CENA 01: COBERTURA DE HELENA. SUÍTE PRINCIPAL. INTERIOR. NOITE
Continuação imediata do capítulo anterior. Ana segue com a carta em mãos encarando Helena seriamente.
ANA – Você vai me explicar ou continuar se fazendo de desentendida?
HELENA – Olha o tom.
ANA – A senhora quer realmente se separar do meu pai?
HELENA – Eu não estou satisfeita com esse casamento, Ana. Nunca estive.
ANA – Como assim nunca esteve? O meu pai sempre foi um ótimo homem, sempre te tratou como rainha. Te deu amor.
HELENA – Só amor não basta.
ANA – (indignada) Não basta?!
HELENA – Não basta quando a outra pessoa não corresponde.
ANA – O que quer dizer com isso?
HELENA – (bruta) Eu nunca amei verdadeiramente o seu pai. Não da maneira que deveria. Pronto. Era isso que você queria ouvir?!
ANA – Então você tá assumindo que você enganou ele a vida inteira??? Que a sua vida, não só a sua, as NOSSAS vidas foram um compilado de farsas?!
HELENA – Ana, sinceramente, eu não quero ter esse tipo de discussão agora…
ANA – Você tem outro. É isso?
HELENA – O quê?! Eu jamais trairia seu pai.
ANA – Você pode não ter outro, mas, no mínimo, você ama outro.
HELENA – (perdendo a paciência) Ana, por favor.
ANA – (com raiva) Por favor, digo eu! Essa carta aqui é a prova, dona Helena! Quem é o homem que você ama?
Helena respira fundo para não perder o controle na discussão.
HELENA – Eu amei muito um homem no passado, Ana. Mas ele ficou no passado de mais de vinte anos atrás. Quase trinta. Só que eu nunca fui capaz de esquecê-lo.
Ana fica sem reação diante da sinceridade da mãe. Helena vai até o armário e encontra o álbum de fotos.
HELENA – Achei. Vamos? Seu pai está nos esperando lá embaixo.
De cabeça baixa, Helena retira-se do quarto. Ana respira fundo e, na sequência, também deixa a cena.
CENA 02: MANSÃO DE PAULA. SUÍTE. INTERIOR. NOITE
Fernando está deitado na cama mexendo em seu celular, enrolado em um roupão. Paula sai do banheiro apenas de lingerie e começa a sensualidade na frente dele, mas o homem não dá atenção, está concentrado na tela. Paula perde a paciência e dá um tapa na mão dele, derrubando o celular.
FERNANDO – Você enlouqueceu???
PAULA – Uma mulher gostosa dessas na sua frente e você não tira os olhos desse celular?! O que vê aí?
FERNANDO – Eu estava terminando de analisar o contrato de casamento entre Ilana e eu.
PAULA – (interessada) É?! E aí?
FERNANDO – E aí, meu amor, que seus dias como amante estão contados/
Paula desfere um tapa na cara dele.
PAULA – Amante não! Me respeita.
FERNANDO – Quê isso?!
PAULA – Você me ofendeu.
FERNANDO – Se não é amante, é o quê?
PAULA – Sou sua segunda mulher. Mas passarei a ser primeira-dama! Entendeu?
FERNANDO – Se você diz…
PAULA – Agora, vem cá, vem. Que eu tô cheia, louca de tesão!
Paula desamarra o roupão dele e começa a beijar o peitoral do homem, descendo até a região de baixo.
CENA 03: COBERTURA DE HELENA. SALA. INTERIOR. NOITE
TRILHA SONORA: Instrumental (até o final desta cena)
Ana, Helena e Vicente olham o álbum de 15 anos de Ana, relembrando os velhos tempos. Vicente é o mais empolgado na leitura, seus olhos enchem de lágrimas ao ver a filha adolescente. O clima entre Ana e Helena é de estranhamento.
CENA 04: QUARTO DE HOTEL. INTERIOR. NOITE
André está deitado na cama usando o celular. Daniel guarda uma peça de roupa na gaveta e fecha a mala.
DANIEL – (Resmungando) Em vez de me ajudar, você fica só nesse celular. É inacreditável.
ANDRÉ – Ah, pai, eu estava aqui, fazendo algumas perguntas para uma inteligência artificial. Os caminhos que a tecnologia seguiu são incríveis.
DANIEL – Isso aí deve puxar tantos dados seus. Você leu os termos e condições? Tome cuidado, viu.
ANDRÉ – Pai, deixa isso pra lá. Eu estava realmente pensando se foi uma boa ideia vir atrás dessa mulher.
DANIEL – Filho, você realmente acha que eu teria vindo até aqui se não estivesse confiante nas minhas decisões? Nós vamos atrás dela, sim, e ponto final. Aliás, é melhor você voltar a conversar com esse robô aí antes que comece uma briga no mundo real.
