CENA 01: MANSÃO FORTUNA/SALA DE ESTAR/INT./TARDE
Todos os convidados, assustados, correm até Penélope, estirada no chão.
Conrado, o mais assustado, se aproxima e se abaixa ao seu lado.
CONRADO – (GRITA) Alguém chama uma ambulância!
Um médico aparece dentre os convidados e se aproxima.
MÉDICO – Com licença, eu sou médico.
Ele começa a examinar Penélope.
PALMIRA – Será que finalmente essa sirigaita vai nos dar o prazer de morrer?
CONRADO – (IRRITADO) Deixe de espraguejar, mainha!
De repente, Penélope abre os olhos, como se nada tivesse acontecido.
PENÉLOPE – Queria muito, né, diabo ruivo? Mas felizmente terá que me aturar por muito tempo.
CONRADO – (ALIVIADO) Graças a Deus você está bem.
PALMIRA – (OLHA P/CIMA) Essa o Senhor vai ficar me devendo. Tá escrito!
Penélope abraça Conrado. Iza chega e afasta os dois.
IZA – Então, já que o showzinho acabou, você pode soltar meu noivo e vai cada um pro seu lado?
PENÉLOPE – Seu noivo, querida? O Conrado é meu!
IZA – É mesmo, esquisita? Então por que você não está se casando com ele?
Penélope tenta avançar em Iza, mas Conrado a segura.
PENÉLOPE – (IRRITADA) Eu vou te explicar o porquê, mas vou explicar com a mão na sua cara!
IZA – (IRÔNICA) Ui, cuidado pra não quebrar as unhas, fofa!
PENÉLOPE – (IRRITADA) Suburbada, favelada, cafona!
IZA – (P/JUIZ) Vamos, padre! Vamos terminar logo esse casamento.
JUIZ DE PAZ – Eu não sou padre, senhora. Sou um juiz de paz.
IZA – Que seja!
PALMIRA – (RI) Burra como uma porta!
PENÉLOPE – Tenho que concordar com você, diaba.
JUIZ DE PAZ – (EXPLODE) Agora já chega! Vamos logo assinar esse maldito papel! Só assim me verei livre desse hospício!
Nervoso, ele leva a mão à cabeça.
JUIZ – Nunca foi tão difícil ser um juiz de paz. (RESPIRA FUNDO) Quando eu sair daqui, vou partir direto prum lugar onde não tenha ninguém e eu possa viver enclausurado na solidão. Que fase, meu Jesus, que fase
CENA 02: CASA DE DURVALINA/QUARTO DE ADSON/INT./TARDE
Durvalina, espantada e surpresa, se aproxima de Lica.
DURVALINA – Nunca imaginei que você sentia raiva do seu irmão. Claro que eu sempre estranhei seu comportamento, mas nunca cogitei essa possibilidade. Lica, ele é seu irmão!
LICA – (EXPLODE) Chega de manter essa maldita farsa! E irmão é o escambau! Esse cego infeliz nunca será meu irmão! Nunca!
Meio atordoada, Durvalina dá uns passos para trás. Tenta digerir tudo aquilo.
DURVALINA – Por que todo esse ódio? Adson nunca te fez mal!
LICA – (GRITA) Ele não, mas você sim! Você sempre preferiu a ele! Todo o amor, carinho e atenção sempre foram para ele!
DURVALINA – (CHORA) Isso não é verdade! Eu sempre amei os dois da mesma forma.
Agressiva, Lica segura os braços de Durvalina, a sacudindo.
LICA – Você sempre deu mais atenção a ele com a desculpa da maldita cegueira e eu ficando de lado!
Desnorteada, Lica solta Durvalina. Anda de um lado para o outro. Depois de um tempo, joga uma luminária no chão.
LICA – Você fracassou como mãe!
DURVALINA – Pelo amor de Deus, não diga uma coisa dessas. Isso parte meu coração!
