CAPÍTULO 44
(Últimos Capítulos)
uma novela de
FELIPE LIMA BORGES
livre adaptação do livro de Rute
Edição da Versão Reprise por
RAMON FERNANDES
EDIÇÃO:
Capítulo 61 ORIGINAL (SEM CORTES)
CENA 1: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Noemi, séria, e Rute, confusa, encaram Tamires sorrindo. Os guardas atrás dessa observam a tudo.
NOEMI — Tamires. (pequena pausa) Muito tempo...
Tamires ri levemente.
TAMIRES — Não pensei que, depois de tudo, a veria aqui, ainda de pé.
NOEMI — O Senhor me sustentou e me deu vida.
TAMIRES — Sabe, Noemi... É bem curioso notar as circunstâncias em que você se mexe. Quando houve uma crise nessas terras, fugiu bem rápido. Agora que há bonança... retornou como se nada tivesse acontecido.
Noemi fica um tanto incomodada...
NOEMI — Passei por uma grave prova espiritual... Mas já entendi tudo e já me recuperei.
Rute sorri para Noemi, que retribui minimamente.
TAMIRES — Para uma viúva que perdeu os dois filhos, você sorri demais.
RUTE — Acho que a sen--
NOEMI — (interrompendo) Rute!... Não. Por favor, não precisa dizer nada a essa mulher.
TAMIRES — Arrastou sua nora moabita pra cá para substituir seus filhos, Noemi? Travou a vida da moça apenas para satisfazer seu espírito quebrado? Francamente, egoísmo?... Depois de tudo pelo que passou, devia ter aprendido alguma coisa.
Noemi se aproxima bem de Tamires.
Tamires se aproxima ainda mais de Noemi e fala bem baixo, de forma que nem os guardas possam ouvir.
TAMIRES — Você pode provar isso?
Noemi a encara.
NOEMI — Não. Mas Deus sabe de tudo.
Tamires sorri com desdém.
NOEMI — Fique longe de mim. Não nos damos bem, então evite.
GUARDA 1 — Afaste-se da mulher, Tamires.
Raivosa, Tamires olha para o guarda, que aguarda. E olha de volta para Noemi.
TAMIRES — Tome cuidado.
Então Tamires sai e os guardas se apressam para alcança-la. Noemi e Rute ficam ali...
RUTE — A senhora está bem?!
NOEMI — Não foi nada, é só a Tamires... Que insistência!
Rute a olha com leve pesar.
RUTE — A senhora já havia me falado dessa mulher, mas pessoalmente é ainda pior...
Noemi balança a cabeça.
RUTE — Senhora... Eu posso ir? Vai ficar bem?
NOEMI — Sim, pode ir, claro... Eu estou bem, Rute. Tenha um bom dia de trabalho, minha filha.
Rute sorri. Beija o rosto de Noemi e sai.
RUTE — Shalom.
NOEMI — Shalom.
Noemi sai por outra direção. Aprecia as diversas barracas dos vendedores quando nota, não muito longe dali, Tamires ainda observando-a. Noemi respira fundo e toma a direção da praça, onde está o Ancião.
CENA 2: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Zylom, já um tanto impaciente em seu trono, observa a feiticeira hebreia tentando buscar alguma resposta. O Capitão a observa.
ZYLOM — Estou aguardando a sua interpretação, feiticeira.
FEITICEIRA — E a terá, soberano. Só um momento, os deuses estão entrando em contato comigo.
Um tanto preocupada, ela se remexe, vira a cabeça para todos os lados como se ouvisse diversas vozes... No entanto, Zylom parece desconfiar. Por fim, ela olha para baixo.
FEITICEIRA — Já tenho a resposta, meu rei.
ZYLOM — Pois diga!
FEITICEIRA — Lamento, senhor, mas não é um bom prenúncio.
ZYLOM — (com raiva) Do que está falando?
FEITICEIRA — Fortaleçam os muros... Reforcem as portas e janelas... Protejam-se.
O Capitão e o rei franzem o cenho.
FEITICEIRA — Um grande e terrível inimigo pode estar por vir.
ZYLOM — “Pode”?!
