Capítulo 04
- No capítulo anterior:
MÉDICO: Eu já ia chegar nesse ponto. Ele está apresentando um quadro de amnésia.
BEATRIZ: Amnésia? Mas como? Ele me reconheceu, disse meu nome...
MÉDICO: Nosso cérebro é capaz de coisas inexplicáveis, pode ter sido algo involuntário, não saberemos por alto, agora só nos resta aguardar. O que me chamou bastante foi uma cicatriz que ele tem...
LUIZA: Cicatriz?
BEATRIZ: (Interrompe os dois) Eu não quero saber de cicatriz, posso vê-lo?
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ALBERTO: (Sai debaixo d'água) Vamos desfrutar, não se esqueça de me incluir isso, eu te ajudei a se livrar do Cadu, não esqueça.
CAROLINA: Que ajudou que nada, eu que arquitetei tudo, você jamais teria inteligência o suficiente para planejar tão bem como dar um fim no inútil do seu irmão. Se dependesse de você, até hoje ele estaria aqui e não estaríamos juntos, que ele esteja ardendo no fogo do inferno!
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BEATRIZ: Alta? O senhor disse que vai dar alta?
MÉDICO: Exatamente. Nosso hospital é pequeno, temos poucos leitos e o caso dele não requer mais nenhum tipo de atenção diferenciada, já que ele não corre mais risco.
BEATRIZ: Como não? Ele não sabe quem é, onde mora, ele não lembra de nada. Para onde esse homem irá?
MÉDICO: Sinceramente? Recomendo que deixe a polícia local cuidar do caso dele e tentar encontrar a família dele. Agora, se me permite eu preciso avaliar outros pacientes. Com licença! (Se distancia de Beatriz e entra em um dos quartos).
BEATRIZ: Perfeito, enquanto isso ele vai dormir onde. Na praça? No coreto desse fim de mundo? (Fala consigo mesma).
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LUIZA: O que? Mas isso é uma loucura, nós não conhecemos a origem desse homem, como vamos abrigá-lo? E se ele for um bandido? Beatriz, reflita... Beatriz? (Percebe que a sobrinha já havia terminado a ligação). Mas que menina teimosa, isso não vai acabar bem, eu estou sentindo.
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BEATRIZ: Pronto?
HOMEM: Tem certeza do que está fazendo? Eu não quero atrapalhar a sua vida, nem causar nenhum tipo de problema.
Música da Cena: Pecado É Lhe Deixar De Molho - Silva
BEATRIZ: Problema nenhum, a casa da minha tia é bastante espaçosa e você será meu convidado. Aperte o cinto, vamos para Correntes agora mesmo. (Conclui com as duas mãos no volante).
- Fique agora com o capítulo de hoje!
Cena 01 – Estrada [Externa/Manhã]
(Beatriz dirigia em velocidade reduzida, enquanto tentava escolher uma estação de rádio, até encontrar uma que lhe agradasse. O locutor logo anunciou que a próxima música seria um dos sucessos de Roberto Carlos).
Música da cena: Como É Grande O Meu Amor Por Você – Roberto Carlos
HOMEM: Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer... (Cantarola a música).
BEATRIZ: Olha só, você conhece essa letra? Gosta de Roberto Carlos? Era um dos cantores que o meu marido mais gostava, inclusive ele adorava essa música.
HOMEM: Eu não sei, acho que sim...
BEATRIZ: Tive uma ideia então.
HOMEM: Ideia? Que ideia?
BEATRIZ: Eu não posso passar a vida toda te tratando como se você não tivesse nome. Gosta de Roberto? Ou melhor... Prefiro Beto, vou te chamar assim a partir de agora, o que acha?
HOMEM: Beto? Beto... É, eu gosto!
BEATRIZ: Está decidido, a partir de hoje você se chamará Beto até que recupere a sua memória.
Cena 02 – Cobertura Montenegro [Interna/Manhã]
(Rangel, o mordomo da cobertura servia o café da manhã para Carolina e Alberto).
