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VILAREJO - Capítulo 17



Capítulo 17

Cena 01 - Igreja São José dos Vilarejos [Interna/Tarde]

[Percebendo que se tornar inimiga declaradamente de Antônio não a levaria aos seus objetivos de vingança, Ana Catarina logo resolveu recuar.]


ANA CATARINA: - Senhor Guerra, foi bom encontrá-lo!


ANTÔNIO: [Estranha] - Bom me ver? Não estou entendendo, condessa!


ANA CATARINA: - Sim, acontece que da última vez que nos vimos eu fui muito rude com vosmecê e gostaria de me desculpar. Eu percebi depois que vosmecê só estava querendo ser gentil, por isso reforço meu pedido de desculpas.


ANTÔNIO: [Sente-se encabulado] - Não precisa se desculpar, eu fui realmente inoportuno ao interromper o seu momento.


ANA CATARINA: - Bom, agora que o mal entendido passou. Podemos ser amigos? [Diz ao estender a mão para Antônio].


ANTÔNIO: [Sorri e aperta a mão de Ana Catarina] - Amigos!


Cena 02 - Campo [Externa/Tarde]

Música da cena: Corre - Gabi Luthai

[Cada vez mais envolvida pelo vício de sair às escondidas, Maria do Céu voltou a se disfarçar de homem e saiu para conhecer um pouco mais da cidade na companhia de Tomásia. Dessa vez, as duas pretendiam ir até as margens do rio e da cachoeira.]


TOMÁSIA: - Só mais um pouquinho, sinhá. Logo estaremos lá, eu prometo.


MARIA DO CÉU: [Olha encantada para os grandes campos da cidade] - É tudo tão lindo, parece até sonho!


[Nesse momento, percebemos que atrás de uma árvore, Miguel as observava após tê-las seguido.]


MIGUEL: [Corre e se aproxima das duas] - Peguei vosmecês no flagra! [Grita].


TOMÁSIA: [Assusta-se].


MARIA DO CÉU: - Vamos embora, Tomásia. Vamos, vamos! [Fala nervosa].


MIGUEL: - Calma, eu não quero fazer mal a ninguém. Desculpe se eu as assustei, fiquem tranquilas, seu segredo está bem guardado.


MARIA DO CÉU: - Segredo? De que segredo vosmecê está falando? [Questiona nervosa].


MIGUEL: [Sorri e em seguida tira o chapéu que cobria o cabelo de Maria do Céu] - Desse!


MARIA DO CÉU: [Imediatamente leva as duas mãos à cabeça para cobrir o cabelo, tentando fugir logo em seguida].


ANTÔNIO: [Vai atrás dela] - Espere, eu não quero fazer mal. Só quero acompanhá-la, ser seu amigo! [Diz ao segurar o braço de Maria do Céu].


MARIA DO CÉU: [Olha Miguel nos olhos e permanece estática].


TOMÁSIA: [Observa os dois em silêncio e percebe que ele olha para ela de um jeito diferente].


Cena 03 - Acampamento dos Ciganos [Interna/Tarde]

[Vicente havia sentido um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir aquela voz, seus olhos haviam se enchido de lágrima, seu coração se recusava a acreditar que estava reconhecendo a voz de alguém a quem não via há muitos anos.]


VICENTE: [Vira-se e por fim, reconhece a dona da voz que havia pronunciado seu nome] - Leonora? [Repete atordoado].


LEONORA: - Sim, sou eu. Quanto tempo, Vicente! Eu sempre sonhei com esse dia, o dia em que te reencontraria. Vosmecê não mudou nada!


VICENTE: - O quê? Como é possível? Vosmecê sumiu depois que havíamos combinado de fugir, depois daquele mal entendido. Achei que não quisesse mais me ver, eu sei que errei muito…


LEONORA: [Interrompe Vicente] - Eu também errei muito, eu fui fraca. Jamais deveria ter me deixado me levar pelos pensamentos preconceituosos dos meus pais, muito menos da víbora da minha irmã. Ela só queria me tirar do caminho para ficar com vosmecê, ela nunca aceitou que vosmecê se apaixonou verdadeiramente por mim e não quis mais saber dela.


VICENTE: [Emociona-se] - Vosmecê está ainda mais linda…


LEONORA: [Aproxima-se de Vicente] - Nós temos tanta coisa, mas tanta coisa para conversarmos. Eu quero te falar tantas coisas, mas não sei nem como começar.


VICENTE: - Talvez eu consiga te ajudar, minha gají. [Abraça Leonora e em seguida a beija].

Tradução: Gají = Mulher não cigana.


