Type Here to Get Search Results !

Casamento às Cegas - Capitulo 03

 



CENA 01: MANSÃO FORTUNA/SALA DE ESTAR/INT./MANHÃ

Conrado, Palmira e Penélope sentados, esperando alguém. Logo, a campainha toca e uma empregada vai atender. É o advogado Saulo.

SAULO – Bom dia a todos.

Todos respondem.

PALMIRA – Já tava achando que não viria, oxe!

SAULO – Desculpem a demora. O trânsito dessa cidade está um caos.

PALMIRA – Lê logo esse testamento! Vai ser a última coisa que tu vai fazer pra essa família mesmo.

SAULO – (SEM JEITO) Mas senhora, há anos presto serviços ao doutor Fortuna.

PALMIRA – Ao doutor Fortuna! A mim não! Como herdeira e nova patroa da bagaça, vou fazer o que quiser com a criadagem!

CONRADO – Mainha, não é pra tanto.

PALMIRA – Não te mete, Charles Bento!

PENÉLOPE – Por favor, doutor Saulo, ignore esse desvairada e vamos nos sentar para podermos abrir o testamento do doutor Fortuna.

PALMIRA – Mais respeito, sapironga! Lembre-se que está falando com a dona desse império!

CONRADO – Vamos parar, as duas?

PALMIRA – Eu já parei. Mas qualquer gracinha e eu enfio a mão na fuça dessazinha!

Penélope revira os olhos. Saulo se senta.

SAULO – Vamos dar início à abertura do testamento.

Logo, todos se sentam. Saulo retira o documento de dentro de sua maleta. Palmira com ar superior.

SAULO – (LENDO) “Eu, Perfeito Fortuna, de plena posse de minhas faculdades mentais, promulgo a divisão de meus bens de maneira clara e objetiva. Metade de minha herança será destinada a meu sobrinho Charles Bento da Silva, ao passo que a segunda metade será destinada a Iza Mendonça, sua futura esposa.”

PALMIRA – (INTERROMPE, ABISMADA) Mas que marmota é essa?! Isso só pode ser um devaneio!

PENÉLOPE – Eu sou a futura esposa de Conrado! Quem é essa Iza?

CONRADO – Vamos deixar que o advogado continue.

SAULO – (LENDO) “Ambos os herdeiros só terão direito de usufruir suas respectivas partes da herança quando contraírem matrimônio. Até lá, a herança permanecerá bloqueada. Esta é a minha vontade, que deverá ser respeitada.”

PALMIRA – Isso só pode ser piada! Meu irmão jamais entregaria seu dinheiro a uma desconhecida e muito menos me deixaria com uma mão na frente e a outra atrás! Isso é marmota!

Todos se olham, incrédulos.


CENA 02: CEMITÉRIO/INT./MANHÃ

Iza joga rosas negras no jazigo de Perfeito.

IZA – Pois é, doutor Perfeito. Não importa o que a gente faz em vida, quando morremos vamos todos pro mesmo lugar: pra debaixo da terra.

Iza se abaixa e olha o jazigo fixamente.

IZA – (SORRI) Eu adoraria ver a cara daqueles abutres ao verem qual foi seu “último desejo”. (GARGALHA) Tudo o que você nos roubou será devolvido com juros e correção monetária. Por sua causa, eu cresci na pior das misérias e sem pai.

Iza se afasta do jazigo. As lágrimas começam a descer.

IZA – Eu ainda me surpreendo com o quão fácil foi falsificar seu testamento. Agora, aquele bando de parasitas vai comer na minha mão.

Alguns segundos de silêncio.

IZA – Até nunca mais, querido Perfeito.


CENA 03: CASA DE DURVALINA/QUARTO DE ADSON/INT./MANHÃ

Lica abre a porta de uma vez, batendo a porta na parede.

LICA – (GRITANDO) CEGO MALDITO!

Adson sentado na mesa, lendo um livro em Braille.

ADSON – (ASSUSTADO) Lica? O que houve?

