Capítulo
04
Cena 01 – Porto de Pedras, Alagoas
[Externa/Manhã]
(Luiza observa o papel enquanto
segura a caneta como se titubeasse em assinar).
DEMÉTRIO: (Teme que Luiza não assine a folha em branco) O que foi minha
querida, aconteceu alguma coisa?
LUIZA HELENA: Não... Não! É que de repente fiquei distraída, distante.
DEMÉTRIO: Então não há o que conversar, escreva o seu nome que eu
escreverei para você de São Paulo.
LUIZA HELENA: Está bem, eu vou escrever... (Sem perceber a real intenção de
Demétrio, Luiza assina a folha em branco).
DEMÉTRIO: (Observa Luiza assinar o papel atentamente).
LUIZA HELENA: Aqui está! (Diz ao entregar a folha assinada por ela).
DEMÉTRIO: Você verá que não vai se arrepender. Eu garanto!
Cena 02 – Ruas de Porto de Pedras [Externa/Tarde]
Música da cena: I Won't - Colbie Caillat
(A tarde começa a ir embora, a noite chega logo em seguida. Imagens da cidade de Porto de Pedras são apresentadas, em meio as pessoas nas ruas, podemos notar Luiza Helena apresentando a cidade para Demétrio).
* Demétrio e Luiza almoçam juntos;
* Fernanda e Ângelo seguem administrando a Revista;
* Evandro planeja uma forma de se reaproximar da família;
* Francesca e Zeca continuam se engalfinhando pela vizinhança;
* Enrico perde a concentração na aula lembrando dos olhos de Ítalo;
* Maria Rita desfila pelas ruas do bairro e chama atenção;
* Durant observa os quadros que pintou de Luiza Helena no passado;
* Betinha se bronzeia na praia com sua amiga Tamara;
* Thierry e seus amigos bebem e aprontam pelas ruas de São Paulo;
* Demétrio observa Luiza trabalhar e fica admirado com a fibra da pescadora;
* Fernanda e Rafael namoram;
* Luiza Helena acompanha Demétrio ao hangar e os dois se despedem com um abraço;
* Demétrio observa Luiza pela janela do avião.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS...
Cena 03 – Ruas de São Paulo [Interna/Tarde]
(As imagens de Porto de Pedras somem
rapidamente e dão lugar as paisagens paulistanas, surge então o bairro da
Mooca. Enrico se despede dos amigos da faculdade e caminha em direção ao
restaurante da mãe).
ENRICO: (Se aproxima do restaurante da mãe
quando percebe que tem alguém chamando por ele).
ÍTALO: Ei... Você não ouviu? Eu falei com
você!
Música da cena: Não Esqueço – Niara e
Pabllo Vittar
ENRICO: (Vira-se e ao perceber que Ítalo
estava a sua procura, ficou sem saber o que dizer).
ÍTALO: Como você está? Eu queria saber se você realmente estava. Eu fiquei
preocupado depois que te atropelei.
ENRICO: Como pode ver, eu estou bem e inclusive já voltei as minhas atividades do
dia a dia, não precisa se preocupar.
ÍTALO: Você falando isso, me tira um grande peso da minha consciência.
ENRICO: Eu nunca tinha te visto antes, quer dizer, eu não lembro de ter te visto
antes.
ÍTALO: É que eu praticamente nunca paro em casa. Passei um tempo na casa dos
meus avós na Paraíba, depois na casa de alguns familiares da minha falecida mãe...
Tem muita história na manga! (Sorri sem jeito).
ENRICO: Nós podemos continuar conversando sem problema lá dentro, te ofereço um
suco, uma água, um refrigerante...
ÍTALO: Só se for para a sua mãe terminar de me matar. Ontem ela quase me tira o
couro, imagina se ela coloca as mãos em cima de mim.
ENRICO: (Dá risada do jeito como ele se referiu a sua mãe) Minha mãe é uma fera,
eu melhor que ninguém posso afirmar isso, mas no fundo tem um coração enorme e
de manteiga. Bem, eu conheço uma lanchonete bem descolada, fica aqui perto, dá
para ir andando. Se quiser, podemos ir até lá!