LEONORA: [Afasta-se após o beijo] - Meu cigano, como eu senti a sua falta. Vosmecê não sabe quanto, eu me guardei esse tempo inteiro para vosmecê, eu nunca, jamais consegui me entregar novamente a outro homem, pensando no dia em que iria te reencontrar…


[Nesse momento, ouvem-se passos e alguém entra dentro da tenda.]


VLADIMIR : - Olha bato, consegui pescar três… [Diz ao entrar carregando consigo três peixes, mas logo ele estranha a presença de uma estranha dentro da tenda onde morava com o pai.]

Tradução: Bato = Pai.


LEONORA: - Bom, eu estou muito feliz em revê-lo, agora tenho que ir por conta da hora, não posso me demorar. Eu voltarei em breve, temos muito a conversar. Com licença e muito boas tardes. [Vai embora apressada].


VLADIMIR: [Estranha o comportamento dos dois] - Quem é essa mulher, bato? O que ela fazia dentro da nossa tenda?


VICENTE: - Ninguém, ela não é ninguém e não estava fazendo nada. [Diz ao sair da tenda, completamente desconcertado].


Cena 04 - Igreja São José dos Vilarejos [Interna/Tarde]

[Com a transição de cenas, surge a fachada da igreja do vilarejo. Em seu interior, Padre Júlio conversava com Antônio sobre o casamento com Laura.]


PADRE JÚLIO: - Bom, eu pedi para que vosmecê viesse, pois também preciso conhecer o noivo. Tenho que ter certeza da vontade dos dois em adquirir ao matrimônio na casa de Deus. Vosmecê deve amar muito aquela jovem, não é?


ANTÔNIO: - Sim, padre. A Laura me disse que queria me ver, por isso estou acá. [Responde olhando para Ana Catarina, que reza, ajoelhada em um dos bancos da igreja].


PADRE JÚLIO: - Vosmecê está certo da decisão de se casar? Vejo que sua noiva está muito empolgada com a ideia, mas quero saber de vosmecê. 


ANTÔNIO: - O casamento é um acordo entre as duas famílias padres, casarei conforme prometido. [Responde olhando novamente para Ana Catarina].


PADRE JÚLIO: [Olha na direção do olhar de Antônio e avista Ana Catarina ajoelhada, com um véu cobrindo sua cabeça] - Vejo que vosmecê não está tão empolgado com o casamento como sua noiva. Eu atrapalho? [Pergunta seriamente].


ANTÔNIO: [Volta a si] - Desculpa, padre. Sobre o que falava?


PADRE JÚLIO: [Observa mais uma vez Ana Catarina, que dessa vez termina de rezar, levanta-se do banco e caminha em direção a saída] - Acho que devemos conversa num local mais reservado, não?


ANTÔNIO: - Claro, padre. Como desejar!


PADRE JÚLIO: - Vamos até a sacristia, sim? Ângelo, venha cá! [Falou com o seminarista que estava limpando algumas imagens no altar].


SEMINARISTA ÂNGELO: - Sim, padre! [Disse ao se aproximar].


PADRE JÚLIO: - Eu vou conversar com esse senhor na sacristia, por favor não deixe que ninguém nos interrompa, está bem?


SEMINARISTA ÂNGELO: - Sim, padre. Pode deixar, que cuidarei de tudo por acá.


PADRE JÚLIO: - Ótimo. Vamos, é por acá! [Disse orientando Antônio, em seguida os dois adentraram na sacristia].


Cena 05 - Banco D’ávilla [Interna/Tarde]

Música da cena: Flor de Lis - Melim

[Carlota foi até a porta do seu escritório ao ouvir algumas batidas.]


CARLOTA: - Vosmecê por acá? Como posso ajudá-la?


ANA CATARINA: - Estive pensando em sua proposta e estou tentada a aceitar transferir uma quantia considerável ao banco, pois preciso para administrar algumas coisas de rotina, deve me entender.


CARLOTA: - Naturalmente, entre por favor. Vamos conversar mais a vontade a sós! [Diz ao fechar a porta, depois que Ana Catarina entra].


ANA CATARINA: [Aproxima-se da mesa de Carlota e observa ao redor] - Ainda posso ver o meu pai nessa sala! [Fala consigo mesma através do pensamento].


CARLOTA: - Então condessa, já tem dimensão do quanto pretende investir acá? Saiba que os juros estão rendendo muito bem.


ANA CATARINA: - De certo, por isso resolvi procurá-la, sou muito leiga nesse tema e preciso conversar com alguém que entenda bem do assunto, quem melhor que vosmecê. Pensei em marcar um jantar, para conversarmos fora desse ambiente tão sério, mas ainda tenho muita coisa para arrumar em minha fazenda antes de organizar eventos.