Lica vai até a mesa, atira o livro longe e puxa Adson pelo braço.

ADSON – O que aconteceu? O que eu fiz?

LICA – Você não cansa de atrapalhar minha vida, né, seu desgraçado?

ADSON – Eu não tô entendendo nada!

LICA – Você foi chutado daquela escola de cegos e agora mamãe te matriculou na mesma escola que eu! Eu vou ser obrigada a andar com você na frente das pessoas!

ADSON – Mas qual é o problema? Lica, você está me assustando!

LICA – Eu não suporto viver com você! Eu não vou suportar ter que estudar com você! Por quê? Por que você tinha que cruzar o meu caminho?

ADSON – Eu juro que eu nunca fiz nada pra te magoar.

LICA – Pois fez? Me roubou a minha mãe!

ADSON – Eu não roubei ninguém, Lica, para com isso!

LICA – Você é um inútil, um peso morto! Depende o tempo todo das pessoas, como se fosse um parasita! Eu tenho pena da minha mãe por ter que te carregar nas costas. (GARGALHA) Garoto, sai das nossas vidas! Chega de estorvar!

ADSON – Eu não quero mais te ouvir!

LICA – Eu não vou mais deixar minha mãe me deixar ao léu por causa de um maldito deficiente…

ADSON – Me deixa em paz!

LICA – Ninguém gosta de você! Nem sua mãe! Ela te abandonou na lata do lixo logo que viu que você era cego!

Lica empurra Adson no chão e vai embora. Chorando, Adson se arrasta até o canto.


CENA 04: MANSÃO FORTUNA/SALA DE ESTAR/INT./MANHÃ

Todos ainda incrédulos.

PENÉLOPE – Doutor Perfeito não poderia ter feito isso conosco!

PALMIRA – Cala essa matraca, garota! (SE LEVANTA E ANDA DE UM LADO PRO OUTRO) Meu Deus, Perfeito não podia ter feito isso!

CONRADO – Oxe, mas não foi o que Penélope disse?

PALMIRA – Essa meretriz não sabe dar ênfase na frase.

PENÉLOPE – E desde quando eu preciso dar ênfase à minha indignação, diabo ruivo?

PALMIRA – Olha, garota…

PENÉLOPE – Olha o quê?

CONRADO – Parem com isso, por favor!

Silêncio por alguns instantes. Palmira se vira para o advogado.

PALMIRA – (SORRI) Quanto o senhor quer pra mudar esse testamento?

SAULO – (SURPRESO) Assim a senhora está me ofendendo!

PALMIRA – Deixe de bobagem homem! Ande, diga seu preço! Todo mundo tem um preço. Diga o seu.

Saulo se levanta, altivo.

SAULO – Se a senhora costuma se vender, isso é problema seu. Não se faça de parâmetro.

PALMIRA – Cuidado com suas palavras! Você está ofendendo uma idosa!

SAULO – Uma charlatã, isso sim!

PALMIRA – (P/CONRADO E PENÉLOPE) É a deixa.

Palmira acerta uma bofetada em Saulo e cai no sofá, fingindo tontura.

Trilha sonora: Feels – Calvin Harris

PALMIRA – Ai, este estrupício me tirou do sério! Acho que minha pressão até subiu! (ABRE O BOTÃO DA BLUSA)Essas emoções não são feitas para eu viver.

SAULO – A senhora me agrediu! Isso não ficará assim!

PALMIRA – Lógico que não, pois ainda falta lhe matar!

Palmira se levanta e avança no pescoço de Saulo, enforcando-o. Conrado tenta separar Palmira, a muito custo.

PALMIRA – Está bem, me acalmei! Pode me soltar!

No momento que Conrado a solta, Palmira tenta avançar novamente em Saulo. Assustado, o advogado corre para a saída e foge.


CENA 05: CASA DE IZA/SALA/INT./TARDE

Batem à porta. Iza vai atender. É Saulo, ainda ofegante.