ÍTALO: Andando? Com a Felícia aqui dando sopa?
ENRICO: Felícia? Quem é Felícia? (Estranha).
ÍTALO: Vem comigo, eu vou te apresentar. Não vale ter medo, ok?
(Enrico hesita, mas segue com Ítalo.
Logo após, surge andando de moto com Ítalo, percebendo que Felícia é como ele
batizou sua moto).
Cena 04 – Delegacia [Interna/Noite]
Música da cena: Me Leva – Alice
Caymmi
(O sol se põe e a noite chega, as
luzes de São Paulo começam a ganhar vida conforme a noite se estende por todo o
céu. Logo percebemos a faixada de um distrito policial).
GLÓRIA: (Anda de um lado para o outro na recepção enquanto observa a movimentação
do lugar).
POLICIAL: (Arrasta Thierry até a recepção) Está liberado!
THIERRY: Poxa Dona Glória, demorou hein?
GLÓRIA: Demorei? Por um acaso você acha que dinheiro dá em árvores? Você sabe
muito bem as condições que estamos vivendo e ainda me apronta uma dessas? Eu
deveria ter deixado você passar mais uns dias aqui para ver se coloca essa sua
cabeça oca no lugar. Quando é que você vai começar a me ouvir, moleque?
THIERRY: Chega Gloriosa, já passou e eu estou aqui livre, só quero ir para casa.
GLÓRIA: Eu também, só de frequentar esse tipo de lugar me causa alergia.
THIERRY: Mas como foi que a senhora conseguiu dinheiro para pagar a fiança? Falou
com o Tio Demétrio?
GLÓRIA: Seu tio? Faz-me rir! O seu tio quer nos ver pelas costas, aquele lá é tão
muquirana que é capaz de querer ser enterrado com tudo que tem para não nos
deixar com um só centavo.
THIERRY: Eu não entendo, como foi que conseguiu dinheiro então?
GLÓRIA: Penhorei seus últimos relógios, afinal você tem que arcar com suas
próprias armações, não acha?
THIERRY: Meu rolex? Mãe...
GLÓRIA: Sem mais, vamos embora agora, entendeu? Agora! (Ordena).
Cena 05 – Porto de Pedras, Alagoas
[Interna/Manhã]
Música da cena: Rock And Roll Lulaby
– Alexandre Poli
(O dia amanhece e em meio a imensidão
das águas azuis do mar de Porto de Pedras, Luiza segue pescando para conseguir
seu sustento).
LUIZA HELENA: (Com as duas mãos na água, permanece distraída e com o olhar
distante, perdida em suas lembranças).
FLASHBACK
20 anos atrás...
(Durant e Luiza Helena tomam banho de
mar juntos enquanto planejam o futuro).
LUIZA HELENA:
Eu te amo tanto,
sabia? (Diz enquanto acaricia o cabelo molhado de Jean).
DURANT: Eu quero ficar com você para sempre.
Eu não quero viver um só dia longe de você.
LUIZA
HELENA: Mas o que
vamos fazer? O meu pai não aceita que fiquemos juntos. Ele não vai aprovar o
nosso namoro e eu não sei o que vai acontecer.
DURANT: Eu vou falar com ele e se ele não
autorizar nosso namoro, só teremos uma solução.
LUIZA
HELENA: E que
solução seria essa?
DURANT: Fugir! Você iria para São Paulo
comigo.
LUIZA
HELENA: Fugir?
DURANT: Sim, você teria coragem?
LUIZA HELENA: Claro que teria, talvez se nos afastássemos por um tempo e
conseguíssemos nos estabelecer, meu pai reconheceria que nós estamos convictos
da nossa relação e que podemos ficar juntos.
DURANT: Então está decidido, se as coisas não saírem conforme estamos planejando,
nós vamos fugir para São Paulo. A minha família vai nos ajudar, eu tenho
certeza que vai.
LUIZA HELENA: (Abraça Durant e em seguida os dois se beijam).
FIM DO FLASHBACK
Atualmente...
