Na Boca Do Povo - Capítulo 13

Capítulo 13

Cena 01 – Mansão Martins Andrade [Interna/Manhã]

(Luiza Helena fica completamente surpresa com o que Ângelo acabara de dizer).

LUIZA HELENA: Deve estar acontecendo algum engano, eu...

GLÓRIA: (Interrompe Luiza Helena) Claro que está, que brincadeira de mau gosto é essa? Quem são essas duas? O meu irmão não era casado... (Grita).

FERNANDA: (Tenta conter Glória) Fique calma, mamãe... Deixe que os advogados prossigam com a leitura do testamento.

GLÓRIA: Como eu vou deixar? Ficou doida, menina? Estão querendo nos roubar...

BETINHA: Epa, epa, epa! Eu e a minha irmã não estamos roubando ninguém, aliás nem entendemos o que está acontecendo aqui.

GLÓRIA: Era só o que me faltava, uma quadrilha familiar! De onde foi que vocês duas saíram? Marginais! (Resmunga).

LUIZA HELENA: Escuta aqui, madame! Eu não vim até aqui para ser ofendida, a senhora não é melhor que nós duas só porque está bem vestida e é cheia da grana. Vamos embora Roberta! (Diz ao pegar as malas).

ÂNGELO: Eu sei que tudo parece muito confuso agora, Dona Luiza Helena, mas eu preciso que fique, logo mais a senhora vai entender o que está acontecendo aqui.

TABELIÃO: Bom, agora que os ânimos se acalmaram, vamos dar inicio a leitura do testamento. Por favor, confira se todos os beneficiados estão presentes! (Fala com seu assistente).

ASSISTENTE: (Abre uma pasta e tira alguns papeis) Sim senhor.

GLÓRIA: (Irritada olha para Eva parada no canto da biblioteca) Já pode se retirar Eva, se precisarmos de alguma coisa, eu mando te chamar.

EVA: Sim senhora!

ÂNGELO: Não, ela também fica.

GLÓRIA: (Sorri ironicamente) Que foi? Não me diga que essa moribunda também é herdeira?

TABELIÃO: (Começa a ler o que está descrito no testamento como a última vontade de Demétrio) Em plenas posses de minhas faculdades mentais...

(A voz de Demétrio surge narrando o conteúdo do testamento).

“Eu, Demétrio Martins de Andrade gostaria de expressar os meus últimos desejos. A minha vida toda convivi com pessoas que mantiveram relações comigo puramente por questões financeiras, isso só mudou quando conheci a grande mulher que é Luiza Helena. Por isso, não seria justo beneficiar as pessoas que sempre quiseram me ver pelas costas e abandonar as únicas que me viram além do poder e da minha conta bancária. Para a minha fiel empregada, em nome de todos esses anos de lealdade e por me acolher até mais do que minha própria família, deixo o meu sítio em Atibaia para que possa viver sua velhice com plenitude e o direito à uma pensão vitalícia até o fim de seus dias, decidindo ela se deseja prosseguir trabalhando ou não. Para minha sobrinha Fernanda, deixo ações da revista e a nomeio como diretora do grupo, além da propriedade no Guarujá. Ao meu amigo irmão e advogado, Ângelo Vasconcelos, deixo ações na revista e o nomeio como diretor executivo da minha revista. Os demais bens, a propriedade no Morumbi, o apartamento em Nova Iorque, o edifício na avenida paulista, o prédio onde está instalada a redação da revista e todo o dinheiro contido em minhas contas bancárias, deixo para minha esposa legítima, reconhecida em união estável em minha última viagem a Alagoas, ela agora passará a se chamar Luiza Helena Ferreira Martins de Andrade, tornando-se minha herdeira majoritária e presidente da minha empresa, devendo-se manter em minha casa por no mínimo cinco anos consecutivos, caso deseje, poderá se casar e reconstruir a sua vida normalmente, entretanto, caso desista de minhas clausulas, meus bens automaticamente serão doados à uma instituição de caridade. Para a minha irmã e querido sobrinho, deixo a oportunidade de se ressignificarem como pessoas idôneas e a possibilidade de fazer por merecer parte de minha herança, mas para isso, ambos deverão trabalhar e ganhar um salário digno da revista, desde que comecem de baixo como qualquer pessoa normal. Sem mais para o momento.”

GLÓRIA: (Grita) Não! Isso não pode ser verdade, eu vou chamar os meus advogados, vamos anular essa insanidade. Meu irmão era um homem doente, não estava em posse de suas faculdades mentais!

BETINHA: E ele te deixou a maior parte da herança dele... Você está rica!

