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A Promessa - Capítulo 47 (Últimos Capítulos - REPRISE)



CAPÍTULO 47

(Últimos Capítulos) 

 

uma novela de 

FELIPE LIMA BORGES 


livre adaptação do livro de Rute

 

Edição da Versão Reprise por 

RAMON FERNANDES 

 

EDIÇÃO: 

Restante do Capítulo 63 + Parte do Capítulo 64 ORIGINAL (SEM CORTES)   


CENA 1: INT. HOSPEDARIA – QUARTO DE TAMIRES – DIA 

Tamires está terminando de se arrumar. Abimael, ainda deitado, desperta e nota-a. 

ABIMAEL  Tamires? 

Ela olha para ele. 

ABIMAEL  Onde você vai? 

TAMIRES  Se esqueceu? Hoje é o dia da vitória. Vou ao campo assistir Noemi morrendo. Dessa vez vai ser pra valer. 

Abimael se ajeita na cama, olhando-a. 

TAMIRES  Quero ser a última coisa que Noemi veja. Quero mostrar para ela que, no final de tudo, fui eu quem venceu. 

Ela vai até ele. 

TAMIRES  Quando eu voltar, serei outra Tamires. A melhor que já houve. Beijos. 

Ela segura a cabeça dele e o beija. 

TAMIRES  Tenha um bom dia, lindo. 

ABIMAEL  Você também. 

Abimael, deitado, observa Tamires ir para a porta, piscar feliz para ele e sair com os guardas. 

 

CENA 2: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA 

Enquanto todos aguardam a resposta de Neb, esse olha para o povo ao redor. 

NEB — (murmurando) Você já tem muito, Boaz, e ainda quer mais? Rum, perdeu essa, meu caro. 

BOAZ  E então, Neb? Estamos aguardando sua resposta. 

Neb então põe-se de pé. 

NEB  Muito bem! Já tenho minha decisão. 

Todos ansiosos. 

NEB  Eu redimirei. 

Um desânimo parece cair sobre os ombros de Rute... 

NOEMI  Calma, minha filha, calma... Não desanime, mantenha-se firme. 

Rute olha para a sogra e para eles preocupadíssima... 

RUTE  Eu não posso me casar com ele... Eu não gosto, eu não o conheço... Eu gosto... a senhora sabe de quem... 

NOEMI  Clame ao Senhor, apenas faça isso. 

Tani também tenta acalmar Rute e Josias olha para Neb com certa raiva. Os anciães, entendendo que o caso está encerrado, começam a se levantar, mas param ao ouvir Boaz falar. 

BOAZ  Muito bem, muito bem. 

Todos olham para ele. 

BOAZ  Agora ajuntaremos os papéis, você o dinheiro e então a redimirá. 

NEB  (contente) Naturalmente. 

BOAZ  E, no dia em que fizer isso, tomar a terra da mão de Noemi, também tomará a mão de Rute, a moabita, mulher do falecido Malom, que não teve descendência. 

De repente, o semblante de Neb cai bruscamente. 

NEB  O quê?! 

BOAZ  É isso mesmo, Neb. Não conhece a lei do remidor? Não sabe que o objetivo é dar continuidade à descendência do falecido, para que o mesmo não seja esquecido e para que a honra retorne à casa da família? 

NEB  Ma-mas... Mas... eu... 

Todos observam a confusão de Neb. 

NEB  Boaz... Casar?! 

BOAZ  Sim, casar. 

O semblante de Neb começa a mudar, ele levanta a cabeça... faz careta... e espirra! Espirra de novo! E de novo! Alguns franzem o cenho, mas ele não para. Outra vez! E outra! E mais outra! 

ANCIÃO  O que está acontecendo? Ei, Neb, você está bem?! 

Neb espirra mais uma, e mais outra. Apoia-se na cadeira e continua a espirrar. Rute e Noemi se entreolham estranhando e Josias disfarça um riso. Neb então cai na cadeira e dá mais um espirro, mais forte e mais alto! 

ANCIÃO  Meu Deus... 

Neb então abana a mão no rosto. 

NEB  Ah, ai... 

ANCIÃO  Está passando mal?! 

NEB  Estou... Ah... Água... Por favor, água... 

Logo alguém traz um copo com água e ele bebe de uma só vez. 

