CAPÍTULO 19
Uma novela de Crisley
Personagens deste capítulo (ordem de aparição):
Chris
Mary
Caio
CENA 1: CASA DE CAIO/ EXT./ NOITE
Chris chega ali na frente da casa de Caio com sua bicicleta. Ele coloca o dedo no interfone, mas não o aperta.
CHRIS — (para si mesmo) Eu aperto ou eu não aperto? (T) Eu cheguei até aqui, então eu aperto.
Chris volta para o interfone, aproxima o dedo, mas resiste novamente.
CHRIS — Quer saber? Eu vou embora pra casa.
Chris vai saindo carregando sua bicicleta. Mary o vê e corre para o portão.
MARY — (gritando) Chris!
CHRIS — (indo até Mary) Oi.
MARY — Cê tava aí e nem tocou o interfone.
CHRIS — É... Eu só tava passando.
MARY — Cê tava indo embora? Ia passar direto sem falar com o Caio?
CHRIS — Não sei.
MARY — Você é meio bobão. (abre o portão) Entra.
CHRIS — Eu?
MARY — Só tem você aí. Vem. Eu vou aqui do lado na lojinha comprar um negócio pra mim.
CHRIS — Ok. (entrando enquanto empurra a bicicleta)
MARY — Fica à vontade.
Mary sai e Chris entra ali. O portão se fecha. Chris deixa a bicicleta no chão. Ele olha para a porta e engole saliva. Chris respira fundo e entra.
Corta para:
CENA 2: CASA DE CAIO/ QUARTO/ INT./ NOITE
Caio copia no caderno um texto do computador. Ele escuta pequenas batidas à porta, se levanta e abre.
CAIO — Chris...
CHRIS — (um pouco nervoso) É... Então, eu vim falar de uma coisa que eu não podia falar pelo celular.
CAIO — É sério? Entra, entra.
CHRIS — (entra no quarto) É que cê pode ter me entendido mal com aquele monte de mensagem.
CAIO — Eu também achei que você pudesse ter me entendido mal. Ainda bem que não foi só eu, né.
CHRIS — O que cê pensou?
CAIO — Foi um pouco amistoso demais, né?
CHRIS — Foi muita mensagem melosa, eu acho. E eu não tô dizendo que eu sou assim, porque eu não sou. Só que eu tava num momento meio nada a ver e mandei aquele monte de mensagem. Mas você também mandou, então eu não posso carregar essa culpa sozinho. Resumindo: Eu peço desculpa se você se sentiu, sei lá, invadido com aquele monte de mensagem. É isso.
CAIO — Acabou?
CHRIS — Uhum. Acabei.
CAIO — Ok. Então, quando duas pessoas são amigas, essas duas pessoas trocam mensagens. Sejam fofas ou não. Até, algumas vezes, ofensivas. Não foi o nosso caso. Chris, a gente é amigo e aquelas mensagens foram demonstração da nossa amizade.
CHRIS — (aliviado) Isso. Foi isso mesmo.
Chris se senta na cama e Caio na cadeira.
CAIO — Você não tava pensando que...//
CHRIS — Nem fala nada. Fica quieto.
CAIO — Cê fica muito fofo quando fica nervosinho.
CHRIS — Caio... Não começa com essas coisas.
CAIO — Foi só provocação. Amigos, né?
CHRIS — Claro. (se levanta) Ah, aqui. (tira de dentro do calção o jogo de futebol) Ganhei de presente.
CAIO — Que nojo, cara.
CHRIS — Quê? Cê também tem esse jogo.
CAIO — Você tirando esse jogo de dentro da calça. Vai infectar tudo.
CHRIS — Eu deixei minha mochila em casa, né. Eu não ia trazer tudo pra cá.
CAIO — Tinha que trazer, né. Eu mesmo tô copiando um textão que o professor mandou pelo e-mail.
CHRIS — Eu vou jogar esse jogo um tempão, cê vai ver.
