CAPÍTULO 30
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 44 + Parte do Capítulo 45 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. TEMPLO – PORTÃO PRINCIPAL – DIA
O portão se abre e a Sacerdotisa Myra sai carregando um saco de pano. Caminha na direção da rua e some.
CENA 2: EXT. MOABE – BECO – DIA
Myra se certifica que ninguém a está vendo e entra no beco. Se esconde e começa a tirar sua roupa. Algum tempo depois, ela está vestindo vestes comuns, simples. Então guarda suas vestes de sacerdotisa no saco, cobre a cabeça, ocultando o rosto, e sai.
CENA 3: INT. CASA DE BOAZ – SALA – DIA
Raabe, sentada em uma cadeira, está chorosa e desanimada. Boaz, ao seu lado, acaricia o cabelo da mãe. Josias observa de perto dali.
BOAZ— Oh, minha mãe... A senhora precisa comer.
RAABE— Não quero nada, Boaz...
BOAZ— Oh, mãe... Eu sei o que a senhora está sentindo... Eu também estou... Mas coma um pouquinho para não ficar fraca... Um pedaço de pão molhado no leite...
RAABE— Guarde para outra hora, meu filho.
Raabe continua a encarar o teto, chorosa e sem ânimo. Boaz olha preocupado para Josias.
CENA 4: EXT. BELÉM – RUA – DIA
Neb caminha aflito, preocupado... Parece lembrar... Parece ainda escutar...
SALMON (O.S.)— Neb, meu sobrinho... Não troque o amor do Senhor... por bens materiais. Por aquilo que o ladrão leva... e a traça corrói... O tesouro de Deus... é maior do que tudo o que podemos ver e tocar.
Neb escora em uma parede e, com a mão tampando a boca, cai esfregando nela, até ficar sentado no chão... Parece um tanto impressionado, um tanto chocado, meio assustado... Então ele balança a cabeça, respira fundo e se levanta.
CENA 5: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
O rei Zylom faz sinal e dois homens, com suas causas resolvidas, fazem uma reverência e vão embora. Enquanto Zylom bebe uma taça de vinho, o servo se aproxima e anuncia.
SERVO DO REI— Soberano. No próximo caso há um grupo de cavaleiros envolvidos em um assassinato e, possivelmente, a família da vítima.
ZYLOM— (um tanto cansado) Que entrem.
O servo do rei faz um sinal para alguém na porta, que faz sinal para outro lá fora. Então um dois soldados entram guiando Segismundo, Gael, Iago, Besta Louca, Montanha e todos os homens da Caravana da Morte, todos com as mãos amarradas. Zylom estranha e os observa com certo interesse. Os soldados e os homens param diante do trono. Logo, outro soldado traz Noemi, chorando muito, e Malom e Quiliom em lágrimas. São levados e deixados ao lado dos homens.
De canto de olho, Segismundo olha para a família, em desespero.
Zylom os observa a todos.
CENA 6: EXT. CASA DE LEILA – LOJA – FRENTE – DIA
Myra, mantendo seu rosto oculto, procura olhando as fachadas das casas e lojas. Ao encontrar a loja de peças de barro de Leila, ela se aproxima com cuidado e olha lá para dentro.
CENA 7: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Ali, Rute e Orfa ajudam Leila a organizar uma prateleira. Orfa então nota a mulher lá fora entrando na loja e parando na entrada. Orfa cutuca Rute, que olha. Myra então abaixa o pano que cobre sua cabeça e as encara. Rute e Orfa a olham surpresas.
CENA 8: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Os homens da Caravana mantém o olhar abaixado diante do rei. Noemi, Malom e Quiliom apenas choram. Zylom senta na beira do trono e os observa com curiosidade.
ZYLOM— Qual é o caso dessas pessoas?
SOLDADO— Senhor.
O soldado faz um reverência.
SOLDADO— Eu e meus companheiros fazíamos a guarda rotineira da entrada da cidade quando um proprietário de terras veio correndo do campo e denunciou um confronto que estaria acontecendo ali perto. Solicitei alguns cavaleiros e fomos até lá. Encontramos um cenário com evidências de luta e um corpo. Essa mulher e esses rapazes choravam sobre o morto e esses homens, todos cavaleiros, se portavam com indiferença, provavelmente cúmplices do assassinato.
NOEMI— (chorando) Aquele homem matou--
ZYLOM— (interrompendo) Eu não lhe solicitei a palavra, mulher! Quero ouvir primeiro o chefe desses homens.
Segismundo ergue a cabeça e olha para o rei.
