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VILAREJO - Capítulo 08



Capítulo 08

Cena 01 - Castelo Coimbra (Burgos, Espanha) [Interna/Tarde]

Música da cena: Coleção - André Leonno

[Miguel e Álvaro observavam Ana Catarina sorridente, parada na porta do quarto.]


ANA CATARINA: - Aposto que o Conde de Burgos está lhe dando trabalho, não é Miguel? O tanto que eu fiz por esse homem, só faltei amarrá-lo ao pé da cama, mas não adiantou e ele continuou saindo e saindo…


CONDE DE BURGOS: - Também não é para tanto, vosmecê gosta de exagerar, Ana Catarina. Doutor, não acredite fielmente no que ela diz. Eu estou me cuidando. Na medida do possível, mas estou.


MIGUEL: - É justamente sobre isso que eu quero falar com os dois. Vosmecê ainda está com algumas sequelas depois da cólera e eu estou preocupado. Os exames não bons. Álvaro, você precisa se cuidar, ou se não…


ANA CATARINA: - Ou se não o quê, doutor? [Questiona].


CONDE DE BURGOS: - Se não eu morro. [Completa a frase]. - Não é isso, meu caro amigo?


Cena 02 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]

Música da cena: Acreditar no Seu Amor - Liah Soares

[Com a transição de cenas, retornamos ao Brasil. As ruas de São José dos Vilarejos surgem iluminadas e em seguida aparece a fachada da casa dos Lobato.]


TOMÁSIA: [Serve o jantar para Graça e Pedro].


PEDRO: - Quer dizer que o famoso noivo de minha irmã está prestes a voltar? Será que dessa vez ele para de dar voltas e mais voltas, marca de vez uma vez esse casamento e a gente coloca as mãos na grana da família dele?


GRAÇA: - Não sei, de qualquer forma não paro de aconselhar a Laura. Vosmecê sabe como é sua irmã, ela acha que já está com tudo ganho, mas enquanto os dois não subirem ao altar…


LAURA: [Desce a escada e se aproxima da sala de jantar] - Aposto que o tema da conversa sou eu e o meu casamento. Acertei? [Senta-se].


GRAÇA: - Evidentemente. Falava com seu irmão, que precisamos encontrar uma forma de você laçar o Antônio de vez, ele precisa te levar ao altar. Nossa situação é boa, mas vosmecê sabe de tudo, não é?


LAURA: [Suspira] - Sim, claro que sei. Tomásia, sirva a minha sopa logo. Não fique só me olhando.


[Nesse momento, ouvem-se gemidos e um choro distante.]


TOMÁSIA: [Estranha enquanto serve a sopa] - Que barulho é esse?


GRAÇA: - Não é nada! Agora que já serviu a sopa, pode se retirar. Se precisar de vosmecê, chamaremos. Não gosto de jantar olhando para você. [Responde irritada].


TOMÁSIA: - Sim, sinhá. Com sua licença! [Retira-se].


Cena 03 - Mercearia da Paz [Interna/Manhã]

Música da cena: Quem Tome Conta de Mim - Paula Toller

[A noite se vai e logo o sol aparece iluminando os grandes pastos da cidade. Em seguida, imagens aéreas apresentam os grandes canaviais do engenho e logo após a fachada da Mercearia de Cândida e sua filha Joana.]


CÂNDIDA: - Joana, minha filha. Vosmecê sabe me dizer se o escravo da família torres já veio buscar os mantimentos? Eu prometi ao comendador que logo seriam entregues… [Fala ao guardar alguns objetos nas prateleiras da mercearia].


JOANA: [Não responde, pois está distraída e com o olhar distante, apoiada no balcão].


CÂNDIDA: - Joana, minha filha. Onde vosmecê está com a cabeça? [Fala mais alto].


JOANA: - Ai, mamãe… Nem vi quando a senhora entrou. O que a senhora disse?


CÂNDIDA: [Olha para o lado e observa os mantimentos encomendados] - Não foi nada, já tive a minha resposta. Mas, o que está te deixando tão distraída?


JOANA: - Já soube que o filho da dona engenho está de volta? Ele e a Laura Lobato vão se casar… Ah, o amor! Um dia ainda chegará a minha vez…


CÂNDIDA: - Se será a vez deles ou a sua, independentemente disso, ambos precisarão de um padre. Não esqueça que estamos sem um sacerdote desde que o finado Padre Tenório se foi, que Deus o tenha. Ouvi dizer estão enviando outro, mas sabe como é… Nunca se sabe quanto tempo isso vai demorar. Enquanto isso, cuide em arrumar um bom partido, pois não teremos dote para oferecer. [Conclui].


Cena 04 - Castelo Coimbra (Burgos, Espanha) [Interna/Manhã]

[Surge a fachada do castelo Coimbra. Após aplicar um calmante em Álvaro, Miguel e Ana Catarina resolveram descer para conversar a sós.]


ANA CATARINA: - Vosmecê toma alguma coisa? Um café, um chá, um vinho do porto? [Diz ao terminar de descer a escada acompanhada pelo médico negro].