NEB  Ah!... 

ANCIÃO  Melhorou? 

Neb respira seguidas vezes. 

NEB  Sim... Estou melhor... Quase morri... Ah... Senti a capa escura da morte roçando em minhas canelas... Ah... Ah... Estou melhor. 

Todos trocam olhares de estranhezas. Os anciães conversam avidamente entre si. 

BOAZ  Neb... Ainda pretende redimir Rute e a terra de Noemi? 

Neb, jogado na cadeira, olha para elas, que o encaram. Então ele se ajeita na cadeira. 

NEB  Não... Não poderei redimi-la... Não posso fazer isso... 

O peso do desânimo parece sair dos ombros de Rute, mas ela se mantém discreta. 

ANCIÃO  Por quê? 

Neb parece buscar as palavras... 

NEB  Para não prejudicar a minha herança... Se eu me casar, minha herança estará dividida. 

ANCIÃO  Egoísmo, Neb? É o que me parece. 

NEB  Não, não é... 

E espirra mais uma vez. 

ANCIÃO  É essa a verdade mesmo? 

Neb olha para o Ancião. 

NEB  Sim. (para Boaz) Redima você... Eu não poderei fazer. 

Não se aguentando mais, Rute e Noemi sorriem. 

NOEMI  Eu disse para você se aquietar, rum... 

Rute ri. 

RUTE  Ah, minha sogra... 

Tani e Josias sorriem para elas. 

ANCIÃO  (para Neb) Se não se lembrava da lei do remidor, não deve se lembrar do costume da sandália. 

NEB  É... Não... 

ANCIÃO  Pois bem. Quanto à remissões e contratos oficiais, para confirmar todo o negócio, o homem que abre mão de algo, nesse caso a remissão, deve pronunciar sua desistência, descalçar sua sandália e a dar ao outro, a outra parte no contrato. Isto serve como testemunho diante de Israel. 

NEB  Certo, certo... Assuntos de lei, ah... 

Neb então descalça um dos pés, pega a sandália, se aproxima de Boaz e eles se encaram por um instante. 

NEB  Tome a terra e a viúva para você. 

Então Neb entrega a sandália e Boaz a pega com respeito. 

ANCIÃO  Muito bem. A partir de agora você não pode mais pisar na terra que recusou redimir. 

Boaz então vira para todos ali. 

BOAZ  Vocês são hoje testemunhas de que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi. 

Sorrindo, Noemi faz que sim. 

BOAZ  Também são testemunhas de que me casarei com Rute, a moabita, para recuperar o nome do falecido, Malom, sobre a sua descendência. Para que seu nome não seja esquecido e arrancado de entre seus irmãos. Para que seu nome seja sempre lembrado entre seu povo e sua cidade natal.  

Rute, mantendo o semblante feliz, tem os olhos marejados. 

BOAZ  De tudo isso vocês são hoje testemunhas. 

Então todos todos os anciães, mais Noemi, Rute, Tani, Josias e outros belemitas assistindo falam em uníssono. 

TODOS  Somos testemunhas. 

Junto a Boaz, o Ancião faz sinal para Rute, Noemi, Tani e Josias se aproximarem; assim eles fazem. Rute, abraçada por Noemi, encara feliz Boaz. 

ANCIÃO  (para Boaz) Que o Senhor faça com que essa mulher, que entra na sua casa, seja como Raquel e Léia, que deram muitos filhos a Jacó, edificando, assim, a casa de Israel. 

Rute sorri emocionada. 

ANCIÃO  Boaz, meu filho... Que você seja ainda mais abençoado em Belém, e que seu nome tenha boa fama por toda essa terra! E que, por meio do filho que te der essa moça, sua casa seja como a casa de Perez, o filho que Tamar teve de Judá. 

Feliz, Boaz faz um reverência com a cabeça. 

BOAZ  Muito, muito obrigado, senhor. Vindo do senhor, vale muito. Obrigado. 

O Ancião sorri. 

ANCIÃO  Shalom. 

TODOS  Shalom. 

O Ancião então sai e se junta aos outros anciães, que também começam a ir. 

Tani e Josias estão muito sorridentes, e Noemi, de braços dados com Rute, observa a troca de olhares dela com Boaz. 

NOEMI  Agora poderão pensar no casamento. 