FEITICEIRA — A arte da interpretação não é clara, meu senhor. Está mais para... para o ato de se enxergar o próprio reflexo nas águas de um riacho durante a noite e com névoa para todo lado--
ZYLOM — (interrompendo) Mas assim é fácil! Até eu poderia chegar a essa sua resposta! “Um grande e terrível inimigo pode estar por vir”, rá! No que acha que eu pensei quando acordei dezenas de vezes com aquela maldita pedra caindo em mim?!
Ela, meio encurralada, apenas escuta.
ZYLOM — (afoito) Eu quero... Eu quero algo profundo, algo a mais! Não interpretações de adivinha de taberna!
FEITICEIRA — Me dê mais tempo, meu senhor! Eu imploro!
ZYLOM — Já teve seu tempo! Se fosse uma feiticeira de verdade, eu já teria a resposta que tanto quero! Capitão, leve-a daqui! Jogue-a na cela! Ninguém vai me ludibriar em busca de ouro fácil! Fora daqui!
CAPITÃO — Vamos.
O Capitão agarra o braço dela e a puxa.
FEITICEIRA — Não, meu senhor, a cela não! Por favor! Não! Me dê mais uma chance, só mais uma! AAAHHH!!! Por favor, meu senhor, só mais uma chance!!!
Não adianta; a feiticeira é levada dali pelo Capitão. Zylom, com raiva, toma um bom gole de seu vinho.
CENA 3: INT. PALÁCIO – PRISÃO – DIA
Orfa, sentada em sua cela, observa com atenção o soldado trazendo a desesperada feiticeira.
FEITICEIRA — Por favor, meu senhor, liberte-me! Deixe-me ir! Sou inocente!...
CAPITÃO — O rei é quem manda.
Outro soldado abre a cela e o Capitão a joga lá dentro; fecham e vão embora. Orfa se aproxima de sua grade, olhando-a bem.
ORFA — Quem é você?
A feiticeira soluça de leve...
FEITICEIRA — Uma inocente...
ORFA — Por que está aqui?...
A feiticeira começa a contar tudo o que aconteceu.
CENA 4: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA
Noemi e o Ancião conversam na praça. De longe, Tamires os observa.
ANCIÃO — Tamires mandou a Caravana atrás de vocês?!
NOEMI — Já faz muito tempo, mas sim... Segismundo matou Elimeleque e só não nos matou porque os soldados moabitas chegaram e nos levaram a todos para sermos julgados.
ANCIÃO — Como o rei Zylom pôde absolvê-los?!
NOEMI — Segismundo inventou histórias mentirosas e o rei entendeu que ele pensava estar fazendo o certo. Mas Tamires sempre esteve por trás disso tudo. E, agora que voltei, ela insiste em me perseguir, me provocar...
ANCIÃO — Noemi, isso é grave! Você pode estar correndo risco! Vou prendê-la agora mesmo!
NOEMI — Não.
O Ancião a encara.
NOEMI — O senhor fez um acordo com ela. Precisa cumprir, é o Ancião.
ANCIÃO — Noemi, isso muda tudo!
NOEMI — Estão na caça da Caravana ainda, não estão?
ANCIÃO — É claro...
NOEMI — Pois bem, eu tenho um plano.
ANCIÃO — Um plano?!...
NOEMI — Sim... Por favor, me escute...
ANCIÃO — Pois conte-me!...
Noemi começa a falar... Tamires sempre observando-a...
CENA 5: EXT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Montanha se levanta.
MONTANHA — Já que Iago saiu para caçar, vou dar uma olhada na região, ver se encontro algo de interessante.
SEGISMUNDO — Leve alguém com você, Montanha. Precisamos andar acompanhados.
MONTANHA — (apontando seus músculos) Senhor, eis aqui minha companhia.
Eles todos riem.
MONTANHA — E essa, ao contrário de muitos, é inseparável.
SEGISMUNDO — (rindo) Tudo bem... Vá, Montanha.
MONTANHA — Até mais tarde.
Montanha pega algumas coisas e sai.
CENA 6: EXT. DESERTO – DIA
Montanha, vindo da caverna, se aproxima da árvore onde está amarrado seu cavalo. Chegando ali, ele pega a corda e desamarra-a do tronco. Arruma a cela e, quando se apoia para montar, para e desiste. Está encarando algo logo ali: o Assassino, com sua veste e capuz escuros e máscara de ferro com semblante de desdém gravado. Olhando para Montanha, a figura está imóvel como uma árvore. Montanha, não se permitindo ter medo, se aproxima devagar, mas o Assassino continua parado.
