Capítulo
19
Cena 01 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Manhã]
(Fernanda encara Betinha, que volta e
desce a escada).
BETINHA: (Se aproxima de Fernanda) Pois não,
o que você deseja?
FERNANDA: Escuta aqui garota, eu vou ser bem direta. Não gosto de rodeios!
BETINHA: (Interrompe Fernanda) Garota não, eu tenho nome. E que tom é esse? Que
eu me lembre, não te convidei para vir até aqui. Fale de uma vez o que você
quer, eu tenho compromissos.
FERNANDA: O que você pretende? Não percebe que o Rafael é o meu namorado? Você
está sempre cercando ele e eu não vou aceitar isso, entendeu? Se de onde você
veio, é normal se envolver com homens comprometidos, eu vou logo te avisando que
aqui eu não vou deixar isso barato, entendeu? Eu não sou boba, menina.
BETINHA: Ah, não? Então porque veio até aqui, me importunar uma hora dessas? Não
confia no seu taco?
FERNANDA: Eu vim te dar um recado, afaste-se do Rafael. Procure outro da sua laia!
BETINHA: (Sorri) Então peça a ele para não cruzar mais o meu caminho, não posso
evita-lo, afinal temos amigos em comum e agora estudamos na mesma universidade.
Porque não pede para que ele estude em outro lugar? Ah, faça-me o favor sua
mimadinha, filhinha da mamãe. Eu não estou correndo atrás de ninguém, somos
apenas bons amigos. Se você vê maldade nisso, fale com ele... Agora se você já
acabou o seu showzinho, pode se retirar. Eu tenho o que fazer!
FERNANDA: O recado está dado, Betinha. (Fernanda vai embora, deixando Betinha
sozinha na sala da mansão).
BETINHA: Era só o que me faltava... (Fala consigo mesma, para logo em seguida
subir a escada e ir até seu quarto).
Cena 02 – Associação de Moradores
[Interna/Manhã]
(Os moradores da Mooca preparam os
últimos detalhes da festa de São Januário que irá acontecer a noite).
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO: (Caminha pelo salão e observa os objetos de decoração
que serão espalhados pelas ruas do bairro e que estão sendo produzidos pelos
próprios moradores) Ótimo, está ficando muito bom! Bom trabalho, Dirce...
Gente, alguém viu o Zeca e a Francesca? Preciso saber como estão os
preparativos das barracas de comidas típicas.
MULHER: Não vi, não senhor...
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO: (Estranha) Ué, eu poderia jurar que tinha visto os
dois aqui agora pouco.
(Enquanto isso, no depósito da
associação de moradores Francesca e Zeca voltam a ficar juntos).
FRANCESCA: Bode velho! (Diz em meio aos beijos
que troca com Zeca).
ZECA: (Encosta Francesca na parede e
continua beijando-a) Carcamana...
Cena 03 – Na Boca do Povo, Redação
[Interna/Manhã]
Música da cena: Fogo – Karin Hils
(As portas do elevador se abrem no
andar onde fica instalada a redação da revista. Luiza Helena surge vestida
elegantemente ao sair de seu interior).
LUIZA HELENA: Bom dia Suzana, bom dia a todos! (Cumprimenta enquanto
caminha em direção a sua sala).
SUZANA: Bom dia, senhora.
(Ao entrar em sua sala, Luiza Helena surpreende-se com a
presença inesperada de alguém).
LUIZA HELENA: (Vai até a mesa onde trabalha e senta-se na cadeira) Você
aqui? Eu posso te ajudar?
EVANDRO: Pode sim, eu gostaria de conversar um pouco com você. (Responde sentado
na cadeira em frente à mesa de Luiza Helena).
LUIZA HELENA: Sobre o que?
EVANDRO: Bom, eu imagino que você deve ter ouvido falar muito sobre mim.
Possivelmente coisas nem tão boas, sobre o meu passado com a Glória, Demétrio e
essa revista.
LUIZA HELENA: (Observa Evandro) Bom, já que você começou... Sim, eu já
ouvi falar sobre você e coisas não muito agradáveis. A maioria das pessoas me
pediram para tomar muito cuidado com você, outras me pediram a sua cabeça
inclusive, só que eu mal te conheço, não é do meu feitio julgar assim.
