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Débora - Capítulo 33


Débora
CAPÍTULO 33

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 No capítulo anterior: Débora ataca Bogotai com golpes de espada, mas ele desvia e a chuta; diz que esperava mais dela. Gadi e Laís vão a um abrigo de órfãos e optam por uma menina que aparenta ter 8 anos chamada Micaela, e que, diferente do usual, os encarou com olhar de piedade. Jaziel volta a Betel e pergunta a Éder se ele viu um homem com as características de Bogotai, ao que Éder nega. Esse o interroga sobre o tempo fora, mas Jaziel nada conta. Débora e Bogotai têm um duro confronto em que ele, por estar se sobressaindo, a despreza. Ainda diz que é impossível pará-lo e, ao jogá-la no chão, chama aquilo de decepcionante. Angustiado na sapataria, Lapidote ora. Sísera coloca Eloá e Danilo literalmente na parede e, sob ameaça, cobra satisfações sobre a presença de Débora ali na noite anterior e a declaração de Eloá de que ela era sua amiga. Bogotai fala sobre dor com Débora, e continuam a lutar. Mas sempre ela acaba sendo derrotada. Então clama a Deus pedindo ajuda, e Bogotai zomba. Raivosa, ela o ataca, mas mais uma vez ele a vence batendo-a na árvore e jogando-a no chão; pergunta onde está o Deus dela. Eloá inventa que Débora a obrigou a leva-la até o palácio e a dizer que eram amigas; Danilo confirma. Sísera aceita, mas mete um soco em cada um. Débora insiste em se levantar, mas Bogotai continua superior. Ele quebra a espada dela e a arremessa ao chão. Débora, com dificuldade, implora a Deus para não ser humilhada e para que Ele não a deixe abandonada. Bogotai diz a ela que está pensando no que vai acabar quebrando primeiro: sua fé ou seus ossos. Gadi e Laís apresentam sua casa para Micaela, mas ela só reage quando eles perguntam se ela quer ver seu quarto. Jaziel guarda a entrada de Betel bastante tensamente. Débora insiste em se levantar, e Bogotai diz a ela que não há nada pelo que ela lutar, e que tudo não passou de uma ilusão, um sonho efêmero que se esvaiu. Débora volta a ataca-lo, mas ele a derrota facilmente e a levanta em seus braços. Ela clama ainda mais intensamente, mas ele a leva até a beira do precipício e diz para ela que ali acaba sua história e, junto, a ilusão dos hebreus. E que essa é a natureza da vida: o mais forte sempre vence no final. Bogotai solta Débora e ela cai. Despenca até sumir na neblina de água sobre o rio. Bogotai fica satisfeito.
FADE IN:

CENA 1: INT. PALÁCIO – SALA – COZINHA – DIA
Darda entra apressada na cozinha.
DARDA
Eloá, Danilo!...
Escorados no balcão, os dois tentam se acalmar juntos. Olham para ela.
DARDA
(aproximando-se) O que aconteceu com vocês?! Vi quando o Capitão entrou e saiu furioso daqui.
ELOÁ
Foi... por causa de um problema... com a comida.
DARDA
Gente... Eu sei que não foi isso.
Os 3 ouvem alguém e olham: Elisa, tateando na parede, chega ali na porta. Darda vira de volta para o casal.
DARDA
Tem a ver com ontem à noite, não tem? Débora estava na cidade e fugiu. E, coincidentemente, uma mulher estavam bem aqui, nessa cozinha, e saiu rápido, fazendo Sísera persegui-la. Se colocarmos a segunda história na frente da primeira... tudo se costura perfeitamente.
DANILO
Você não sabe do que está falando.
DARDA
Eu sei exatamente do que estou falando. Débora. Débora esteve aqui. (olhando Elisa) Passou por nós e saiu.
Eloá e Danilo ficam quietos quase como se confirmassem. Darda os observa e Elisa permanece preocupada.