SAULO – (SORRI) Boa tarde, posso dar uma palavrinha com a senhora?

IZA – Você é testemunha de Jeová?

SAULO – Não. Eu sou Saulo Menezes, advogado do doutor Perfeito Fortuna.

IZA – Perdão. Queria entrar, sim?

E Saulo entra.

IZA – Sente-se, por favor. Deseja um chá ou…

SAULO – Aceito um copo d’água.

IZA – Eu já volto.

Iza vai à cozinha e volta segundos depois com um copo d’água.

IZA – Bom… pelo que sei, doutor Fortuna bateu as botas. (SE BENZE) Pedi até às minhas amigas de igreja para orar por ele e acender vela pro anjo da guarda dele.

Saulo a encara, sério. Iza fica sem jeito.

SAULO – Acho melhor se sentar, pois o que tenho a dizer vai mudar completamente a sua vida.

IZA – Ah, não vá me dizer que ele era meu pai.

Iza ri, mas Saulo permanece sério.

IZA – Pode falar.

SAULO – Muito bem, dona Iza Mendonça. Por algum motivo, doutor Fortuna lhe escolheu como herdeira de metade de sua fortuna.

Iza finge surpresa, mas logo cai na gargalhada.

IZA – Você deve estar de sacanagem com a minha cara.

SAULO – É verdade. E você só terá direito a usufruir de sua herança ao casar-se com o outro herdeiro do doutor Perfeito: o sobrinho dele.

IZA – Como é?


CENA 06: PENHA/BAILE DA GAIOLA/EXT./NOITE

Ao som do Medley da Gaiola, mostramos o movimento de um dos mais famosos bailes do Rio de Janeiro. O local está lotado, mas acompanhamos Lica dançando. Logo, um homem se aproxima. É Omar.

OMAR – Fala, princesa! Tá sumida!

LICA – Pode se afastando, Omar!

OMAR – Qual foi, Lica?

LICA – Tô com raiva de você. Vim aqui semana passada e não vi nem sombra sua!

OMAR – Ui, tá apaixonada?

LICA – Se enxerga, eu jamais me apaixonaria por um fogueteiro de bandido.

OMAR – Mas prefere dar trela praquele professor engomadinho. Edu o nome dele, né?

LICA – Ai, garoto, não se mete na minha vida! Sempre deixei bem claro que meu lance com você é só sexo.

OMAR – Engraçado que, quando é pra ferrar com o ceguinho, tu deixa eu me meter na tua vida, né?

LICA – Ai, garoto, me erra, vai!

OMAR – Vamo ali no meu carro, pra matar a saudade.

Omar abraça Lica.

OMAR – Ele tá ali no beco. Vamos, tá escurinho!

Logo corta para o carro de Omar, estacionado no beco. Ele e Lica lá dentro, de roupas íntimas, se agarrando.


CENA 07: CASA DE DURVALINA/SALA/INT./NOITE

Durvalina chega em casa e logo é recebida por Adson, que a abraça de repente, chorando.

DURVALINA – (PREOCUPADA) Meu filho, o que aconteceu?

ADSON – (CHORANDO) Me perdoa, mãe.

DURVALINA – O que houve, Adson?

ADSON – Me perdoa por ser um estorvo na sua vida. Eu só sirvo pra deixar preocupada.

DURVALINA – De onde tirou isso?

ADSON – É a verdade. Eu só te dou problema.

Assustada, Durvalina se solta de Adson.

DURVALINA – Você não é um inútil! Você me ajuda sim, Adson, e muito! Você me ajuda a ser feliz. Se eu levanto todos os dias às 5 da manhã pra enfrentar ônibus lotado e limpar assoalho, é por sua causa. Eu faço isso com a maior alegria do mundo, porque é por você e pra você. Você não só me ajuda, você me ensina a ser uma pessoa melhor.

ADSON – Eu queria ser mais! Eu queria ser um super herói.

DURVALINA – Mas você é. Você é o meu super herói.

Adson se acalma aos poucos.

