparar essas mulheres a anjos? 

ELIMELEQUE— Como foi que vocês encontraram essas mulheres?! 

MALOM— Nós cruzamos com elas na rua, estavam de passagem, também. Aconteceu um acidente e nós todos ajudamos as pessoas atingidas... E depois conversamos. 

NOEMI— Elas podem ter feito algum tipo de feitiço, não é, Leila?! Talvez tenham feito isso para seduzi-los! E se estivessem firmados na verdadeira fé não teriam caído! 

QUILIOM— Não, mãe, não fizeram feitiço algum! 

NOEMI— Você não saberia! 

LEILA— Desculpe, Noemi, mas nisso tenho que concordar com eles. Não é do feitio das sacerdotisas fazer isso. 

ELIMELEQUE— Independentemente do que for, não sendo isso uma piada, vocês devem esquecer essas mulheres imediatamente! 

Malom e Quiliom ficam tristonhos. 

ELIMELEQUE— É impressionante, Leila! A gente passa anos e anos falando das moças do nosso povo, da nossa cidade, e eles só recusam, só dizem “não”. Mas quando pagãs e servas de Baal cruzam o caminho deles, caem de paixão! Como duas raposas acertadas pelas flechas das trevas! 

NOEMI— Vocês precisam esquecer essas duas! Foi apenas... apenas um encontro rápido, só isso! 

QUILIOM— Nós marcamos um encontro com elas. 

Leila arqueia as sobrancelhas, Elimeleque senta desgostoso e Noemi fica sem palavras. 

 

CENA 06: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

Aylla continua a lavar os pés do rei Zylom. Então ela olha para ele. 

AYLLA— Já está bom, meu senhor? 

Zylom a olha irritado. 

ZYLOM— Se estivesse bom, menina, eu já teria mandado você parar. Ou acha que poderia ficar esfregando meus pés sem meu consentimento?! 

AYLLA— (constrangida) Perdão, meu senhor. 

Aylla continua o serviço. Nesse instante, um grupo de belas dançarinas entram no salão e começam a dançar entre os convidados. Zylom muda seu semblante, absolutamente interessado. As dançarinas trazem sua coreografia até próximo da escadinha do trono. Zylom se inclina para observá-las, mas Aylla lhe impede uma posição confortável. Então ele tira seus pés das mãos dela com rispidez, fazendo com que a vasilha com água e os ingredientes caia e derrame. Porém, ele nem percebe, está hipnotizado pelas mulheres. Aylla então pega a vasilha, junta os ingredientes, faz uma reverência e sai, tudo sem ser notada. 

 

CENA 07: INT. BELÉM – TEMPLO – NOITE 

A noite cai. 

No templo junto ao Ancião, vários anciães estão ajoelhados clamando a Deus. Entre eles, Tani. Eles oram com fervor, mas balbuciando. O Ancião é o que ora em voz alta. Mãos estendidas para cima, lágrimas caindo... 

 

CENA 08: EXT. BELÉM – ARREDORES – NOITE 

Silenciosa, Tamires vem do portão. Olha para trás uma vez e continua. 

Ela então avista o ponto onde a semente de trigo foi plantada por Salmon, se aproxima e para. Respira fundo, olha mais uma vez para trás garantindo que não há ninguém ali, e então dá um passo. 

Porém, ela tropeça em uma corda esticada que, tocada por ela, aciona um balde preso acima de sua cabeça – porém invisível na escuridão – que vira e despeja água nela. Tamires se assusta e fica completamente ensopada. 

SALMON— Eu imaginei que isso poderia acontecer. 

Tamires toma outro susto e Salmon se aproxima. 

SALMON— Por conta da sua forte oposição às nossas boas ideias, ao seu ataque contra minha esposa e ao seu comportamento quando plantei a semente, eu decidi me precaver. 

Tamires o observa ainda assustada. 

SALMON— E, a partir de hoje, haverá aqui toda sorte de armadilha, para que ninguém tente impedir a reaproximação do povo com Deus. 

TAMIRES— (gritando) Aaahhh!!! Seu... seu velho! Seu imundo, nojento!!! 

Ela cospe no chão. Salmon a observa quase que com tristeza. 

SALMON— Por que você é assim? Digo, o que foi que aconteceu na sua vida pra você ficar tão... rebelde, tão revoltada?... 