LUIZA HELENA: (Permanece em choque) Deixou?

TABELIÃO: Sem querer ser descortês à sua pessoa, o meu trabalho é muito sério. Esse testamento foi transcrito conforme a vontade do seu irmão, que não me demonstrou em nenhum momento ter algum problema de insanidade, muito pelo contrário, ele me parecia bem lúcido. Se me permitem, agora eu não tenho mais o que fazer aqui. Com licença, vamos? (Refere-se ao assistente).

ASSISTENTE: Vamos! (Recolhe os papéis, guarda no interior da pasta e se retira junto ao tabelião).

THIERRY: A única vontade dele era que eu trabalhasse? Sério mesmo?

GLÓRIA: (Bate em Thierry) Cala a boca seu ignorante!

Cena 02 – Chesca’s, Restaurante Italiano [Interna/Manhã]

(Enrolada numa toalha, Lola entra em seu quarto após o banho e fica surpresa com a presença de Enrico em seu quarto).

LOLA: Enrico, eu não sabia que... (Perde a fala quando nota que Enrico está segurando uma garrafa vazia de vodka).

ENRICO: Eu sou muito grato por você ter salvo a minha vida e quero muito poder te ajudar, retribuir o bem que você me fez, mas você precisa querer sair do fundo desse poço.

LOLA: (Começa a chorar) Desculpa, eu não queria desapontá-lo, mas a vontade de beber é mais forte do que eu e me domina... Me perdoe!

ENRICO: (Abraça Lola) Eu não sei o que aconteceu no seu passado, nem da sua história e o que ocasionou o seu vício, mas você não está mais sozinha. Eu vou te ajudar, eu prometo!

Cena 03 – Mansão Martins Andrade [Interna/Manhã]

(Em um dos cantos da sala, Luiza Helena segue tentando entender junto de Betinha o que está acontecendo. Fernanda e Thierry as observam, enquanto isso, Glória se aproveita para se aproximar de Ângelo e confrontá-lo).

ÂNGELO: (Toma um copo d’água).

GLÓRIA: (Se aproxima do advogado e fala baixinho) Agora somos só nós dois, me fala a verdade. Isso tudo é uma armação sua que estava mancomunado com o doidivana do meu irmão, não era?

ÂNGELO: Glória, minha querida... De uma vez por todas, entenda que essa foi a real e a última vontade do seu irmão. Eu não tinha poder de manipular o seu irmão, até porque ele era a pessoa menos influenciável que conheci e você sabe bem disso.

GLÓRIA: Pois então meu querido, anote muito bem o que eu vou lhe dizer. Eu vou contratar o melhor advogado desse país, vou revogar esse testamento e depois vou pedir que cassem a sua OAB. Em breve eu vou ser a dona dessa mansão e vou jogar aquelas duas imundas no olho da rua!

ÂNGELO: Vá em frente! Uma pena que eu sei que você não tem condições de arcar com um processo desse porte e mesmo que tivesse, não daria em nada, o testamento do seu irmão é legal.

GLÓRIA: (Sorri ironicamente) Você não sabe com quem está se metendo.

ÂNGELO: (Pousa o copo numa mesinha e encara Glória) Pior que infelizmente eu conheço até mais do que eu gostaria. Sei de todas as suas artimanhas inescrupulosas. Enquanto você pensa em me passar a perna, eu estarei dois passos a sua frente. Eu considerava o Demétrio como um verdadeiro irmão, coisa que você jamais irá entender.

GLÓRIA: Pode ficar, te dou de presente. Fernanda e Thierry, vamos embora. Não temos mais nada para fazer aqui... Por enquanto, que isso fique claro! (Glória pega sua bolsa, em seguida Fernanda e Thierry a acompanha e os três deixam a mansão).

Cena 04 – Casa de Durant [Interna/Manhã]

Música da cena: Sampa – Caetano Veloso

(Imagens dos principais pontos turísticos de São Paulo são apresentadas, em seguida surge o bairro da Mooca e a casa de Durant).

MARIA RITA: (Serve café para Durant e Rafael enquanto os três conversam na mesa) Que loucura essa história!

RAFAEL: Sim, todo mundo diz que a mãe da Fernanda não é flor que se cheire. Mas verdade seja dita, ela está arrastando uma asa para o Tio Durant!

MARIA RITA: (Fica surpresa) Ah é? Não me diga! É a sua oportunidade de sair com alguém depois de tanto tempo, primo.

DURANT: Eu não entendi como o assunto virou para a minha vida afetiva. Não estávamos falando da família da Fernanda?