CENA 2: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Escorado em um pilar no topo da larga escadaria que liga o palácio à cidade lá embaixo, Sísera observa as ruas de Harosete e o deserto além sem realmente vê-los.
Najara chega ali e nota o filho desolado.
NAJARA
Eu não o criei e o orientei a vida toda para você ficar assim.
Sísera olha para ela.
SÍSERA
Mãe... Não sabia que estava aqui.
Ela para meio de lado, meio de frente para ele.
SÍSERA
Eu a tinha em minhas mãos. Estava bem ali, diante dos meus olhos. Ao alcance de meu exército.
NAJARA
Você deixou de agir por causa da família do soldado, não foi?
Sísera faz que sim.
SÍSERA
E do povo, que ficou do lado deles. Além dos soldados, que temeram perder o colega.
NAJARA
Foi um sábia decisão.
Sísera olha para a mãe.
SÍSERA
A senhora acha mesmo?
NAJARA
Claro. O povo já está com medo por causa das ações de Débora. Sacrificar um dos nossos não seria nada bom para a opinião popular. Ainda que a maior parte do povo aprovasse, muitos continuariam contrários e, o pior: o exército poderia estar contra você.
Sísera parece entender.
NAJARA
Essa grande força precisa ser regida por você de forma completa, Sísera. Não pode haver nem um membro contra. E você... trate de se acalmar. Bogotai não foi para Betel, a cidade da hebreia?
SÍSERA
Sim.
NAJARA
Pois bem. Será um baque e tanto para ela. Sem sua base, sua família, seus amigos... Débora perderá as forças.
SÍSERA
Ou terá ainda mais motivos para vir com tudo atrás de nós. Com nada a perder.
NAJARA
Que venha! Nós estaremos preparados. Nem que seja preciso colocar os 900 carros de ferro contra essa escrava, você coloque! Mas que Israel continuará sendo nossa, continuará.
Sísera respira fundo.
SÍSERA
O problema é que ainda preciso ir dar explicações ao rei.
NAJARA
Pois vá, Sísera. Não tema.
SÍSERA
Bom seria se não houvesse ninguém para eu dar explicações.
Najara tensiona os lábios...
NAJARA
Não é o momento de dizer isso. Vá, vá logo, Sísera.
Sísera faz que sim, vira e volta para o palácio. Najara o observa...

CENA 3: EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Tenso na entrada da cidade, Jaziel continua parado.
Então ele avista, a algumas dezenas de metros dali, os soldados hazoritas vindo à cavalo de seu acampamento.
JAZIEL
Maldição...
De repente outro cavaleiro surge lá atrás, e sua silhueta é grande. Reconhecendo-o, Jaziel se desespera. Vai para frente, para trás, olha, vira... Mal sabe o que fazer.
JAZIEL
(aflito) Débora... Débora... Cadê?... O que aconteceu, o que aconteceu, o que aconteceu com ela?...
Lá na frente, Bogotai alcança os soldados.
BOGOTAI
Fiquem aqui.
Os homens se impressionam com a presença do Primeiro Oficial e param ali mesmo. Bogotai então avança na direção do portão. Raivoso, Jaziel tira a espada, segura-a de qualquer jeito e corre!
De um lado, Bogotai, aproximando-se à cavalo. Do outro, Jaziel, apenas com a espada, correndo com ódio nos olhos.
JAZIEL
Débora! Onde ela está?!
BOGOTAI
No mesmo lugar para onde vai você e toda sua cidade.
Jaziel percebe o problema e para de correr. Vira para Betel. Aproximando-se pela sua costa, vem Bogotai no cavalo.
JAZIEL
Fechem a cidade! Homens!!! Fechem o portão da cidade!!!
Bogotai se aproxima, chuta-o na costa e vai até uma árvore ali perto, onde arranca um dos galhos. Jaziel, levantando-se, olha para Betel: os homens começam a fechar o portão. Quando ele olha para Bogotai, esse se aproxima com o cavalo e lhe atira o galho com toda sua força. A madeira, afiada por causa do rompimento, atinge a barriga de Jaziel de raspão, rasgando a veste e a pele.
Ele cai ajoelhado com um joelho e grita de dor. Bogotai dá a volta com o cavalo, para e o observa. O hebreu, mesmo com dor e sangrando, levanta-se, olha nos olhos de Bogotai e corre dali atrapalhadamente, para longe da cidade, na mesma direção de onde Bogotai veio. Esse apenas o observa se distanciar.
BOGOTAI
Tolo. Corra... Use o resto de tempo que lhe resta para chorar sobre o cadáver. Isso se o encontrar. E depois nós dois nos encontraremos. Será o último de Betel a morrer.
Bogotai vira o cavalo para Betel, cujo portão já está fechado, e avança.
Quando chega, Bogotai desce e se aproxima calmamente.
Do outro lado, Éder chega ali e se mistura aos homens que fecharam o portão.
ÉDER
Por que o portão está fechado?
HEBREU
Nós o fechamos!
HEBREU 2
Há uma figura do outro lado. Até os soldados obedeceram a ele.
HEBREU 3
Acho que é um fantasma...
HEBREU 4
Uma besta do deserto... Uma aberração!...
ÉDER
Se os soldados o obedeceram, e não o atacaram, talvez seja apenas um superior do exército.
HEBREU 2
Não sei não. E por que um oficial do exército viria do norte até aqui em Betel?
ÉDER
Mas é óbvio! Na certa descobriram que Débora mora aqui! E, por culpa dela, agora somos nós que pagaremos pela loucura dessa mulher que acha que pode agir como um homem!
Éder vira e sai raivoso dali.