Boaz olha para Noemi. 

BOAZ  Sim... Finalmente. 

Boaz e Rute, apaixonados, continuam a se encarar felizes e sorridentes. 

Enquanto Rute, Boaz, Noemi, Tani e Josias estão felizes pelo resultado, o Ancião está de saída com os dez anciães. Mas para ao notar Neb sozinho, afastado de todos, cabisbaixo e com a mão na garganta. Observa-o por uns instantes... 

Tocado pela cena, o Ancião faz sinal para os companheiros e se aproxima de Neb, que o olha curioso. 

ANCIÃO  Neb... Está tudo bem? 

Neb força um sorrisinho e faz que sim. 

NEB  Sim, sim, senhor. Tudo bem. 

E sai. Por alguns segundos o Ancião o observa se afastar pela praça... Então fala. 

ANCIÃO  Até quando você quer levar essa vida? 

Neb para. O Ancião o observa, esperando... Então Neb vira para ele. 

 

CENA 3: INT. BELÉM - TEMPLO – PÁTIO – DIA 

Vários anciães estão no pátio belemita. Andam, trabalham, escrevem, compõem, leem... Lado a lado, o Ancião e Neb caminham bem devagar por ali. 

ANCIÃO  Agradeço por ter aceitado vir até aqui, Neb. 

NEB  (fazendo que sim) Tudo bem, senhor. É um prazer... Nunca havia entrado aqui. Parece um mundo à parte da cidade. 

ANCIÃO  Um mundo à parte trabalhando pela cidade. Pelo elo entre Deus e o povo. 

Neb faz que sim sorrindo. 

ANCIÃO  E então, meu filho? Eu notei o seu jeito lá na praça... Ficou assim por causa do caso? 

Neb dá uma olhada para o Ancião, e continua normalmente. 

NEB  Não... Na verdade, não. (respira fundo) Demorou, senhor, mas eu finalmente senti o sabor do desprezo. 

ANCIÃO  Ora, então não tem a ver? Foi por não poder mais pisar na terra que recusou redimir? 

NEB  Não, isso já é previsto pela lei, não é desprezo. 

Continuam caminhando, e o Ancião o observa com atenção. 

NEB  O desprezo que senti foi do povo. 

ANCIÃO  Neb... Não se ofenda, vamos usar apenas a verdade... A verdade é que mais cedo ou mais tarde, o salário do pecado chega. 

NEB  (um tanto aflito) Estou perdido... Não tenho mais o que fazer. Nem ir embora, pois não tenho expectativa em outros lugares. 

O Ancião o olha com doçura. 

ANCIÃO  Neb... É para essas pessoas que Deus está de braços abertos. Para que os pecadores se arrependam e voltem para Ele. 

Neb para de andar. 

NEB  (conturbado) Não, não dá... Não dá mais, senhor. Fiz coisas terríveis aos olhos de Deus. Roubei, trapaceei... levei vantagem injustamente... Fui rude, grosseiro com meus irmãos... 

ANCIÃO  (paciente) Neb. Há tanta coisa pior... 

NEB  Mas que não isentam essas, e o senhor sabe. Mas tem mais... Eu forniquei, senhor. Me deitei com mulher sem estar casado... 

ANCIÃO  Ainda assim, Neb. 

NEB  (ciente da gravidade) Eu gostei, senhor! Foi mais de uma vez e eu senti prazer em fazer isso! 

ANCIÃO  Neb, diga-me... Quantas vezes na sua vida você reconheceu Deus como está fazendo agora? 

Neb não pensa muito. 

NEB  Nenhuma. 

ANCIÃO  Pois bem. Essa é a chance da sua vida! A chance de mudar tudo, de se transformar e ter uma nova vida. 

Neb olha para o Ancião. 

NEB  O senhor... acha que isso é possível? 

Sorrindo docemente, o Ancião faz que sim. 

ANCIÃO  Basta você querer, e fazer de um puro e sincero coração. 

Neb parece muito interessado com a oportunidade... 

NEB  E... como eu posso começar isso? 

ANCIÃO  Você já começou. Deu o primeiro passo, que é se arrepender. Agora pode ir pedir perdão a todos que julga necessário pedir. 

Neb, com um sorriso nascendo, faz que sim mais energicamente. 

