Capítulo 09
A RAZÃO DE AMAR
Novela de João Marinho
Escrita por:
João Marinho
Personagens deste capítulo
Afonso Valadares
Branca Valadares
Celso Correia
Fausto Valadares
Irineu Rodrigues
Jacinto
Madalena ^
Marta Correia
Olímpio Vasconcelos
Raul Fernandes
Tereza Valadares
Venâncio Correia
Vera Fernandes
CENA 01/ MANSÃO DA FAMILIA FERNANDES/ BANHEIRO/ INT./ MANHÃ
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. A batida instrumental de suspense continua. Raul entra no banheiro. Vera está na banheira tomando banho Ele a ataca com a faca pelas costas.
VERA (Gritando) – Socorro! Socorre! Aaahhhh!
RAUL (continuando a esfaquear) – Vagabunda, rameira, devassa! Eu vou te matar, sua infeliz!
O sangue desce junto com a água pelo ralo da banheira.
VERA (gritando/com lágrimas nos olhos)) – Socorro! Alguém me ajuda.
Vera desfalece na banheira. Raul continua a esfaqueá-la.
RAUL (gritando/chorando) – Você não podia ter feito isso comigo! (Senta-se no chão e chuta a banheira). Você acabou com a minha vida
A empregada e o jardineiro entram no banheiro.
JARDINEIRO – Senhor, ouvi gritos. Está acontecendo... (vê uma faca ensanguentada na mão de Raul).
A empregada vê Vera nua, morta e de bruços na banheira. A água, que se misturara com o sangue, estava vermelha. As costas, a cabeça e o rosto estão com diversos ferimentos causados pelas facadas.
EMPREGADA (chorando) – Que horror, meu Deus!! (P/Raul). Assassino! Assassino!
RAUL (nervoso/ mãos tremulas) – Ela atacou minha honra! Me traiu com meu melhor amigo!
JARDINEIRO – Que tragédia! Vou chamar a polícia! (Fecha a porta do banheiro para que Letícia não entre)
RAUL – Não será preciso. (Levanta-se). Eu me entrego. Já acabei com a minha vida mesmo. Sai do banheiro. O jardineiro e a empregada se entreolham, assustados.
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CENA 02/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT./ MANHÃ
Tocar o instrumental “acontecendo”, de Lado a Lado
Planos da cidade. Pessoas sentadas na praça comentando a notícia do dia. Pessoas conversando em frente à igreja. Carruagens passando por toda a cidade.
O instrumental para de ser tocado nesta parte.
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CENA 03/ MANSÃO DE CELSO/ SALA DE JANTAR/ INT./ MANHÃ
Celso e Marta sentam-se para tomar o café da manhã. Em seguida, Bernardo e Jorge descem.
BERNARDO e JORGE – Bom dia!
CELSO e MARTA – Bom dia, filhos!
Celso, tomando uma xícara de café, pega o jornal que está em cima da mesa. Faz uma leitura silenciosa sobre as notícias. Ao ver a manchete, cospe o café.
CELSO – Marta, escuta essa. Está na primeira página do jornal. “Uma história de amor: o romance secreto entre Venâncio e a professora Vera Fernandes. ” E continua: “uma relação que começou há pelos menos 15 anos”. Tem as fotos das cartas trocadas entre eles também. Quem conseguiu essas cartas é o salvador da pátria, porque nem eu sabia da existência delas.
MARTA (Pegando o jornal) – “Não consegui dormir essa noite, pensando em você. Precisamos nos encontrar mais vezes meu amor. Amo-te e quero encontrar você mais vezes. Amanhã, no mesmo local, Venâncio”. Bem romântico essas cartas. Nem quero nem imaginar como está a cara de Venâncio.
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CENA 04/ FAZENDA CORREIA/ INT./ MANHÃ
Tocar o instrumental “sombras”, da novela Lado a Lado.
A cena começa no escritório.
Venâncio, sentado em sua cadeira, pensa na vida.
VENÂNCIO – A essa hora Raul, Vera e Letícia já devem ter partido. Mais um problema resolvido!
RAUL (off/gritando) – Venâncio! Venâncio! Aparece, Venâncio!
VENÂNCIO – Ele já era para ter ido. O que foi que aconteceu?
Venâncio vai a SALA DE ESTAR, onde a cena continua. O patriarca da família Correia encontra Raul nervoso.
VENÂNCIO – Ainda não foi viajar, meu amigo? Veio me dá um abraço de despedida?