CENA 4: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Tamar entra ali na sapataria.
TAMAR
Shalom, Lapidote.
LAPIDOTE
Senhora Tamar? Shalom... Entre.
Ele se levanta e a recebe.
TAMAR
Obrigada.
LAPIDOTE
A senhora aceita uma água?
TAMAR
Não, não é preciso... Eu estou bem, obrigada. Eu vim mesmo porque... estou sentindo um aperto... em meu coração, Lapidote. Mas não tenho certeza do que se trata...
Lapidote presta atenção, agora um tanto mais preocupado.
TAMAR
E como Elian não dá a mínima para isso e muito menos se preocupa com Débora, vim para convidá-lo a orar comigo.
LAPIDOTE
Claro! Claro, senhora Tamar, será um prazer. Mas... a senhora mencionou Débora... Acha... que tem relação com a dor?
Tamar olha para ele com tristeza.
TAMAR
Queira o bom Deus que não...
LAPIDOTE
Vamos orar, é o melhor que podemos fazer.
Eles então se ajoelham ali mesmo. Trocam um último olhar de esperança e fecham os olhos.
Lapidote começa a oração em voz alta...

CENA 5: INT. PALÁCIO – SALA DO TRONO – DIA
Sentado, Jabim encara Sísera, de olhar baixo, aproximando-se devagar.
Quando o Capitão para diante da escadinha que leva ao trono, o rei apenas o observa por alguns segundos.
Então...
JABIM
Sísera. Diga-me: o que foi que você me prometeu?
Sísera engole em seco.
SÍSERA
Que traria Débora... que a humilharia publicamente... e que então a mataria.
JABIM
E ela estava na rua. Na nossa rua. Perante o povo. Porém... nada do que disse aconteceu.
SÍSERA
Débora veio a Hazor por livre e espontânea vontade.
Jabim ri de raiva.
JABIM
Está brincando comigo, Sísera?
SÍSERA
De modo algum, senhor. Jamais poderia fazer isso.
JABIM
Sísera, eu... não sei nem o que te dizer... Faço apenas uma pergunta: há alguma notícia boa nisso tudo?!
SÍSERA
Em breve haverá, meu senhor. A essa hora Bogotai já deve estar em Betel para matar a todos. Quando Débora retornar à sua cidade, encontrará um cenário de pura destruição.
Jabim o encara.
JABIM
Essa foi uma boa ideia. É... Esse sim é o Sísera que eu conheço. Rápido nas decisões, além de esperto. Mesmo errando, você consegue acertar, Capitão.
Sísera fica sem jeito. Jabim respira fundo e então se levanta, desce a escadinha e se aproxima de seu Capitão.
JABIM
Sísera... Você é tudo que eu tenho aqui. Sem você, os 900 carros de ferro são apenas meras carruagens. E os soldados, meros espantalhos. Hazor depende de você.
Sísera parece melhorar.
JABIM
Não quero que haja atritos entre nós. Precisamos estar unidos para vencer essa ameaça.
SÍSERA
Claro, senhor.
Jabim volta para o trono.
JABIM
Agora vou esperar pelas novas de Bogotai. Só então pensaremos no próximo passo.
Sísera faz uma reverência. Jabim acaricia o próprio rosto.
FADE OUT:
Escuridão...
Um flash de luz.
Vários outros...
Uma paisagem embaçada...
Um riacho... Árvores... Palmeira...
E uma voz.
VOZ
Débora...
A mesma voz de antes? Parece que não.
VOZ
Débora!...
É diferente...
VOZ
Desperta, Débora... Desperta...
Está difícil... De onde vem a voz? Onde ela está? O que são essas imagens todas?
VOZ
Desperta, desperta, Débora! Desperta!... Débora, desperta! Débora!
Ela se nega... Recusa... Ela luta contra a voz.
DÉBORA
Não... Não quero... Não quero...
VOZ
Débora! Desperta, Débora! Débora!
DÉBORA
Não... Por favor, me deixe... Me deixe ir... Eu não quero...
VOZ
Desperta, Débora! Desperta!
DÉBORA
Eu não quero! Me deixe ir, me deixe ir!
Um estalo alto!!!
Os olhos castanho-claros se abrem!