NEB  Farei isso mesmo. 

Feliz por Neb, o Ancião sorri. 

NEB  Começarei pelo dono da hospedaria, com quem tenho uma rixa antiga. 

ANCIÃO  Neb, mas preste atenção: não desista desse propósito! Se você tiver fé, nada lhe será impossível, tudo poderá alcançar. Mas precisa ter essa fé guardada no coração. E aí... até os montes poderá transportar. 

Contente, Neb faz que sim. 

ANCIÃO  A essa hora da manhã o dono da hospedaria vai colher frutas em seu pomar. Só de falar isso já fico com vontade de tomar os sucos de lá... 

Eles riem. 

ANCIÃO  Mas enfim. Você pode encontra-lo por lá. E não haverá muita gente, poderão conversar tranquilamente. 

NEB  Sim. Eu sei onde fica, vou agora mesmo! Muito, muito, mas muito obrigado, senhor! Abriu minha mente, me fez enxergar o que meus olhos não conseguiam ver... Que Deus o abençoe! 

ANCIÃO  Amém, meu filho. Amém. 

Neb faz uma reverência com a cabeça e sai. Perto dali, atrás de um pilar, o Comandante observa o Ancião, que então vira para ele e faz sinal chamando-o; o Comandante se aproxima. 

COMANDANTE  Senhor? 

ANCIÃO  Já está na hora. Estão prontos? 

COMANDANTE  Sim, senhor. Tudo pronto. 

ANCIÃO  Pois então vamos. 

Eles saem. 

 

CENA 4: EXT. BELÉM – PRAÇA – DIA 

Noemi, Rute, Boaz, Josias e Tani estão muito felizes ali na praça. 

BOAZ  Finalmente encontrei a mulher virtuosa! 

TANI  E Rute poderá ser feliz novamente! 

NOEMI  Louvado seja o Senhor! 

Todos sorridentes. 

NOEMI  Bom, estou muito contente, a conversa está maravilhosa, mas agora vou dar uma volta, espairecer um pouco no campo. Shalom! 

TODOS  Shalom. 

Noemi sai. Enquanto caminha pela praça, nota o Ancião, passa encarando-o nos olhos e continua. 

JOSIAS  E eu vou mexer nos preparativos para essa noite de festa. Vejo vocês mais tarde. 

Josias sai. 

TANI  E eu vou arrumar a casa, senhor Boaz. Shalom. 

BOAZ, RUTE  Shalom, Tani. 

Tani sorri para eles e sai. Ficam ali Rute e Boaz, sorrindo um para o outro. 

BOAZ  Grande dia... 

Rute faz que sim. 

RUTE  Abençoado dia. 

BOAZ  O nosso dia. 

RUTE  (gostando) O nosso dia. Boaz... Não sabe como fiquei aliviada quando tudo se resolveu... Quando o contrato se firmou. 

BOAZ  É da vontade de Deus a nossa união, Rute. Agora está confirmado. 

RUTE  E por isso eu estou pulando de alegria por dentro! 

Boaz sorri com isso. 

BOAZ  Ouvir sua voz... é como ouvir uma música... (pequena pausa) Eu te amo, Rute. 

O rosto de Rute enrubesce e ela o encara com brilho no olhar. 

RUTE  Eu... Eu também te amo, Boaz. 

Eles sorriem de orelha a orelha e pegam as mãos um do outro. 

 

CENA 5: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

O Capitão está diante do trono de Zylom. 

ZYLOM  É inacreditável. Um ultraje! E eu tenho que me contentar com isso! 

O Capitão permanece calado. 

ZYLOM  Assassinam o Sumo Sacerdote de Moabe e morrem impunes! Rute, que deveria pagar pelo crime, consegue fugir! 

CAPITÃO  Senhor, perdão, mas o caso é complexo-- 

ZYLOM  (interrompendo, ficando de pé) Não interessa!!! A verdade é que houve incompetência! Apenas isso, incompetência! Rute deveria estar aqui, pagando, e não solta por sabe-se lá onde! Incompetência de todos! Não conseguiram nada!!! 

Frustrado, Zylom senta no trono. 

ZYLOM  Você tem certeza que vasculhou toda a casa dessa Leila? Não deixou passar nenhum compartimento? Não sei o que faria se descobrisse que ela está escondida aqui mesmo, embaixo de nossos narizes! 