EVANDRO: Justamente por isso eu vim falar contigo. Eu gostaria de te pedir uma
chance, eu sei que cometi grandes erros no passado, mas eu mudei e o Demétrio
entendeu isso e resolveu me dar uma outra oportunidade. Então eu agarrei essa
chance e quis dar o meu melhor nessa revista, de modo que eu limpasse a minha
barra. Sendo assim, eu te peço que não se deixe julgar pelo o que os outros
dizem ao meu respeito, me dê uma chance de provar que eu mudei e que eu sou uma
boa pessoa.
LUIZA HELENA: Está bem, Evandro. Te darei uma chance, não serei
influenciada pela opinião dos outros, mas se eu sentir em algum momento que
você não está sendo benéfico a essa empresa e principalmente, que as pessoas
que me alertaram a seu respeito estiverem certas, eu serei a primeira a te
colocar no olho da rua. O Demétrio batalhou muito para que essa revista
chegasse aonde chegou e eu não vou permitir que alguém manche o trabalho dele,
fui clara? (Responde olhando para Evandro).
EVANDRO: Foi clara, sim. Eu agradeço pela sua sinceridade e garanto que você não
vai se arrepender. Colegas? (Pergunta após levantar-se da cadeira e estender a
mão para cumprimentar Luiza Helena).
LUIZA HELENA: (Olha para a mão de Evandro desconfiada e em seguida a
aperta) Colegas.
EVANDRO: (Olha para a mão de Luiza Helena apertando a sua e em seguida a solta)
Bom, agora eu vou para a minha sala, tenho muito trabalho. Com licença!
LUIZA HELENA: Tem toda. (Responde e observa Evandro ir embora,
permanecendo desconfiada com a sua presença).
Cena 04 – Universidade Pereira
Vasconcelos [Interna/Manhã]
(Enrico e Betinha conversam enquanto
caminhavam pelo campus da universidade).
BETINHA: E foi isso que aconteceu, o que você
acha?
ENRICO: Pra ser sincero? Nunca imaginei a Fernanda descendo do salto dessa
forma, mas para lhe ser bem sincero, eu acho que ela tem razão. Eu percebi a
forma como você olha para ele e como ele retribui.
BETINHA: Você está viajando, Enrico. Não embarca na viagem daquela doida
ciumenta!
ENRICO: Não é viagem, é o que eu penso. Eu super te entendo, real. O Rafa é um
cara lindo, encantador e tem um sorriso... Ele já está nesse chove não molha
com a Fernanda há anos, talvez a sua chegada na vida dele tenha de fato
balançado as coisas.
BETINHA: Ah, vamos mudar de assunto? Eu não quero continuar remoendo essa
história.
ENRICO: Está bem, como quiser. Foi até bom você me lembrar, queria te fazer um
convite. Hoje começa a festa do padroeiro lá da Mooca, todos os anos acontece
uma grande festa lá na rua onde eu moro, tem muita comida, uns jogos do tempo
dos nossos avós, resumindo... É tão fora de moda que chega a ser divertido por
ser fora do comum. Porque você não aparece lá com a sua irmã?
BETINHA: Será que é uma boa ideia? Eu vou falar com a minha irmã.
RAFAEL: (Corre e se aproxima dos dois) Oi gente, já vão ter aula agora?
BETINHA: Eu não, só no segundo tempo.
ENRICO: Eu tenho um seminário, estou indo para o auditório no bloco C.
RAFAEL: Ah, que pena! Ia convidar vocês dois para lanchar comigo, estou varado
de fome. Já que você está livre, não quer tomar um suco comigo, Betinha?
Música da cena: Anjos – Gabi Luthai
BETINHA: Eu? (Questiona).
ENRICO: (Sorri, pois confirma que estava realmente certo sobre o que acabara de
falar) Bom, eu vou deixá-los sozinhos, tenho seminário. Betinha, te espero lá
na Mooca à noite, não vai faltar... (Enrico deixa os dois sozinhos).
RAFAEL: E então, vamos? (Volta a convidar).
BETINHA: Está bem, vamos!
(Betinha e Rafael começam a conversar
enquanto caminham para a lanchonete da universidade).
Cena 05 – Casa de Durant
[Interna/Manhã]
Música da cena: Sampa – Caetano
Veloso
(Imagens das principais avenidas da
cidade são apresentadas, passamos pelo MASP, surgem viadutos, carros andam
pelas ruas freneticamente. Logo após, surgem imagens do bairro da Mooca e a
fachada da casa de Durant).
MARIA RITA: (Sai de seu quarto de pijama após chegar em casa do
trabalho. Ao se aproximar do banheiro, surpreende-se com a pessoa que sai do
interior do cômodo) Você aqui e essa hora?