CENA 6: EXT. RIO – DIA
Débora está caída na margem do rio. Totalmente molhada, suas pernas ainda estão dentro da água.
Jaziel, desesperado ao seu lado, vinha tentando reanima-la. Confusa, ela olha para os lados e para ele, que a ajuda a se sentar.
JAZIEL
(choroso) O que você fez, sua louca?!
E a abraça. É quando ela tosse. Ele a solta e, ainda preocupado, a deixa tossir, expelindo um pouco de água.
JAZIEL
Débora... O que tinha na cabeça?! Não dava, era impossível! Não devia ter feito aquilo! Sua louca, sua...
Jaziel não completa. Aliviado de tê-la encontrado viva, ele sorri.
JAZIEL
Minha amiga. (pequena pausa) Quando a vi aqui... pensei que estivesse morta. E seria minha culpa. É... É tudo culpa minha.
Ele olha o corpo dela. Não há feridas graves, mas sangra em alguns lugares.
JAZIEL
Minha irmã... Minha irmã querida...
Jaziel a abraça novamente. Débora não retribui da mesma forma, apenas encara as coisas à frente no ombro do amigo. Ainda está um tanto assustada...

CENA 7: INT. SAPATARIA DE LAPIDOTE – DIA
Éder chega rápido à entrada da sapataria e para. Avista Tamar e Lapidote orando lá dentro. Então fecha o semblante e entra.
ÉDER
Arrumam problema e depois oram à vista da rua para se passarem por santos!
Tamar e Lapidote abrem os olhos assustados.
ÉDER
Tudo o que estão expondo a todos é apenas sua hipocrisia!
Lapidote se levanta e ajuda a sogra. Então olha para Éder e franze a testa.
LAPIDOTE
O que está acontecendo, Éder?! Do que está falando?!
ÉDER
O que está acontecendo é que descobriram que Débora mora aqui em Betel e agora há um oficial do exército no lado de fora da cidade! O maldito veio de Hazor até aqui! E na certa está atrás de Débora! Quantos agora terão que pagar por isso?! Por coisa sua! Coisa da sua esposa!
Lapidote, surpreso, olha para Tamar...
Vira de volta para Éder.
LAPIDOTE
Não. Ninguém pagará por nada. Vou esperar por esse homem e, se tiver que morrer por todos... morrerei.
Éder claramente não esperava por essa. Lapidote então intenta passar por ele para sair, mas Éder não se aguenta.
ÉDER
A culpa também é sua! Seu fraco!
Agora com raiva, Lapidote para e encara Éder.
LAPIDOTE
Será que você é surdo?!
Éder fica quieto.
LAPIDOTE
Só queria uma oportunidade para me ofender, não é, Éder?
Éder sorri ironicamente.
LAPIDOTE
Fora daqui.
Éder não perde muito tempo. Vira e sai rápido.
Tamar se aproxima do genro.
TAMAR
Débora já está nessa, não vá você também se arriscar, Lapidote! Por favor!
Lapidote engole em seco.
LAPIDOTE
É o meu dever, minha sogra.
TAMAR
Então o acompanharei.
Lapidote não concorda muito com a ideia, mas nada diz e os dois saem; Lapidote fecha a sapataria.