Durvalina tenta abraçar Lica, que a empurra no chão.
LICA – (CHORANDO/SORRINDO) Eu odeio você e esse cego ordinário! Meu maior prazer será ver os dois sofrerem!
DURVALINA – (DESESPERADA) Não faz isso com a mãe, filha! Não seja injusta! Eu deixei tudo de lado por vocês dois, até minha vaidade!
LICA – (ODIOSA) Se você se tornou essa merda de mulher, isso é problema seu! (GARGALHA) Finalmente eu posso me expressar sem máscaras e te mostrar o quanto te odeio!
Lica se abaixa e segura Durvalina pelos cabelos.
LICA – A partir de hoje, você perde uma filha e ganha uma inimiga mortal.
Gargalhando, Lica se levanta.
LICA – Você não sabe o quanto eu sonhei em fazer isso. Estou liberta!
DURVALINA – Ai, minha menina! Diz que tudo isso é brincadeira!
LICA – Acabou a farsa, Durvalina! E não se preocupe, pois agora mesmo eu vou sair dessa casa!
No desespero, Durvalina se agarra às pernas de Lica. Ela grita, desesperada.
DURVALINA – Não, filha! Eu juro que mamãe perdoa tudo o que você disse, mas não me abandone! Eu imploro!
Lica tenta se soltar, chutando Durvalina. Ela tenta se aproximar da filha se arrastando, enquanto a jovem vai saindo.
LICA – Tudo o que eu me tornei é culpa sua, Durvalina, mas saiba que eu não vou descansar até destruir você e o cego. E não se preocupe comigo, pois muito em breve terá notícias minhas!
Lica sai e bate a porta do quarto. Durvalina tenta se levantar, mas acaba caindo novamente.
DURVALINA – (CHORANDO) Isso só pode ser pesadelo.
CENA 03: CASA DE HELENA/SALA/INT./NOITE
Alzirão lendo um jornal. A página estampa uma manchete sobre o casamento de Conrado e Iza. Helena se aproxima.
HELENA – Por que está tão radiante, Alzira?
ALZIRÃO – (SORRI) Minha filha se casou hoje à tarde.
HELENA – E como sabe?
ALZIRÃO – Mais cedo comprei esse jornal, mas só agora consegui ler e aqui diz que o casamento seria hoje à tarde.
Alzirão entrega o jornal a Helena.
HELENA – Mas olha só, o noivo dela é Conrado Fortuna, sobrinho do milionário Perfeito!
Alzirão engole a seco.
ALZIRÃO – Perfeito Fortuna?
HELENA – Sim.
Alzirão fica pensativa.
IZA – (VOZ) “O maldito do Perfeito Fortuna matou meu pai e roubou tudo o que era nosso, mas eu juro que na primeira oportunidade recupero novamente! Não vou descansar até ter o que é meu por direito!“
ALZIRÃO – (ASSUSTADA) Não pode ser!
HELENA – O que houve, Alzira?
ALZIRÃO – Helena, eu preciso de mais um favor seu.
HELENA – Pode pedir.
ALZIRÃO – Preciso que investigue a morte do doutor Perfeito Fortuna.
HELENA – Alzira, você está me assustando.
ALZIRÃO – Por favor, faça isso.
HELENA – Só um minuto, preciso fazer uma ligação.
Helena sai da sala.
ALZIRÃO – (P/SI) Que não tenha acontecido o que estou imaginando!
Tensa, Alzirão se benze.
CENA 04: CASA DE DURVALINA/QUARTO DE ADSON/INT./NOITE
Durvalina sentada no chão, chorando. Adson chega em casa e estranha ao ouvir a mãe.
ADSON – Mãe? A senhora tá chorando?
Durvalina se levanta e abraça Adson com força.
ADSON – (PREOCUPADO) O que aconteceu?
DURVALINA – (CHORANDO) Lica se revelou um monstro! Meu filho, a sua irmã nos odeia!