GLÓRIA: Eu dormi aqui... (Responde ao sair do banheiro).
MARIA RITA: É que me assustei, não esperava você aqui.
GLÓRIA: Exatamente! Sou eu mesma, ao vivo e a cores. Glória Martins de Andrade e
Britto, com dois “t”. Agora vou voltar para o quarto, com licença querida.
(Glória abre a porta do quarto de Durant e entra).
MARIA RITA: (Observa Glória fechar a porta do quarto de Durant e fala
consigo mesma) Hum, não gostei... Muito metida, nariz em pé. Nem parece que
faliu com esse ar de superioridade. Glória Martins de Andrade e Britto, com
dois “t”... Essa daí, sei não! (Imita
Glória falando e em seguida entra no banheiro).
(Enquanto isso, no interior do quarto
de Durant).
GLÓRIA: (Deita cuidadosamente ao lado de
Durant na cama e beija sua nuca).
DURANT: (Acorda assustado) Você dormiu aqui?
GLÓRIA: Dormi, bebemos um pouco, acabou ficando tarde e eu dormi aqui. Você não
lembra?
DURANT: (Olha embaixo dos lençóis e percebe que ainda está vestido, em seguida
levanta-se) Eu apaguei, quase não lembro de nada. Você quer comer alguma coisa?
GLÓRIA: Não, eu vou me vestir, dar uma passadinha em casa e depois vou para a
revista.
DURANT: Você vai fazer alguma coisa hoje à noite?
GLÓRIA: A princípio não, porque? (Questiona ao se sentar na cama, retirar um
espelho da bolsa e se observar um pouco).
DURANT: Hoje começam as festividades aqui no bairro do nosso padroeiro, São
Januário. Tem música, comida, muita gente, vai ser divertido.
GLÓRIA: (Sorri sem graça) Festa de santo? Sim... Porque não? Será no mínimo
pitoresco.
Cena 06 – Na Boca do Povo, Redação
[Interna/Tarde]
(As portas do elevador se abrem e
Betinha desembarca no andar onde fica a redação da revista).
BETINHA: Boa tarde! Será que eu poderia falar
com a minha irmã? (Pergunta ao se aproximar da mesa de Suzana, a secretária).
SUZANA: Boa tarde! Vou te anunciar, só um
momentinho... (Suzana tira o telefone do gancho e liga para a sala onde Luiza
Helena trabalha).
FERNANDA: (Passa pela recepção com outros
jornalistas. Ela e Betinha se encaram, em seguida ela entra na sala de
reuniões).
SUZANA: Ela vai te receber, pode entrar.
Você sabe onde fica a sala dela?
BETINHA: Sei sim, obrigada! (Responde para
logo em seguida sair da recepção).
(Betinha entra na sala de Luiza
Helena e a observa trabalhar).
BETINHA: Nunca, nem em sonhos havia imaginado te ver assim... Como uma executiva.
(Diz parada na porta).
LUIZA HELENA: (Olha para Betinha) Nem vi que você estava aí... Na verdade
eu ainda estou apanhando para aprender a usar essas máquinas, mas não vou
desistir, quero aprender tudo.
BETINHA: (Entra na sala) Eu fico muito feliz que você esteja seguindo os
conselhos que me deu a vida inteira, que você queira progredir, se desafiar a sair
do mesmo.
LUIZA HELENA: Senta! Que milagre você vir me ver... Quer alguma coisa?
BETINHA: (Senta em uma das cadeiras posicionadas em frente a mesa de trabalho de
Luiza Helena) Agora que estamos nos dando outra oportunidade, de sermos mais
próximas e mais amigas, vim te fazer um convite.
LUIZA HELENA: (Solta o relatório na mesa e olha para Betinha com um
semblante de surpresa) Convite? Que convite?
BETINHA: Sabe aquele meu amigo da faculdade? Aquele que eu comentei que seria meu
monitor?
LUIZA HELENA: Sei sim, o que tem ele?
(Nesse momento, Evandro se aproxima
sorrateiramente do lado da sala e finge ler alguns papéis enquanto se aproveita
para ouvir a conversa entre Betinha e Luiza Helena).
BETINHA: Ele mora num bairro muito simpático e aconchegante e hoje começa uns
festejos do padroeiro do local, sei que é um programa bem esquisito, mas ele me
convidou e eu achei uma vibe mais familiar e como você é a minha única família,
resolvi te convidar, só assim você conhece os meus novos amigos.
