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ESPERANÇA - CAPÍTULO 25

                                                                       


  ESPERANÇA

Capítulo 25

Novela criada e escrita por

Wesley Franco

CENA 1. INT. JORNAL O AMIGO DO POVO – REDAÇÃO – NOITE

De repente, a porta da redação se abre, e Hismeria entra acompanhada do prefeito Fontes. O ambiente mergulha em um silêncio surpreso. Todos os olhos se voltam para eles.

HISMERIA (SORRINDO) – Espero não estar interrompendo nada importante.

AUGUSTO (SORRINDO) – Enfim, chegaram.

Matteo se levanta.

MATTEO – Você deve ser a Hismeria, o Augusto falou que você viria...Prefeito Fontes! Feliz em vê-los aqui.

FONTES – Matteo Bellini. O prazer é meu. Esperei muito tempo para ver alguém com coragem suficiente para enfrentar o coronel Almeida.

MATTEO – Agradeço as palavras, Prefeito. Mas confesso que não acreditei que o senhor viria.

Fontes aperta a mão de Matteo firmemente, cumprimentando-o e o olhando diretamente nos olhos.

FONTES – Estou aqui porque acredito que essa cidade precisa de mudança, e você parece ser o homem para isso.

ERIBERTO – Prefeito, com todo respeito. O senhor esteve com o Almeida durante todos esses anos, por que agora muda de lado?

FONTES – Porque eu nunca tive coragem de enfrenta-lo, fui covarde, mas isso acabou e agora que o Matteo está abrindo um caminho que eu não consegui abrir, irei apoia-lo. Não pude combater o Almeida diretamente, mas posso garantir que você terá apoio político e logístico contra ele.

O grupo troca olhares, ainda digerindo a surpresa.

HENRIQUE – E o Almeida? Ele vai saber disso, prefeito. Você está preparado para lidar com as consequências?

FONTES (FIRME) – Já lido com o Almeida há anos. Chegou a hora de traçar uma linha no chão. Matteo, você está disposto a ir até o fim?

MATTEO – Estou. Não por mim, mas por Esperança.

Fontes sorri, satisfeito.

FONTES – Então conte comigo, estarei ao seu lado.

MATTEO (SORRI) – Muito obrigado, prefeito.

AUGUSTO – Agora chegou a hora de trabalharmos porque teremos um longo caminho até a vitória.

ERIBERTO – Precisamos dividir tarefas e traçar uma estratégia de que postura adotaremos daqui para frente.

ANGISLANCLÉCIA – Precisamos de uma data para lançar a candidatura do Matteo diante toda a cidade.

HISMERIA – A festa de ano novo, toda a cidade vai estar reunida para a comemoração, é o momento ideal do Matteo se apresentar ao povo como candidato.

RODOLFO – É uma ótima ideia! A festa de ano novo reúne praticamente toda a cidade, inclusive com a presença do coronel, é o momento ideal para o Matteo fazer esse anúncio.

FONTES – Matteo, você subirá ao pouco junto comigo na hora do brinde de ano novo e nesse momento você anunciará sua candidatura.

MATTEO – Eu gosto da ideia e se vocês todos a apoiam, será dessa forma.

                                                         CORTA PARA:

CENA 2. INT. CASA DE HOMERO – SALA DE JANTAR – NOITE

Homero está sentado na cabeceira da mesa, ao seu lado está Constância. Dirce começa a servir o jantar, enquanto Constância percebe a ausência de Fernando.

CONSTÂNCIA – O Fernando não vai jantar conosco?

DIRCE – Ele pediu para que eu levasse uma bandeja com o jantar dele, porque ele queria jantar no quarto hoje.

CONSTÂNCIA (INDAGA) – Aconteceu alguma coisa?

DIRCE – Não sei dizer, senhora, mas acho que sim porque ele não chegou com uma cara boa.

CONSTÂNCIA (PARA HOMERO) – Você sabe de alguma coisa, meu amor?