Sem reação, Adson apenas retribui o abraço.
CENA 05: CASA DE OMAR/SALA/INT./NOITE
Omar atende a porta e se surpreende com o que vê.
OMAR – Lica?!
Lica entra e beija Omar com tudo.
LICA – Eu vim morar com você!
Omar percebe Lica drogada.
OMAR – Você cheirou?!
LICA – (SORRI) Cheirei pra caralho, mas eu mereço. Hoje eu tive uma briga daquelas com a minha mãe.
OMAR – Lica, o que foi que você aprontou?
LICA – Cansei de ser santinha e decidi me revelar. (GARGALHA) Aquela velha ficou lá bancando de pobre coitada.
Omar vai até à cozinha e volta com um copo d’água. Ele entrega a Lica, que derruba o copo no chão.
OMAR – Qual foi, Lica?
LICA – Omar, você precisa me ajudar. Eu saí de casa, você precisa me acolher por um tempo.
Omar cai na gargalhada.
OMAR – Ficou louca? Nunca que minha mãe aceitaria isso!
LICA – Quer dizer que você não vai me ajudar?
OMAR – Lica, você até é boa de cama, mas nada que me faça perder a cabeça, né?
Lica esbofeteia Omar.
LICA – (GRITA) Você é um merda, Omar!
OMAR – Sai da minha casa e nunca mais se atreva a encostar em mim!
LICA – (SORRI) Ah não?
Lica bate em Omar novamente. Com raiva, ele revida o tapa, derrubando-a no chão. Em seguida, a levanta.
LICA – Desgraçado! Você vai se arrepender!
Omar segura Lica pelos cabelos e a põe pra fora de casa.
CENA 06: MANSÃO FORTUNA/SALA DE ESTAR/INT./NOITE
Todos os convidados já foram embora.
Iza, exausta, se joga no sofá. Conrado, Palmira e Penélope apenas a observam.
IZA – O casamento foi um sucesso.
CONRADO – Essa marmota foi o circo dos horrores.
PENÉLOPE – E tudo por culpa dessa suburbana!
IZA – Minha culpa? (RI) Quem inventou de se jogar na escada foi você, louquinha!
CONRADO – Como se não bastasse as constantes brigas de mainha com Penélope, agora vou ter que aturar Iza com Penélope. É muito castigo!
IZA – Espera aí, essa mulher não vai embora desta casa?
CONRADO – Uma pinoia! Penélope continuará morando aqui! E se isso lhe incomoda, vá embora!
PENÉLOPE – Se não gosta da minha presença, vem me tirar, queridinha!
IZA – Não se esqueça que eu sou dona de metade dessa bagaça, crocodila!
CONRADO – E eu, como dono do restante, não vou deixar que enxote essa dama.
IZA – Dama? (GARGALHA) Vamos parar de forçação, tá?
Conrado observa Palmira, calada.
CONRADO – Aconteceu alguma coisa, mainha?
PALMIRA – (CAI EM SI) Como disse?
CONRADO – Perguntei se aconteceu alguma coisa.
PALMIRA – Tô pensando no meu encontro com o delegado amanhã.
CONRADO – Encontro?
PALMIRA – É que amanhã vou na delegacia prestar meu depoimento a respeito do tapinha que dei naquele advogado safado. Como ele pôde ter me acusado de agressão? Foi só um tapinha, Charles Bento!
PENÉLOPE – Tapinha também é agressão, fofa!
PALMIRA – Alguém te perguntou alguma coisa?
PENÉLOPE – Que passe muitos anos na cadeia!
PALMIRA – Só não lhe meto a mão na cara pois preciso pensar numa maneira de me livrar dessa marmota!
Ia apenas observa a situação.
CENA 07: AMANHECE
Trilha Sonora: Feels – Calvin Harris
CENA 08: DELEGACIA/SALA DO DELEGADO/INT./MANHÃ
Palmira entra, toda sorridente, com uma bandeja de bolo.