TAMIRES— Não te interessa, velho imundo! 

SALMON— Você devia fazer o mesmo que seus irmãos: se reconciliar com nosso Senhor. 

TAMIRES— (desdenhando) “Irmãos”!... Rum, não tenho nada com nenhum de vocês! 

Ela mais uma vez cospe no chão e vai embora, nervosa. Observando-a, Salmon balança a cabeça negativamente. 

 

CENA 09: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE 

Rute e Orfa escolhem as coisas que usarão na noite seguinte. 

ORFA— O que você acha desse vestido? 

RUTE— Hum... Acho que aquele combina mais com suas unhas. 

ORFA— É... Você tem razão. 

RUTE— (mostrando uma tiara) Olha, acho que vou usar essa. 

ORFA— Não, Rute, não... Não use tiara, faz aquele penteado que você usou no aniversário da Sacerdotisa... 

RUTE— É mesmo! Perfeito! 

Elas riem e continuam a mexer nas coisas. 

ORFA— Rute... 

Rute então olha para Orfa. 

ORFA— Será... que isso vai dar certo? 

RUTE— Como assim? 

ORFA— Assim, será que nós finalmente encontramos... os nossos príncipes? 

RUTE— Bom... Falando por mim, preciso conhecer muito bem o rapaz pra saber se vale a pena. Se bem que já ganha alguns pontos por ser hebreu. Eles costumam ser justos. 

ORFA— Sabe bem que não devia falar assim dos nossos inimigos. 

RUTE— Antigos inimigos. E você aí fantasiando com Quiliom é tão grave quanto. 

Orfa ergue as sobrancelhas fazendo que sim. 

 

CENA 10: INT. CASA DE LEILA – SALA – NOITE 

Postos à mesa, Leila, Noemi, Elimeleque, Malom e Quiliom estão jantando. 

ELIMELEQUE— Está tudo delicioso! Há quanto tempo não comemos assim, ahn?! 

Eles riem. 

LEILA— Então quer dizer que os hebreus nem mesmo sabem quando terão um rei... 

NOEMI— Olha, pelo andar da carruagem, acho que nem meus netos verão esse tempo. 

LEILA— Nossa... 

Continuam a comer. 

LEILA— Uma coisa sobre o casamento hebreu ficou na minha cabeça... Você comentou, Noemi, que o Ancião fala das leis de Moisés... O que são? 

NOEMI— Ah, sim. São os Dez Mandamentos. Dez leis passadas por Deus a Moisés, há muito tempo. Eles são a base da formação da nossa nação, o guia para vivermos corretamente diante de nosso Senhor. 

Noemi então olha com desaprovação para Malom e Quiliom. 

NOEMI— Isso me faz lembrar do primeiro Mandamento, o primeiro! 

LEILA— Que é?... 

NOEMI— Deus disse: “Não terás outros deuses diante de mim”. O problema, Leila, de Malom e Quiliom se envolverem com mulheres adoradoras de outros deuses é que certamente será um casamento dividido. Um olha para o norte e o outro para o sul. Um de costa para o outro quando, na verdade, um casamento precisa consistir em dois sendo um, unidos, olhando para frente, indo numa mesma direção! Se não for assim, esse casamento estará fadado à ruptura, mais cedo ou mais tarde. 

LEILA— Entendo... 

MALOM— Elas podem se converter ao nosso Deus... 

ELIMELEQUE— Elas não são apenas fiéis, adoradoras, mas intercessoras. A crença delas é muito mais sólida, enraizada e reverente. 

LEILA— Nós não as vemos muito, mas as duas, a Rute e a Orfa, tem fama de serem doces e honradas. 

NOEMI— Quem dera, Leila, fosse apenas isso que importasse... 

Leila concorda. 

NOEMI— (para os filhos) Recomendo vocês pensarem mil vezes antes de irem nesse encontro de amanhã. Tentem imaginar como seria essa suposta união. 

Malom e Quiliom incomodados... 

 

CENA 11: INT. CASA DE LEILA – LOJA - DIA 

O dia seguinte amanhece e avança. 

Enquanto ajudam nos serviços da loja, Noemi e Elimeleque contam diversas coisas para Leila, animada como sempre. Malom e Quiliom organizam alguns produtos ali na frente, na rua cheia de festeiros. Então eles olham lá para cima, no alto do monte, onde está o templo. E depois se olham... 