CARLOTA: - Ora, não seja por isso. Se o problema for esse, podemos nos reunir em minha casa.


ANA CATARINA: [Finge ficar encabulada] - Não, eu não quero e nem vou incomodá-la além do seu horário de trabalho.


CARLOTA: - Não senhora, eu não aceito um não como resposta. Além disso, será uma honra ter uma condessa em minha casa. E então, o que me diz?


ANA CATARINA: [Sorri] - Tudo bem, já que vosmecê insiste, não pretendo fazer essa desfeita. Vou para casa então, preciso me arrumar e escolher um vestido para a ocasião.


CARLOTA: - Certamente será algo de muito bom gosto, bem se vê que suas roupas são confeccionadas pelas melhores costureiras da Europa.


ANA CATARINA: - Bom, eu vou indo. Nos vemos à noite, então? [Estende a mão para Carlota].


CARLOTA: [Aperta a mão de Ana Catarina] - Nós vemos a noite e não se fala mais nisso! [Conclui].


Cena 06 - Fazenda Santa Clara [Interna/Noite]

[A tarde se foi e com o pôr-do-sol acontecendo, logo a noite veio à tona. Uma carruagem estava estacionada na entrada principal da fazenda onde Ana Catarina morava, quando ela adentrou apressada.]


MIGUEL: - Céus, onde vai com tanta pressa? Acaso vai tirar alguém da forca? [Disse após pausar a leitura do jornal ao notar Ana Catarina adentrar apressada].


ANA CATARINA: - Eu preciso que vosmecê suba agora mesmo e se arrume com um belo traje, vosmecê vai sair e me acompanhar em um jantar.


MIGUEL: [Estranha] - Jantar? Mas que jantar? Onde?


ANA CATARINA: - No covil da víbora. Carlota Guerra mordeu a isca, com isso eu volto a adentrar na casa que era de meu pai. Pouco a pouco eu vou encurralando a megera. [Completa].






Cena 07 - Casa dos Lobato [Interna/Noite]

Música da cena: Corre - Gabi Luthai

[Sozinha em seu quarto e sentada diante uma tela, Maria do Céu permanecia distraída, com um olhar distante.]


MARIA DO CÉU: [Sorri e em seguida volta a pintar].


[Nesse momento, somos apresentados à tela onde a jovem está pintando e podemos notar que se trata de um retrato de Miguel.]


Cena 08 - Gazeta Vilarejo [Interna/Noite]

Música da cena: Apesar de Você - Chico Buarque

[A redação do jornal da cidade estava movimentada com o desenvolvimento de mais uma edição. Enquanto isso, Ricardo estava em sua mesa, enquanto Antônio checava documentos em outra mesa, quanto Laura adentrou no jornal.]


ANTÔNIO: [Levanta-se surpreso] - Laura, o que vosmecê está fazendo aqui?


LAURA: - Nossa, Antônio. Falando assim, até parece que não gostou de me ver. Eu vim visitar o meu noivo! [Diz ao beijá-lo].


RICARDO: [Observa a cena de longe, visivelmente entristecido].


JORNALISTA: - Força, meu amigo. Força! Vosmecê sabia que isso poderia acontecer quando resolveu dar o emprego ao Antônio aqui no jornal.


RICARDO: - Eu não quero falar sobre isso, vamos voltar ao trabalhos que nossa equipe ganha mais, sim? Ao trabalho! [Ordena].


Cena 09 - Casarão D’ávilla [Externa/Manhã]

[Após dar ordens para alguns escravos, Zeferino aproveitou para ir até a senzala tomar um pouco d’água.]


ZEFERINO: [Coloca um pouco d‘água em copo de barro e após tomar um pouco, jogou o restante do líquido no próprio rosto para se refrescar. Ao abaixar o rosto e olhar para frente, percebeu a presença de Carlota] - Vassuncê!


Música da cena: Além do Paraíso - Antônio Villeroy


CARLOTA: - Eu adoro esse seu estilo rústico, brutamomontes! 


ZEFERINO: [Se aproxima de Carlota e a agarra] - E io adoro esse seu cheiro…


CARLOTA: - Eu estava precisando mesmo de vosmecê, para comemorar… Tudo está dando muito certo!


ZEFERINO: [Afasta-se] - Do que vassuncê está falando? 


CARLOTA: - Um cafeicultor está fazendo negócios com o banco e a condessa quer deixar dinheiro lá. Essa era a guinada que estava precisando para melhorar os negócios. Agora sim vamos voltar aos eixos e a ter a vida que tanto merecemos. Por isso, quero comemorar com vosmecê! [Beija Zeferino].