MONTANHA — Você matou toda a minha vila.
ASSASSINO — Eles mereceram.
Montanha continua se aproximando devagar.
MONTANHA — Quem é você?
ASSASSINO — Pense.
Enquanto caminha a passos curtos, Montanha parece pensar, mas não conclui nada.
ASSASSINO — Você é um homem grande.
MONTANHA — O suficiente para esmagar a sua cabeça.
ASSASSINO — No entanto, homens grandes têm um problema.
Com sorriso de deboche, Montanha para.
MONTANHA — É mesmo? E qual seria?
ASSASSINO — Não costumam pensar.
MONTANHA — Vou pensar muito no que fazer com o seu corpo logo mais.
Então Montanha move os pés para avançar contra o Assassino, mas ele arrebenta uma fina corda esticada próxima ao chão, que aciona uma armadilha e faz um barulho. Novamente ele para e olha para o lado do barulho, de onde vem uma flecha a alta velocidade e crava em sua cabeça!
Por alguns instantes ele cambaleia... olha para o Assassino... e cai pesadamente.
Finalmente o Assassino se mexe e se aproxima. Olha Montanha morto no chão...
Então sai.
CENA 7: INT. HOSPEDARIA – DIA
Tristonho, Neb entra na hospedaria. Logo o dono o vê.
DONO — (saindo de trás do balcão) Ei, ei, você! Fora! Pode ir saindo daqui, Neb! Vamos, vá embora!
NEB — Mas o que é isso, senhor? O que eu fiz?...
DONO — (tentando empurrá-lo para fora) Você nunca foi flor que se cheire, já causou muita confusão no meu estabelecimento, já me deu muito prejuízo! E agora não tem mais a Tamires para te bancar! Foi trocado! Portanto, fora! Vamos, rápido!
NEB — Senhor, por favor... Não estou bem... Não consigo vender, o dinheiro para comer demora a dar--
DONO — (interrompendo) Não quero nem saber! Seus problemas! Cansei de você, Neb! Fora!!! Fora daqui!!!
Neb sai empurrado e chutado. Raivoso, o dono volta para o balcão... e Neb vai embora.
CENA 8: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Com um bonito sorriso, Boaz observa Rute, que sorri levemente, se aproximando.
RUTE — Shalom...
BOAZ — Shalom, Rute.
RUTE — Perdoe meu atraso, senhor.
BOAZ — Não se atrasou, Rute. Está adiantada...
RUTE — (rindo) Ah...
BOAZ — Rute, Rute... Sonhei com você essa noite.
Rute fica levemente constrangida.
RUTE — E... foi bom?...
BOAZ — Foi. Não queria ter acordado.
Mais tímida, Rute não o olha nos olhos.
RUTE — Bom... Eu já vou trabalhar. Com licença.
BOAZ — Claro... Que o Senhor abençoe o seu dia.
RUTE — Amém.
Rute se aproxima de Tani, logo ali.
RUTE — Shalom, Tani.
TANI — (sorrindo) Rute!... Que bom vê-la. Shalom, minha amiga.
RUTE — Então... Vou ficar com as suas moças. Será que... pode--
TANI — (interrompendo) Te orientar? Será um prazer! Vamos, vamos começar por ali.
Felizes, elas saem. De longe, Boaz, com seu sorriso admirado e apaixonado, continua a observar Rute.
CENA 9: INT. HOSPEDARIA – DIA
Os dias começam a passar...
Em um, Tamires envia uma carta por meio de um mensageiro. Em outro, ela recebe a resposta de Segismundo.
CENA 10: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Rute trabalha apanhando as espigas incansavelmente. Enche diversos cestos de espigas.
CENA 11: EXT. BELÉM – RUAS – DIA
Na maioria dos lugares em que vai, Noemi é perseguida e observada de longe por Tamires (sempre com os guardas). Em alguns, Noemi não percebe. Em outros, nota a perseguidora e tenta ignorá-la.
CENA 12: INT. PALÁCIO – PRISÃO – NOITE
Fraca e doente, Orfa tenta resistir em sua cela. Lágrimas jorram de seus olhos enquanto roga aos deuses um livramento... E, ao longo dos dias, mais e mais feiticeiros de todos os lugares são jogados nas celas vizinhas.