ZYLOM— Você é o líder dos cavaleiros? Fala em nome deles?
SEGISMUNDO— Sim, meu senhor. Eu me chamo Segismundo.
ZYLOM— Pois bem, Segismundo. Conte o que aconteceu.
SEGISMUNDO— Meu senhor... Em nossa terra... existe um acordo para que ninguém abandone nossa nação em momentos difíceis. E foi exatamente isso que fez essa mulher e esses rapazes, liderados por Elimeleque, o já morto. Nós viemos apenas acertar as contas, fazer cumprir a lei. Somos soldados a serviço de Israel.
ZYLOM— Desde quando os hebreus usam preto?
SOLDADO— Israel já não tem muitos soldados, e a maioria está na capital, Hebrom, muito distante daqui. Eles podem sim estar usando.
ZYLOM— (olhando para os homens) Tenho minhas desconfianças. Vocês realmente são soldados?
SEGISMUNDO— Somos soldados, grande rei, mas formamos um grupo paralelo de homens com sede de justiça.
ZYLOM— Um grupo paralelo ao exército...
Zylom olha para Noemi e os filhos, cujas lágrimas não param de escorrer pelo rosto.
ZYLOM— Mulher. Conte sua versão.
Com os olhos encharcados e vermelhos, Noemi olha para o rei.
NOEMI— Meu marido, eu e meus filhos... viemos recentemente para Moabe por causa de uma grave fome... que assolou nossa nação.
SOLDADO— Israel realmente passa por uma crise.
Zylom faz sinal para ele se calar e volta a olhar para ela.
NOEMI— Esses homens... não são soldados! Mas ladrões, bandidos, assassinos!... Vieram crentes de que eu guardava uma pedra preciosa... supostamente herdada de meu pai... Uma mulher, chamada Tamires, e que sempre me desprezou apenas por eu ser quem sou... está aliada com eles! Na certa inventou essa história de pedra preciosa apenas para ter o prazer de me ver morta, destruída! (pequena pausa; Malom segura o ombro dela) Quando estávamos vindo... ainda em nossas terras... esses homens nos atacaram... mas falharam. Agora retornaram, e mataram o meu marido de forma covarde!
ZYLOM— Os soldados disseram que houve um duelo.
NOEMI— Rei... Olhe a quantidade de homens... É covardia...
Zylom olha para os homens da Caravana.
ZYLOM— (para Noemi) Onde estão morando?
NOEMI— Compramos uma casa recentemente, mas antes... estávamos com uma moabita... que nos acolheu.
O rei então encara o nada, pensativo.
SEGISMUNDO— Se me dá licença, sen--
ZYLOM— (interrompendo) Cale-se! Estou julgando.
Segismundo olha para o chão. Apesar de estarem em lágrimas, Malom e Quiliom tentam amparar Noemi. Zylom pensa...
CENA 9: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
RUTE— Myra?!
ORFA— Sacerdotisa, o que está fazendo aqui?!
Leila olha para a recém-chegada.
LEILA— Não pode ser...
Myra se aproxima.
MYRA— Eu vim vê-las porque estou tremendamente intrigada com tudo o que aconteceu.
LEILA— A Sacerdotisa de Moabe... na minha loja?!
MYRA— Com licença, senhora. Eu me chamo Myra.
LEILA— Claro... Leila.
Então Aylla passa lá atrás e Myra a vê. Seus olhos se arregalam e ela olha para Rute e Orfa.
MYRA— Aquela... aquela... O que está acontecendo aqui?!
Elas percebem que Myra notou Aylla.
RUTE— Precisamos te contar algumas coisas, Sacerdotisa.
Rute e Orfa contam para Myra tudo, desde os sentimentos de conflito, o interesse por Malom e Quiliom, a aproximação de Deus, o resgate de Aylla...
RUTE— Senhora Myra, apesar do que contamos sobre Faruk, peço que não revele nada a ninguém.
MYRA— Não vou mudar minha vida como Sacerdotisa por causa do Sumo Sacerdote, mas agora sempre o olharei com desconfiança. Mas digam-me mais... acerca desse Deus único... Como é? Vocês realmente se converteram ao Deus dos hebreus?
RUTE— (sorrindo) A cada dia eu aprendo mais sobre Ele.
ORFA— Nossos futuros sogros e nossos noivos nos ensinam muitas coisas sobre.
LEILA— Senhora Myra, perdoe minha falta de sensibilidade, mas aceite esse convite tardio para comer à nossa mesa...