LUIZA HELENA: Tudo mentira! Você não passa de uma canalha, mentiroso. Eu
nunca vou te perdoar por ter brincado comigo Jean Michel Durant, eu vou odiar
você até o fim dos meus dias, eu juro! (Com os olhos marejados e semblante
cheio de ressentimento, Luiza rema de volta a praia).
Cena 06 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
Música da cena: Gloriosa – Glória
Groove
(Em São Paulo, em meio as luxuosas
mansões do bairro Morumbi, surge a faixada da casa de Demétrio).
GLÓRIA: (Sentada a mesa e na cadeira onde Demétrio costuma sentar, Glória se
serve de um pouco mais de patê numa torrada, enquanto Eva a observa) O que foi
Eva? Pare de me olhar assim, acaso quer que eu perca o apetite olhando essa sua
cara de mexerica de fim de feira?
EVA: Eu não sei se é uma boa ideia a senhora frequentar essa casa,
principalmente depois de tantas recomendações para não deixar a senhora entrar.
GLÓRA: Qualquer dia desses eu te jogo no olho da rua, sabia? Essa casa é tão
minha quanto dele. Tudo isso que tem aqui é meu, pelo menos metade. Se brincar,
eu sou dona até dos teus dentes. Qual você for jogada no olho da rua eu ficarei
com eles.
DEMÉTRIO: (Invade a sala de jantar) Mas o que significa isso? Quem te
deu permissão de entrar na minha casa?
(Glória e Eva surpreendem-se com a
chegada de Demétrio e o olham fixamente).
Cena 07 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
(Glória e Eva permanecem atônitas
diante a chegada de Demétrio).
DEMÉTRIO: Eu fiz uma pergunta. Quem deixou você entrar na minha casa? E
com que direito você usufrui de tudo o que tem dentro dela com tanta liberdade?
GLÓRIA: Ora, irmãozinho. Ao invés de reclamar, você deveria se sentar a mesa e
provar um pouco desse patê, está uma delícia. (Morde a torrada como se nada
tivesse acontecendo).
DEMÉTRIO: (Arranca a torrada da mão de Glória e arremessa bem longe).
EVA: Senhor, eu posso explicar... Acontece que... (Eva tenta se explicar e se
perde em meio as próprias palavras).
DEMÉTRIO: Não precisa se preocupar Eva, eu sei que você não tem culpa.
Sabe Deus os truques sórdidos que ela deve ter utilizado para conseguir burlar
a equipe de segurança. Pode se retirar agora, depois eu te chamo.
EVA: Com licença, senhor. (Diz e se retira logo em seguida).
DEMÉTRIO: Eu quero que você desapareça agora mesmo e não volte mais,
ouviu bem? Não se atreva a voltar ou sou capaz de mandar te prender por invasão
a domicílio.
GLÓRIA: Não adianta, Demétrio. Seus latidos não me assustam mais. Você sabe que
eu tenho todo o direito do mundo de estar aqui e usufruir de tudo isso.
DEMÉTRIO: Que direitos? Você pode me explicar quais? Você não tem mais
dinheiro, você não tem onde cair morta, tudo que você tinha o larápio do seu
marido torrou com amantes e negócios duvidosos.
GLÓRIA: Você não tem moral nenhuma para me julgar, você também me roubou. Ou você
acha que isso que você faz com a sua própria irmã não é roubar dela os
privilégios que você tem sozinho nessa mansão?
DEMÉTRIO: Eu te dei demais e o que você fez? Você mordeu a mão que te
alimentou. Eu não caio mais nos seus truques, Glória. Da última vez você e o
Evandro quase me tomaram tudo, eu não darei outra chance para suas tramoias.
Quer fazer o favor de se retirar?
GLÓRIA: (Limpa os lábios com o guardanapo de linho que estava em seu colo para em
seguida ficar de pé) Eu vou, mas que fique claro que eu vou embora
porque eu quero ir embora e não por você me impor ou ordenar algo. Cedo ou
tarde o inferno vai te chamar e eu vou torrar o seu dinheiro em cada metro
quadrado dessa casa, pode anotar.
DEMÉTRIO: Rua! (Grita).