 

CENA 12: EXT. BELÉM – RUAS – DIA 

Em Belém, grupos de belemitas se reúnem em diversos pontos da cidade e buscam a Deus em oração, com fervor e fé. 

 

CENA 13: EXT. DESERTO – DIA 

Os homens da Caravana da Morte, cujas bocas e narizes são tampadas por um pano preto, continuam implacáveis, em especial Besta Louca com seu olhar sanguinário e Montanha com seu corpo intimidador. Cercam grupos de viajantes, os agridem severamente e levam o que encontram. Em seguida, saem cavalgando. 

 

CENA 14: INT. TEMPLO – QUARTO DAS SACERDOTISAS – NOITE 

A noite finalmente cai. 

Rute e Orfa estão praticamente prontas e se olham no espelho. 

ORFA— Ai, Rute, você acha que eu estou apresentável?! 

RUTE— Maravilhosa! Linda como sempre. 

Orfa fica um pouco mais aliviada. Então elas arrumam as últimas coisas e saem. 

 

CENA 15: EXT. CASA DE LEILA – FRENTE – NOITE 

De forma incansável, as ruas continuam em festa. 

Em uma delas, na frente da loja de Leila, Malom e Quiliom estão prontos para saírem. Noemi, Elimeleque e Leila estão ali também. 

NOEMI— Eu torci tanto pra que vocês desistissem dessa insanidade... É lamentável... Vão logo para o templo. Para o templo de Moabe! 

QUILIOM— Não se preocupe, mãe, não comeremos nem beberemos nada que houver lá. Vamos apenas conversar com as moças. 

NOEMI— Não consigo chamar sacerdotisas de moças. Já ouvi cada coisa sobre os rituais que essas pessoas fazem... 

MALOM— Calma, mãe. Deixe-nos conhecê-las primeiro. E então tiraremos conclusões. 

QUILIOM— Shalom, meu pai. Shalom, mãe. 

MALOM— Shalom, mãe e pai. 

ELIMELEQUE— Shalom. 

NOEMI— Shalom... 

QUILIOM— Até mais, Lei-- 

LEILA— (interrompendo) Que “Até mais”... Quero meu “Shalom”, também. 

Eles riem. 

MALOM— Pois bem. Shalom, Leila. 

QUILIOM— Shalom! 

LEILA— Shalom, meninos, Shalom. 

Eles riem e Malom e Quiliom saem. Mas param quando Elimeleque os chama. 

ELIMELEQUE— Lembrem-se: não há prazer nessa vida que possa substituir o amor de Deus. 

MALOM— Nós concordamos. 

QUILIOM— Sim. 

Eles fazem que sim e retomam a caminhada. Elimeleque abraça Noemi, pesarosa. 

 

CENA 16: EXT. TEMPLO – PORTÃO PRINCIPAL – NOITE 

Malom e Quiliom se aproximam do portão, guardado por alguns soldados. 

QUILIOM— Veja isso, Malom... Quanto luxo... 

MALOM— Aqui tem mais ouro do que eu já vi na minha vida inteira. 

QUILIOM— E esses soldados, só para protegerem um templo... 

MALOM— Não viu de longe? Esse lugar é imenso. É um complexo de várias edificações. E mesmo que não fosse, os moabitas prezam muito pela participação dos deuses em todos os assuntos do reino. 

Eles chegam ali e, de repente, o portão se abre pesada e vagarosamente. Duas silhuetas começam a aparecer, e logo eles visualizam Rute e Orfa, paradas do outro lado, olhando para eles. Com o portão totalmente aberto, elas saem e se aproximam deles. 

RUTE— Então vocês vieram... 

MALOM— (olhando-a) Não perderia isso por nada. 

QUILIOM— Foi só no que pensei o dia todo. 

Elas sorriem. 

ORFA— Pois bem, não percamos tempo. Acompanhe-nos. 

Elas viram e entram. Malom e Quiliom se entreolham e as seguem. 

Quando todos cruzam a entrada e adentram os limites do templo, o portão se fecha. 

 

CENA 17: EXT. CASA DE SEGISMUNDO – FRENTE – NOITE 

Tamires acompanha Segismundo, estão chegando na casa dele. 