CAROLINA: Já pode sair Rangel, o que está esperando aí parado? Que eu exploda de tanto comer? Retire-se, se precisarmos, chamaremos.
RANGEL: Sim senhora, com licença. (Rangel se retira da sala de jantar).
ALBERTO: Como sempre, um amor com os empregados...
CAROLINA: Eu só coloco as pessoas em seu devido lugar. Agora estou curiosa, você não me contou como deu um fim no seu querido irmão adotivo. Em breve iniciaremos a segunda parte do plano.
ALBERTO: Você enche a boca pra dizer que eu sou adotado, não é?
CAROLINA: E não é a verdade? Você não passa de um maldito adotado. Os pais do Cadu devem ter encontrado numa lata de lixo.
ALBERTO: (Aponta uma faca de serra para Carolina) Muito cuidado com o que fala comigo, se eu sou um adotado, você é uma oportunista, uma vagabundinha de esquina que só usou o meu querido irmão como degrau para subir na vida. As mulheres como você são as piores!
CAROLINA: Esqueceu de acrescentar “inteligente”. Porque se eu não tivesse bolado todo esse plano, jamais estaríamos tendo essa boa vida. Agora me diz, como matou o Cadu?
ALBERTO: Como matei? (Começa a se lembrar do dia em que envolveu seu irmão numa emboscada).
Cena 03 – Mata [Externa/Madrugada]
(Era madrugada e estava escuro na mata enquanto Cadu fugia de seu algoz).
CADU: (Corre ofegante em meio as árvores, enquanto é perseguido por Alberto e seus capangas).
ALBERTO: Não adianta correr maninho, eu vou te alcançar e quando isso acontecer, será o seu fim. (Grita).
CADU: (Se esconde atrás de uma árvore).
ALBERTO: Percorram toda essa área, ele não pode ter evaporado. Encontrem esse infeliz, eu quero a cabeça dele numa bandeja de prata. (Instrui seus comparsas).
CADU: (Pisa num galho seco que está caído no chão e faz barulho).
ALBERTO: Aí está você! (Aponta a arma em direção a Cadu).
CADU: Não atira, não me mate. Eu sou seu irmão! Como pode me odiar tanto assim? Eu sou o seu irmão...
ALBERTO: Irmão? Eu sempre recebi as migalhas que os nossos pais me deram, me criaram como um filho bastardo enquanto você teve tudo, o dinheiro, o poder, a responsabilidade pelo shopping...
CADU: Mas do que você está falando? Nossos pais sempre nos deram tudo, inclusive amor de forma igual, sem distinção... E eu? Eu te amo, te ofereci tantas oportunidades, mas você nunca, nunca quis estudar, sempre quis uma boa vida, de forma fácil... Se envolveu com quem não devia, com jogos, bebida... E ainda por cima você foi capaz de me trair com a minha mulher, dentro da minha casa e da maneira mais ordinária.
ALBERTO: É, como sempre você o perfeito e eu o maldito adotado. Mas agora chegou a minha hora, eu vou ficar com tudo o que é seu... Tudo o que deveria ser meu por direito, eu sou o filho mais velho. Sua esposa queria te ver tão morto quanto eu, desgraçado!
CADU: (Com as mãos para o alto, Cadu anda para trás, conforme Alberto se aproxima).
ALBERTO: Comece a implorar, eu quero te ver suplicando pela vida... Eu quero ter esse gostinho antes de te matar. Eu vou te matar! (Começa a sacudir a arma enquanto grita).
CADU: (Se aproveita de um momento de distração e tenta tirar a arma de Alberto, iniciando uma briga com o irmão) Solta essa arma, canalha! (Grita).
ALBERTO: Eu não vou soltar nada, eu vou matar você...
CADU: Você não vai matar ninguém, eu vou te mandar pra cadeia e tem mais... Você não vai ficar com nenhum centavo, eu mesmo vou me encarregar perante a justiça de que você não ponha essas suas mãos sujas em cima do dinheiro dos nossos pais. Esse dinheiro significa que você venceu e você não vencerá nunca, nunca!
ALBERTO: Engana-se, meu querido irmão... Você já está morto! (Alberto empurra Cadu de um precipício).