ANDRÉ – Tudo bem, pai. Eu sei que é impossível mudar sua opinião.
DANIEL – Agora eu vou dormir, se quiser ficar no celular que fique. Só não faça barulho.
ANDRÉ – Boa noite pro senhor também, pai.
CENA 05: RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA
TRILHA SONORA: Chega de saudade - Tom Jobim (até o final desta cena)
Amanhece na cidade maravilhosa. CAM transita entre o pão de açúcar, cristo redentor e a movimentada Praia do Leblon, dando espaço a mais um dia na sociedade carioca.
CENA 06: APARTAMENTO DE ILANA. SALA DE JANTAR. INTERIOR. DIA
A empregada termina de servir à mesa de café da manhã e se aproxima da cadeira de Ilana.
EMPREGADA – Vai querer café expresso, dona Ilana?
ILANA – Não, não. Me faz um suco de laranja, por favor. Tô ameaçando gritar e quero me prevenir.
EMPREGADA – Certo.
Na sequência, a funcionária se retira. Ilana pega um pão na cesta, corta ao meio e começa a passar manteiga. Fernando chega na mesa e se acomoda.
ILANA – Bom dia, Fernando.
FERNANDO – Bom dia… Cadê o café, hein?
ILANA – Só tem expresso. A Zilda vai comprar o pó hoje.
FERNANDO – Hum.
ILANA – Por que é que você chegou tão tarde ontem?
FERNANDO – Eu não disse à você que iria para uma reunião do trabalho?!
ILANA – Que reunião é essa que termina altas horas da madrugada?
FERNANDO – Ilana, pelo amor de Deus, você vai questionar até o meu trabalho agora? Cada dia é uma queixa diferente sua, sinceramente…
ILANA – Só te fiz uma pergunta, não precisa de grosseria.
FERNANDO – Uma pergunta extremamente desnecessária, de quem não tem assunto.
ILANA – Você realmente não tem mais respeito nenhum por mim mesmo…
FERNANDO – Você que me faz perder a paciência! Agora, se você me permitir, eu quero tomar o meu café da manhã em paz.
Fernando bate na mesa e Ilana baixa a cabeça. Os dois seguem comendo em completo silêncio.
CENA 07: COMPANHIA DE TEATRO. INTERIOR. DIA
No salão da companhia, Bárbara, Henrique e Marina estão ensaiando uma cena de uma peça.
BÁRBARA – Sir William, devo dizer que esta noite é uma das mais encantadoras que já vivi neste jardim.
HENRIQUE – É uma honra compartilhar esta noite com uma dama de tanta graciosidade como você. Os jardins são um lembrete constante de como a vida pode ser bela, mesmo em meio às adversidades.
MARINA – Cada flor, cada árvore, nos lembra que somos parte de algo maior. Somos… Ah… Desculpa. Minha mente deu um branco. Esqueci a minha parte.
HENRIQUE – (Irritado) Não é possível que toda vez que a gente for ensaiar sem roteiro você vai se perder né, Marina?
BÁRBARA – Henrique, por favor né, qualquer pessoa pode se perder, errar é humano.
HENRIQUE – Sim, mas eu quero ver ela errando no meio da apresentação.
André chega no local e fica olhando para os arredores, perdido.
BÁRBARA – Marina, SOS. Olha pro lado, que gato!
MARINA – O que será que ele veio fazer aqui?
HENRIQUE – Ser atendente de telemarketing que não foi né? Deve querer ser ator.
MARINA – Sim, mas eu nunca vi ele aqui nos arredores. Você já viu Bárbara?
BÁRBARA – Nunca vi, mas, vamos lá ajudar ele, deve estar perdido né.
As meninas caminham até ele, deixando Henrique sozinho.
BÁRBARA – Oi, prazer. Meu nome é Bárbara.
Bárbara aperta forte a mão de André.
ANDRÉ – Prazer, meu nome é André. (Olha para Marina) Qual é seu nome?
MARINA – Ah, prazer. Me chamo Marina.
Marina e André sorriem.
CENA 08: COMPANHIA DE TEATRO. ESCRITÓRIO DE VICENTE. INTERIOR. DIA
Vicente está com a mão estendida para Daniel, os dois se cumprimentam e sorriem.
VICENTE – Será um prazer ter você trabalhando conosco. Vi os vídeos das peças que produziu no interior, um trabalho lindo da sua parte. Tenho certeza que terá muito a acrescentar aqui na companhia.
DANIEL – Obrigado, senhor Vicente.
VICENTE – Pode me chamar apenas de Vicente.