PALMIRA – Bom dia, delegado.
DELEGADO – Bom dia, dona Palmira.
PALMIRA – Olhe bem o que lhe trouxe: bolinho de aipim fresquinho.
DELEGADO – Mas olha, vejam só! Adoro bolo de aipim.
Ele pega a bandeja e a põe sobre a mesa.
DELEGADO – Depois experimento. Queria se sentar, sim?
Palmira puxa a cadeira e se senta.
PALMIRA – Bom, primeiro eu queria saber se isso é mesmo necessário.
DELEGADO – Senhor Samuel fez uma grave denúncia de agressão contra a senhora e eu preciso averiguar.
PALMIRA – Olhe pra mim, delegado! Acha mesmo que uma doce idosa como eu seria capaz de bater em alguém?
DELEGADO – Me desculpe, dona Palmira, mas na minha profissão eu não posso me guiar por trejeitos.
PALMIRA – Só alguém maluco para não ver a marmota que é isso.
DELEGADO – Peço que a senhora tome cuidado na maneira que fala, dona Palmira.
PALMIRA – Olhe só, delegado, eu tenho manicure marcada. Então vamos logo ao ponto: o senhor sabe que herdei uma bolada de meu irmão. E então, qual vai ser?
DELEGADO – Dona Palmira, a senhora está tentando me subornar?
PALMIRA – O senhor sabe, né? Um cascalho é sempre bom.
O delegado chama alguns policiais.
DELEGADO – (ALTIVO) A senhora está presa por tentativa de suborno.
Palmira se levanta, indignada.
PALMIRA – Tá maluco, mané?
DELEGADO – Desacato a autoridade! Isso lhe custará um belo processo. (AOS POLICIAIS) Levem-na para a cela!
Os policiais seguram Palmira e vão levando. Ao chegar na porta, ela consegue se soltar.
PALMIRA – (P/DELEGADO) Olhe, se o senhor esquecer essa marmota de me prender, juro que lhe farei o homem mais feliz do mundo.
Palmira levanta o vestido até a altura das coxas.
DELEGADO – (INDIGNADO) Ora, faça-me o favor!
Trilha Sonora: Feels – Calvin Harris
Os policiais seguram Palmira e conseguem levá-la. Ela grita escandalosamente.
CENA 09: ESCOLA/SALA DOS PROFESSORES/INT./MANHÃ
Edu sozinho em cena. A porta se abre e Lica observa a sala e sorri ao ver Edu. Fingindo desespero, ela logo entra e corre para abraçá-lo.
LICA – Ai, professor, eu preciso de ajuda!
EDU – (PREOCUPADO) O que aconteceu?
LICA – Tive uma briga com minha mãe e… você acredita que ela teve coragem de me colocar pra fora de casa?
Edu surpreso, não consegue falar nada. Percebendo a fragilidade do professor, Lica avança em Edu com um beijo, mas ele logo a empurra.
EDU – O que significa isso?
LICA – Professor, só o senhor pode me animar!
EDU – Do que está falando?
LICA – Eu te amo mais do que tudo, professor! Será que não percebe?
Nesse momento, Adson entra, com um trabalho escolar em mãos.
ADSON – Bom dia, professor. Eu esqueci de entregar o trabalho que o senhor pediu ontem, então eu decidi entregar ao senhor agora.
LICA – (SORRI) Adson, querido!
ADSON – (SURPRESO) Lica, você por aqui?
LICA – E você nem imagina o que aconteceu!
Adson estranha.
LICA – Vim até aqui desabafar com nosso professor e… você acredita que ele me deu um beijo?
EDU – (IRRITADO) Isso não é verdade!
LICA – (SORRI) Eu nunca imaginei que o professor Edu estava apaixonado por mim.
Adson fica incomodado com o que ouve. Edu olha para Lica, escandalizado.
CONTINUA…
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