CENA 01: HOSPITAL/CANTINA/INT./NOITE
Roberto observa Helena, assustado.
HELENA – O que está esperando, Doutor Roberto?
ROBERTO – Eu não sou obrigado a entrar nesse seu joguinho sujo.
HELENA – Joguinho sujo?
ROBERTO – E tem mais, vou falar com a direção do hospital pra pedir o seu afastamento. Você sabe o poder que eu tenho aqui dentro.
HELENA – Isso é uma ameaça.
Roberto se levanta.
ROBERTO – É apenas um aviso, doutora Helena, para que não se meta onde não é chamada. Agora, se me permite, tenho muito o que fazer.
HELENA – A verdade será revelada, queira o senhor ou não.
Roberto se aproxima de Helena, ameaçador.
ROBERTO – (SUSSURRA) Faça o melhor que puder.
Roberto se afasta e se dirige ao seu consultório.
CENA 02: HOSPITAL/CONSULTÓRIO DE ROBERTO/INT./NOITE
Roberto, ainda atordoado, entra e se depara com Palmira, sentada em sua cadeira.
ROBERTO – (ASSUSTADO) Palmira?
PALMIRA – Dona Palmira pra você, meu amor!
Palmira se levanta e se dirige a Roberto.
PALMIRA – O que é que você tava prosando com aquela rata?
ROBERTO – Nada demais.
PALMIRA – Não seja safado, homem! Eu vi que vocês tavam futricando sobre a morte de Perfeito.
Roberto se afasta um pouco.
ROBERTO – Ela tá desconfiada de algo.
PALMIRA – E por acaso tu pensa em dar com a língua nos dentes?
ROBERTO – Ela tá jogando sujo.
Palmira bate na mesa.
PALMIRA – Tente. Tente abrir esse bocão pra ver o que lhe faço!
ROBERTA – Isso é uma ameaça?
PALMIRA – Imagina! Sou uma mulher católica apostólica romana. (SE BENZE) Jamais faria qualquer coisa contra um semelhante. Mas acidentes podem acontecer.
Assustado, Roberto se vira e sai correndo.
PALMIRA – Ei, não me deixe falando sozinha! Tu não vai sair e me deixar cheia das incertezas!
Palmira corre atrás de Roberto.
CENA 03: HOSPITAL/CORREDOR/INT./NOITE
Roberto corre apressado, na direção do elevador. Palmira atrás.
Ele consegue alcançar o elevador, entrando antes que a porta se feche. Palmira chega atrasada, a porta se fecha na sua cara.
CENA 04: RUA/EXT./NOITE
Roberto sai do hospital correndo. Ele desce a calçada e atravessa a rua, passando na frente de um carro.
O motorista freia imediatamente.
Mesmo assim, o carro atinge Roberto em cheio, jogando-o longe.
Roberto cai com tudo no asfalto, batendo a cabeça no meio-fio.
Ao sair do hospital, Palmira se assusta ao ver Roberto caído no chão e com a cabeça ensanguentada.
PALMIRA – (DESESPERADA) Isso só pode ser praga!
Disfarçadamente, Palmira abandona o local.
CENA 05: CASA DE EDU/SALA/INT./NOITE
Batem à porta desesperadamente. Edu vai atender e é surpreendido por um forte abraço de Lica. A moça, desesperadíssima, está com as roupas rasgadas.
LICA – (FINGINDO) Ai, professor! Eu preciso da sua ajuda!
Edu assustado, tentando entender.
LIGA – (FORÇA O CHORO) Foi horrível…
EDU – O que houve, Lica?
LICA – Tentaram abusar de mim.
Perplexo, Edu guia Lica para dentro.
EDU – Mas como foi isso?
LICA – Faz alguns dias que eu tava morando com um amigo. (RESPIRA FUNDO) Já fazia um tempo que eu observava o jeito que ele me olhava, mas eu não podia fazer nada. Eu não tinha pra onde ir, tive que aceitar a situação. Até que hoje aquele porco nojento tentou me pegar a força.
Edu se assusta com o semblante sofrido de Lica. Os dois se sentam.
LICA – Foi a coisa mais asquerosa e repugnante. Por sorte, eu tirei ele em cima de mim e fugi. Senão… (MÃO NO ROSTO) Que vergonha…
EDU – Ei! Você não deve se sentir envergonhada por isso. Você foi vítima de um abuso. O que nós vamos fazer é denunciar esse safado agora mesmo!
LICA – (ASSUSTADA) Não, por favor! Eu não posso compartilhar essa vergonha com mais ninguém! Eu não vou suportar!
EDU – Lica, isso não pode ficar impune! Você tem que denunciar! Não pode ser submissa!
LICA – (CHORANDO) Eu não vou aguentar… (FINGE TONTURA) Eu não tô me sentindo bem. Acho que vou…
Lica finge desmaiar no sofá. Edu se desespera.
EDU – Lica! Lica! Lica!
Edu deita Lica no sofá e corre para a cozinha.
CENA 06: CASA DE DURVALINA/QUARTO DE ADSON/INT./NOITE
Durvalina entra, com um lanche nas mãos.
DURVALINA – (SORRINDO) Olha só, meu príncipe. Trouxe um lanchinho pra você, já que não desceu pra jantar.
Adson sentado na cama, em silêncio, entristecido. Durvalina nota.
DURVALINA – Você estava chorando?
Durvalina se senta na cama e Adson a abraça com força.
DURVALINA – Meu menino, o que está acontecendo?
ADSON – (CHORANDO) Eu queria poder te contar, mas não posso…
DURVALINA – Eu sou sua mãe e você pode, e deve, me contar tudo.
ADSON – Ai, mãezinha, me perdoa!