DANIEL – Certo, Vicente. É uma honra para mim, enquanto profissional, trabalhar nesta companhia. Representa muito para o meu amadurecimento enquanto professor de teatro.
VICENTE – Pode ter certeza que já irei lhe envolver na produção da nossa próxima peça.
Daniel fica feliz com a revelação de Vicente.
CORTE RÁPIDO:
CENA 09: COMPANHIA DE TEATRO. CORREDOR. INTERIOR. DIA
Rose caminha pelo corredor e passa em frente ao escritório de Vicente, preparando-se para entrar. Ela percebe que há mais alguém do lado de dentro. Ao olhar pela brecha da janela, seus olhos arregalaram ao ver Daniel. Entrando em desespero, a mulher sai correndo pelos corredores da companhia, indo até o exterior e saindo sem rumo.
CORTE:
CORTE:
CENA 10: PRAIA DO LEBLON. EXTERIOR. DIA
TRILHA SONORA: Se Essa Rua Fosse Minha - Ana Carolina (até o final desta cena)
Rose caminha pelo calçadão completamente desnorteada. A imagem de Daniel vem na sua mente e ela começa a chorar incessantemente, definitivamente não esperava ver o homem à sua frente. Cambaleando, ela senta em um banco próximo e coloca as mãos sobre a cabeça.
CENA 11: CASA ROSADA. ESTUDIO FOTOGRÁFICO. INTERIOR. DIA
Jéssica e Caio entram no estúdio. Gabriela está de costas arrumando o material.
JÉSSICA – Bom dia, Gabriela.
GABRIELA – Bom dia, Jéssica. Super pontual, não é? Eu gosto assim!
Gabriela se vira e percebe a presença de Caio.
GABRIELA – Oi, quem é você? Não lembro de ter marcado hora para nenhuma foto.
Caio ri baixo, com tom de deboche.
JÉSSICA – Ele é o meu namorado, Gabriela. Veio me acompanhar na sessão.
Gabriela demonstra não gostar da situação, ficando incomodada.
CENA 12: CASA ROSADA. RESTAURANTE. INTERIOR. DIA
Ana e Helena estão tomando café no restaurante da agência, ambas frente a frente. Elas tentam se manter em silêncio, mas Ana não aguenta mais o clima tenso.
ANA – Vamos quebrar esse gelo?
HELENA – Ai, finalmente, minha filha. Pensei que você não iria falar comigo.
ANA – Estava pensando nas coisas que aconteceram ontem.
HELENA – Isso de novo não, Aninha.
ANA – Como não, mãe? Não tem como ignorar. Pelo menos eu não consigo fingir que está tudo bem.
HELENA – Eu não quero brigar com você de novo.
ANA – Quem falou em brigar? Quero conversar com a senhora como duas adultas. Não tô aqui pra te julgar.
HELENA – Então vamos lá, Ana, o que é que você quer saber?
ANA – Quero saber quem foi o homem que você tanto amou. E ainda ama, pelo visto.
HELENA – A gente pode conversar sobre isso outra hora, em um lugar mais adequado? Aqui não é o lugar, nem o momento.
ANA – Promete que não vai me esconder nada?
HELENA – Prometo. Agora esquece isso só por agora.
ANA – Certo.
As duas dão um sorriso desajeitado e mudam de assunto.
CENA 13: CASA ROSADA. FACHADA. EXTERIOR. DIA
Caio e Jéssica estão esperando o táxi.
CAIO – Que atraso! Não tem jeito, não vou dar nem uma estrela no aplicativo.
JÉSSICA – É, deve estar com engarrafamento.
CAIO – Já que pelo visto vai demorar tanto, vou ver se tem sorvete na lanchonete. Vai querer?
JÉSSICA – Não, obrigada.
Caio entra na agência e Gabriela se aproxima de Jéssica.
GABRIELA – Estava esperando uma oportunidade para vir falar com você. Por que seu namorado veio aqui para a sua sessão?
JÉSSICA – (Gaguejando) Ah, ele só queria ver, ele me apoia muito em tudo isso, sabe?
GABRIELA – Por que eu acho que você não está falando a verdade?
Caio reaparece.
CAIO – Acabou o sabor que eu gostava...
JÉSSICA – Ah, amor, oi. A Gabriela veio me dizer que estou me saindo muito bem nos ensaios.
GABRIELA – Sim, ela é ótima.
CAIO – Ah, sim. Pelo visto, o táxi vai demorar muito, né? Vou cancelar, é melhor a gente ir de ônibus.
Caio pega Jessica pela mão e não dá muito espaço para uma despedida entre as duas. Gabriela fica aflita.
CENA 14: APARTAMENTO DE ILANA. SALA. INTERIOR. NOITE
Anoitece. Ilana está sentada no sofá da sala lendo um livro de poesias. Fernando passa pelo ambiente com sua maleta e ela nota.