MIGUEL: - Não, eu estou bem. Por favor! [Disse dando espaço para que Ana Catarina se acomodasse em um confortável sofá em uma enorme sala de estar].


ANA CATARINA: - Devo dizer fiquei muito preocupada com o que disse. Nunca te vi falar daquela forma sobre o estado de saúde do Álvaro. Faça o que for preciso para salvá-lo, dinheiro não é o problema. Não quero perder o meu marido.


MIGUEL: - Engraçado, que esse é exatamente o mesmo medo dele, deixá-la. Álvaro teme que após sua partida, você retorne ao Brasil e coloque a frente a estapafúrdia ideia de se vingar de seus inimigos.


ANA CATARINA: [Fica séria] - Vingança… O sentimento que não saiu do meu coração nos últimos dezoito anos.


MIGUEL: - Eu juro que não consigo entender o porquê de vosmecê ter tanto ressentimento no coração. Sempre foi tão boa com os seus, todos os escravos do castelo foram alforriados. Vosmecê paga bons salários, fornece educação aos filhos dos negros e sem mencionar o que fez por mim. Eu jamais conseguiria chegar ao título de médico, sem a sua ajuda. Porque não desiste dessa ideia, minha amiga?


ANA CATARINA: - Nunca! Eu não posso esquecer o mal que eles me fizeram. Eles destruíram a minha vida, minha família. Além disso, devo confessar que nos últimos anos já estive ensaiando a minha vingança.


MIGUEL: [Estranha o comentário de Ana Catarina] - Eu não compreendo onde vosmecê quer chegar, fale francamente.


ANA CATARINA: [Levanta-se e sorri friamente] - Há alguns anos Carlota, a minha madrasta vem fazendo “maus investimentos”, tudo com minha ajuda, é claro. Tudo isso, para na hora certa eu consiga dar o bote certeiro. Eu vou tirar dela as três coisas que ela mais ama: dinheiro, poder e a casa. [Completa].


Cena 05 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Manhã]

Música da cena: Lua Cheia - Dienis (Participação: Letícia Spiller)

[Cansada de arrumar as coisas na tenda onde morava sozinha, Madalena resolveu sair para procurar a sua neta.]


MADALENA: - Açucena! [Grita]. - Onde se meteu essa xaborrí? Ela ainda vai me matar de preocupação.

Tradução: Xaborrí = Menina.


[Nesse momento, ouvem-se palmas e gritos dos ciganos, reunidos em um círculo.]


MADALENA: [Anda pelo acampamento e se aproxima da multidão].


[Quando Madalena consegue finalmente furar o bloqueio e chegar ao local, logo ela encontra a neta que tanto procurava.]


AÇUCENA: [Dança fazendo charme com um leque, enquanto é ovacionada pelos outros ciganos].


MADALENA: - Aí está você, xaborrí! Dance, dance que logo vosmecê será a rainha desse povo. Meu maior orgulho! [Conclui].


Cena 06 - Casarão D’ávilla [Interna/Manhã]

[Com a transição de cenas, surge o engenho de cana-de-açúcar. Em seguida, adentramos ao interior do casarão.]


CARLOTA: - Meu filho! [Grita do alto da escada ao avistar Antônio parado na porta].


ANTÔNIO: - O próprio, só que muito mais garboso. Não vem me dar um abraço? [Responde abrindo os braços].


CARLOTA: [Desce as escadas rapidamente e abraça o filho, a quem não via há algum tempo].




Cena 07 - Casa dos Lobato [Interna/Tarde]

Música da cena: Apesar de Você - Chico Buarque

[As ruas da cidade surgem movimentadas como plano de fundo. Algumas pessoas transitam pela feira livre e em seguida aparece a fachada da casa dos Lobato.]


TOMÁSIA: [Sozinha em casa, Tomásia tirava o pós dos móveis da sala, enquanto cantarolava].


[Novamente, ouve-se um choramingar não muito distante.]


TOMÁSIA: [Para de cantar imediatamente e olha para o alto da escada] - Que esquisito, de novo essa impressão de ouvir alguém chorar. O que poderá ser isso? Será que eu estou ficando com os parafusos frouxos? [Questiona-se a si própria].


Cena 08 - Castelo Coimbra (Burgos, Espanha) [Interna/Noite]

[Após despedir-se de Miguel, Ana Catarina resolveu ir ver como Álvaro estava. Consigo, carregava uma bandeja com caldo verde e um pouco de chá quente, já que fazia frio naquela época na Espanha.]


ANA CATARINA: - O médico já foi, mas me deixou incumbida do paciente. Trouxe seu jantar! [Diz ao entrar no quarto].


CONDE DE BURGOS: [Sorri com o rosto empalidecido] - Assim, eu faço questão de não melhorar, só para vosmecê continuar me mimando assim.


ANA CATARINA: - Não fale assim, Álvaro. Quem te ouve falar assim, até pensa que não sou boa esposa e que não cuido de vosmecê. [Pousa a bandeja em cima de uma mesa e em seguida se aproxima com o prato de caldo verde].