CENA 13: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Em não poucas vezes Leila intenta se aproximar de Aylla e revelar toda a verdade... Mas, de última hora, perde as forças e desconversa. A garota desconfia, mas não questiona muito.
CENA 14: INT. CASA DE NOEMI – COZINHA/SALA – NOITE
Rute, mesmo cansada, insiste em limpar a casa sozinha, organizar os utensílios... Em alguns dias prepara a comida, serve Noemi... Quando vê a sogra adormecida, cobre-a cuidadosamente com um pano para que não passe frio.
CENA 15: INT. DESERTO – CAVERNA – DIA
Parado na entrada da caverna, Segismundo, mais acuado que nunca, observa a paisagem lá fora... A preocupação e a frustração por ter que ficar ali estampados em seu rosto.
CENA 16: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA
As preparações para a festa da colheita continuam. Pouco a pouco as coisas vão sendo organizadas...
CENA 17: EXT. BELÉM – PLANTAÇÃO DE BOAZ – DIA
Jurandir tenta se aproximar de Tani, mas ela nunca lhe dá atenção e sempre o deixa falando sozinho para ir ajudar alguma de suas moças.
CENA 18: INT. HOSPEDARIA – CORREDOR – NOITE
Jurandir nota Diana limpando a entrada de seu próprio quarto e se aproxima. Ao ver o pai, ela rapidamente pega suas coisas, deixa um olhar de desprezo para ele e fecha a porta na cara dele, que fica frustrado.
CENA 19: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA
As estruturas das tendas já estão sendo montadas e em algumas mesas já há enfeites. Um trabalhador conversa com Boaz.
TRABALHADOR — ...para que tenhamos espaço naquele lado onde ficarão os arranjos.
BOAZ — Ótimo! Excelente ideia!
TRABALHADOR — Obrigado, senhor.
BOAZ — Me lembre de aumentar o seu salário.
O homem sorri e faz uma reverência com a cabeça. Boaz sai.
CENA 20: INT. CASA DE NOEMI – COZINHA – DIA
Enquanto Rute limpa a mesa, Noemi seca alguns utensílios de cozinha.
NOEMI — Rute, vá a essa festa.
Rute sorri.
RUTE — Eu fui convidada. Todos os trabalhadores foram. Na verdade acho que é para a cidade toda...
NOEMI — De qualquer forma, vá.
RUTE — Mas... por que o interesse em que eu esteja lá, minha sogra? Posso saber?...
NOEMI — Oh, Rute, claro... Você se lembra bem, Boaz é um dos nossos remidores.
RUTE — (entendendo) Senhora, não se preocupe quanto a isso--
NOEMI — (interrompendo) Mas é claro que me preocupo. Como não vou eu buscar um lar para você?!
Rute fica quieta.
NOEMI — Eu noto, minha querida... Eu noto, quando você chega, o brilho em seu olhar...
Rute não sabe o que dizer...
NOEMI — Você quer... Ele quer... Não é ele um dos nossos remidores? Isso é mais que possível, Rute.
Rute entende.
NOEMI — Venha comigo, vamos ali.
Noemi e Rute vão para a sala.
CENA 21: INT. CASA DE NOEMI – SALA – DIA
Elas sentam à mesa.
NOEMI — É o seguinte: não se encerrou a colheita do trigo e da cevada?
RUTE — Sim.
NOEMI — Pois bem. Hoje à noite, bem perto de onde a festa estiver acontecendo, haverá um grande monte de cevada, um dos motivos das comemorações. Um monte grande o suficiente para que todos o vejam da festa.
RUTE — Certo.
NOEMI — E você, Rute, faça o seguinte: banhe-se, passe o melhor perfume que tivermos, vista os teus melhores vestidos, e vá a essa festa. Porém... não deixe que ele te perceba. Que ele não a note em lugar algum da festa, em nenhum momento. Como também não queremos que alguém conte a ele, que de preferência pessoa alguma saiba que você está ali.
RUTE — Se não poderei ser vista, por que o melhor perfume, os melhores vestidos?...
Noemi sorri.