CENA 8: EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Bogotai está parado a um palmo do portão. Encara-o como se fosse uma paisagem vasta.
Então ele vira o rosto, encosta a orelha no portão e caminha. Parece até estar ouvindo as entranhas da madeira.
Por fim, volta para o meio da entrada e encara mais uma vez o portão. Cerra o punho... estala os dedos no processo... levanta o braço... e, com toda sua força, mete o soco na madeira. Todo o portão treme e poeira cai lá de cima. Bogotai afasta o braço e dá outro soco no portão, e com isso outro tremor na madeira e mais poeira caída.
Do outro lado, os homens, assustados com aquilo, se afastam. E, fora da cidade, os soldados hazoritas observam curiosos. Conversam entre si sobre o que faz seu Primeiro Oficial.
Bogotai continua a socar o portão...

CENA 9: EXT. RIO – DIA
Jaziel ajuda Débora a se afastar da água e a se sentar, ainda na margem, mas em um local mais seco. Ele senta de frente para ela.
JAZIEL
Você está bem?
Ela faz que sim.
DÉBORA
Sim...
JAZIEL
Débora... Eu disse que você precisaria de mim.
Ela encara o nada.
DÉBORA
Pensei que poderia vencê-lo... Pensei que Deus estaria ao meu lado. Que lutaria comigo assim como lutou todas as vezes até aqui.
Jaziel respira fundo.
JAZIEL
E se Deus não tiver lutado com você como pensa que Ele fez?
Débora finalmente olha nos olhos de Jaziel.
DÉBORA
E o que explicaria eu ter vencido a tantos durante todo esse tempo?
Jaziel parece pensar...
JAZIEL
Você é uma exímia guerreira.
Ela sorri em tom de zombaria.
JAZIEL
Talvez Deus realmente tenha um plano para você, mas esse plano pode não ser exatamente aquilo que você vem fazendo. Deus também não a deixaria morrer, pois precisa estar viva para cumprir o seu destino... que talvez seja bem diferente de lutar contra soldados nos 4 cantos de Israel.
DÉBORA
E talvez não haja destino algum. Missão alguma. Talvez... eu tenha ido longe demais... no pensamento de que uma mulher... pudesse fazer algo por seu povo. De que Deus realmente daria voz a uma mulher.
JAZIEL
Não fale isso.
DÉBORA
Talvez a proteção de Deus até aqui foi para que eu pudesse me cansar disso tudo e, por mim mesma, desistir da ideia. Mas não desisti. Pra parar tive que passar pelo que passei agora...
Triste, Débora enfia a mão na veste e tira de lá a semente de tamareira – com as iniciais dela e de Lapidote gravadas nos dois lados - presa por um nó a um cordão. Jaziel se impressiona.
JAZIEL
Você a levou...
DÉBORA
Era o mais próximo de Lapidote que eu podia estar durante todo esse tempo... Que saudade que estou sentindo... (pequena pausa) E talvez... todo esse tempo... tenha sido perdido. Ao invés de estar com meu marido, aproveitando o tempo que nos resta como escravos até morrermos dia desses assassinados ou de cansaço... e jogados numa vala qualquer... fui perder meu tempo com essas ideias de chamado... e missão.
Jaziel, inconformado com o que ela diz, tenta mudar de assunto.
JAZIEL
Débora... Conte-me. Conte-me o que aconteceu. Como você foi parar em Hazor?
Ela tenta se recordar... Parece ter dificuldade. Mas por fim se lembra, respira fundo e umedece os lábios.
DÉBORA
Depois que nos separamos no vilarejo, encontrei uma égua. Pensei que ela poderia me ajudar, e então dei a ela o nome de Pérola. Pérola e eu partimos em--
Débora continua a contar...