MARIA RITA: Engraçadinho! É sério Durant, você tem que seguir em frente, refazer a sua vida. Você ainda é jovem, bonito e cheio de garra, tem todo o tempo do mundo de refazer a sua vida.

DURANT: A minha vida não precisa ser refeita, eu tenho o que Deus acha que mereço ter. Tenho vocês dois, que são a minha família, tenho a minha arte e os meus amigos queridos aqui do bairro.

MARIA RITA: Eu não sei explicar o motivo, mas eu sinto que isso tudo está prestes a mudar.

RAFAEL: Será que o meu tio vai deixar de ser solteirão?

DURANT: Mudem esse disco pelo amor de Deus!

(Aos poucos os três começam a rir do rumo que a conversa tomou e continuam comendo).

Cena 05 – Apartamento de Glória [Interna/Manhã]

(De repente notamos um vaso se estilhaçar em uma parede. Glória acabara de arremessa-lo completamente fora de si).

JUDITH: (Revira os olhos) Vai sobrar pra eu limpar essa nojeira! (Vai até a cozinha buscar a vassoura e a pá).

GLÓRIA: (Anda de um lado para o outro nervosa) Maldito! Tomara que ele esteja queimando no inferno. Nem depois de morto ele deixa de me torturar, mas o que eu podia esperar? Ele sempre teve inveja de mim porque os meus pais me amavam mais e eu sempre fui mais inteligente. Ele vai me pagar, ele vai me pagar!

FERNANDA: Eu juro que não entendo o motivo dessa histeria. O dinheiro era dele, ele tinha direito de casar e deixar a herança dele para quem ele quisesse. Não cabe a nós julgarmos o último desejo do meu tio, mãe.

GLÓRIA: (Olha para Fernanda completamente cega de ódio) Fernanda, se você falar mais uma palavra contrária ao que eu penso, eu juro que o próximo vaso eu atiro em você.

FERNANDA: Atire os vasos, os móveis e tudo que a senhora quiser. Coloque para fora a sua raiva, mas uma coisa eu te falo, o testamento não vai mudar. Eu vou para o meu quarto agora, com licença. (Deixa a sala de estar).

THIERRY: E agora, coroa? O que vamos fazer? Eu não sei trabalhar, como vou sobreviver ganhando um salário?

GLÓRIA: Fique tranquilo meu filho, pode deixar que a mamãe vai consertar essa merda que o seu tio fez.

Cena 06 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Manhã]

(Com o clima mais ameno, Luiza Helena resolve cobrar uma explicação de Ângelo).

LUIZA HELENA: Agora que estamos só a gente aqui, eu preciso saber que armadilha é essa que me meteram. Eu não sabia de herança, eu não me casei com o Demétrio, eu nem sabia que ele tinha falecido, faz pouquíssimas horas. O que está acontecendo?

BETINHA: Ele te deixou tudo e pronto! Para de ser boba e aceita, Luiza! Olha a chance que a vida tá te dando, para de questionar...

ÂNGELO: Eu sei que tudo ainda está bagunçado em sua mente, foi por isso que o Demétrio te deixou um recado.

LUIZA HELENA: Recado? (Questiona).

ÂNGELO: (Coloca um CD no aparelho de DVD e liga a TV).

(Com a TV ligada, Demétrio surge para dar um recado para Luiza Helena).

DEMÉTRIO: (Está sentado na cadeira de seu escritório e olha fixamente para a câmera) Luiza, minha querida! Se você está assistindo esse vídeo, isso significa que eu infelizmente tive que partir. Digo infelizmente, não por ter medo da morte, mas sim por não ter te conhecido antes e de não ter tido a chance de aproveitar mais momentos com você. Eu imagino que você deva estar confusa agora, mas não tema, eu vou te auxiliar em tudo, mesmo não estando presente. Eu quis deixar você assistida legalmente e sem chances de que ninguém anulasse minha vontade de te ajudar, por isso reconheci você como minha companheira em união estável.

LUIZA HELENA: (Assiste ao vídeo emocionada).

DEMÉTRIO: Eu fiz isso pelo simples fato de você ter me olhado simplesmente como ser humano, coisa que ninguém tinha feito antes. Você me fez ser um homem despido de vaidade e soberba, por um momento eu quis ser feliz de novo e mudar. Essa chance eu terei através de você. Cuide do meu legado e aproveite tudo o que eu te deixei para alcançar as oportunidades que te foram tiradas ainda tão jovem. Proporcione tudo o que sempre quis a sua irmã, case-se, apaixone e seja feliz. Por favor, prometa que não vai desistir de mim... Com amor e gratidão pelo acolhimento, Demétrio.

