A RAZÃO DE AMAR
Novela de João Marinho
Escrita por:
João Marinho
Personagens deste capítulo
Afonso Valadares Quitéria Valadares
Branca Valadares Letícia Fernandes
Celso Correia
Fausto Valadares
Irineu Rodrigues
Jacinto
Madalena ^
Marta Correia
Olímpio Vasconcelos
Raul Fernandes
Tereza Valadares
Venâncio Correia
Vera Fernandes
CENA 01/ FAZENDA VALADARES/ ESCRITÓRIO/ INT./ MANHÃ
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Afonso entrega cartas a Irineu
AFONSO (entrega as cartas a Irineu) – Quero que você publique estas no jornal de amanhã.
Irineu pega as cartas, sem entender muito sobre o que elas dizem. Ele faz uma leitura sozinha de algumas.
IRINEU (surpreso) – Mas isso é um escândalo. Nunca publiquei nada de tal nível. Prevejo um escândalo sem precedentes na cidade.
AFONSO – Para aprenderem a não mexer comigo.
IRINEU – O que o senhor está pedindo para eu publicar é algo que vai mexer com a vida de muita gente... muita gente inocente. Apesar de eu tenho minhas motivações para que isso venha a público porque ele entrou com processo conta mim para que eu não mencione mais ele nos meus artigos no jornal.
AFONSO – E eu quero que mexa com a cidade mesmo. Tanto Venâncio como Raul são dignos de serem rechaçados pela sociedade. Deviam ser apedrejados em praça pública. Isso que eles merecem.
IRINEU – Nunca pensei que Venâncio fosse capaz de fazer isso com o próprio amigo. A mente dele é muito perversa para fazer isso.
AFONSO – Eu não tenho pena de nenhum dos dois. São farinhas do mesmo saco!
IRINEU – O senhor está disposto a continuar essa guerra com os Correias.
AFONSO – Essa guerra nunca terá fim!
IRINEU – Amanhã publicarei essas cartas! Às 8 horas em ponto já estará circulando essas cartas por toda a cidade.
Irineu se despede de Afonso.
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CENA 02/ FAZENDA CORREIA/ QUARTO/ INT./ MANHÃ
Madalena acorda. Fica alguns segundos na cama, pensativa. Levanta-se, em seguida, para tomar um pouco d’água. Venâncio acorda.
MADALENA – Vou pegar um pouco d’água.
VENÂNCIO – Uma manhã maravilhosa. (Se espreguiça e boceja). Hoje é dia de muito trabalho. Só em saber que não tenho mais nenhuma aparente ameaça. Ninguém vai ter como destruir. Fausto deve está queimando nas profundezas do inferno, Irineu não poder mais citar nos artigos dos jornais, Afonso está em coma e com certeza vai ficar assim para sempre. Raul viaja amanhã.
MADALENA (bebendo água) – Ele parece muito animado!
VENÂNCIO – É um passo muito importante na carreira dele. (Levanta-se). Agora eu vou me arrumar, que o trabalho me chama. Vou me afastar da câmara para responder o maldito processo da morte do Fausto.
Venâncio vai para o banheiro. Madalena voltar a se deitar na cama. Ela pensa em Jacinto.
A Cena desaparece, enquanto a cena seguinte se sobrepõe a esta.
CENA 03/ CASA DE JACINTO/ QUARTO/ INT./ MANHÃ
Tocar a música “canteiros”, de Fagner.
Jacinto, deitado na cama, pensa em Madalena.
JACINTO – Por que eu fui me apaixonar por você, Madalena?
Ele se levantou e pegou um retrato dela. Ficou caminhando pelo quarto e olhando aquele retrato.
JACINTO – Eu vou atrás dela!
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CENA 04/ PALMEIRÃO DE BREJO/ INT. EXT/ TARDE
A cena começa no INTERIOR da FAZENDA CORREIA. Na sala, Vera espera Madalena para irem à modista. Madalena desce as escadas.
VERA – Estava a sua espera, minha amiga.
MADALENA – Mandei fazer um vestido bem bonito para a senhorita guardar de lembrança como presente meu e vestir, claro. Agora você vai morar no Rio de Janeiro. Vai frequentar diversos lugares, a confeitaria Colombo, Palácio do Catete...
VERA – Ah, Madalena, você não existe!
A cena continua no EXTERIOR da fazenda. Elas entram na carruagem, que parte para a modista. Mostrar pontos da cidade. A igreja. A praça. Crianças indo para o colégio. Casais se beijando na praça. Uma criança soltando pipa. Madalena descem da carruagem. No instante, em que vão entrar na modista são abordadas.
JACINTO (p/Madalena) – Acho que senhorita me deve explicações!