RAUL (espumando de raiva) – Como eu pude ter sido tão idiota?
VENÂNCIO (rindo) – Não estou entendendo o que está acontecendo? (Olha para as mãos de Raul e vê que estão sujas de sangue).
RAUL – Aqui está o meu abraço de despedida. (Dá um soco no rosto de Venâncio). Você é muito cínico mesmo!
VENÂNCIO (devolvendo o soco) – Você está fora de si.
RAUL – Eu já sei de tudo, Venâncio. Do seu caso com Vera. Eu tinha você como meu melhor amigo.
VENÂNCIO – Não sei do que você está falando. Se Celso te falou isso, é mentira dele. Quer fazer intriga entre nós dois.
RAUL (cínico) – Já que você está com amnésia, eu vou refrescar a sua memória. (Vai à entrada e pega o jornal). “Uma história de amor: o romance secreto entre Venâncio e a professora Vera Fernandes”. Quer mais? Vou continuar. (Imitando) “Estou aqui em Recife numa reunião com o governador de Pernambuco, mas estou morrendo dos nossos encontros as escondidas na calada da noite, dos nossos beijos, das nossas noites fogosa. Vera, te amo! ”. Tem mais. “Estava recordando do nosso último encontro na noite passada. Nunca senti tanto prazer como naquele momento, como você. Nem com o Raul eu sinto esse prazer e o amor que eu sinto quando estou ao seu lado. O seu beijo é irresistível, o calor de seu corpo me enlouquece, você me enlouquece. Não tem um anoite que eu não pense em você, Venâncio. Da sua amada Vera”. Como você me explica isso? Se é que existe alguma explicação para isso, não é, Venâncio? E a criança que Vera esperava, pelo visto você era o pai!
VENÂNCIO – Você não sabe o que está falando? A Vera te ama!
RAUL – Você é uma pessoa podre, pobre de espirito! Se a Vera um dia me amou, não me interessa mais, pois a besteira foi feita e faria tudo de novo. Ela feriu minha honra!
VENÂNCIO (Olha mais uma vez para as mãos sujas de sangue) – Não, você não fez isso?
Madalena desce as escadas.
MADALENA (intrigada) – Do que vocês estão falando?
RAUL (P/Madalena) – Já ficou sabendo que nós dois formamos a mais nova dupla de cornos da cidade? (P/Venâncio). Me dói os nervos saber que um dia ajudei você a arquitetar atentado contra Afonso e Fausto, te ajudei a sair da cadeia.
MADALENA (com lágrimas nos olhos) – Não pode ser verdade. Venâncio e Vera amantes?
RAUL (P/Madalena) – Fomos feitos de trouxas esses anos todos.
MADALENA – Não pode ser verdade. (Gritando/ nervosa). As noites que você não dormia em casa, era com ela que você dormia, Venâncio? Fala!
VENÂNCIO (Gritando) – É para falar a verdade? Então eu vou falar. (P/Raul / Gritando). Eu nunca suportei você. Sempre te aturei. E eu e Vera sim vivemos uma história de amor intensa e verdadeira.
Raul avança em Venâncio
RAUL (gritando) – Canalha! Eu vou te matar!
No mesmo instante, Celso e Marta entram. O irmão de Venâncio corre para apartar a briga.
MARTA (se aproxima de Madalena) – Você já deve estar sabendo.
MADALENA (Chorando) – Venâncio não podia ter feito isso comigo. Vera não podia ter feito isso comigo.
MARTA – A cidade toda já deve estar sabendo. Está estampado na primeira página jornal.
Venâncio e Raul continuam a trocar socos
MADALENA – Eu já desconfiava que ele tinha uma amante. Só não imaginava que fosse Vera. Ela não.
Celso consegue separar Venâncio e Raul.
VENÂNCIO – Você não me mata porque é covarde. As suas mãos estão sujas com o sangue de Vera.
RAUL – Matei ela sim e faria tudo de novo porque agi em defesa da minha honra.
MADALENA e MARTA – Que horror!
CELSO (P/Raul) – Você passou dos limites!
RAUL (P/Celso) – Você fala isso porque não foi traído pelo seu melhor amigo e pela sua esposa. (Mudando de assunto). Eu vou embora porque eu não aguento mais olhar para a cara de vocês.
MADALENA – Eu que não fico mais um minuto nesta casa!
Raul sai. Em seguida, Madalena sobe arruma suas malas e desce.