CENA 10: EXT. PALÁCIO – PÁTIO – DIA
Eloá, Danilo, Darda e Elisa estão em um arejado pátio do palácio. O casal, sentado, e Darda e Elisa de pé. Elisa segura no ombro de Darda.
Olhando Darda, Eloá aponta a cabeça para Elisa como se perguntasse algo.
DARDA
É confiável. Está comigo.
ELOÁ
Hum.
Eloá e Danilo se entreolham... e olham para Darda.
ELOÁ
A resposta é sim. Nós estávamos mesmo com Débora por livre e espontânea vontade.
DANILO
Foi assim que a trouxemos ao palácio.
Darda, impressionada, tampa a boca com as mãos. Elisa parece mais interessada do que surpresa.

CENA 11: EXT. BETEL – ENTRADA – DIA
Bogotai está socando o portão há um bom tempo, e o mesmo, já em condições precárias, parece prestes a se partir de vez. As pancadas são muito violentas.
É quando um soldado, desobedecendo a ordem anterior e intentando ganhar prestígio, chega por trás de Bogotai.
SOLDADO
O senhor precisa de ajuda?
Bogotai, no impulso, vira para trás e desfere o mesmo soco no soldado, deslocando sua mandíbula e fazendo-o cair inconsciente e ensanguentado. Bogotai vira de volta para o portão e termina de arrebentá-lo no soco e, agora, também no chute. A madeira se parte de vez e ele a retira de seu caminho e a joga para trás. Raivoso, olha para os soldados distantes e faz sinal chamando-os.
Ao ver que o portão se partiu de vez, os homens de Betel correm dali e se espalham pelas ruas. Bogotai entra em Betel. Chuta um homem que passa correndo, arremessando-o na parede. Outro hebreu, que cruza seu caminho desesperadamente, leva um soco e cai. Pega outro homem pelos braços e o joga longe. E avança pelas ruas. Logo os soldados chegam na entrada e invadem a cidade.
Pouco depois, Bogotai já está na praça, parado. Os soldados contém o povo ao redor; ninguém sai e nem se aproxima.
BOGOTAI
(irônico) Povo de Betel!...
As pessoas olham para ele com muito medo.

CENA 12: EXT. RIO – DIA
DÉBORA
...e como eles haviam me pedido para não mata-lo em sua frente, saí para fora a fim de atraí-lo para longe. O problema é que os dois, ao invés de ficarem em casa, também vieram atrás para convencê-lo de não me perseguir. Fui obrigada a descer até a cidade.
JAZIEL
Por que não o esperou na porta do palácio?
DÉBORA
Minha intenção era leva-lo o mais próximo possível do portão da cidade, para que quando o matasse, fossem poucos os inimigos e menor o caminho até a saída. Acabou que te encontrei e você me contou do... do Bogotai. Então meus planos mudaram por completo.
Débora nota que Jaziel está encarando o vazio.
DÉBORA
Não está prestando atenção.
Ele balança a cabeça.
JAZIEL
Não, não... Prestei atenção sim, Débora, é só que... me ocorreu uma ideia.
DÉBORA
Que ideia?
JAZIEL
Em Hazor, quando eu estava bêbado, Sísera me contou algo sobre Bogotai. Sobre sua máscara.
DÉBORA
A máscara?... O que tem ela?
Jaziel se inclina.
JAZIEL
Bogotai depende da máscara para sobreviver.
Débora franze a testa.
JAZIEL
Ela não é um mero apetrecho ou algo que ele usa apenas para intimidar os inimigos. Sem a máscara, Bogotai não pode respirar.
O olhar de Débora muda, e agora ela está totalmente interessada.
JAZIEL
Talvez esteja aí a chance de derrota-lo.
Débora continua apenas encarando o amigo, mas um brilho parece reacender em seu olhar. Em Débora, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:


No próximo capítulo: Sama e as mulheres recebem a missão de envenenar as crianças que não se mostraram aptas para serem escravas. Cresce a confiança entre Eloá, Danilo, Darda e Elisa, e segredos são confiados entre eles. E Débora, com a esperança na descoberta sobre a importância da máscara de Bogotai para o mesmo, parte para enfrenta-lo mais uma vez.

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