Madalena se assusta, enquanto Vera estranha a situação. A matriarca dos Correia, para despistar, tenta se esquivar da situação.
MADALENA – Me desculpe, senhor, mas acho que o senhor deve estar me confundindo com alguém. Com licença!
Elas entram na modista.
JACINTO (off/gritando) – Madalena! Madalena! Eu te amo, Madalena!
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CENA 05/ FAZENDA VALADARES/ SALA DE JANTAR/ INT./ TARDE
Estão sentados à mesa Afonso, Branca, Eduardo, Tereza, Horácio, Vilma, Olga e Quitéria.
AFONSO – Essa a primeira, de fato, refeição em família depois que eu voltei do coma. Esse lanche da tarde é uma forma de agradecer tudo o que Horácio fez por mim durante todos esses meses. Ele, Vilma e a pequena Olga são todos muito bem-vindos a esta casa hoje e sempre.
HORÁCIO – Não precisa agradecer, coronel! Eu não fiz mais do que minha obrigação. Me formei para salvar vidas. Agradeça a sua esposa e a sua mãe. Elas rezaram muito para que o senhor melhorasse. Apesar de mim não acreditar em Deus, desde o fatídico dia da morte do meu filho, reconheço que a fé das mulheres da sua vida o salvaram também.
TEREZA – Infelizmente, Fausto, apesar de ter tido sorte no primeiro atentado, não escapou do segundo.
BRANCA – Eu nunca perdi a esperança!
Eduardo e Olga se entreolham. Os olhos do filho de Afonso brilham ao olhar para a filha de Horácio. Tocar neste instante a música “Oceano”, de Djavan. Eduardo se levanta e chama Olga para brincar.
EDUARDO – Vamos brincar, Olga!
Ela confirma com a cabeça. Eles saem de mãos dadas.
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CENA 06/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT.INT/ TARDE
A cena começa no EXTERIOR da loja
A música termina aqui.
Madalena e Vera saem da modista.
VERA – Muito obrigado, querida, pelo vestido. Irei usar com certeza quando chegar no Rio de Janeiro.
Elas entram na carruagem. A cena continua no INTERIOR da carruagem;
MADALENA – E esse barrigão?
VERA – Cinco meses, quase seis. Não vejo a hora dessa criança nascer.
MADALENA – Toda gravidez é uma ansiedade
VERA – Você tem certeza de que não conhece aquele rapaz que nos abordou agora a pouco?
MADALENA – Não. Deve ser desequilibrado!
VERA – Mas ele sabia o seu nome e o rosto dele não era estranho.
MADALENA – Nunca vi aquele rapaz. E eu também sou conhecida na cidade. Esposa de político. Todo mundo sabe quem eu sou.
VERA – Tem razão.
As duas continuam conversando.
CENA 07/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNADES/ SALA DE ESTAR/ INT./ TARDE
Raul e o delegado Olímpio estão conversando. O delegado observa a casa.
OLIMPIO – É uma boa mansão. A minha esposa e o meu filho virão para cá no mês e eu estava atrás de uma casa. Essa aqui parece estar em perfeito estado de conservação. As pinturas das paredes são bonitas. Só a decoração que eu vou mudar um pouco. Vou colocar uns quadros de Pedro Américo.
RAUL – Faça bom proveito da casa. Eu estarei viajando amanhã com a minha família. Já estou encaixotando tudo. Pego o navio em Salvador e parto para o Rio.
OLIMPIO – Faça uma boa viagem e seja muito feliz na capital federal.
RAUL – Estou muito feliz. Transferi o caso de Venâncio para um advogado que é meu amigo.
OLIMPIO – O homicídio de Fausto marca mais um episódio da rivalidade sangrenta entre os Correia e os Valadares.
RAUL – Mas Venâncio agiu em legítima defesa. A própria arma do disparo está em nome do morto.
OLIMPIO – Eu não vou opinar nada. O juiz, na hora, analisará o caso e dará o veredito.
Vera entra, com a caixa onde está o vestido dado por Madalena, e cumprimenta.
VERA – Boa tarde, delegado.
RAUL (p/Vera) – Que caixa é essa?
VERA (p/Raul) – Um presente que eu ganhei de Madalena. Um vestido.
Vera sobe ao quarto. Raul e Olímpio continuam conversando.
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CENA 08/ CASA DE JACINTO/ SALA/ INT. NOITE
Jacinto anda pela sala pensativo. Madalena, percebendo que a porta está entreaberta, entra.
MADALENA – Você hoje passou dos limites. Me intimidando....
JACINTO (com olhar fixo em Madalena) – Você que passou dos limites. Você me ilude. Diz que me ama, mas ontem estava na cama com outro.