Homero hesita, mas acaba respondendo Constância.

HOMERO – Hoje houve um atrito entre ele e o Coronel Almeida. O Fernando mandou soltar um homem que estava preso acusado de tentar matar o Almeida, o coronel não gostou e foi tirar satisfações com o Fernando, só que daquela maneira exaltada e autoritária que ele tem. O Fernando chegou a ameaça-lo de prisão, foi um grande atrito entre os dois.

CONSTÂNCIA – Meu Deus...mas o coronel deveria respeitar mais o Fernando, afinal de contas ele é juiz da comarca, ele é uma autoridade na cidade, não se pode se exaltar e muito menos ser autoritário com uma autoridade.

HOMERO – Acontece que o coronel também é uma autoridade, apesar de hoje ele não ocupar nenhum cargo público, mas ele exerce influência em todos os setores, inclusive exercia influência sobre o antigo juiz da comarca. O Fernando é novo, não entende como funcionam as coisas.

CORTA PARA:

CENA 3. INT. CASA DE MARTINA E JERÔNIMO – QUARTO DE MARTINA E JERÔNIMO – NOITE

O quarto está quase escuro, iluminado apenas por um pequeno abajur ao lado da cama. Jerônimo está sobre Martina que está deitada na cama de pernas abertas com o vestido levantado, enquanto Jerônimo a penetra. Enquanto realiza o ato ele dá tapas violentos no rosto de Martina que se enche de lágrimas e não demonstra nenhum tipo de prazer. Ao terminar, Jerônimo se deita sobre Martina cheirando seu pescoço e em seguida se deita ao seu lado. Martina baixa o vestido, se vira para o lado oposto a Jerônimo e as lágrimas escorrem pelo seu rosto.

JERÔNIMO – Amanhã, acorde mais cedo para preparar meu café, irei precisar sair mais cedo, tenho que ir resolver uma questão na cidade vizinha.

Jerônimo apaga a luz do abajur e o quarto é imerso na escuridão.

                                                         CORTA PARA:

CENA 4. INT. CASA DE HOMERO – QUARTO DE FERNANDO – NOITE

A luz da lua entra pela janela aberta, projetando sombras na parede. Fernando está deitado na cama, dormindo profundamente. A porta se abre silenciosamente, e Constância, usa um robe de seda branco, entra no quarto com passos suaves. Ela para ao lado da cama, observando Fernando por alguns instantes antes de soltar o nó do robe que desliza pelos seus ombros, caindo ao chão, deixando-a completamente nua sob a luz da lua. Constância deita-se na cama ao lado dele. Fernando acorda e se vira, arregalando os olhos ao ver Constância ao seu lado, nua.

FERNANDO (ASSUSTADO) – Constância? O que você está fazendo aqui?

Constância coloca o dedo delicadamente sobre os próprios lábios, para que ele faça silêncio. Ela não responde, apenas aproxima-se dele, seu olhar é intenso e provocado. Antes que ele possa dizer algo, ela o beija. Por um momento, Fernando hesita, mas logo retribui o beijo, envolvido pelo momento.

                                                         CORTA PARA:

CENA 5. INT. FAZENDA DOS ALMEIDA – CASA DOS ALMEIDA – ESCRITÓRIO DIA

Ezequiel entra com papéis na mão, sua expressão é séria.

EZEQUIEL – Coronel, o que temíamos aconteceu. Foi encontrada uma praga nas plantações das terras que eram da fazenda Bellini.

ALMEIDA (ERGUE O OLHAR) – Praga? Que tipo de praga?

EZEQUIEL – Parece ser ferrugem do café, coronel, mas ela vem muito pior e se alastra mais rápido que o normal. E se não agirmos rapidamente, pode acabar consumindo o restante da colheita.

Ezequiel estende um orçamento para Almeida, que pega o papel e analisa em silêncio.

ALMEIDA (BALANÇANDO A CABEÇA) – Esses valores são altos demais, Ezequiel.