BETINHA: (Abraça Luiza Helena e tenta consolar a irmã).

ÂNGELO: Bom, eu acho que agora vocês estão precisando ficar sozinhas, pensar um pouco. A cabeça de vocês deve estar um turbilhão, caso vocês precisem de qualquer coisa, chamem a Eva, ela é a governanta e de inteira confiança e se for necessário, me liguem a qualquer momento, estarei a inteira disposição. Com licença! (Ângelo deixa o escritório).

Cena 07 – Na Boca do Povo, Redação [Interna/Tarde]

(Trancado na sala da presidência, Evandro não esconde o seu ódio).

EVANDRO: (Soca a mesa com violência) Você não vai me vencer, você não vai me passar a perna. Tá ouvindo, seu merda? Você deve está queimando no inferno, esse prazer ninguém me tira, eu te eliminei e vou eliminar a esposazinha golpista, pode apostar que sim. (Fala consigo mesmo).

Cena 08 – Casa de Durant [Interna/Tarde]

Música da cena: Fogo – Karin Hils

(Sozinhos na sala de estar, Fernanda conta a Rafael sobre o desenrolar da leitura do testamento).

RAFAEL: (Fica surpreso) Não, fala sério...

FERNANDA: É a mais pura verdade, minha mãe ficou fora de si. Ele a deixou na rua, provando que não a perdoou, mas com brechas. Se ela mudar e percebermos que a mudança é verdadeira, o testamento poderá ser modificado nesse sentido. Entretanto, o que mais me deixou surpresa na realidade foi o meu tio ter se casado.

RAFAEL: Pois é, que loucura! Ele casou assim, do nada?

FERNANDA: Exatamente amor... Ela é bonita, mas de aparência bem humilde. Como é mesmo o nome dela... (Tenta lembrar). Lembrei! Luiza Helena...

(De repente Durant chega da rua e entra em casa).

DURANT: (Percebe que os dois estavam tendo uma conversa) Atrapalhei alguma coisa?

Cena 09 – Mansão Martins de Andrade [Interna/Tarde]

(Caminhando por um extenso corredor do andar superior da mansão, Eva apresenta a mansão para Betinha e Luiza Helena).

EVA: A casa é realmente muito grande, mas logo vocês se adaptarão. Esse daqui é o quarto que eu preparei para você, mocinha! (Refere-se a Betinha e abre a porta de uma luxuosa e confortável suíte).

BETINHA: Mentira! Para tudo, esse vai ser o meu quarto? Esse quarto é maravilhoso, parece de novela... Que macia! (Corre e se joga na cama para testar o colchão).

LUIZA HELENA: (Observa a irmã se esparramar na cama) Para com isso Betinha, vai desarrumar a cama que a Dona Eva preparou...

EVA: Por favor, me chame só de Eva. A partir de agora estarei a inteira disposição de vocês duas, podem contar comigo para tudo.

LUIZA HELENA: Está bem, Eva! Ouvir e sentir o carinho de alguém meio a tudo o que estamos vivendo nas últimas horas é realmente confortante.

EVA: Eu posso imaginar, meu bem. Bom, agora vamos conhecer o quarto que eu preparei para você! (Fala com Luiza Helena).

(Momentos depois, Eva surge apresentando o novo quarto de Luiza Helena).

EVA: E esse é o seu quarto!

Música da cena: Rock Roll And Lullaby – Alexandre Poli

LUIZA HELENA: (Entra no quarto e fica perplexa com o tamanho do ambiente) Tudo isso? Esse quarto é maior do que a minha casa lá em Porto de Pedras e ainda sobra espaço. Dá até para ficar com a Betinha aqui...

BETINHA: (Cruza os braços) É ruim, hein? Esse tempo de correr para a sua cama com medo do escuro já passou, cada uma no seu quarto.

EVA: Bom, eu vou pedir para uma arrumadeira subir e ajudar vocês a se acomodarem melhor, enquanto isso eu vou preparar um lanche e já volto, é rapidinho.

(Luiza Helena caminha pelo quarto incrédula com a grandiosidade do espaço).

Cena 10 – Ruas de São Paulo [Externa/Noite]

Música da cena: Gloriosa – Glória Groove

(Após receber um recado de Glória, Durant se dirigiu até uma praça para ouvir o desabafo da ex-socialite).

DURANT: Eu posso imaginar o caos que está a vida de vocês depois de tudo isso... (Fala enquanto caminha).

GLÓRIA: A própria irmã, a própria irmã... Ele não podia ter feito isso comigo. Beneficiar uma estranha, eu nem sei de onde aquela mulherzinha saiu, com certeza deve ser mais uma golpista! (Diz enquanto caminha ao lado de Durant).

