CONTO DE NATAL
"O RANZINZA"
INSPIRADO NA HISTÓRIA DE CHARLES DICKENS
Episódio 2
Cena 1, Funerária Jennings, Rua Tristão, tarde.
Dois anos atrás...
Um corpo jazia inerte dentro de um caixão.
Estava branco como papel e trajava um belo smoking preto.
Irving: Trágico. Um grande homem de negócios...
Epaminondas: De certo que sim.
Irving: Epa, não acha melhor tirar aquelas...
Irving aponta para duas moedas de cobre colocadas em cada olho do falecido.
Epaminondas olha para as moedas e as pega.
Epaminondas: O coitado não vai levar isso para a tumba.
Irving dá uma risadinha vestida de tosse.
Um rapaz logo vem e lacra o caixão.
Epaminondas assina um cheque.
Epaminondas: Sentirei sua falta, meu velho amigo Horácio.
Cena 2, Imobiliária Evans, Rua Alfenas, Bairro das Laranjeiras, noite.
Epaminondas estava revendo algumas papeladas.
Um rapaz animado entra de repente na loja.
Lincoln: Boa noite, senhor Valter!
Valter (sorri): Boa noite, seu Lincoln!
Lincoln: E a família, como anda?
Valter: Naquelas, mas bem, graças a Deus.
Eles dão um sorriso afável um para o outro.
Lincoln: E o tio?
Valter: Está lá dentro, como sempre.
Lincoln: Entrarei para conversar com ele.
Cena 3, Escritório de Epaminondas, noite.
Lincoln: Boa noite, tio!
Epaminondas: Besteira!
Lincoln: Tio! Não sabe que dia é hoje?
Epaminondas: Um dia como qualquer outro, ora!
Lincoln: O senhor não muda né? Hoje é Natal!
Epaminondas: Besteira!
Lincoln: Não seja amargoso, tio! Isso me ofende...
Epaminondas: Você vem aqui, me fala que dia é hoje e acha que estou animado?! Não seja cínico, Lincoln!
Lincoln: Isso já se passou...
Epaminondas: Sobrinho! Deixe eu comemorar o Natal como eu bem entender!
Lincoln: Mas é claro, tio. Como quiser. Apenas achei que estaria inclinado esse ano a uma mudança. Eu e Marta pensamos ---
Epaminondas: Me responde uma pergunta, Lincoln. QUE RAIOS TE DEU PRA VOCÊ SE APAIXONAR HEIN?! Você é um tolo, se quiser saber a minha opinião!
O clima fica pesado. Lincoln se retira sem dizer nada.
Epaminondas logo pega de uma gaveta um conhaque. Ele começa a beber.
Batidas na porta.
Epaminondas: Quem é?!
Valter: Sou eu, senhor!
Cena 4, Rua Alfenas, Bairro das Laranjeiras, noite.
Epaminondas tranca as portas da loja.
Epaminondas: Aqui está o seu dinheiro, Valter. Espero que use com sabedoria já que é um tolo!
Valter: Aproveitarei para curtir o Natal, senhor.
Epaminondas: Um tolo, sinceramente!
Epaminondas vai embora para casa.
Valter corre em direção a uma rua próxima aonde um grupo dançava no meio da rua, alegres com o dia de Natal.
Cena 5, Casa de Epaminondas, Rua Spoleta, noite.
O frio da rua assolava o rosto de Epaminondas, imutável.
Ele abria a porta da casa, que por dentro o frio parecia ser habitado de uma forma temerosa.
Epaminondas: Até que enfim em casa. Aquela velha já deve ter ido embora.
Epaminondas se dirige para o quarto, segurando uma vela acesa em uma das mãos.
Ele logo se troca e coloca um robe branco para dormir.
Fecha os olhos...
BUM!
Um barulho o desperta.
Epaminondas: Que diabos...
BUM!
O badalar dos sinos toca sete vezes.
Uma atmosfera assustadora assola o quarto.
Som de crianças chorando, velhos brigando, amantes se entregando aos desejos carnais mais depreciativos e som de choro são ouvidos.
Um vulto aparece bem em frente à Epaminondas, que está perplexo e com medo.
Horácio: Epaminondas... Epaminondas...
Continua...
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