Budapeste -
Capítulo 13
Budapeste
– Hungria
Cena 01 –
Avenidas de Budapeste – Noite
Emese e András
andam pelas ruas tranquilamente e conversam. Ela está com a jaqueta que o rapaz
colocou.
Emese: Têm sido
dias muito difíceis pra mim, principalmente, porque às vezes sinto falta da
minha mãe, apesar de eu não ter nenhuma lembrança dela, claro.
András: Eu te
entendo perfeitamente. Mas pelo que você me fala, há muitas pessoas que gostam
de você, não é?
Emese: Sim, sim. A
tia Ilona e a Sebestyénne são como mães pra mim, não estou dizendo que elas são
ruins, mas eu queria dar um abraço em minha mãe, sabe? Poder me proteger ali
nos braços dela. Desde muito nova eu tive que aprender a ser sozinha.
András: Olha, não
fica assim. Eu também gostaria de poder dar um abraço em minha mãe, mas eu sei
que ela está me protegendo de lá de cima. Sua mãe foi uma guerreira, Emese.
Emese (olhos
marejados): Isso que me deixa muito mais puta. Todo mundo que a conheceu diz
que ela era uma mulher incrível, maravilhosa e tantos outros adjetivos, mas eu
não tive a honra de conhece-la.
András para de
caminhar e automaticamente Emese também. Ele passa seu polegar no rosto dela,
secando uma lágrima que acabara de cair.
András: Eu sei que
não nos conhecemos muito, mas estou aqui por você, Emese.
Emese cora, András
a abraça.
András: Vamos?
Está tarde!
Cena 02 – Mansão
dos Kovács – Sala. – INT.
Kimerul está lendo
o livro “As velas ardem até o fim” no sofá, ao seu lado, na mesa de apoio, está
seu copo de whisky italiano. A campainha toca e ele estranha e olha diretamente
para o seu relógio.
Kimerul
(estranha): Mas quem será a essa hora?
Ele se dirige até
a porta e se depara com Eva. Ela está em um look all black e um chapéu que
contém um véu.
Kimerul: Eva? O
que você está fazendo aqui tão tarde? Acabou de sair de algum enterro?
Eva (entra na sala
e senta-se): Não, eu estava passando aqui perto. Não consegui trabalhar direito
na mansão hoje. O Konrad há dias não aparece por lá, o que está me deixando
totalmente preocupada.
Kimerul: Você não
sabe aonde ele está?
Eva: Sei. Ele está
no Monster Grill, ele comprou. Porém, o que está me deixando aflita é que ele
não está pagando os funcionários que trabalham na mansão e já começou o
burburinho. Não consigo entrar em contato com a Ilona. Só a Emese sabe o
paradeiro dela.
Kimerul: E no que
eu posso ajudar?
Eva: Em nada, eu
só estava precisando de um ombro amigo mesmo. Estou tão preocupada com esse
menino, ele tem criado tanta confusão.
Kimerul: Fiquei sabendo que ele internou a Ilona e está envolvido com grupo neonazista, é isso mesmo?
Eva (cabisbaixa):
Sim. Eu sabia que se a família da Ilona fosse criar o Konrad daria problemas.
Kimerul (sem
entender): Como assim? O Konrad não é filho da Ilona?
Close no rosto de Eva que está angustiada.
Cena 04 – Casa de
Barbara – Banheiro. – INT.
Barbara está
tomando banho. A nudez é explicita. Ela desliga o chuveiro e pega a sua toalha
e enrola em seu corpo. Ela olha-se no espelho. Seu celular está em cima da pia
e a mesma desbloqueia a tela e entra na galeria de fotos e vê uma foto sua com
Miklós.
Barbara (para si):
Que falta você faz, meu parceiro.
Cena 05 – Mansão
dos Kovács – Sala. – INT. - Noite
Kimerul olha sem
entender para Eva que permanece calada.
Kimerul (perde a
paciência): Anda, Eva! Me conta! O Konrad não é filho da Ilona?
Eva (balança
negativamente): Não.
Kimerul: E de quem
ele é filho, então? Não vai me dizer que é seu filho.