CAPITÃO  Eu pessoalmente vasculhei tudo, soberano. Na casa só há Leila e sua filha. 

ZYLOM  Rum. 

Zylom, raivoso, fica pensativo. Mas então parece notar algo... estranha... franze o cenho... e olha para o Capitão. 

ZYLOM  Você mencionou... filha? 

CAPITÃO  Sim, meu senhor. 

LEILA  Qual o nome dela? 

CAPITÃO  Perdoe-me, rei, mas eu não sei lhe dizer. 

ZYLOM  Qual a idade?! 

CAPITÃO  Aparenta ter entre... 16 e 18. 

Imediatamente Zylom põe-se de pé. 

ZYLOM  Vá agora mesmo até lá! Imediatamente! 

CAPITÃO  Qual é a missão, senhor? 

ZYLOM  Saber o nome dessa garota. 

O Capitão faz uma reverência com a cabeça e sai. Ansioso, Zylom o observa se afastar. 

 

CENA 6: EXT. CASA DE LEILA – RUA – DIA 

Em frente à loja de Leila, o Capitão conversa com o vizinho dela. 

CAPITÃO  Diga de uma vez. Qual o nome da filha da sua vizinha Leila? 

O homem olha do Capitão para a loja e de volta para o Capitão. 

VIZINHO  É Aylla, meu senhor. 

O Capitão parece levemente surpreso. Mantendo a postura militar, faz que sim e vira. Encara Leila e Aylla ali dentro da loja, que também o olham... e então sai. Mãe e filha se entreolham preocupadas e olham para o vizinho, que volta imediatamente para sua casa. 

 

CENA 7: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA 

CAPITÃO  Aylla. 

Zylom fica de pé bruscamente. 

ZYLOM  MALDITAS!!! 

O Capitão mantém a postura. 

ZYLOM  Malditas, mil vezes malditas!!! Me ludibriaram... bem embaixo do meu nariz!!! 

CAPITÃO  Senhor, acalme-se... Isso pode não ajudar... 

ZYLOM  (ignorando-o) É isso! Foi por isso que Faruk foi até lá! Esse era o motivo de sua presença! O Sumo Sacerdote deve ter descoberto que Rute e Orfa sequestraram Aylla e deve ter ido conferir isso! 

CAPITÃO  Mas senhor... Se fosse assim, Faruk poderia ter lhe comunicado. É ainda tudo muito nebuloso... 

ZYLOM  É por isso que precisamos arrancar o paradeiro de Rute daquela maldita Orfa! 

 

CENA 8: EXT. BELÉM – ARREDORES – DIA 

Enquanto prepara, junto a outros belemitas, as coisas da segunda noite de festa, Josias observa, um pouco distante dali, Neb e o dono conversando no pomar desse. Perto disso, no pomar público, Diana apanha frutas do chão enquanto Jurandir a segue, tentando falar com ela. Dali, Josias não ouve nada. 

JURANDIR  Diana, você é minha filha! Me deve satisfação! 

Diana não olha para o pai, apenas continua a pegar as frutas. 

DIANA  Não sou mais sua filha. Já disse. 

JURANDIR  Como ousa?! 

Então ela olha para ele com olhar seríssimo. 

DIANA  Vai me agredir também? 

Jurandir, confuso e atrapalhado, encara a filha por alguns instantes. 

JURANDIR  É claro que não! Não diga besteiras. 

DIANA  Então me deixe em paz. 

Perto dali, Neb acompanha o dono colhendo as frutas das árvores. 

NEB  Senhor, é verdadeiro o meu arrependimento! Quero me desculpar com o senhor! 

DONO  (colhendo) Não quero ouvir você, Neb! Da sua boca só saem mentiras, palavras de trapaça! E, se quer mesmo compensar todo o mal que me fez, então por que não seja com dinheiro? Ou por que não trabalha de graça para mim, ahn?! Isso você não quer, não é?! 

Então Neb arranca uma bela fruta que o dono não notou e a oferece para ele. 

NEB  Na verdade eu posso fazer isso sim. 