MYRA— Não, não, muito obrigada, senhora Leila. Eu não posso ficar muito tempo distante do templo, podem desconfiar. Preciso retornar.
Myra olha para Rute e Orfa quase que com um olhar de admiração e parece querer dizer algo... mas não diz.
ORFA— Volte quando puder, senhora.
RUTE— Será bem-vinda.
MYRA— Quem sabe... Tenham um bom dia.
Myra cobre a cabeça, vira e sai para a rua. Lá, vira uma última vez para a loja e vai embora.
CENA 10: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Zylom respira fundo.
ZYLOM— Já tenho minha decisão.
Ansiosos, Noemi, Malom e Quiliom olham para o rei. Apreensivos, Segismundo e seus homens fazem o mesmo.
ZYLOM— Todos os homens desse grupo, autodeclarado de força paralela ao exército de Israel, são condenados a 10 chicotadas cada e estão expulsos do país de Moabe.
Alguns homens da Caravana ficam aflitos, mas outros, entre eles Segismundo, respiram aliviados, pois temiam condenação pior.
ZYLOM— Quanto aos remanescentes da família do dito Elimeleque, voltem para casa. Se quiserem, poderão assistir ao castigo desses homens.
Apesar de chorar, é possível ver que Noemi não está satisfeita.
NOEMI— Não quero assistir a castigo algum, quero apenas... que a justiça seja feita!... Esses homens mataram o meu marido! Essa condenação é branda demais...
Zylom se põe de pé de uma vez.
ZYLOM— Como ousa dizer que não faço justiça?! Eu sou a justiça!!! Esses homens... podem não estar de acordo com a lei de Israel! Mas é lei de outro país! Por outro lado, invadiram o meu reino e sujaram minhas terras com sangue! Porém, fazendo justiça aos seus próprios olhos! Tudo isso juntando as duas versões e descartando o que não bate! 10 chibatadas e fora daqui! Todos!
NOEMI— Senhor, senhor! Por favor! Esses homens precisam ser presos e afastados da sociedade! São perigosíssimos!!!
ZYLOM— Vou manda-los de volta para Israel! Mas não tenho proximidade com o juiz de vocês para comunicar essa devolução! Que se virem! E quanto a você, mulher, contente-se e vá chorar a morte de seu defunto antes que eu mude de ideia e também os expulse de Moabe!!! Levem todos daqui, agora!!!
Os soldados conduzem os homens da Caravana e depois Noemi, em prantos, e Malom e Quiliom, sem chão.
CENA 11: EXT. PALÁCIO – PORTÃO DE ENTRADA – DIA
Dois soldados empurram Noemi e os filhos para fora e fecham os portões do palácio. Noemi cai e fica ali, jogada e chorando. Malom se aproxima.
MALOM— Mãe, mãe!... Minha mãe, precisamos ir... Precisamos ir, mãe...
QUILIOM— Pegue minha mão, eu ajudo a senhora... Vamos, mãe...
Com dificuldade, Noemi segura nos filhos e eles saem devagar dali.
CENA 12: INT. PALÁCIO – ARENA DE TREINAMENTO – DIA
Os soldados conduzem os homens da Caravana, ainda de mãos amarradas, até ali.
SOLDADO— De joelhos, todos!
Eles se ajoelham um ao lado do outro. Segismundo e Gael trocam olhares. Iago respira fundo, esperando a chicotada. Um soldado passa rasgando as vestes deles todos na região da costa. Outro soldado vai até uma mesa e pega o chicote. Olha para os homens, apreensivos, e se aproxima de Segismundo, que o encara.
SEGISMUNDO— Gostaria... de uma última palavra.
Olhando Segismundo ajoelhado, o soldado ri.
SEGISMUNDO— Tudo o que temos conosco aqui... fica para você e seus companheiros se nos deixar ir.
O soldado para de rir e olha para outro, que apenas o encara. O homem volta a olhar para Segismundo.
SOLDADO— O que vocês têm?
SEGISMUNDO— Taças de prata, algumas peças de argila, odres de vinho e uma boa porção de pão edomita. Ah, e um vaso de cobre.
O soldado parece considerar...
SOLDADO— É bom que todos saibam encenar.
Segismundo e outros sorriem e eles todos se levantam.
SEGISMUNDO— Nos levem até nossos cavalos.
SOLDADO— Ahn, ahn. Os cavalos também ficam.
O ânimo de Segismundo diminui um pouco, mas ele respira fundo e faz que sim suavemente.