LUIZA HELENA: (Pousa a mão em cima da mão de Betinha) É muito bonito da
sua parte, mas festa? Você e os seus amigos são de outro tempo, não sei se me
encaixo.
BETINHA: Ai Luiza, me poupe! Você fala como se fosse uma idosa... Vamos, eu nunca
te pedi nada.
LUIZA HELENA: Eu acho melhor não, tenho muita coisa para fazer aqui na
revista hoje, não sei que horas vou sair daqui... Já sei, podemos marcar de
fazer alguma coisa no fim de semana, só nós duas... O que acha?
BETINHA: (Tira a mão de perto de Luiza Helena) Tá vendo? Você nunca pode fazer
nada do que eu te peço, sempre tem algo mais importante para fazer. Eu não
devia ter vindo.
LUIZA HELENA: Betinha, não é isso...
BETINHA: (Interrompe Luiza Helena) Pode ficar com o seu trabalho, eu vou embora.
Tchau! (Levanta-se e vai embora bruscamente. Ao sair da sala, encara Evandro e
vai embora).
EVANDRO: (Observa Betinha e sorri de forma maliciosa enquanto a observa ir
embora).
Cena 07 – Academia [Interna/Tarde]
Música da cena: Desculpa, Mas Eu Só
Penso Em Você – Bruno Gadiol
(Na área destinada as atividades
aquáticas da academia, Thierry surge caminhando usando roupão. Em seguida, ele
tira a peça e só de sunga, mergulha na piscina).
LAVÍNIA: (Observa Thierry com desejo).
THIERRY: (Sai da piscina lentamente enquanto
exibe o seu corpo. Em seguida ele se seca com uma toalha, enquanto encara
Lavínia).
(Alguns instantes depois, Thierry
surge dentro do vestiário se agarrando com Lavínia).
LAVÍNIA: Você me deixa louca! (Diz em meio as
carícias de Thierry).
THIERRY: (Vira Lavínia para a parede e beija
seu pescoço) E você vai me dar tudo o que eu quiser, não vai? (Diz enquanto
observa a bolsa dela).
LAVÍNIA: Sim, o que você quiser, mas não
para...
THIERRY: (Aproveita a distração de Lavínia, coloca a mão dentro de sua bolsa e
tira dinheiro de seu interior).
LAVÍNIA: (Beija Thierry sem perceber que ele
está contabilizando seu dinheiro pelas costas).
Cena 08 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
Música da cena: Rock Roll And Lullaby
– Alexandre Poli
(A noite chega e imagens da Avenida Paulista
são apresentadas, onde podemos ver todas as suas luzes. Em seguida, Luiza
Helena chega na Mansão e encontra Eva sozinha em casa).
EVA: Boa noite, senhora! (Segura a bolsa
de Luiza Helena).
LUIZA
HELENA: Boa noite,
Eva. Está sozinha em casa?
EVA: Sim, senhora. A sua irmã saiu há pouco tempo, quer que eu mande servir o
jantar?
LUIZA HELENA: Ah é verdade, a festa da Mooca. Ela comentou... Acho que de
um padroeiro, esqueci qual.
EVA: É São Januário, senhora. A festa do padroeiro é muito tradicional e famosa
naquela região.
LUIZA HELENA: Eu sei, a Betinha me disse quando me convidou.
EVA: Se ela convidou, porque a senhora não foi com ela?
LUIZA HELENA: Ah, coisa de jovem Evinha... Eu ia ficar meio fora do
contexto, preferi vir pra casa.
EVA: Sinceramente?
LUIZA HELENA: O que foi? Não me diga que você também acha que eu devo ir
até essa festa?
EVA: Eu acho que a senhora deveria aproveitar a oportunidade que a vida está
lhe dando de se aproximar ainda mais da sua filha. Vocês não se deram uma nova
oportunidade? Porque a senhora não vai? Conhece os amigos dela, fica um
pouquinho e depois volta, só pra dizer que foi mesmo. (Coloca a bolsa de Luiza
no sofá).
LUIZA HELENA: (Olha para Eva e fica pensativa).
EVA: Bom, eu vou terminar de preparar o jantar. Depois eu passo no seu quarto
para te avisar quando estiver pronto, com licença! (Eva vai até para a
cozinha).
LUIZA HELENA: (Reflete alguns minutos sozinha e em seguida sobe a escada
correndo).