Eva (rapidamente):
Não, ele não é meu filho. Mas eu o criei como se fosse! A Ilona não podia ter
filhos! Então, em uma noite, ela e a Melánia apareceram com o Konrad no colo.
Ele tinha uns oito meses.
Kimerul: Mas elas
chegaram de supetão assim? Sem mais nem menos?
Eva: O marido da
Ilona tinha acabado de falecer, então ela estava destruída por não ter tido um
filho dele. Eu realmente não sei quem são os pais biológicos dele.
Kimerul: Isso é
surreal, Eva.
Eva (desesperada):
Me prometa que nunca vai contar isso pra ninguém. Não conte a ninguém, isso
devastaria toda família e a Ilona ficaria arrasada.
Kimerul: Eu jamais
contaria uma atrocidade dessas
Eva: Kimerul, eu
tenho medo do Konrad estar com ele.
Kimerul: Com “ele”
quem?
Eva olha friamente
para Kimerul que entende no mesmo instante.
Eva: O Domokos
está perambulando por aí, sabe Deus o que ele está tramando, mas é óbvio que
ele deu um jeito de entrar em contato com o Konrad.
Kimerul: Foi ele
quem matou a Melánia e Kórnel?
Eva (seca): Sim,
foi ele.
Cena 06 – Ponte
das correntes – Noite
Ráchel está com um
olhar distante. Ela analisa as águas do rio Danúbio que estão sendo iluminadas
pelas luzes artificiais. Neste momento, ela tira vagarosamente sua blusa. Logo
em seguida, a calça, ficando apenas de sutiã e calcinha. A temperatura está em
7°C. Ráchel sobe na estrutura de ferro e cambaleia um pouco. Lentamente, ela
abre seus braços. Emese e András percebem um movimento estranho
Emese (assustada):
O que é aquilo?
András (corre):
Meu Deus!
Eles correm
direção a Ráchel que está com os abraços ainda aberto.
Emese (grita):
Moça!
Ráchel consegue se
virar para András e Emese que estão aflitos.
András: Moça, qual
seu nome.
Ráchel (ri): Que
importa meu nome? Estou suja!
Emese
(desesperada): Por favor, não faça isso. Nós podemos te ajudar, podemos
conversar e tudo vai ficar bem!
Ráchel
(cabisbaixa): Eu não deveria ter nascido.
András (grita):
Não diga isso! Você é importante!
Ráchel
(cabisbaixa): Esse lugar é como os outros. Há impunidade em todo o país. Não
consigo escapar disso de jeito nenhum, também não consigo lidar...
Emese (chorando):
Isso não é verdade. Existem pessoas ruins, sim! Mas também há pessoas boas. Eu
vou te ajudar!
Ráchel (olha pra
cima): Ah! Soberano Senhor, tu fizeste os céus e a
terra pelo teu grande poder e por teu braço estendido. Nada é difícil demais
para ti. (olha para Emese). Obrigada, mas eu não acho que minhas orações
serão correspondidas.
Ráchel dá um passo
para trás e pula de costas. Emese e András gritam e o som é abafado pelo
barulho do corpo de Ráchel caindo na água. Close no rosto de Emese que está
apavorada.
Cena 07 –
Avenidas de Budapeste – Dia
Música: Cruel
World – Lana Del Rey
O dia amanhece na
cidade de Budapeste. O sol não aparece, o dia está frio e cinza. Pessoas muito
agasalhadas andam nas ruas em direção para os seus destinos. O céu está com
corvos voando por toda parte e ecoando seu grito por toda a cena em paralelo
com a música
Cena 08 – Mansão
dos Kovács – Sala. – INT. - Dia
Emese entra em sua
casa, acompanhada de András que está logo atrás. Sebestyénne levanta-se do sofá
e vai até ela e a abraça muito.
Sebestyénne
(aflita): Por onde você esteve, menina? Eu te liguei milhares de vezes e você
só me volta agora.
Emese: Depois
conversamos, Sebestyénne. Ah, esse é o András.
András (estende a
mão): Prazer, András Kovács.
Sebestyénne
(retribui): Prazer, meu querido.
András: Bom, eu já
vou indo. Emese, se você precisar de qualquer coisa, me liga, tá bom?