MADALENA (P/Venâncio) – Eu vou dar o meu amor a quem merece tê-lo.
CENA 05/ FAZENDA VALADARES/ SALA DE ESTAR/ INT./ TARDE
Afonso e Irineu estão tomando café.
IRINEU – Fiz exatamente como o senhor me pediu.
AFONSO – Perfeito! “Uma história de amor: o romance secreto entre Venâncio e Vera Fernandes”. Nem quero imaginar como está a fazenda de Venâncio agora. Raul já deve ter ido lá tirar satisfações, deve ter tido uma briga feia com Vera. Irei lá hoje à tarde. Quero ver de perto a cara da derrota de Venâncio.
IRINEU – O senhor mal saiu de coma e já está assim.
AFONSO – Tive que agir rápido, antes que ele atacasse novamente.
IRINEU – A conversa está boa, mas tenho que ir. Só vim para saber se o senhor aprovou a notícia.
Eles se cumprimentam. Irineu sai.
CENA 06/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ INT./ TARDE
A cena começa na SALA DE ESTAR
Olímpio entra e é recebido pela empregada.
OLIMPIO – Raul, já viajou?
EMPREGADA (chorando) – Aconteceu uma tragédia!
OLIMPIO (intrigado) – Foi um acidente?
EMPREGADA (chorando) – Seu Raul matou dona Vera!
OLIMPIO – Continuo não entendendo. Ontem eles estavam tão bem. Felizes!
EMPREGADA (chorando) – Venha comigo!
Eles subiram as escadas. A cena continua no BANHEIRO. A empregada mostra Vera morta na banheira. O delegado olha assustado.
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CENA 07/ MANSÃO DA FAMÍLIA FERNANDES/ BANHEIRO/ INT./ TARDE
Continuação da última cena do bloco anterior. O delegado assustado com o que vê.
EMPREGADA – Raul ficou furioso quando viu uma notícia no jornal. Vera e o Coronel Venâncio eram amantes
OLIMPIO – Crime passional! Eu vou na delegacia pedir reforço. Não mexa em nada. Os peritos têm que vim analisar a cena do crime. Foi um verdadeiro banho de sangue que teve aqui. Ela de ter recebido muitos golpes de facas para ficar neste estado.
EMPREGADA (Chorando) – Eu escutei os gritos dela, mas quando vim já era tarde demais.
OLIMPIO – Só era você que estava aqui na hora?
EMPREGADA (Chorando) – Não. Estava eu e o jardineiro.
OLIMPIO – Você poderia ir comigo até a delegacia para prestar um depoimento.
EMPREGADA – Posso sim.
Eles descem.
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CENA 08/ PALMEIRÃO DO BREJO/ EXT./ NOITE
Raul está deitado na banca da praça.
RAUL (chorando) – Vera, porque você fez isso comigo? Tínhamos tantos planos. Os nossos filhos. Mas você deixou meu coração em pedaços. Você e o devasso de Venâncio não podiam ter me traído dessa forma;
Raul sente como se Vera o estivesse o sufocando. Ele sente como se espirito dela o apertasse o pescoço. Ele se assustar com o que vê, mas logo percebe que são apenas visões.
RAUL (P/Si) – São apenas visões, Raul. (Dá duas batidas na bochecha).
Ele se levanta, em seguida, e caminha sem destino pelas ruas de Palmeirão do Brejo.
CENA 09/ CASA DE FAUSTO/ QUARTO/ INT./ NOITE
Tocar a música “A deusa da minha rua”, interpretado por Roberto Carlos
Jacinto e Madalena tem uma noite românticas. Eles se abraçam e se beijam, apaixonados.
MADALENA – Acabou! Sai da prisão que era meu casamento com Venâncio. Agora eu sou sua, somente.
JACINTO – Quanto tempo eu esperei para ouvir essa notícia.
Eles se despem e continuam a se beijar e se amar.
MADALENA – É você que eu amo!
Jacinto coloca Madalena no braço e eles fazem uma dança romântica.
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CENA 10/ FAZENDA CORREIA/ SALA DE ESTAR/ INT./ NOITE
Venâncio está saindo do escritório, quando se depara com Afonso, que caminha ainda com dificuldade, apoiado numa bengala e segurando o jornal.
AFONSO – Gostou do meu presente, Venâncio?
Focar na expressão de surpresa de Venâncio.
Congelamento preto e branco emoldurado como um retrato.
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