GLÓRIA: (Sorri ironicamente, joga o guardanapo sobre a mesa, recolhe sua bolsa e
vai embora).
Cena 08 – Casa de Durant
[Interna/Tarde]
(Maria Rita entra no quarto de Durant
com algumas roupas limpas e dobradas. Em seguida, ela começa a guardar as peças
nas gavetas da cômoda. Durante a arrumação, ela encontra um desenho do primo).
MARIA RITA: (Segura o desenho e observa atentamente).
DURANT: (Entra no quarto e tira o desenho das mãos da prima) Eu não gosto que
vejam meus desenhos.
MARIA RITA: Não sei porquê. Seus desenhos são lindos, você deveria se
arriscar mais e mostrar mais do seu trabalho, tenho certeza que essa seria a
guinada na vida que você tanto buscou. Agora eu nunca entendi uma coisa. Você
sempre desenha a mesma mulher, quem é ela? Por que você nunca fala sobre ela?
DURANT: Ela já morreu e eu quero que ela continue descansando em paz. Isso não a
impede de continuar viva em meus pensamentos, na minha arte. Eu tinha tantos
planos...
MARIA RITA: Você precisa seguir em frente, ainda há tempo de refazer a
sua vida. Casar, ter filhos, formar a sua própria família.
DURANT: (Fecha os olhos e se perde em seus pensamentos).
FLASHBACK
20 anos atrás...
(Durant caminhava pela praia
segurando um buquê de flores na mão, sua expressão era de alegria, por mais que
tentasse conter a sua ansiedade. Naquele mesmo dia ele falaria com o pai de
Luiza Helena sobre as suas reais intenções, o jovem rapaz tinha certeza de que
o pai da moça aceitaria o relacionamento dos dois).
DURANT: (Estranha a movimentação na rua ao adentrar nas redondezas da casa onde
Luiza morava com os pais).
MANOEL: (Levanta-se bruscamente e furioso ao perceber a presença de Durant) Que
Diabos você está fazendo na minha casa? Seu turistinha de bosta!
DURANT: (Permanece inerte com o que acabara de ver. A movimentação na casa
devia-se a um funeral que estava ocorrendo na sala de estar da casa de Luiza.
Foi então que ele ficara impressionado com o caixão) Que caixão é esse? Quem
morreu?
MANOEL: (Olha para o caixão e em seguida para Durant, é então que ele logo
percebe a confusão que está acontecendo naquele momento) Quem mais seria? Você
encheu a cabeça da minha filha com essas coisas de amor, com essa história de
mudar pra cidade grande. Todos nós sabíamos que isso não ia dar certo, você
estava brincando com ela e deu nisso. Ela tirou a própria vida!
DURANT: (Fica transtornado ao ouvir Manoel dizer que Luiza havia se suicidado e
olha fixamente para o caixão. Em seguida, tenta abri-lo) Não! Isso não é
verdade, a Luiza não morreu, ela não pode ter feito isso.
MANOEL: Você não vai abrir esse caixão, eu não permito que você continue
manchando a honra da minha família. Vá embora, saia daqui... Rua! (Grita).
DURANT: (Encara Manoel) Eu não vou embora sem me despedir da Luiza, ela era a
mulher da minha vida.
MANOEL: Você vai sim, se você não sair eu vou chamar a polícia.
FIM DO FLASHBACK
Atualmente...
MARIA RITA: Que história mais doida! Pelo o que você sempre me contou,
vocês dois estavam completamente apaixonados, felizes. Que motivo ela teria
tido para acabar com a própria vida?
DURANT: Ai é que está, eu nunca tive e não terei chances de descobri onde foi que
errei para causar tanta dor na pessoa que mais amei na vida. (Lamenta).
Cena 09 – Na Boca do Povo, Redação
[Interna/Tarde]
Música da cena: I Won’t – Colbie
Caillat
(Percorremos a cidade de São Paulo
através de suas frenéticas avenidas, imagens aéreas da cidade surgem como plano
de fundo para em seguida dar lugar a fachada da revista de Demétrio. Na redação
da revista, Demétrio decide revelar a verdade ao seu melhor amigo e confidente,
o advogado Ângelo).