Cena 09 – Ruas da Mooca
[Interna/Noite]
Música da cena: Tarantella Napoletana
- Instrumental
(Os moradores do bairro da Mooca se
dividem nas barracas de comida, enquanto os fieis passeiam pela avenida
movimentada. Francesca, Lola e Enrico vendem suas comidas tradicionais. Na
barraca de Zeca, Marcelo e Ítalo ajudam a servir os clientes que estão
comprando).
FRANCESCA: Coloca um pouco mais de molho bolonhesa! (Orienta Lola que
está servindo nhoque para um cliente).
ENRICO: Mamma, eu já volto! (Diz ao avistar Betinha chegar).
FRANCESCA: Va bene, bambino. Va bene, a mamma cuida de tudo. Pode ir!
ENRICO: (Vai até Betinha) Ué, você veio sozinha? Cadê a sua irmã?
BETINHA: Ela não pode vir, teve que ficar trabalhando na revista.
ENRICO: Ah, que pena! Eu queria tanto conhece-la.
BETINHA: Vai ficar para a próxima... (Sorri sem graça).
ENRICO: (Puxa a mão de Betinha) Vem comigo, quero te apresentar algumas pessoas.
(Em sua barraca, Zeca gritava para
atrair cada vez mais público).
ZECA: Podem vir, podem chegar, a melhor
comida dessa quermesse está num só lugar e é na minha barraca. Chega pra cá
freguesa, chega pra cá freguês...
FRANCESCA: (Observa Zeca) Quanta deselegância,
onde já se viu gritar desse jeito?
LOLA: Está falando do vizinho da frente,
Francesca?
FRANCESCA: Ele mesmo, bode velho.
Cena 10 – Na Boca do Povo, Redação
[Interna/Noite]
(Suzana caminha pelos corredores da
revista apagando as luzes das salas que estão vazias).
SUZANA: Que susto! Achei que estava
sozinha... (Diz ao avistar Ângelo sentado em sua sala).
ÂNGELO: Eu já estou indo, estava terminando
de examinar esses documentos. Tem alguém aqui ainda? Tirando nós dois, é
claro...
SUZANA: Não, não. Só nós dois!
ÂNGELO: (Fecha uma pasta com relatórios e
coloca em cima da mesa, em seguida fica em pé) Vou embora também, é o que me
resta. Você quer uma carona?
SUZANA: Seria ótimo... Podemos dar uma
esticada se você quiser, aproveitar o restinho da noite.
ÂNGELO: Pode ser, vamos conversando a
respeito no caminho. (Apaga a luz e os dois vão embora).
Cena 11 – Casa de Durant [Interna/Noite]
(Em casa, Maria Rita surpreende-se
pelo presente de aniversário dado por Durant e Rafael).
RAFAEL: Feliz aniversário mãe, eu te amo!
(Abraça Maria Rita).
MARIA
RITA: Obrigada, meu
filho. Eu também te amo muito, mas não precisava se preocupar comigo, gastar
seu dinheirinho. Sua vida é o meu maior presente!
DURANT: O presente é simples, eu e o Rafa
juntamos uma graninha para comprar naquela loja que você tanto adora.
MARIA
RITA: (Abraça o
primo) Tenho certeza de que vou adorar, muito obrigada.
FERNANDA: Que coincidência, fazer aniversário
justo no dia de São Januário, não é? Feliz aniversário, sogrinha...
MARIA
RITA: Oh minha
linda, muito obrigada! (Abraça Fernanda).
RAFAEL: E então mãe, a senhora vai inaugurar
a roupa hoje, não é?
MARIA
RITA: (Lembra que
tem que sair para fazer programa e fica sem jeito de negar) Vou?
RAFAEL: Ah, não mãe! A senhora prometeu que
iria conseguir uma folga... Vai passar o seu aniversário, sozinha de novo?
DURANT: Ele tem razão, você prometeu.
MARIA RITA: Está bem, vocês venceram... Eu vou subir e fazer uma
ligação, desço em quinze minutos. Me esperem! (Maria Rita sobe a escada e vai
até seu quarto).
(Maria Rita entra em seu quarto,
fecha a porta para ter certeza de que ninguém irá ouvir sua conversa. Em
seguida, pega seu celular e disca um número).
MARIA: (Coloca o celular na orelha e espera
a ligação completar) Alô? Caruso? Oi... eu liguei para te avisar que hoje eu
não posso ir trabalhar, estou com febre e com uma tosse... Acho que é uma
virose! (Finge tossir).
Cena 12 – Mansão Martins de Andrade
[Interna/Noite]
(Eva caminha pelo corredor do
pavimento superior da mansão e se aproxima do quarto de Luiza Helena).