CAIO — Até enjoar.
CHRIS — Posso ficar jogando isso o ano inteiro.
CAIO — Sei...
Chris senta-se novamente. Eles ficam em silêncio um tempinho.
CAIO — Sabe que sua mãe é muito boa de te dar esse jogo, né?
CHRIS — Minha mãe é boa, mas nem tanto. Quando eu gasto minha mesada, ela não me dá mais nada. Nem uma balinha.
CAIO — Mas você ganhou um jogão desses aí.
CHRIS — Mas nem foi ela que deu esse jogo.
CAIO — Ah é? Foi quem então?
CHRIS — Uma pessoa lá da escola.
CAIO — A Maria, claro.
CHRIS — Errou. Última chance.
CAIO — Sei lá. Foi um dos seus amigos. O Danilo?
CHRIS — Até parece que aquele trouxa iria me dar qualquer coisa. É pão-duro com os outros. Ele mesmo gasta muito com ele.
CAIO — Tá, tá. Quem te deu?
CHRIS — O Bruno.
CAIO — Ah... Por que ele te deu?
CHRIS — Eu sei lá. Ele já tinha me dado um pacote de biscoitos. A gente até comeu junto.
CAIO — (fica cabisbaixo, mas logo tenta disfarçar) Será que ele não quer virar o seu melhor amigo?
CHRIS — Eu nem sei se tenho melhor amigo. Não consigo considerar ninguém como meu melhor amigo. Mas eu consigo considerar que eu tenho muita gente que eu gosto muito.
CAIO — Ah, isso sempre, né. O Wendel é o meu melhor amigo, no caso.
CHRIS — O meu melhor amigo... Como eu disse, não tenho.
CAIO — Mas agora... (levantando-se e se aproximando de Chris) Você pode se tornar o meu novo melhor amigo.
CHRIS — O quê?
CAIO — É. Eu acho que a gente se aproximou muito e que a gente pode sim se tornar melhores amigos. Você não acha?
CHRIS — Eu não me vejo com um melhor amigo definido. Mas a gente é amigo, né.
CAIO — É. Então, pelo menos pra mim, você é o meu novo melhor amigo. E eu vou...
Caio se aproxima de Chris, que estranha. Caio dá um beijo no rosto de Chris, que levanta e limpa o beijo.
CHRIS — Quê? Por que cê fez isso? Tá doido?
CAIO — (sem graça) Foi só uma brincadeira. A gente é amigo, eu pensei que...//
CHRIS — Eu vou indo. Depois a gente se fala. Falou!
Chris sai dali. Caio se senta na cama.
CAIO — (para si mesmo) Que vacilo que eu dei... (T) Amigos. Apenas amigos. Será que vai ser só isso?
Caio coloca a mão na boca e sorri. Ele logo fica triste.
Corta para:
CENA 3: CASA DE CHRIS/ QUARTO/ INT./ NOITE
Chris entra no quarto, coloca o jogo em cima da mesa e se deita. Em silêncio, ele fica olhando para o teto. Ele fecha os olhos e coloca a mão no rosto, onde Caio o beijou. Ele abre os olhos um pouco assustado e logo se levanta. Chris se senta na cadeira e liga o monitor. Ele procura pelo perfil de Caio, mas logo fecha a página. Ele se levanta e se deita novamente.
CHRIS — (para si mesmo) É... Acho que gosto do Caio.
Chris suspira, mas parece decepcionado.
Corta para:
CENA 4: CASA DE CAIO/ QUARTO/ INT./ NOITE
Caio olha o celular e começa a digitar qualquer coisa para Chris, mas logo apaga. Ele bloqueia o celular e se deita.
CAIO — (para si mesmo, um pouco triste) Eu não posso dizer pra ele que eu gosto dele... Mas como que eu gosto dele e gosto da Sara ao mesmo tempo? (T) Não, não... Eu gosto do Chris...
Caio fecha os olhos e sorri.
FIM DO CAPÍTULO
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