O dono o olha surpreso, não esperava por essa resposta, e nem pela bela fruta que Neb lhe estende. Pega-a mas, nesse instante, ouve um barulho estranho... Ambos olham e, de entre as árvores, vários homens com vestes estranhas surgem e se aproximam rapidamente: mercadores de escravos. 

MERCADOR 1  Vejam, os belemitas. Podemos achar bons potenciais aqui. 

Os homens sorriem satisfeitos e avançam. Jurandir, ao percebê-los, tenta proteger Diana ficando na frente dela. 

JURANDIR  Fique atrás de mim, Diana! São mercadores de escravos! 

Diana, confusa e assustada, olha para os homens se aproximando. 

MERCADOR 1  (apontando Jurandir) Podem pegar aquele e (apontando Neb) aquele outro. (apontando o dono) O velho também. Está forte, vai servir ainda. 

Os outros mercadores avançam. 

MERCADOR 1  (apontando Diana) E ela. Estamos precisando de um novo alívio. Peguem-na também! 

De longe, Josias nota a movimentação esquisita. Então saca sua espada e corre, corre o mais rápido que pode até lá! 

Os mercadores dão um soco em Jurandir e o seguram. Outro pega Diana. Neb e o dono são segurados por mais outros. Raivoso e com a espada na mão, Josias vem à toda velocidade. Quando o mercador que segura Diana olha, Josias salta e mete-lhe um chute no peito; o homem voa para trás. Josias rola e põe-se de pé. 

JOSIAS  Diana, corra! Vá! 

Diana corre dali, mas para atrás de uma árvore, observando assustada. Jurandir tenta resistir, mas vai sendo levado. Mais perto de Josias, o dono e Neb se debatem em vão. 

Então Josias segura firme sua espada e desfere um corte na costa de um mercador, que cai gritando. O outro, antes que possa reagir, é atingido no rosto pelo punhal da espada e cai com a mão no nariz. Josias desfere um golpe que corta a veste e o peito do terceiro mercador. Então corre até os homens que carregam Jurandir. Um o solta e, sem arma, tenta lutar com Josias, mas é derrotado ao ter o braço torcido e cair gritando de dor. Com facilidade, Josias chuta e soca os outros, liberando assim Jurandir. Nesse tempo, outros mercadores aparecem ali armados e voltam a segurar Neb e o dono. 

JOSIAS  (para Jurandir) Corra, senhor! 

Jurandir corre dali. Outros chegam e Josias os enfrenta à espada... 

Mas são muitos. Logo um aproveita e mete-lhe o chute no peito; Josias é jogado para trás, bate em uma árvore e cai fraco. 

Neb tenta se soltar com um movimento, mas leva um soco no nariz. Os mercadores agarram ele e o dono e, junto aos feridos por Josias, os leva para longe rapidamente. Caído ao pé da árvore, Josias os nota se distanciar. Então ele faz um tremendo esforço e põe-se de pé. 

DIANA  (atrás da árvore) Josias!... 

Josias olha para ela... e olha para eles indo embora... e corre atrás. Corre, corre, corre com a espada na mão! Mas um barulho agudo e TÁ! Uma flecha é cravada numa árvore ao seu lado. Ele olha bem para frente e vê dois mercadores arqueiros, em cima de carroças, apontando flechas para ele. Josias não corre. Os homens então amarram os pulsos de Neb e do dono... E as carroças começam a ir embora. O tempo todo, os arqueiros não abaixam seus arcos na direção de Josias, que é obrigado a apenas observá-los se distanciar. 

JOSIAS  (com raiva) AAAHHH!!! 

Josias volta para onde estão Diana e Jurandir, assustados. Aproxima-se... Olha Jurandir nos olhos... e para ali. Olha para Diana... 

JOSIAS  Você está bem? 

Diana, confusa, engole em seco e faz que sim. 

JOSIAS  O senhor... Está bem?... 

Jurandir o encara. Por alguns instantes, apenas o encara. 

Finalmente olha para a filha... e de volta para Josias. De repente, ele agarra o pescoço de Josias e o abraça, apoiando a cabeça no ombro do rapaz. Diana, antes preocupada, observa surpresa e confusa. Josias, sem entender, leva devagar as mãos à costa de Jurandir e também o abraça. 

Jurandir desaba a chorar. 

Josias e Diana confusos. Nisso, IMAGEM CONGELA  

 

CONTINUA...

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