EZEQUIEL – Sim, coronel, mas o tempo não está do nosso lado. Se a praga se alastrar, perderemos parte da safra que ainda tá no pé e as próximas, porque teremos que replantar tudo novamente.

Almeida se levanta, colocando o papel sobre a mesa com força.

ALMEIDA – Vou pedir um adiantamento ao Inácio pela venda da safra, não quero fazer novas dívidas com o banco, não depois do que o filho do Homero me aprontou.

EZEQUIEL – É a melhor decisão, senhor.

ALMEIDA – Vou resolver isso hoje mesmo, mas antes preciso tratar de outro problema.

Almeida ajeita o paletó, pega o chapéu e sai do escritório, deixando Ezequiel pensativo enquanto olha para os papéis.

                                                         CORTA PARA:

CENA 6. INT. CASA DE HOMERO – QUARTO DE CONSTÂNCIA E HOMERO – DIA

Constância está sentada à penteadora, ajustando seus brincos e passando batom. A porta se abre com força, e Fernando entra, visivelmente tenso.

CONSTÂNCIA (OLHANDO PELO ESPELHO) – Fernando? Que surpresa.

FERNANDO – Meu pai saiu para o banco. Precisamos conversar.

Constância se vira lentamente da cadeira e olha para ele, curiosa.

CONSTÂNCIA – Conversar? Sobre o quê?

Fernando se aproxima, os olhos estão cheios de raiva e angústia.

FERNANDO – Sobre a noite passada.

CONSTÂNCIA (SORRI) – Ah, a noite passada...você gostou da surpresa?

FERNANDO (FIRME) – Constância, o que aconteceu nunca mais pode se repetir.

CONSTÂNCIA – E por quê não?

FERNANDO – Porque você é minha madrasta! Você se casou com meu pai, isso que fizemos é errado.

Constância se levanta e se aproxima de Fernando.

CONSTÂNCIA – Errado? Nós apenas nos gostamos, Fernando. O que há de errado nisso?

Fernando segura Constância pelo braço com bastante força.

FERNANDO – Gostar? Se você realmente gostasse de mim, não teria se casado com meu pai. Você não passa de uma...

CONSTÂNCIA (FRIA) – Diga, Fernando. Termine a frase.

FERNANDO (FIRME) – Vagabunda!

Fernando a empurra com força, e Constância cambaleia para cima da penteadeira, mas mantém a postura. Ele aponta o dedo na cara dela, com bastante raiva.

FERNANDO – Nunca mais me procure, Constância. Nunca mais!

Ele sai do quarto batendo a porta com força. Constância dá um sorriso debochado enquanto se olha novamente no espelho.

CONSTÂNCIA (IRÔNICA) – Ah, Fernando...nunca diga nunca. Você vai continuar sendo meu!

                                                         CORTA PARA:



CENA 7. INT. CASEBRE DE ALMEIDA – DIA

Almeida e Nina estão deitados na cama, ainda ofegantes. Almeida a beija, mas Nina afasta o rosto levemente, com uma expressão pensativa.

NINA – Há dias preciso falar com você sobre um assunto.

ALMEIDA – Fale agora, é o momento. Esses dias foram complicados para mim, por isso não pude vim aqui.

NINA – A Helena ultimamente tem reclamado muito do casamento com o Marcos.

ALMEIDA - Reclamado do quê, exatamente?

NINA – Que ele não a procura como esposa. Essa ideia de casar o Marcos com a Helena para fazê-lo gostar de mulheres...não funcionou.

ALMEIDA – Funcionou parcialmente. Pelo menos ele não está correndo atrás de outros homens.

NINA (FRUSTRADA) – Mas Almeida, minha filha está infeliz. Ela não tem amor, não tem companhia. Tenho medo dela querer se desquitar.