ÂNGELO: Leucemia? (Questiona incrédulo para logo em seguida sentar-se frente a
frente com Demétrio).
DEMÉTRIO: Fale baixo, alguém pode ouvir. Eu não contei para ninguém e
nem pretendo, eu não quero olhares de pena.
ÂNGELO: Você não pode passar por isso sozinho, você tem uma família...
DEMÉTRIO: Eu já tomei minha decisão, eu não vou contar a ninguém. Eu
quero apenas que você siga todas as minhas instruções.
(Alguém bate na porta).
DEMÉTRIO:
Pode entrar!
(Responde ao ouvir as batidas).
FERNANDA:
Eu fiquei sabendo
que o senhor tinha voltado de férias, não resisti e vim até aqui te dar um
beijo. (Diz ao entrar).
DEMÉTRIO:
Pois então fez muito
bem! Vem aqui dar um abraço no seu tio preferido.
FERNANDA:
Eu só tenho um tio e
o senhor sabe bem disso, convencido. (Abraça o tio).
DEMÉTRIO: Você é para mim como uma filha, a filha que Deus não permitiu
que tivesse. (Enquanto abraça Fernanda, Demétrio encara Ângelo no intuito que
ele não esqueça que o assunto que acabaram de falar deve ser tratado com o
máximo de descrição).
Cena 10 – Ruas de São Paulo
[Interna/Tarde]
(Durant sai de casa para colocar o
lixo na rua quando é surpreendido por uma visita).
DURANT Você aqui? (Diz ao abrir o portão).
GLÓRIA: Eu estava passando aqui por perto e
resolvi retribuir a gentileza que fez por mim no outro dia, resolvi te visitar
e te agradecer mais uma vez.
DURANT: É muito gentil da sua parte, mas eu
falei sério. Fiz o que qualquer um no meu lugar faria.
GLÓRIA: Duvido muito que alguém teria toda
aquela coragem e fizesse o que você fez por mim. Não me convida para entrar?
(Diz ao dar uma olhada para o sobrado onde o pintor mora).
Música da cena: Fogo – Karin Hils
DURANT: (Sorri sem jeito e abre o portão em
seguida) Claro! Só não liga, a casa é humilde. Vou passar um café!
GLÓRIA: Então vamos, estou ansiosa para
conhecer o seu trabalho. Quem sabe eu não possa te apresentar a algum marchand?
DURANT: Seria ótimo... Faça o favor de
entrar! (Dá passagem para que Glória adentre na casa).
GLÓRIA: (Entra na casa).
DURANT: (Entra em seguida e fecha o portão).
Cena 11 – Restaurante [Interna/Tarde]
(Ao entrarem no restaurante, os dois
amigos caminham pelo espaço em direção a mesa reservada para o almoço. Ângelo e
Demétrio seguem conversando sobre a doença do empresário, sem perceberem que estão
sendo observados).
ÂNGELO: Agora eu entendo toda a trama maluca que você vem arquitetando nas
últimas semanas. Você precisa cair em si, o que está fazendo não é certo!
DEMÉTRIO: E por acaso você acha que o que a vida está fazendo comigo é?
Eu já não sofri o suficiente para ter um fim assim?
(Os dois sentam-se a mesa que o
garçom indica e recebem o cardápio).
ÂNGELO: Eu acho que você deveria ouvir outras opiniões, consultar outros
especialistas. Quem sabe no exterior!
DEMÉTRIO: Para que? Para continuar me iludindo? Eu não tenho mais
chances, o médico foi bem enfático, não tenho além do que poucos meses de vida.
(Na mesa traseira, o garçom se
aproxima para anotar o pedido do cliente que está de costas para Demétrio. O
homem segue com o rosto completamente coberto pelo cardápio).
GARÇOM: O senhor já resolveu o que irá pedir? (Pergunta com um bloco de papel e
uma caneta).
(O homem acena com a mão com intuito
de dizer que ainda não escolhera o que iria comer naquele momento. Em seguida,
lentamente ele abaixa o cardápio, revelando então seu rosto).