DURANT: Será? Você já pensou em dar a chance de conhece-la um pouco melhor? Quem sabe assim você não entende melhor tudo o que aconteceu?

GLÓRIA: Me aproximar de uma mulher daquela laia? Isso nunca! Para que me aproximar dela se eu posso me aproximar de outras pessoas?

DURANT: Eu não estou entendendo.

GLÓRIA: (Sorri) Durant, eu não sou do tipo de mulher que gosta de rodeios. Quando eu quero algo, eu vou à luta e não tem quem me faça desistir. Eu quero você e eu vou ter! (Glória beija Durant em seguida. Enquanto os dois se beijam no parque, ela acaricia a sua nuca).

Cena 11 – Mansão Martins Andrade [Interna/Noite]

Música da cena: Rock Roll And Lullaby – Alexandre Poli

(Sozinha em seu novo quarto, Luiza Helena reflete sobre tudo o que aconteceu nas últimas horas e recorda o passado mais uma vez).

LUIZA HELENA: (Olha para a lua da janela de seu quarto. Em seguida caminha pelo quarto e senta na cama) Ah minha mãe, que falta você me faz aqui!

FLASHBACK

Há 20 anos atrás...

(Manoel volta para casa com um semblante sombrio após descobrir a gravidez de Luiza Helena).

LUIZA HELENA: (Se aproxima do pai em meio as lágrimas) O que você fez, pai?

MANOEL: Eu não encontrei aquele paulistinha de merda, se tivesse encontrado, teria limpado a honra da nossa família, enfiava a minha peixeira no bucho dele.

LUIZA HELENA: Não, pai! Ele é o pai do meu filho, ele vai casar comigo. Deixa eu falar com ele, tudo vai se resolver...

MANOEL: No caminho de volta eu estive pensando e tomei uma decisão.

EUNICE: Decisão? E qual foi homem?

MANOEL: Nós não seremos envergonhados com tudo isso perante nossos vizinhos e amigos. Eu não sou homem para ter a honra manchada... Luiza Helena vai embora por uns tempos, pelo menos até parir essa criança longe dos olhos de todos e depois nos livramos dessa criança.

LUIZA HELENA: (Grita em meio ao choro) Não!

EUNICE: Eu vou com a minha filha então...

MANOEL: Não, você não vai! O seu lugar é aqui, do lado do seu marido. Fora que isso levantaria suspeitas. Luiza vai para a casa de uma prima minha lá pras bandas de Pindorama, só volta sem barriga e não tem mais, mais... Tá decidido, você vai amanhã e fim de história.

LUIZA HELENA: (Com as duas mãos no ventre, Luiza Helena tenta convencer o pai para que ele mude de ideia, mas sem sucesso).

FIM DO FLASHBACK

Atualmente

LUIZA HELENA: (Com as duas mãos no ventre, adormece em sua cama).

Cena 12 – Na Boca do Povo, Redação [Interna/Manhã]

Música da cena: I Won’t – Colbie Caillat

(O dia logo amanhece e completamente ensolarado. Os termômetros urbanos de rua marcam 28 graus de temperatura. Pessoas transitam pelas ruas da cidade, enquanto vários ônibus circulam a cidade. Surge então o prédio onde fica a redação da revista).

ÂNGELO: (Após sair do elevador acompanhado de Luiza Helena e Betinha, Ângelo apresenta a empresa) Depois eu vou mostrar tudo com mais calma, por hora temos uma reunião com a equipe da revista e já estamos atrasados.

LUIZA HELENA: Tem certeza de que é necessário? Eu nem estou vestida adequadamente. (Responde enquanto segue Ângelo pelos corredores da revista).

ÂNGELO: Você está muito bem, mas depois podemos resolver isso, você pode renovar seu guarda-roupa por inteiro, inclusive o da sua irmã.

BETINHA: Oba, compras! (Acompanha os dois).

(Ângelo, Luiza Helena e Betinha entram na sala de reunião).

ÂNGELO: Senhoras e senhores, desculpem o atraso. O trânsito dessa cidade está cada dia pior, mas felizmente chegamos. Bom, vamos as apresentações... Essa é Luiza Ferreira Martins de Andrade, a nova presidente da Na Boca do Povo. Faça o favor de ocupar sua cadeira! (Ângelo arrasta a cadeira que fica na ponta da mesa).

LUIZA HELENA: (Olha para a cadeira e fica em dúvida se deve sentar ou não).

A imagem foca em Luiza Helena parada na sala de reuniões. A cena congela e vira uma capa de revista.