ZEFERINO: [Coloca Carlota contra a parede e inclina sua perna, levantando o vestido dela].


Cena 10 - Cemitério São José [Interna/Tarde]

Música da cena: Mil Noites de Um Amor Sem Fim - Silva

[Com a transição de cenas, surge a fachada do único cemitério da cidade. Podemos notar a presença de Ana Catarina parada em frente a um jazigo.]


ANA CATARINA: [Coloca flores em cima do túmulo e acende uma vela] - Como vocês me fazem falta, minha família. A dor que me consome só tem lugar para alento quando eu penso que vou fazer justiça. Eu reafirmo mais uma vez o meu juramento, não hei de esmorecer enquanto não fizer todos aqueles que nos fizeram mal pagar. [Completa emocionada].


Cena 11 - Casa dos Lobato [Interna/Tarde]

Música da cena: Vilarejo - Marisa Monte

[Algumas imagens da cidade são apresentadas, incluindo a fachada da casa da família Lobato, até que começamos a ouvir a conversa entre mãe e filha].


GRAÇA: - Um jantar? [Questiona surpresa]. - Mas ela nem comentou comigo!


LAURA: - Exatamente, eu também não gostei muito dessa historinha. Não sei o motivo, mamãe, mas além de não gostar nadinha dessa condessa, também não gosto da ideia dela estar se aproximando do Antônio e nem da família dele.


GRAÇA: - Mas minha filha, não se preocupe. Seu casamento já está praticamente certo, falta só a benção do padre. Além disso, eu sei muito bem o que a Carlota quer com essa condessa, o que ela quer de todo mundo, minha filha… Dinheiro, esse é o combustível dela.


LAURA: - Eu espero que seja apenas isso mesmo, eu espero. [Conclui].


Cena 12 - Casarão D’ávilla [Interna/Noite]

[O dia se vai e a noite logo começa a chegar. A lua aparece no sol em sua mais bela versão. Em seguida, somos levados à fachada do engenho da família D’ávilla. Graça, Laura, Antônio, Pedro, Leonora e Carlota já estavam à espera da condessa, enquanto conversavam.]


PEDRO: [Checa a hora no relógio de bolso] - Nossa, como demora essa condessa!


ANTÔNIO: - Naturalmente, deve estar cuidando da própria imagem. Afinal ela é uma condessa, deve manter a classe sempre.


LEONORA: - Exatamente, Antônio. A condessa deve manter o padrão de nobreza sempre!


LAURA - Nossa, quantos defensores a condessa já arrumou acá.


GRAÇA: - Minha filha, agora não! [Sussurra].


CARLOTA: - Ela não deve demorar, além disso não está tão atrasada assim, como vosmecês falam.


[Nesse momento, Ana Catarina entra na fazenda acompanhada por Miguel.]


LEONORA: - Vejam, eles chegaram!


CARLOTA: - Condessa de Burgos, é uma honra tê-la aqui em minha casa. Faça o favor de entrar, sinta-se como se estivesse em sua fazenda.


ANA CATARINA: - É muita gentileza sua, nos receber. Boa noite a todos!


ANTÔNIO: - Como vai condessa? [Beija a mão de Ana Catarina].


LAURA: [Observa os dois].


ANA CATARINA: - Muito bem, Senhor Guerra. Encantada com a propriedade de vossa família, é muito bonita.


GRAÇA: - Lindíssimo vestido, Condessa. Não canso de elogiar o seu guarda-roupa!


ANA CATARINA: - Muito gentil de sua parte, Senhora Lobato.


LEONORA: - Vamos nos acomodar, o jantar será servido dentro de instantes.


CARLOTA: - Vou pedir para servirem um cálice de vinho do porto enquanto o jantar  não sai. O vinho! [Grita].


[Nesse momento, Idalina e Rosaura surgem carregando bandejas com pequenos cálices de vinho do porto.]


CARLOTA: - Podem servir os convidados! [Ordena].


ROSAURA: [Observa os convidados e ao olhar para Ana Catarina, fica estarrecida].


LEONORA: - Rosaura, o que houve minha querida? Pode servir, não ouviu a Carlota?


ANTÔNIO: - Vosmecê está bem, Rosaura? [Estranha a expressão apática da escrava].


ANA CATARINA: [Olha emocionada para Rosaura, tentando disfarçar].


ROSAURA: [Derruba a bandeja e cai desmaiada em seguida].


[A imagem congela focando em Rosaura desmaiada no chão, surge um efeito de uma pintura envelhecida e o capítulo se encerra].


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