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VENTO NORTE: Teaser 01

Em um quarto escuro, com pouca iluminação, uma senhora já idosa, na faixa dos 90 anos, que não se identifica, apenas a sua boca fica visível, está sentada em uma antiga poltrona  

Narrador: 27 de março de 2023. 

(corta p/ voz da mulher)

Narradora: (com a voz um pouco tremula) Recordo a última lembrança minha e de papai, ele havia me dado um presente, uma boneca de porcelana, linda. Nós nos abraçamos, ele me deu um beijo e me colocou em seu colo pela última vez, lembro da última coisa que ele me disse antes de partir, (emocionada)
Filha, jamais deixe de sonhar, de ter esperança, determinação. Não importa o que você vá ser, o que você fará, importa como fará, quem ajudará e quem estará ao seu lado, a vida toda, para lhe dar apoio e amor. Se apoie sempre em sua família, em seus amigos, em si mesma, tendo sempre confiança e respeito a si própria, em primeiro lugar. 
Recordo dessas palavras, como se tivessem sido proferidas ontem, mas foram ditas à quase 80 anos.
E eu posso sim, dizer. Eu fui, quem gostaria de ter sido, leal a mim mesma, sempre respeitando a meus princípios, minhas verdades, sem desmerecer o outro lado, sabendo reconhecer quem sou, quem fui e quem ainda serei. 
Para mim, meu pai foi o melhor dos homens e ele me ensinou a ser a melhor das filhas, enquanto eu, ensinei a minha filha a ser a melhor das mulheres e foi nesse ciclo da vida, que nunca se tem fim, que uma família foi crescendo e vivendo, com suas marcas, seus rastros e suas pistas.  
Fui ensinada que com acertos ou erros, ninguém é o bastante. Nós somos o que conseguimos ser.
Quando soube que papai não voltaria para casa após a guerra, meus sonhos não acabaram, e sim se revitalizaram.
Eu perdi um pai, como tantas outras famílias perderam avós, pais, irmãos, tios, primos. Mas hoje, sinto que posso falar por ele, ele não teve voz quando precisou deixar uma filha pequena para trás, mas hoje, muitos anos depois, eu, assim como muitas pessoas, também vítimas desse regime criminoso podemos ter voz e dizer, tudo que essas pessoas, que não puderam falar, queriam ter dito. 
Eu sou uma das muitas pessoas que foram arrebatadas com a guerra. Perdi minha família, meus amigos, minha casa e até minha dignidade.  
Hoje luto e falo por meu pai, que devemos viver sempre em democracia e respeito, no direito de ir e vir. Devemos viver a vida sem culpa, sem medo de errarmos, sem medo de ferir ou sermos feridos. Devemos apenas viver, pois sem a vida, o mundo não existiria. 
Cada um de nós possui uma escolha. Eu escolhi ser o melhor que podia ser. 

A narração acaba. A imagem vai ficando escura... Após a imagem ficar totalmente desfocada e preta, o narrador diz:  

Narrador: Em abril, Vento Norte, sua próxima novela dos oito.

Ocorre uma rajada de vento que faz uma transição entre o escuro da tela e a logo da trama



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