ALMEIDA – Infeliz? Helena tem uma vida de princesa. Está reclamando de barriga cheia! Ela nunca teria conseguido se casar com um homem rico se não fosse pelo Marcos, ela é filha de uma empregada com um jagunço. Ela teve foi sorte! Deveria ser mais grata por isso.

NINA – E ela é, mas essa vida de princesa está sendo a custo dela ser infeliz.

ALMEIDA – E o que você sugere, Nina? Que eu force o Marcos a cumprir suas obrigações de marido?

NINA – Não, isso não vai funcionar. Mas eu acho que se a Helena trabalhar com o Marcos na administração da fazenda, isso poderia aproximá-los mais e também daria algo para ela fazer, algo para ela ocupar a mente.

Almeida observa Nina por alguns instantes, pensando no assunto.

ALMEIDA – Talvez você tenha razão. Vou colocar os dois para trabalharem juntos. Quem sabe isso resolve. Agora tire da cabeça dela essa ideia de desquite, jamais aceitaria um desquite dentro da minha família ainda mais nas vésperas de uma eleição.

Nina sorri e se deita novamente ao lado de Almeida, acariciando o rosto dele.

NINA – Você sempre sabe como resolver as coisas.

ALMEIDA (SORRI) – Agora vamos aproveitar mais um pouco, porque logo tenho mais problemas para resolver.

Os dois se abraçam novamente se beijam.

                                                         CORTA PARA:

CENA 8. EXT. RUAS DE ESPERANÇA/SÃO PAULO – DIA

       SONOPLASTIA: QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR – MILTON NASCIMENTO

Tomada de vários pontos da cidade de Esperança e de São Paulo, mostrando o dia a dia da cidade, o movimento dos carros, das pessoas caminhando pelas ruas, dos comércios e lojas funcionando.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

                                                     SONOPLASTIA OFF

                                                         CORTA PARA:

CENA 9. INT. CONSULTÓRIO MÉDICO – DIA

Camila, com um vestido floral elegante, senta-se ao lado de sua mãe, Dorotéia, que ajeita as luvas brancas. À frente delas, Dr. Romeu, ajusta os óculos.

DR. ROMEU – Boa tarde, Dona Dorotéia, senhorita Camila. Como posso ajudá-las hoje?

CAMILA – Boa tarde, doutor. Eu tenho em sentindo mal nos últimos dias...Náuseas, tonturas, e às vezes até vômitos, qualquer cheiro tem me incomodado.

DR. ROMEU – Entendo. Esses sintomas surgiram há quanto tempo, exatamente?

CAMILA (PENSATIVA) – Uns cinco ou seis dias, talvez.

DR. ROMEO – E a sua menstruação, Camila? Está normal?

CAMILA (CONSTRANGIDA) – Não, doutor. Está atrasada.

DR. ROMEO – Atrasada há quanto tempo?

CAMILA – Quase duas semanas.

DR. ROMEO – Vou precisar examiná-la.

Camila se levanta e se deita em uma maca coberta com lençóis. Dr. Romeo examina seu abdômen com movimentos delicados e criteriosos. Dorotéia, sentada ao lado, observa com ansiedade. Dr. Romeu retorna á sua cadeira, tira os óculos e os limpa com um lenço enquanto Camila se senta novamente ao lado de Dorotéia.

DR. ROMEO – Camila, com base nos seus sintomas e no exame físico, tudo indica que você está grávida.

Camila arregala os olhos em choque, enquanto Dorotéia leva a mão à boca, sem acreditar.

CAMILA (SURPRESA) – Grávida?

DOROTÉIA – Doutor, o senhor tem certeza disso?

DR. ROMEO – Quase certeza, mas para confirmar, pedirei um exame de sangue. É a forma mais segura de validar o diagnóstico, mas pela minha experiência ela está grávida.

Dr. Romeo escreve o pedido, enquanto Dorotéia ainda parece analisar a informação e Camila começa a esboçar um sorriso tímido.