CENA 13: EXT. MOABE – CAMPOS – DIA
Os portões de Moabe se abrem e os homens da Caravana, guiados por soldados, caminham com as vestes já fechadas, mas simulando dor.
CENA 14: EXT. MOABE – RUA – DIA
Noemi para de andar, não consegue continuar. Chora, chora sem parar...
QUILIOM— Mãe, precisamos continuar... A casa de Leila está logo ali...
NOEMI— Por quê?!... Por quê?!...
MALOM— Mãezinha, por favor... vamos, mãe... Lá a senhora senta e bebe uma água...
NOEMI— Como dói!...
Malom afasta o cabelo da mãe e limpa as lágrimas de seu rosto.
MALOM— Segure, segure em mim... Segure em nós... Vamos.
Quiliom também a segura e eles continuam.
CENA 15: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Os três chegam à loja e entram. Rute e Orfa arregalam os olhos e Leila se assusta.
LEILA— Noemi! O que aconteceu???
RUTE— Senhora Noemi! O que aconteceu?! Malom, diga!
ORFA— Digam, rápido! Quiliom! Por que estão assim, por que estão chorando?! Onde está Elimeleque?!
Auxiliada pelos filhos, Noemi senta. Rute, Orfa e Leila apreensivas...
Noemi, Malom e Quiliom contaram tudo o que aconteceu. Rute e Orfa tapam a boca, chocadas.
RUTE— Elimeleque...
ORFA— Essa Caravana...
MALOM— Foram expulsos, mas... vai saber...
NOEMI— (chorando) Apenas me ajudem... com o corpo...
RUTE— Claro, claro, senhora Noemi!
Rute se aproxima de Noemi.
RUTE— Vamos? A senhora não estará sozinha... Vamos todos juntos. Vamos estar com a senhora.
Noemi olha para Rute e força um sorrisinho grato.
CENA 16: EXT. DESERTO – DIA
Os homens da Caravana, acompanhados pelos soldados, descem uma encosta gramada, aproximando-se do rio Jordão.
SOLDADO— Sumam daqui. Se entrarem em Moabe novamente, serão todos mortos.
Os soldados param, observando-os. Segismundo olha para um e continua a caminhada. Então atravessam o rio e saem na outra margem. Lá, enchem seus odres de água. Segismundo então dá mais uma olhada para os soldados do outro lado e vai embora, acompanhado dos seus.
IAGO— Será uma longa caminhada...
SEGISMUNDO— Vamos ter que nos virar para achar comida.
GAEL— O preço da liberdade.
Os homens se entreolham. Besta Louca e Montanha trocam olhares preocupados e eles caminham dali, cada vez mais distantes do Jordão.
CENA 17: EXT. MOABE – CAMPO – DIA
Amparada principalmente por Malom, Quiliom e Rute, e com Orfa e Leila ainda abaladas em volta, Noemi se aproxima do corpo de Elimeleque, deitado como que dormindo sobre a relva. Bem próximo, ela para e chora no ombro de Quiliom, que chora junto. Rute e Orfa também começam a chorar.
Finalmente eles se aproximam e Noemi agacha com delicadeza ao lado do corpo. Toca sua mão no rosto dele... Todos eles a abraçam.
Algum tempo depois levam o corpo dali, já sobre uma maca de madeira e coberto por um pano branco.
CENA 18: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Tempo depois, à entrada de uma caverna, Noemi, Malom, Quiliom, Rute, Orfa, Aylla e Leila ficam em silêncio ao redor de Elimeleque.
Mais tarde, Noemi agacha e olha para o rosto do marido. Fungando, acaricia o rosto dele por um bom tempo.
NOEMI— Nunca vou te esquecer...
Algum tempo depois, com muita dificuldade por conta do choro, Malom e Quiliom carregam o corpo do pai para dentro da caverna. Noemi chora copiosamente. As outras tentam consolá-la, mas também choram. Os filhos saem da caverna, se entreolham com o rosto vermelho, fazem que sim com pesar e começam a fechar a caverna, pedra após pedra. Vedada a caverna, eles se juntam à elas em um abraço de consolo e união...
CENA 19: INT. CASA DE NOEMI – DIA/NOITE
Os dias passam com dificuldade para Noemi. Muita tristeza e amargura. Não poucas vezes, Malom e Quiliom a encontram chorando em um canto.
CENA 20: EXT. TEMPLO – VARANDA – DIA
Myra, vestida como a Sacerdotisa que é, observa a cidade lá fora, lá embaixo. Olha para as ruas, para as pessoas indo e vindo, sorrindo, conversando, brincando, trabalhando... Então ela olha para a direção da casa de Leila, mas não distingue a residência. Apenas encara aquela região...