ILANA – Pra onde você vai?
FERNANDO – Surgiu mais uma reunião de urgência, Ilana. Não posso faltar.
ILANA – Outra reunião?
FERNANDO – É. Agora não vem com "mimimi", tô sem tempo.
Fernando deixa o apartamento. No mesmo instante, Ilana retira seus óculos de leitura, levanta-se do sofá e vai correndo pegar as chaves de seu carro.
CENA 15: COBERTURA DE HELENA. QUARTO DE ANA. INTERIOR. NOITE
Ana está olhando alguns editoriais de moda, buscando inspirações e referências. Helena bate na porta do quarto dela, que está entreaberta, e vai entrando.
ANA – Oi, mãe.
HELENA – Tá fazendo o quê?
ANA – Tô estudando alguns editoriais para levar novas ideias para a agência.
HELENA – Que ótimo.
Helena senta ao lado da filha na cama.
HELENA – Como você está, hein?
ANA – Tô bem.
HELENA – Certeza?
ANA – Por que não estaria?
HELENA – Esse é seu problema, Aninha: querer sempre ser forte. Tá tudo bem ser vulnerável.
ANA – Do que você tá falando?
HELENA – De que você acabou de descobrir que a sua mãe não ama seu pai e segue fingindo normalidade.
ANA – Dona Helena, qual é o objetivo dessa conversa? Eu não sou mais uma criança, mãe. Eu tenho a consciência de que o amor pode acabar, ou que talvez ele nunca tenha existido verdadeiramente. A única coisa que eu quero é que a senhora seja sincera com o meu pai, porque ele não merece continuar lutando por um amor que só existe da parte dele.
HELENA – Você tem razão. O problema é que não é fácil encerrar um casamento de mais de vinte anos. É preciso ter muito jogo de cintura.
ANA – É preciso coragem, dona Helena. Você não sempre me ensinou a ser corajosa? Tá na hora de colocar em prática o que prega. Eu só quero o melhor pra senhora e pro meu pai. Não acho justa toda essa situação.
HELENA – Ouvir isso só me faz ter a certeza que eu te criei da melhor maneira, minha filha.
Ana dá um sorriso bobo para ela e abraça Helena. Algumas pequenas lágrimas escorrem pelo rosto das duas.
ANA – Bom, vamos mudar de assunto um pouco?! Lembra da Renee Ventura? Ela nos convidou para uma festa que vai ter amanhã. (com entonação debochada) Só a alta sociedade.
HELENA – (revirando os olhos) Não suporto!
As duas caem na risada.
ANA – Tô pensando em ir. Conhecer gente nova.
HELENA – Vá, meu amor, pra você é ótimo.
ANA – Ai, mas não queria ir sozinha, mãe. Vamos comigo?
HELENA – Ai, Aninha, já passei do tempo de ir pra festa…
ANA – Vamos, vai.
HELENA – Eu vou considerar. Mas não garanto nada, ok?!
ANA – Ok.
HELENA – Agora eu vou dormir, tá bom? Já está tarde e amanhã tem agenda cheia na agência.
ANA – Tá certo. Daqui a pouco eu vou também.
HELENA – Beijo.
ANA – Beijo.
Helena beija a testa de Ana e retira-se do quarto, fechando a porta.
CENA 16: AVENIDA. EXTERIOR. NOITE
TRILHA SONORA: Instrumental (até o final desta cena)
Fernando dirige seu carro normalmente pela avenida, sem imaginar que um pouco atrás está Ilana, seguindo o automóvel do marido. Fernando passa por um sinal e, quando Ilana está prestes a passar, o semáforo passa para vermelho. Ilana bate no volante e respira fundo, tentando manter a calma.
ILANA – Droga!
Um tempo depois, quando o sinal é reaberto, ela faz o retorno e resolve voltar para casa. A CAM vai transicionando e se curva para o céu, que deixa a escuridão da noite e dá espaço para o nascer do sol.
CENA 17: COMPANHIA DE TEATRO. ESCRITÓRIO DE VICENTE. INTERIOR. DIA
Vicente chega no escritório para mais um dia normal de trabalho. Ao entrar na sala, ele é surpreendido por Rose, que já estava lhe esperando.
VICENTE – Rose?! Já está aqui a essa hora?
ROSE – Optei por chegar mais cedo.
VICENTE – Tem algum motivo específico?
ROSE – Tem.
VICENTE – O quê?
ROSE – Eu quero me afastar da companhia, Vicente.
VICENTE – (sem acreditar) Como???
Vicente é pego de surpresa, recuando para trás. Close final em Rose, parecendo estar decidida.
CORTE:
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