CONDE DE BURGOS: - Me desculpe. Jamais poderei expressar o quanto és uma companheira valiosa. Todos esses anos ao meu lado, sem me amar de verdade… Apenas por gratidão. Vosmecê é a melhor mulher do mundo, Ana Catarina.


ANA CATARINA: [Senta-se na cama, ao lado de Álvaro] - Eu que nunca terei como pagar todo o bem que me fez e por…


CONDE DE BURGOS: [Tosse e cobre a boca com um lenço branco. Em seguida, percebemos que o lenço está manchado de sangue].


ANA CATARINA: - Álvaro… Vosmecê está sangrando! [Diz aterrorizada ao constatar sangue no lenço].


Cena 09 - Casarão D’ávilla [Interna/Manhã]

Música da cena: Esquadros - Gal Costa

[O dia amanhece e logo ao raiar do sol, os escravos começam a trabalhar no engenho de cana-de-açúcar. Em seguida, uma charrete adentra a propriedade da família D’ávilla e para em frente a escadaria de acesso a casa. Um escravo estende a mão para que a passageira desça com segurança, tratava-se de Laura.]


LAURA: - Bom dia a todos! [Disse ao entrar].


CARLOTA: - Laura! A que devemos a honra da sua visita, tão cedo? Toma café conosco? [Diz ao avistar a visita].


ANTÔNIO: [Levanta-se ao vê-la] - Laura, eu ia visitá-la hoje. Cheguei muito cansado ontem e preferi me recolher em casa.


LAURA: [Sorri ao se aproximar do noivo] - Não se preocupe, querido. Se a montanha não vai até Maomé, Maomé vai até a montanha. Quero ser a moderna esposa que um jovem advogado como vosmecê precisa! [Conclui beijando Antônio na boca, deixando Carlota surpresa].


Cena 10 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Manhã]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Imagens aéreas percorrem a cidade de São José dos Vilarejos e apresenta suas mais belas paisagens, em seguida surge o acampamento cigano. Sozinho em sua tenda, Vicente organizava alguns pertences, quando Vladimir se aproximou.]


VLADIMIR: - Perdido em seus pensamentos, bato? [Questiona ao se sentar perto do pai].

Tradução: Bato = Pai.



VICENTE: - Meu filho, nem te vi chegar. Estava organizando algumas coisas e de repente comecei a lembrar da sua dái. Ela faz muita falta! [Responde melancólico].

Tradução: Dái = Mãe.



VLADIMIR: [Sorri] - Eu não consigo mais lembrar do rosto dela. Mas se o criador quis levá-la tão cedo, só nos resta aceitar sua vontade.


VICENTE: - Certamente, meu filho. A cada dia que passa, vosmecê fica mais sábio e prova que será um bom rei para os ciganos.


VLADIMIR: - Mas isso ainda vai demorar, bato. O senhor ainda há de viver muito.


VICENTE: - Que Délo, permita meu filho. [Completa].

Tradução: Délo = Deus.


VLADIMIR: - Escuta, bato… O senhor nunca voltou a se apaixonar? Digo, o senhor nunca amou outra mulher além da minha mãe?


VICENTE: [Fica pensativo por um breve momento e em seguida responde] - Meu filho, é melhor deixarmos o passado no passado. Não é bom ficar revirando essas histórias. Vamos falar de coisas felizes, dos preparativos do seu casamento com Açucena! [Diz animado].



Cena 11 -  Casa dos Lobato [Interna/Manhã]

[Fingindo arrumar os quartos da casa, Tomásia aproveitou para seguir o som do choro no segundo pavimento da casa e percebeu que o som ficava cada vez mais evidente ao se aproximar do sótão.]


TOMÁSIA: [Toca a maçaneta e tenta abrir a porta, porém é inútil, já que a mesma está trancada].


[Ao tentar abrir a porta, automaticamente o choro é contido.]


TOMÁSIA: - Tem alguém aí? [Tenta forçar a porta]. - Responda, eu ouvi você chorar. Quem está aí? [Questiona].


Cena 12 -  Castelo Coimbra (Burgos, Espanha) [Interna/Manhã]

Música da cena: Mil Noites de Um Amor Sem Fim - Silva

[De hobby, Ana Catarina deixou seu quarto e caminhou em um extenso corredor. Em seguida abriu a porta do quarto de Álvaro e adentrou].


ANA CATARINA: - Vamos acordar, que o sol já raiou e hoje você vai sair um pouco. Precisa de luz, respirar ar fresco… [Abre as cortinas do quarto, para que a luz irradie o local. Em seguida, olha para a cama e percebe que Álvaro não está lá].


[Nesse momento, Ana Catarina percorre o quarto com o olhar e logo encontra Álvaro caído ao lado da cama.]


ANA CATARINA: - Álvaro! [Grita e em seguida corre em direção ao marido]. - Álvaro, fala comigo. Reage… Reage! [Diz tentando reanimá-lo].


[A imagem congela focando em Ana Catarina ajoelhada ao lado de Álvaro, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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