CENA 21: EXT. DESERTO – DIA
Cansados, os homens da Caravana atravessam as mais diferentes paisagens por que passaram, há pouco tempo, cavalgando. Um deles tosse, outros derramam água em seus rostos... Segismundo aperta os olhos para o horizonte. Ainda falta muito... Eles continuam.
CENA 22: EXT. MOABE – DIA
Ainda mais dias se passam, e Noemi ajuda nos preparativos para o casamento. Está mais tranquila, mas não completamente. Rute se aproxima, fala que ela pode descansar, mas ela recusa. Continua a ajuda-los.
CENA 23: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Em outro dia, mexendo com as coisas da festa, Rute entra tranquilamente quando escuta algo vindo do quarto. Então ela se aproxima e distingue a voz de Noemi. Para do lado de fora, sem ser vista, e presta atenção.
CENA 24: INT. CASA DE NOEMI – QUARTO – DIA
Dentro do quarto, Noemi, de joelhos e com as mãos para o alto, desabafa com Deus.
NOEMI — Senhor... Eu não consigo, eu não entendo... Eu tinha uma promessa, vinda de Ti! O anjo me passou naquela dia maravilhoso e único... Elimeleque era a minha Promessa, mas... ele se foi!... Senhor, por favor, faça-me entender!... Faça-me saber se voltaste atrás na Tua palavra... Não vejo nenhum mal significante vindo de minhas mãos para que isso acontecesse em minha vida...
Rute, lá fora, fica triste e preocupada.
NOEMI— Dói, Senhor... Dói muito... Eu estou perdida... Preciso entender, quero entender o porquê de tudo isso...
Noemi abaixa as mãos e senta no chão, as lágrimas brotando.
NOEMI— Quem dera... fosse apenas um sonho... Um sonho ruim...
Noemi então começa a se beliscar, a beliscar os braços, o corpo, se arranha toda...
NOEMI— AAAHHH!!! Acorde, acorde, Noemi!!! Acorde!!! Me acorde, Elimeleque, me acorde!!! AAAHHH!!!!
Noemi se desespera enquanto provoca dor em si mesmo. Rute, aflita, invade o quarto correndo e tenta impedir que ela continue se machucando.
RUTE— Senhora, senhora, calma, senhora Noemi, calma! Calma, senhora!...
Pouco a pouco Rute consegue acalmar Noemi, que então apenas soluça chorando. Rute senta ao lado dela.
RUTE— Calma... Vai ficar tudo bem... Respire...
NOEMI— Tudo bem... Tudo bem, Rute... Não se preocupe, estou bem... Obrigada, tá... Não precisa se importar...
RUTE— Mas eu me importo.
NOEMI— Eu vejo... Você se importa muito, Rute. Precisa se preocupar com a festa, precisa cuidar do seu casamento, que está chegando...
RUTE— Eu sei, senhora Noemi, mas... Mas eu não consigo não me importar, não posso... A senhora não pode querer ficar sozinha. Malom e Quiliom se preocupam muito com a senhora, e nós todos vamos te ajudar, não vamos deixa-la só. É um momento difícil, é recente... Temos que passar por isso juntos. Juntos, seremos mais fortes.
Triste, Noemi faz que sim, respira fundo e limpa as lágrimas.
NOEMI— Obrigada. Daqui a pouco vou lá ajuda-los.
Rute continua a olhá-la, certificando-se de que está bem.
CENA 25: EXT. CASA DE NOEMI – QUINTAL – DIA
Sentados, Orfa e Quiliom confeccionam apetrechos da festa.
QUILIOM— Nunca pensei que sentiria tanta dor na vida... mas senti.
Orfa o olha tristemente.
QUILIOM— O que mais me dói agora é o fato de ter sido de uma forma... cruel.
ORFA— Quiliom, meu amor... Vocês mesmo contaram... que ele foi em paz. Que ainda tentou tranquiliza-los--
QUILIOM— (interrompendo) Como eu gostaria de encontrar Segismundo! E colocar minhas mãos nele!
Orfa percebe o ódio do noivo.
ORFA— Talvez seja melhor orar ao seu Deus...
QUILIOM— Será mesmo, Orfa? Meu pai era a Promessa da minha mãe e isso aconteceu! Deus deve ter se esquecido de nós. É... Talvez seja isso. Nos mudamos, saímos de nossa terra, e por isso o Senhor se esqueceu de nós.
Orfa o encara preocupada, IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!