DR. ROMEO – Aqui está o pedido. Recomendo que o faça o quanto antes.

                                                         CORTA PARA:

CENA 10. EXT – RUAS DE ESPERANÇA – DIA

Camila e Dorotéia caminham em silêncio pela calçada.

DOROTÉIA – Camila, você tem noção do que isso significa?

CAMILA (SORRINDO) – Vou ser mãe.

DOROTÉIA – Não é só isso! Você é solteira, Camila. Uma gravidez em casamento será um escândalo.

CAMILA – Mãe, calma. O Matteo vai ficar muito feliz com a notícia. Ele me ama, e com certeza vai casar comigo.

DOROTÉIA – Então vocês precisam marcar o casamento imediatamente. Não podemos esperar sua barriga crescer. Seu pai, não vai poder ser contra esse casamento.

CAMILA – Mãe, confie em mim. Eu e o Matteo nós vamos resolver isso juntos.

DOROTÉIA – Vocês precisam ser rápidos.

CAMILA – Amanhã à noite eu vou jantar na casa do Matteo e conto para ele. Tenho certeza de que o Matteo ficará tão feliz quanto eu.

Dorotéia suspira, ainda tensa, mas faz um leve gesto de concordância.

                                                         CORTA PARA:

CENA 11. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – SALÃO – NOITE

O salão do bordel está cheio de risos e música. No canto do bar, Isabella, de vestido vermelho vibrante, está sentada com um copo de drink na mão. Seus olhos estão semicerrados, seu rosto cansado e sua postura desleixada mostram o estado de embriaguez. Robervaldo, observa com preocupação enquanto seca um copo com um pano.

ROBERVALDO (SE INCLINA NO BALCÃO) – Você está bem, Isabella?

ISABELLA (BALANÇANDO O COPO) – Claro que estou. Por que não estaria?

ROBERVALDO – Por que você está na sexta dose desse drink, e você não é de beber assim.

Isabella dá uma risada amarga e vira o copo, esvaziando-a de uma vez. Ela faz uma careta ao sentir o gosto forte do álcool.

ISABELLA – Eu estou bem, não precisa se preocupar.

Robervaldo cruza os braços, inclinando-se levemente para mais perto.

ROBERVALDO – Isabella, fala comigo. Eu te conheço há tempo suficiente para saber que tem algo errado.

Isabella finalmente ergue o olhar, e seus olhos brilham, não de alegria, mas de dor. Ela suspira profundamente antes de falar.

ISABELLA (AMARGURADA) – Sabe, Robervaldo...Às vezes eu acho que nasci pra ser julgada.

ROBERVALDO (CONFUSO) – Julgada? Pelo que? Do que você está falando?

ISABELLA (ENCARANDO O COPO VAZIO) – Por existir. Pelas escolhas que eu nunca tive. Por estar aqui.

Robervaldo pega a garrafa e enche o copo dela novamente, mas coloca sua mão suavemente sobre a de Isabella para evitar que ela beba imediatamente.

ROBERVALDO – Escolhas que nunca teve? O que você quer dizer com isso?

ISABELLA (RIR IRONICAMENTE) – Você acha que eu escolhi essa vida, Robervaldo? Acha que eu queria ser uma mulher que vive e trabalha num bordel?

Ela balança a cabeça e toma um gole pequeno, sem pressa desta vez.

ISABELLA – Não. Eu vim parar aqui porque não tinha pra onde ir. E o que eu ganhei por isso? Meus irmãos...Rodolfo não fala comigo há mais de dez anos. Nem olha na minha cara, ele me despreza completamente. E agora o Matteo voltou, mas mal chegou e já passou a me desprezar também por eu estar aqui.

ROBERVALDO – Isso te machuca, não é?

ISABELLA (EMOCIONADA) – Mais do que eu consigo admitir.

ROBERVALDO – Mas, Isabella, por que você nunca contou a eles o motivo de estar aqui?

Isabella fica tensa e encara Robervaldo com olhos cheios de uma dor profunda.