DURVALINA – Você está me assustando.
ADSON – Eu tô apaixonado e isso tá me deixando desesperado.
DURVALINA – E o que tem de errado nisso?
ADSON – Eu não sei. Mas eu tô apaixonado por um homem, e ele é meu professor.
Durvalina sente o baque.
DURVALINA – Meu filho, eu jamais me imaginei nessa situação.
ADSON – (INTERROMPE) Perdão por decepcionar a senhora.
Adson abaixa a cabeça.
DURVALINA – Adson, você não é uma decepção. Não foi isso que eu quis dizer. (T) Eu não vou mentir, eu não sei o que pensar diante dessa situação. Mas eu acredito que o amor tudo vence! E, por amor, eu aceito, mas eu preciso entender.
ADSON – Eu não sei o que dizer.
DURVALINA – (EMOCIONADA) Me abrace. Só me abrace. Por favor!
Adson abraça Durvalina. Os dois se entregam intensamente ao momento.
CENA 07: CASA DE EDU/SALA/INT./NOITE
Lica, de banho tomado e com outras roupas, volta pra sala com um copo de suco na mão. Ela observa Edu, sentado no chão, mexendo no notebook.
LICA – Tomei a liberdade de pegar esse refresco pro senhor, professor.
Ela entrega o copo a Edu.
EDU – (SORRI) Olha só, muito obrigado!
Lica sorri de volta.
EDU – Fico feliz que esteja melhor.
LICA – (SORRI) Ao seu lado, me sinto melhor.
EDU – Bom, se minha presença te ajuda, que assim seja.
LICA – Não vai beber?
EDU – Sim, claro. Tô morrendo de sede.
Edu começa a beber o refresco. Lica o observa atentamente.
LICA – (P/SI) Perfeito! Beba até a última gota!
Edu vira o copo e, em seguida, o devolve a Lica.
EDU – Muito bom. Muito obrigado, Lica.
LICA – (P/SI) Eu que agradeço.
CENA 08: APARTAMENTO DE HELENA/SALA/INT./NOITE
Tocam a campainha. Alzirão vai atender. Ela se assusta ao ver Pereira, fazendo o porteiro de refém, e segurando duas armas: uma delas apontando pra cabeça do porteiro; a outra, para Alzirão.
PEREIRA – (SORRI) É um prazer te rever, sapatão!
ALZIRÃO – (DESESPERADA) Como foi que me encontrou aqui?
PEREIRA – O mundo é pequeno demais. Por acaso achou que nunca iríamos esbarrar?
Pereira empurra o porteiro e Alzirão para dentro do apartamento.
ALZIRÃO – Pereira, vamos conversar. Abaixa esse revólver!
PEREIRA – Por tua causa eu tenho que viver fugindo da polícia. Sapatão de merda! E sabe o que é pior? Estão atrás de mim só por ter tentado dar fim a uma escória da sociedade feito você! Mas hoje eu acerto minhas contas com você. Vou terminar o que eu comecei.
Alzirão desesperada.
CENA 09: CASA DE EDU/SALA/INT./NOITE
Edu se levanta, meio zonzo. Atenta, Lica se levanta e vai ampará-lo.
LICA – Tá tudo bem, professor?
EDU – Eu preciso ir pro quarto. Não tô me sentindo muito bem.
Edu perde as forças e cai desacordado no sofá. Lica se aproxima, maliciosa.
LICA – (SORRI) Como eu esperei por esse momento. Eu juro que não vai doer nada, professor.
Lica começa a tirar as roupas de Edu, até deixá-lo nu.
Ela se deita por cima do professor, beijando e passando a boca por todo seu corpo. Ela vai abaixando, até chegar nas regiões íntimas. Porém, Edu não reage aos seus estímulos. Lica se frustra.
LICA – Droga, mas assim não tem graça. O prazer precisa ser de ambos, seu maldito!
Irritada, Lica acerta uma bofetada em Edu, que segue desacordado.
LICA – Idiota! Por isso que diziam que você é viado. Que ódio!
Lica, furiosa, se levanta e chuta um móvel. Porém, ela volta a olhar para o professor.
LICA – Nem tudo está perdido.
Ela começa a tirar suas próprias roupas, também ficando nua. E então, se deita sobre ele.
LICA – Boa noite, meu amor.
Lica dá um selinho em Edu.
CENA 10: APARTAMENTO DE HELENA/SALA/INT./NOITE
O porteiro consegue se soltar de Pereira e escapa do apartamento.
PEREIRA – (IRRITADO) Maldição! Sabe que isso significa que agora tenho menos tempo pra dar fim à sua vida de merda!
ALZIRÃO – Pereira, logo logo a polícia chega aqui. Foge logo antes que seja tarde.
Pereira cai na gargalhada.
PEREIRA – Acha mesmo que eu me arrisquei pra no fim fraquejar?
Pereira destrava o revólver.
PEREIRA – Chegou a hora de arder no mármore do inferno.
No desespero, Alzirão avança em Pereira e o derruba. A alma vai parar longe deles.
ALZIRÃO – (GRITA) Maldito, você destruiu a minha vida!
Os dois entram em luta, trocando socos e tapas.
Alzirão consegue imobilizar Pereira e começa a socar o rosto dele. Logo, ele consegue se soltar e dá uma cabeçada no nariz dela, a fazendo cair para o lado. Rapidamente, ele se levanta e corre até o revólver.
Ao se virar novamente, se depara com Alzirão o agarrando. Os dois brigam pela arma, colados um no outro.
Eles só param ao ouvir um barulho de tiro. Os dois se encaram fixamente, com os olhos marejados.
E, então, ambos se empurram. CAM foca nas mãos dos dois, ensanguentadas.
CONTINUA…
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