NOEMI — Ficará oculta apenas até que ele tenha acabado de comer e beber. Quando for se deitar, observe para onde ele estará indo. Note bem o lugar em que ele se deitar.
Rute franze o cenho levemente.
RUTE — E depois?...
NOEMI — É aí que você se aproximará.
RUTE — Me aproximar? Me aproximar de Boaz, deitado e sozinho durante a noite?
NOEMI — Sim.
RUTE — (preocupada) Senhora...
NOEMI — Rute, Boaz é um homem justo e correto. Um servo de Deus.
RUTE — Mas eu não parecerei nada disso se me aproximar dele nessa ocasião, dessa forma... Muito pelo contrário, vou parecer uma... uma...
NOEMI — Acalme-se, minha filha. Boaz é um dos nossos remidores e eu tenho certeza que você não chegou àquele campo por acaso.
RUTE — Sim, isso é verdade... Mas... E depois? O que farei ao me aproximar dele? Ele deverá estar dormindo...
NOEMI — Estará. Provavelmente estará coberto. Os homens sabem que, de tão cheios de comida e vinho, não aguentam voltar para casa e, por isso, já deixam uma coberta ali por perto. O que você vai fazer é descobrir os pés de Boaz e deitar ali mesmo, aos seus pés.
RUTE — Ai, senhora... Deitar com Boaz?!
Noemi sorri e se aproxima mais.
NOEMI — Eu entendo. Eu sei o que está pensando, eu sei o que o povo falaria se visse isso... Mas eu sinto como que vindo de Deus. Inspiração, Rute... Inspiração divina... Deus há de fazer uma grande obra por meio desse ato. Eu acredito nisso como acredito que você está aqui comigo!
Rute respira fundo e faz que sim.
NOEMI — Diga-me, Rute: você não quer o mesmo que Boaz quer?
Rute limpa os lábios, engole... Lembra-se de Boaz, dele sendo bondoso e educado com ela... De seu sorriso...
RUTE — Sim.
Noemi sorri.
NOEMI — Muito bem.
RUTE — Senhora... E depois? O que eu faço?
NOEMI — Por causa dos pés descobertos ele acordará. E então te fará saber o que deve fazer.
Rute ajeita a postura e respira fundo, criando coragem. Olha para Noemi.
RUTE — Vou fazer isso, dessa forma, porque confio em minha sogra...
Noemi sorri.
RUTE — Tudo o que a senhora disse, eu vou fazer.
Contente, Noemi faz que sim.
CENA 22: INT. CASA DE LEILA – LOJA – DIA
Nos fundos da loja, perto da porta da sala, Leila e Aylla terminam de orar e se levantam. Leila olha para a garota, que percebe.
AYLLA — O quê, mãe? Está tudo bem?
Leila respira fundo.
LEILA — Não está certo, não aguento mais segurar isso comigo.
Aylla franze o cenho.
AYLLA — (devagar) O que exatamente não está certo?... O que não aguenta mais segurar, mãe?...
LEILA — Eu tenho algo para te contar, Aylla.
AYLLA — O quê?
Quando Leila abre a boca, alguém entra na loja: é Myra, disfarçada. Elas olham.
MYRA — Oi...
LEILA — Myra... entre. Venha aqui.
Myra atravessa a loja e se aproxima delas.
MYRA — Não quero que me interpretem mal, mas há muitas curiosidades me atormentando e tirando o meu sono... e precisei vir para saber mais, saber tudo o que eu necessito saber!
LEILA — Claro, Myra...
Myra percebe o clima estranho.
MYRA — Estava acontecendo algo? Estavam conversando alguma coisa importante?
LEILA — Na verdade sim, eu tenho algo para revelar a Aylla.
Aylla parece cada vez mais ansiosa.
MYRA — Certo, nesse caso eu vou embora e volto em outra hora--
LEILA — (interrompendo) Não, Myra. Você pode ficar. Na verdade pode até ajudar...
Apesar de confusa, Myra não diz nada. Leila vira para Aylla e fita os seus olhos.
LEILA — Aylla...
AYLLA — (ansiosa) Sim?...
Leila respira fundo.
LEILA — Eu sou sua mãe.
Aylla e Myra encaram Leila, que, aguardando a reação da filha, engole em seco. IMAGEM CONGELA.
Obrigado pelo seu comentário!