ISABELLA – Porque...Porque eu quis proteger a minha família.

ROBERVALDO (SURPRESO) – Proteger do quê?

ISABELLA (VIRANDO O DRINK DE UMA VEZ) – Não importa.

De repente, Isabella coloca a mão no estômago, ficando visivelmente enjoada. Robervaldo rapidamente a segura antes que ela caia no banco.

ROBERVALDO – Vamos, vou te levar pro seu quarto.

                                                         CORTA PARA:

CENA 12. INT. BORDEL DE MADAME YVETTE – QUARTO DE ISABELLA – NOITE

Robervaldo coloca delicadamente Isabella na cama, ela está pálida, com os olhos semicerrados, mas murmura enquanto ele ajeita os travesseiros.

ISABELLA – Obrigada, você sempre foi bom comigo...Todos aqui foram.

ROBERVALDO – Você precisa descansar.

ISABELLA – Madame Yvette...ela me salvou.

ROBERVALDO (CURIOSO) – Salvou de quê?

ISABELLA (CHORA) – Do meu tio Jerônimo...Ele...

Ela para, respirando com dificuldade, antes de continuar.

ISABELLA – Ele abusou de mim, Robervaldo. Quando eu era só uma garota.

Robervaldo congela, o rosto tomado por choque e indignação.

ISABELLA – Eu não queria destruir o casamento da minha tia Martina, isso destruiria ela e a minha família, e ele ameaçou a minha vida, a dela e a do meu irmão se eu contasse alguma coisa. Então vim pra cá...pra fugir de tudo isso.

Isabella fecha os olhos e, pouco depois, começa a respirar profundamente e dorme. Robervaldo fica parado ao lado da cama, tentando processar o que ela disse.

ROBERVALDO – Meu Deus.

Robervaldo olha para Isabella, agora adormecida, com uma mistura de compaixão e tristeza. Ele ajeita o cobertor sobre ela, dá um último olhar e apaga a luz ao sair, deixando apenas uma penumbra no quarto.

                                                         CORTA PARA:

CENA 13. EXT. RUAS DE SÃO PAULO – NOITE/DIA

                          SONOPLASTIA: YOU ARE MY DESTINY – PAUL ANKA

Tomadas em série e em rápida sucessão mostrando a cidade de São Paulo durante a noite e durante o dia, com o intenso trânsito de carros e movimento das pessoas.

                                                     SONOPLASTIA OFF

CENA 14. EXT. RUAS DE SÃO PAULO – DIA

Flora e Patrícia estão sentadas no banco de trás de um táxi. O rádio toca “You are my destiny”.

FLORA – Eu ainda não acredito que fizemos essa viagem de navio da Europa até aqui. Uma eternidade presa naquele cubículo flutuante. Foi uma péssima ideia, mamãe!

PATRÍCIA – Flora, já conversamos sobre isso. A viagem de avião até aqui custaria o dobro. Você sabe muito bem que não estamos em condições de gastar dinheiro à toda, estamos no limite, Flora, no limite.

FLORA (IMPACIENTE) – Ah, claro! Depois de gastarmos horrores naquela viagem frustrada para tentar recuperar um dinheiro que nem existia, economizar na passagem resolveu todos os nossos problemas.

PATRÍCIA (SÉRIA) – Não seja sarcástica! Estamos em uma situação difícil, mas a solução é o Matteo e tudo depende de você.

FLORA (SORRINDO) – Eu mal posso esperar para vê-lo. Mas ele tem muito o que me explicar. Não atendeu nenhuma das minhas ligações durante a viagem.

PATRÍCIA – Não perca tempo com ressentimentos bobos. O que importa agora é que você se case com o Matteo o mais rápido possível. Esse casamento é nossa salvação econômica.

FLORA – Não se preocupe, mãe. Já somos noivos, o casamento é o próximo passo.