EVANDRO: (Sorri com um semblante de satisfação
pelo o que acabara de ouvir).
Cena 12 – Casa de Luiza
[Interna/Noite]
Música da cena: Um Pôr Do Sol Na
Praia – Silva e Ludmilla
(O sol começa a se pôr e conforme a
noite chega, as paisagens de São Paulo dão lugar a cidade litorânea de Porto de
Pedras em Alagoas. Luiza confecciona alguns bordados para vender na praia,
enquanto Betinha se distrai navegando na internet de seu smartphone).
LUIZA
HELENA: Essas rendas
ficarão lindas. Espero que alguma turista se interesse e compre, estamos
precisando de dinheiro.
BETINHA: (Não dá importância a irmã).
LUIZA
HELENA: Estou
falando com você, Betinha. Betinha?
BETINHA: (Betinha segue distraída, sem dar
ouvidos a irmã).
LUIZA
HELENA: Roberta!
(Grita).
BETINHA: O que é? Para de gritar! Será que eu
não posso nem me distrair em paz, sem ser incomodada?
LUIZA HELENA: Eu acho que você deveria passar a se interessar mais pelo o
que eu faço, ou por alguma outra atividade que te promova crescimento pessoal e
profissional.
BETINHA: Estou cansada de não ter perspectivas de vida nesse lugar. Eu não quero
acabar como você. Eu quero estudar, exercer uma profissão, viver coisas novas,
conhecer pessoas, me apaixonar... Não era você mesma que vivia insistindo que
eu deveria estudar?
LUIZA HELENA: Sim, você tem razão. Eu não quero mesmo que você tenha o
mesmo destino que eu. Quero que você seja alguém na vida, mas será que vai
conseguir sem tirar a cara desse celular? Isso que eu me pergunto, mas já que
tocou no assunto, posso saber o que está pensando? Não me diga que resolveu
fazer o vestibular em Maceió? Eu vou ficar tão feliz quando você passar na
universidade federal...
BETINHA: E quem foi que disse que estou me referindo a Maceió?
LUIZA HELENA: Não está? E para onde marmota tu tá pensando em ir, menina?
BETINHA: Um lugar maior, São Paulo por exemplo.
LUIZA HELENA: São Paulo? (Surpreende-se).
Cena 13 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Noite]
(Eva recolhe o blazer a pasta de
Demétrio ao abrir a porta de entrada da mansão).
EVA: Eu posso mandar servir o jantar, senhor?
DEMÉTRIO: Daqui uns trinta minutos. Quero subir, tomar um banho e
trocar de roupas, aí eu desço.
EVA: Estaremos esperando, senhor.
(Demétrio sobe a escada e caminha
pelo extenso corredor do pavimento superior de sua mansão. Ao adentrar em sua
suíte, afrouxa a gravata e começa a desabotoar a camisa, quando em seguida
assusta-se com uma imagem que acabara de ver refletida em um dos espelhos).
DEMÉTRIO: (Vira-se rapidamente) Mas o que significa isso? O que você
está fazendo em minha casa e no meu quarto? Quem deixou você entrar sua
ratazana?
EVANDRO: Surpresa, cunhadinho! Que modos são esses de tratar um velho amigo? Desse
jeito eu vou pensar que você não gostou de me ver!
DEMÉTRIO: (Vai até o criado mudo e tira o telefone do gancho) Eu vou
chamar a segurança. Você vai ser escorraçado e vai voltar para o seu lar...
Afinal de cadeia você entende, não é? Ladrãozinho pé de chinelo! (Começa a
discar o número e coloca o telefone no ouvido).
EVANDRO: Se fosse você eu não faria isso. Você não quer que as pessoas saibam que
você vai morrer, quer?
DEMÉTRIO: (Abaixa o telefone) Do que você está falando?
EVANDRO: Você sabe muito bem do que eu estou falando, não sabe? Sente-se, temos
muito para conversar. Algo me diz que esse nosso reencontro será inesquecível!
(Conclui de forma irônica).
A imagem foca em Demétrio
aterrorizado com a presença de Evandro. A cena congela e vira uma capa de
revista.
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