DURVALINA – Me diga de onde você tirou essa história.

ADSON – Eu… eu andei pensando…

DURVALINA – Pois afaste esses pensamentos. Eles não são verdadeiros.

Algum tempo de silêncio. Os dois emocionados.

ADSON – Eu te amo, minha rainha!

DURVALINA – Eu também te amo, razão da minha vida!

Os dois se abraçam fortemente.


CENA 08: MANSÃO FORTUNA/SALA/INT./NOITE

Conrado e Penélope se abraçando. Ela entristecida.

PENÉLOPE – (DESESPERADA) Meu amor, você não pode aceitar esse casamento. Eu te amo! E eu não sei o que faria se você me trocasse por outra.

CONRADO – Eu não sei o que fazer, Penélope, eu não sei!

PENÉLOPE – Como assim? Você tá pensando em aceitar essa loucura?

Palmira vem descendo as escadas.

PALMIRA – Mas é claro que ele vai aceitar.

CONRADO – Mainha, por favor!

PALMIRA – Charles Bento, eu não vim de Moinhos até aqui pra no fim perder toda essa fortuna que é minha por direito.

PENÉLOPE – E os meus sentimentos, como ficam?

PALMIRA – (GARGALHA) E desde quando meretriz tem sentimento?

Penélope tenta avançar em Palmira, mas Conrado a contém.

CONRADO – Se aquiete e veja bem o que vai fazer, Penélope.

PALMIRA – Deixe que ela venha, Charles Bento. Quero ver se ela tem coragem de lascar a unha.

PENÉLOPE – Velha sem vergonha! Se acha que vai se ver livre de mim, você está muito enganada!

Palmira se aproxima de Penélope.

PALMIRA – Bora ver o quanto dura sua estadia nessa mansão, queridinha.

Elas se encaram fixamente.


CENA 09: PASSAGEM DE TEMPO…


CENA 10: COLÉGIO/PÁTIO/INT./MANHÃ

Hora do intervalo. Grande movimento de alunos pelo local. Porém, acompanhamos Adson, sentado num canto, isolado. Eis que alguém vem se sentar do lado dele: é Edu.

EDU – Como vai, Adson?

Adson sorri ao reconhecer a voz.

ADSON – Professor… Edu…

EDU – Como você está?

ADSON – Indo, né, professor?

EDU – Não querendo me intrometer, mas já me intrometendo… sempre te vejo sozinho, isolado. Não acha saudável se enturmar?

ADSON – Eu acho meio difícil. As pessoas fogem de mim porque eu sou cego.

EDU – Talvez sua irmã pudesse te ajudar com isso.

ADSON – Eu acho que não.

Lica vem se aproximando.

LICA – (SORRINDO) Professor! Pelo visto, você e meu irmão se tornaram bem próximos.

ADSON – É, ele é o único que se aproxima de mim.

EDU – Ele é muito sozinho e isolado, Lica. Você poderia ajudá-lo a socializar.

LICA – (SURPRESA) Eu?

EDU – Sim.

LICA – (SEM JEITO) Sim, claro. Não se preocupe, professor, eu vou ajudar sim meu irmão.

Logo, Lica se afasta.

EDU – Me desculpe se estiver sendo invasivo, mas… você e sua irmã não se dão muito bem, né?

ADSON – Eu não quero falar sobre isso.

EDU – Como quiser.

Alguns segundos de silêncio.

EDU – Que tal a gente ir na cantina comer um lanche?

ADSON – (SORRI) Eu adoraria.

Edu e Adson se levantam. Os dois vão juntos até à cantina.


CENA 11: PETRÓPOLIS/BAR/INT./MANHÃ

Estabelecimento decorado ao estilo velho oeste. Alguns homens jogando sinuca. No meio deles, uma mulher, de costas para a câmera.

HOMEM – Mas a mulher é boa de sinuca mesmo.

A mulher passa pro outro lado, ficando de frente para a câmera. É ALZIRÃO.

CONTINUA…





Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.