EVA: (Bate na porta) Senhora, o jantar já está pronto. Prefere descer para
comer na sala de jantar ou que eu traga algo para comer aqui mesmo? (Eva espera
algum tempo e Luiza Helena não responde, em seguida ela resolve abrir a porta
do quarto). Senhora? Ué, ela não está aqui!
(Eva desce a escada após não
encontrar Luiza Helena em seu quarto, em seguida ela lembra que deixou a bolsa
dela no sofá da sala de estar).
EVA: (Vai até o sofá e estranha a
ausência da bolsa de Luiza) A bolsa dela também não está aqui, será que ela
saiu?
Cena 13 – Ruas da Mooca [Externa/Noite]
(Um carro preto se aproxima e
estaciona nas imediações da quermesse chamando a atenção dos que estão ali
presentes. Em seguida o motorista da mansão desce do carro e abre a porta para
Luiza Helena sair).
MOTORISTA: (Fecha a porta do quarto quando Luiza
Helena sai do carro) A senhora deseja que eu fique aguardando?
LUIZA
HELENA: (Arruma o
vestido para em seguida responder) Não precisa Matias, depois eu chamo um táxi.
Pode ir descansar, boa noite! (Em seguida, Luiza Helena caminha em direção onde
a festa está concentrada).
(Durant sai de casa acompanhado de
Rafael, Fernanda e Maria Rita. Em seguida, eles encontram com Glória que estava
se aproximando da casa deles).
GLÓRIA: Boa noite, vejo que cheguei bem na
hora!
DURANT: (Olha para o relógio de pulso) Bem
pontual...
FERNANDA: É uma surpresa te ver aqui, mamãe.
Jamais imaginei te ver em toda a minha vida numa festa dessas... (Diz de braços
dados com o de Rafael).
GLÓRIA: (Envolve seu braço ao de Durant)
Pois acostume-se, filhinha... A partir de agora, você me verá muito por aqui.
Vamos?
DURANT: Vamos!
(Na barraca de Francesca, Enrico e
Betinha conversavam).
FRANCESCA: (Acaricia o rosto de Betinha) Uma verdadeira principessa a
sua amiga, bambino.
BETINHA: (Sorri) A senhora também é muito bonita.
ENRICO: Desse jeito eu vou ficar com ciúmes... (Diz enquanto observa as duas
próximas).
BETINHA: (Avista Luiza Helena de longe) A minha irmã? A minha irmã chegou...
ENRICO: Onde? Cadê ela? (Fala procurando).
BETINHA: Está ali, eu vou até lá...
(Betinha atravessa a rua e vai ao
encontro de Luiza Helena).
BETINHA: Você veio! (Diz ao se aproximar).
LUIZA
HELENA: Resolvi dar
uma passadinha, não vou demorar muito, mas fiz questão de vir.
BETINHA: Vem, eu vou te apresentar ao meu
amigo e a família dele. (Betinha conduz Luiza Helena e as duas aguardam os
carros passarem para poder atravessar a rua).
(Enquanto isso, do outro lado da rua,
Durant e a família se aproximam da festa).
DURANT: Vamos gente, vocês estão andando tão
devagar. Eu não... (De repente Durant perde a voz e sente seu corpo estremecer,
sua face fica empalidecida ao olhar para o outro lado da rua).
GLÓRIA: O que foi Durant? Você ficou pálido,
está passando mal? (Pergunta olhando para ele).
RAFAEL: (Olha para o outro lado da rua e
avista Betinha e Luiza Helena) Vejam, a Betinha e a irmã dela ali do outro lado
da rua!
MARIA
RITA: (Procura entre
as pessoas) Onde, meu filho?
RAFAEL: Ali! (Aponta e acena para as duas).
FERNANDA: (Olha na direção para onde Rafael
indicou) É, são elas mesmo.
GLÓRIA: (Esbraveja) Era só o que me
faltava...
(Do outro lado da rua, Luiza Helena
nota que Betinha está acenando para alguém).
LUIZA
HELENA: Para quem
você está acenando? (Questiona).
BETINHA: Para o Rafael e a família dele, ali
do outro lado da rua... (Acena).
LUIZA HELENA: (Olha para o outro lado da rua e entre os rostos, reconhece
um em especial, o de Jean Michel Durant, seu grande amor do passado) Du...
Du... Não, não pode ser!
A imagem foca em Luiza Helena
visivelmente abalada após rever Durant depois de 20 anos. A cena congela e vira
uma capa de revista.
Obrigado pelo seu comentário!