Patrícia olha pela janela, preocupada, enquanto Flora retoca o batom com um pequeno espelho de mão. O táxi vira para a esquina, e a visão da mansão delas aparece ao fundo, ele para em frente à mansão. Um caminho de mudanças está estacionado em frente a mansão, com homens carregando móveis para dentro dele. Tapetes enrolados, poltronas e caixas estão acumuladas na calçada.

FLORA – O que é isso? Eles estão levando os nossos móveis!

PATRÍCIA (DESESPERADA) – Isso deve ser um engano.

Patrícia sai apressada do táxi e Flora a segue. Na entrada da casa, Laís, a empregada surge com uma expressão aflita.

LAÍS – Dona Patrícia, Dona Flora, ainda bem que vocês chegaram a tempo.

PATRÍCIA (NERVOSA) – Laís, o que está acontecendo aqui? Por que estão levanto tudo?

LAÍS – A casa foi leiloada, dona Patrícia. O banco conseguiu uma ordem judicial para tirar tudo.

FLORA (EM CHOQUE) – Leiloada? Como assim leiloada? Essa é a nossa casa!

                                                         CORTA PARA:

CENA 15. INT. MANSÃO DE FLORA E PATRÍCIA – SALA VAZIA – DIA

Patrícia e Flora entram apressadamente em casa, onde os móveis já foram removidos, revelando um espaço completamente vazio. Um oficial de justiça está próximo à escada, revisando os papéis. Ele levanta a cabeça ao notar as duas.

PATRÍCIA – O que está acontecendo aqui? Por que estão levando os móveis da minha casa?

OFICIAL DE JUSTIÇA – Senhora Patrícia, esta propriedade foi leiloada para quitar uma dívida com o banco. A ordem judicial determina a desocupação imediata do imóvel.

PATRÍCIA – Mas isso não pode ser feito assim! Não fomos notificadas, não tivemos tempo de recorrer!

OFICIAL DE JUSTIÇA – A senhora foi notificada há seis meses. Sinto muito, mas o prazo expirou. Vocês precisam sair desta casa ainda hoje.

Patrícia fica estática, a boca entreaberta, incapaz de falar. Flora, com os olhos marejados, segura o braço da mãe.

FLORA – Mãe...o que vamos fazer agora?

Laís aparece com uma carta na mão.

LAÍS – Dona Flora, isso aqui chegou para você quando estava fora. É do senhor Matteo.

Flora pega a carta apressadamente e o abre. Ela lê a carta, o rosto passando de uma expressão de confusão para surpresa.

PATRÍCIA – O que foi? O que foi que ele disse? Por que essa cara?

Flora entrega a carta para Patrícia.

FLORA – Ele se mudou, mãe. Se mudou para Esperança com o Flávio, aquela cidade de onde ele veio.

PATRÍCIA (EM CHOQUE) – Se mudou? Como assim?

Patrícia ler a carta rapidamente.

FLORA – O Flávio estava com uns problemas de saúde, antes de viajarmos ele ia fazer o exame, ao que parece o exame constatou uma lesão no pulmão e os médicos recomendaram que ele fosse viver em uma cidade com um ambiente mais limpo e eles decidiram ir para Esperança.

PATRÍCIA – Então é para lá que iremos! Nós não temos nem para onde ir, Flora, a única opção é o Matteo, ele terá que nos receber!

                                                         CORTA PARA:

CENA 16. INT. IGREJA – NOITE

A igreja está decorada para o Natal, com velas brilhando em cada banco, guirlandas de pinheiro decoradas nas paredes e o presépio montado ao lado do altar. O coral canta suavemente “Noite Feliz”, e os fiéis acompanham a melodia. Uma criança caminha pelo corredor central, carregando uma pequena estátua do Menino Jesus. Todos os olhares estão voltados para ela. Ao chegar no altar, a criança entrega a estátua ao Padre Olavo, que a recebe com um sorriso sereno. Ele se vira para o presépio, ajoelha-se por um instante e coloca o Menino Jesus na manjedoura, completando o cenário natalino. O coral alcança seu ápice com a última estrofe de “Noite Feliz”, enchendo a igreja de harmonia. O Padre se levanta, voltando-se para a congregação.