Cena 04 – Casa de Luiza [Externa/Manhã]
(Beatriz estaciona o carro na porta da casa da tia. Em seguida, ela e Beto descem do carro).
Música da cena: Anjo – Roupa Nova
BEATRIZ: Chegamos, lar doce lar! Essa a partir de agora será a sua nova casa, Beto!
BETO: (Observa a fachada da casa por um breve momento).
Cena 05 – Casa de Luiza [Interna/Manhã]
(Beatriz encoraja Beto a entrar na casa da tia assim que abre o portão e logo os dois adentram no local).
BEATRIZ: Tia, já chegamos!
BETO: Eu ainda acho que deveria ir embora, eu não quero incomodar ninguém, muito menos a sua tia.
BEATRIZ: Ora! Chega de bobagens... Minha tia tem aquela cara fechada, mas no fundo ela é um amor. Experiência própria!
(Luiza entra na sala e se depara com a sobrinha acompanhada de Beto).
LUIZA: Ah, vocês chegaram... Finalmente! Estão com fome? Eu já estou preparando o almoço na verdade, mas se quiserem coloco o café na mesa...
BEATRIZ: Não é necessário, tia. Acredito que o Beto queira descansar, não é?
LUIZA: Beto? Não me diga que...
BEATRIZ: (Interrompe a tia) Não, ele não recuperou a memória... Esse é o nome que iremos usar enquanto ele está com esse problema de memória. Roberto é o seu novo nome, Beto para os íntimos. (Sorri).
LUIZA: Bem, eu já preparei o quarto de hóspedes para ele. Você pode mostrar onde fica?
BEATRIZ: Claro, venha comigo... (Beatriz conduz Beto até o quarto que Luiza preparou).
(Beatriz e Beto entram no quarto que ele irá ocupar).
BETO: Não achou sua tia estranha? Nem parece que estava implicando comigo outro dia...
BEATRIZ: Eu disse, não disse? Conheço essa mulher minha vida inteira. Aproveite o quarto, você será muito bem acolhido aqui.
BETO: Já me sinto assim, para falar a verdade, eu tenho a sensação de que já estivesse aqui antes.
Cena 06 – Cobertura Montenegro [Interna/Manhã]
CAROLINA: E depois? Você sumiu com o corpo dele não foi? Não esqueça que o corpo dele não pode aparecer, ninguém pode desconfiar da gente. Eu preparei tudo muito bem!
ALBERTO: Claro, eu sumi com o corpo dele... (Alberto volta a se lembrar do que aconteceu naquele dia).
Flashback
DINHO: Veja, ele não morreu... o desgraçado está vivo, ele levantou!
ALBERTO: Não pode ser, esse infeliz não pode ter sobrevivido. (Alberto se aproxima da beirada do precipício e percebe que seu irmão não está morto e começara a se movimentar com muita dificuldade em virtude da queda).
DINHO: Vamos atrás dele...
(Alberto e Dinho correm atrás de Cadu, mas ele consegue chegar até uma estrada e é atropelado. Os dois observam tudo de longe).
Fim do Flashback
CAROLINA: Perfeito, agora precisamos informar as autoridades que o meu querido marido parou de fazer contato após fazer essa viagem espiritual, seu ano sabático e que eu estou preocupadíssima sem notícias... Que peninha que ele não irá aparecer...
ALBERTO: Não vai mesmo!
CAROLINA: Bom, agora eu vou postar algumas fotos nas minhas redes sociais... Os meus fãs merecem ter um pouco da minha beleza!
Cena 07 – Haras Ferraz [Interna/Tarde]
(Tobias entrara no estábulo para conferir o estado de seus cavalos, porém logo sentiu falta de um deles).
TOBIAS: Escuta Severino, onde está o relâmpago? Não está no alojamento onde costuma ficar!
SEVERINO: Está bem ali, senhor... (Aponta para o campo).
Música da Cena: Toada – Boca Livre
(Clarissa anda a cavalo com maestria, demonstrando que consegue domar o cavalo).