TAMIRES— Por que não diz de uma vez o que é, Segismundo? 

SEGISMUNDO— Você vai já ver, mulher! 

TAMIRES— É Tamires! 

Segismundo então abre a porta e afasta para que ela entre. Ali na sala, todos os membros da Caravana aguardam ansiosos em volta da mesa repleta de comida. Carnes, ensopados, frutas, queijos, vinhos... 

TAMIRES— Uau!... Isso é real mesmo?! 

SEGISMUNDO— Totalmente. Vamos, entre... Os homens não aguentam mais esperar. 

Segismundo entra e fecha a porta. 

TAMIRES— Onde foi que conseguiram tudo isso?! 

SEGISMUNDO— Interceptamos, nas redondezas, um casal de irmãos que fugiam da fome em seu vilarejo... 

TAMIRES— Garantiu que eles não denunciassem? 

SEGISMUNDO— No dia em que dois defuntos levantarem do fundo de precipícios e abrirem a boca eu me preocupo com isso. 

Tamires faz que sim e volta a olhar para a mesa repleta. 

Com seu tradicional olhar doentio, Besta Louca olha da mesa para Segismundo, aguardando a autorização. Montanha, ao seu lado, idem, porém parece mais aflito. Gael, à exceção de todos, aguarda sentado em um canto. 

MONTANHA— Senhor, uma pessoa do meu tamanho não pode esperar muito... 

SEGISMUNDO— Claro, claro... E você merece. Vocês todos merecem! Vamos, homens, atacam! 

Todos eles se levantam, mas paralisam quando Tamires grita. 

TAMIRES— EI!!! 

Eles a encaram. 

TAMIRES— Como criadora de tudo isso, eu tenho o direito de chegar primeiro à mesa. Segismundo sabe disso. 

Os homens olham para o chefe, que, a contragosto, faz que sim. Cheia de si e sem pressa, Tamires pega um prato e o enche com as melhores partes de tudo o que há ali. Em seguida sorri para eles e vai para perto de Gael. 

SEGISMUNDO— Vão, vão... 

Visivelmente irritados, os homens finalmente atacam a comida. Tamires se senta. 

TAMIRES— Olá, Gael. 

GAEL— Olá. 

Contente, Tamires começa a comer. Gael a observa com sua expressão de sempre. 

 

CENA 18: INT. CASA DE LEILA – LOJA – NOITE 

Noemi, aflita, anda de um lado para o outro enquanto Elimeleque tenta consolá-la. 

ELIMELEQUE— Meu amor, não fique assim... 

NOEMI— Como, Elimeleque? Como?! 

ELIMELEQUE— Confie primeiramente em Deus e depois na índole de nossos filhos! 

NOEMI— O problema não são eles, mas essas moabitas! 

 

CENA 19: INT. TEMPLO – PÁTIO – NOITE 

Guiados por Rute e Orfa, Malom e Quiliom observam admirados a grandiosidade do pátio. Afastado dali, um grande tanque com pequenos barquinhos deslizando sobre as águas conforme a brisa. 

MALOM— É um lugar muito belo. 

QUILIOM— Formidável. 

MALOM— À altura das sacerdotisas. 

Elas sorriem e, naturalmente, Rute tende a se aproximar de Malom e Orfa de Quiliom. Continuam caminhando devagar e fazendo pequenos comentários, e cada vez mais os dois casais vão tomando direções diferentes. 

Então um servo, carregando uma bandeja com taças de prata, passa por ali. Mas se distrai ao olhar para os visitantes e acaba por tropeçar e derrubar os objetos. Todos se assustam e olham para ele. 

ORFA— (para Quiliom) Ah, que incompetente!... (para o servo) Ficou louco?! Sabe o valor das peças que carregava?! 

SERVO— Perdão, minhas senhoras, me perdoem! Eu me distraí, não vi o chão à minha frente-- 

ORFA— (interrompendo) Talvez chamando um guarda para lhe dar a lição que merece você deixa de se distrair e faz seu serviço direito. 

SERVO— Perdão... 

MALOM— (para Orfa) Não faça isso! 

Orfa então olha para ele; por um tempo, todos fazem o mesmo. Em Malom, IMAGEM CONGELA. 

 

CONTINUA...

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