MADALENA – Esse “outro” a quem você se refere é meu marido, pai do meu filho.
JACINTO – Não interessa quem ele é. Eu quero que você sincera comigo. Ou ele ou eu. De hoje não passa.
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CENA 09/ CASA DE JACINTO/ SALA/ INT./ NOITE
Continuação da última cena do bloco anterior. Jacinto confronta Madalena.
MADALENA – Preciso de um tempo. Essa decisão não é tão simples como você acha. Nessa história toda tem o Otávio, meu filho.
JACINTO – Te espero às 10 horas da noite. Se você não vier, a nossa história acaba por aqui.
MADALENA – Está bem!
Madalena. Jacinto vai para o quarto.
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CENA 10/ MANSÃO DE FAUSTO/ INT./ NOITE
Tocar instrumental “ataque no escuro”, de Lado a Lado.
Herculano entra pelos fundos. Sobe as escadas e vai ao quarto. Abre o guarda roupa, retira todas as roupas. Todos papeis que ele encontra joga no chão. Ele jogou a lamparina no chão, que se quebra e provoca um grande incêndio. Tereza, que está chegando em casa, sente um forte cheiro de queimado. Herculano pula a janela e consegue fugir. O fogo se alastra por todo. Os empregados conseguem jogar água. Tereza entra no quarto e se deparar com o incêndio. Ela se desespera. Os empregados conseguem controlar o fogo, mas os papeis e algumas roupas foram todas queimadas.
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CENA 11/ CASA DE JACINTO/ SALA/ INT./ NOITE
O relógio marca 10 horas. Jacinto, enraivado com o não aparecimento de Madalena, jogo todo objeto que vê pela frente na parede.
JACINTO (gritando) – Vagabunda, rameira, devassa é isso que você é, Madalena. Eu não quero mais me apaixonar por nenhuma mulher. O amor é traiçoeiro!
Focar na expressão de raiva de Jacinto.
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CENA 12/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT./ MANHÃ
Tocar o instrumental “Disfarçando”, de Lado a Lado.
Planos da cidade. O carteiro entregado correspondências e jornais nas casas. Um casal de namorados comprando flores. O dia amanheceu um pouco frio.
Corta para:
CENA 13/ GRUPO RODRIGUES/ RSCRITÓRIO/ INT./ MANHÃ
Tocar uma batida instrumental de suspense.
Irineu senta-se na sua cadeira e lê o jornal.
IRINEU – “Uma história de amor: o romance secreto entre Venâncio e a professora Vera Fernandes”. Perfeito! Eu quero ver o circo pegar fogo!
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CENA 14/ FAZENDA VALADARES/ VARANDA/ EXT./ MANHÃ
Branca se senta na cadeira lê o jornal.
BRANCA – “Estou aqui em Recife numa reunião com o governador de Pernambuco, mas estou morrendo dos nossos encontros as escondidas na calada da noite, dos nossos beijos, das nossas noites fogosa. Vera, te amo! ”. Venâncio tem um caso com a professora, esposa de Raul? Que horror!
CENA 15/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ INT./ MANHÃ
As malas estão prontas na sala. Vera sobre para tomar banho. Raul e Letícia ficam a sua espera na SALA. A emprega entrega o jornal do dia a ele, que diariamente tem o hábito de ler.
RAUL – “Estava recordando do nosso último encontro na noite passada. Nunca senti tanto prazer como naquele momento, como você. Nem com o Raul eu sinto esse prazer e o amor que eu sinto quando estou ao seu lado. O seu beijo é irresistível, o calor de seu corpo me enlouquece, você me enlouquece. Não tem um anoite que eu não pense em você, Venâncio. Da sua amada Vera”. (Os olhos de Raul se enchem de lágrimas/ As suas se tremem de raiva). Como eu pude ter sido tão idiota, meu Deus? Isso não pode ser verdade. (Espumando de raiva). Maldito Venâncio! Maldita Vera!
LETÍCIA – O que foi, papai?
Raul se levanta, espumando de raiva, vai à cozinha e pega uma faca. A empregada tenta impedir, vendo o seu estado emocional. Em seguida, ele sobe as escadas. Essa sequência é em slow motion. Ele entra no BANHEIRO. Vera está banheiro tomando banho. Ele ataca com a faca pelas costas...
VERA (gritando) – Socorro! Socorro! Ahhhh!
RAUL (continuando a esfaquear) – Vagabunda, rameira, devassa! Eu vou te matar sua infeliz!
O sangue desce junto com a água pelo ralo da banheira.
Focar na expressão de raiva de Raul.
Congelamento preto e branco emoldurado como um retrato
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