PADRE OLAVO (ABRINDO OS BRAÇOS) – Queridos irmãos e irmãs, que este Natal traga paz, amor e esperança aos seus lares. Que a luz de Cristo renasça em cada coração aqui presente.

Ele faz o sinal da cruz enquanto os fiéis abaixam a cabeça em reverência.

PADRE OLAVO – Eu voz abençoo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Vão em paz, e que tenham um Natal abençoado.

TODOS – Amém.

                                                         CORTA PARA:

CENA 17. EXT. ENTRADA DA IGREJA – NOITE

Todos saem da igreja em pequenos grupos, conversando animadamente. Entre eles, Dorotéia, Camila, Flávio, Matteo e Rodolfo que caminham juntos.

DOROTÉIA – Minha filha, não demore para chegar em casa para a ceia. Seu pai está impaciente, e sabe como ele fica se você não estiver à mesa.

CAMILA – Não se preocupe, mãe. Eu não vou demorar.

DOROTÉIA – Se ele perguntar por você, irei inventar algo.

MATTEO – Por que não vem conosco para o jantar, dona Dorotéia? Depois eu levo as duas de volta para a fazenda.

DOROTÉIA – Matteo, eu adoraria...Mas se as duas demorarem de chegar em casa, ai que o Almeida ficará furioso.

CAMILA – Tudo bem, mãe. Eu vou jantar com o Matteo e logo depois vou para casa.

DOROTÉIA – Está bem, minha filha. Aproveitem a noite.

Dorotéia olha para Matteo, Rodolfo e Flávio.

DOROTÉIA (SORRINDO) – Desenho a vocês um feliz natal.

MATTEO – Obrigado, dona Dorotéia. Feliz natal para você também.

Matteo, Camila, Rodolfo e Flávio se encaminham para casa de Matteo.

                                                         CORTA PARA:

CENA 18. INT. MANSÃO DE MATTEO – SALA – NOITE

A sala está iluminada por luzes natalinas piscantes e decorada com uma árvore de Natal cheia de enfeites coloridos. Matteo, Rodolfo, Flávio, Magali, Camila e Carolina estão sentados em sofás, conversando descontraidamente. De repente, a porta se abre e Martina, acompanhada de Jerônimo entram.

MARTINA (SORRINDO) – Boa noite à todos.

Matteo se levanta e vai até Martina.

MATTEO – Tia Martina! Que bom que você veio.

Rodolfo se levanta e abraça Martina.

RODOLFO – Que saudades, tia!

MATTEO – Seja bem-vindo também Jerônimo. Finalmente vieram até a minha casa, depois de tantos convites.

JERÔNIMO – Tenho trabalhado muito, mas hoje foi a ocasião perfeita para fazermos a visita.

FLÁVIO (SORRINDO) - Já que estamos todos aqui, que tal irmos para mesa?

A campainha toca novamente. Rodolfo olha ao redor, intrigado.

RODOLFO – Quem será agora? Achei que todos já estavam aqui.

Magali se levanta e vai até a porta.

MAGALI – Eu vejo quem é.

Magali abre a porta, revelando Flora e Patrícia, ambas segurando malas. A sala fica em silêncio. Matteo, Flávio e Magali trocam olhares de surpresa.

FLORA (SORRINDO) – Meu amor!

Flora caminha diretamente até Matteo, abraça-o e o beija, surpreendendo todos na sala. Camila, que estava ao lado de Matteo, observa a cena chocada.

CAMILA – Matteo, quem é ela? E por que ela te chamou de meu amor?

FLORA (VIRA-SE PARA CAMILA) – Eu sou a noiva dele. E você quem é?

FIM DO CAPÍTULO

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