TOBIAS: De novo essa mulher? Mas o que ela está pensando? Que aqui é um parque de diversões?
SEVERINO: Eu... senhor...
TOBIAS: Quando a senhorita cansar de brincar, diga para passar em meu escritório imediatamente. Imediatamente! (Tobias sai do local furioso).
Cena 08 – Igreja Nossa Senhora Da Conceição [Interna/Tarde]
(Padre Fernando e Eulália conversam enquanto andam pela igreja).
EULÁLIA: Padre, temos que organizar muito bem a festa da padroeira... A nossa santinha merece uma festa linda, mais linda que a do ano passado. Com muitas luzes e flores!
PADRE FERNANDO: Sim minha filha, já estou providenciando tudo isso, mas toda ajuda será bem vinda.
EULÁLIA: Padre, preciso me confessar... Eu pequei!
PADRE FERNANDO: Pecado? Que pecado? Você não faz outra coisa além de ficar aqui e na mercearia da sua mãe.
EULÁLIA: Eu estou sentindo uns calores estranhos...
PADRE FERNANDO: Calores? Desde quando?
EULÁLIA: Desde que me encontrei com o filho do mal, o filhote de satanás... Ele tinha um... um... um...
PADRE FERNANDO: Um o que, Eulália?
EULÁLIA: Um membro poderoso, padre!
PADRE FERNANDO: Ave Maria puríssima!
Cena 09 – Haras Ferraz (Escritório de Tobias) [Interna/Tarde]
(Clarissa bate na porta do escritório anunciando sua chegada e em seguida entra no local).
CLARISSA: Queria me ver?
TOBIAS: Me responda uma coisa, por um acaso você acha que o meu haras é um parque de diversões?
CLARISSA: Não entendi...
TOBIAS: Você entra e sai desse haras, monta os cavalos e sai com eles por aí como se estivesse em um parque de diversões, o que pensa que está fazendo? Acha que aqui é a casa da mãe Joana?
CLARISSA: Eu não acho isso. Pelo contrário, eu amo os cavalos, principalmente o relâmpago, sinto que ele também gosta de mim e somos amigos...
TOBIAS: Eu não quero saber de amizades entre humanos e animais, aqui é um estabelecimento comercial e eu quero que respeite isso. Não lhe dei intimidade de frequentar o meu haras, nem minha fazenda como se fosse alguém da família.
CLARISSA: (Fica com os olhos marejados) Tobias, eu...
TOBIAS: Eu não quero ouvir mais nada. Não quero voltar a ver você com os meus cavalos, entendeu?
CLARISSA: (Sai correndo do escritório).
Cena 10 – Casa de Luiza [Interna/Noite]
(Luiza põe a mesa para o jantar)
BEATRIZ: Esse aroma da sua comida invadiu o meu quarto, estou sentindo minha barriga roncar...
LUIZA: Vejo que o meu futuro sobrinho-neto tem um paladar parecido como o seu, pois estou preparando aquele frango do jeito que você gosta.
BEATRIZ: Não tenho dúvidas disso!
LUIZA: Onde está o Beto?
BEATRIZ: No quarto dele, eu vou chamá-lo para jantar.
LUIZA: Está bem, vou dar uma olhada no forno e já nos encontramos aqui.
BEATRIZ: (Observa a tia ir para cozinha e logo depois muda a expressão) Que cheiro é esse? Um aroma de flores... Estranho! Bobagem minha...
(Beatriz caminha pelo corredor da casa e bate na porta do quarto de Beto, que não abre. Preocupada, ela abre a porta assim mesmo).
BEATRIZ: Beto, onde está?
(Beto sai do banheiro apressado enrolado numa toalha branca e com os cabelos completamente cobertos da espuma do shampoo).
BETO: O que foi? Aconteceu algum problema?
Música da Cena: Pecado É Lhe Deixar De Molho – Silva
BEATRIZ: (Beatriz olha fixamente para o corpo de Beto).
A câmera foca no rosto de Beatriz, a cena congela e o capítulo encerra com o a tela azul da cor do céu.
Obrigado pelo seu comentário!