Emese: Obrigada.
András sai de cena
e ficam somente as duas na sala.
Sebestyénne: O que
aconteceu, Emese? Você está péssima! Esse rapaz fez algo com você?
Emese: Não! A
noite foi péssima. Eu presenciei um suicídio e não pude fazer nada.
Sebestyénne
(assustada): O que aconteceu?
Emese: Uma mulher
se jogou da ponte das correntes. Eu estava ali, poderia ter impedido, mas não
consegui. Estou péssima.
Sebestyénne: Meu
Deus! Que Deus tenha piedade dessa menina, ela devia estar sofrendo bastante
para chegar a esse ponto.
Emese fica ali
pensativa.
Salgótarján –
Hungria
Cena
09 – Fazenda – Escritório – Int. - Dia
Domokos fuma seu
charuto em sua cadeira de couro legítimo. A fumaça ecoa por todo o escritório.
Dois homens grandes estão postados em sua escolta. A porta abre, é Boldiszár.
Boldiszár: Führeh,
o senhor Nozorine está aqui.
Domokos: Peça para
que entre.
Boldiszár assente
e sai e Nozorine entra no escritório. Ele senta-se na cadeira que está a frente
de Domokos.
Nozorine: Desculpe
o atraso. Não consegui um meio de transporte mais rápido.
Domokos: Sem
problemas, meu querido.
Nozorine: Há algum
motivo para o Senhor querer a minha vinda até aqui?
Domokos: Sim.
Fiquei sabendo que você estaria dificultando o transporte das armas para que
elas partissem da sua fazenda. Não tem lugar melhor, Nozorine. Você mora no
norte deste país. É uma área pouco movimentada que não levantará suspeitas para
ninguém.
Nozorine: A
verdade é que eu não sei se eu quero fazer mais parte disso. Meus filhos estão
crescendo e eles são tudo pra mim. Tudo o que eu menos quero é problema com a
polícia, ainda mais agora que aquela delegada assumiu as investigações.
Domokos: Está com
medo de uma mulher? (Ri). É por isso que este país está do jeito que está! Onde
já se viu ter medo de mulher. Ela não vai muito longe, meu querido.
Nozorine: De
qualquer forma, eu não quero fazer mais parte disso. Quero seus homens longe da
minha fazenda, dos meus bois e dos meus cavalos.
Domokos (calmo):
Eu vi que você ama andar com seu cavalo, não é? Você tem um cavalo da raça
árabe, não é? Vi fotos.
Nozorine: Sim. É o
diamante negro. Tenho desde quando eu morava na Itália. Meu melhor amigo.
Domokos
(desconversa): Bom, uma pena que não poderemos mais fazer negócios. Foi um
prazer te ver, Nozorine. Mande lembranças para a sua família.
Nozorine faz uma
continência para Domokos e sai de cena. O vilão continua ali fumando seu
charuto calmamente.
Budapeste
– Hungria
Cena
10 – Necrotério – Int – Dia
Nala entra e um
perito está a sua espera.
Nala: Vim o mais
rápido que pude. Infelizmente, está uma correria com a morte da menina no Rio
Danúbio.
Perito: Foi por
isso que eu te chamei.
Nala: Não estou
entendendo.
O Perito abre uma
gaveta e lá está o corpo de Ráchel. O cadáver está coberto apenas com uma
coberta. Ele retira a coberta do tronco.
Perito: Aqui tem
algumas marcas no corpo dela. Principalmente no corpo. Eu te chamei, porque
acredito que isso não é só um caso de Suicídio.
Nala (aponta para
o pescoço): Isso não é uma marca comum, é?
Close no pescoço
do cadáver, no qual está uma marca roxa.
Perito: Não
somente no pescoço. Obviamente algumas manchas no coro dela poderiam ser por
conta do impacto da queda dela na água e também devido à hipotermia que o corpo
sofreu. Mas na região da virilha também há algumas marcas suspeitas.
Neste momento ele
descobre a região da virilha que mostra algumas marcas, alguns parecem
arranhões.
Nala: Então, essa
menina pode ter sofrido um estupro e logo em seguida ter cometido um suicídio?
Perito: Não posso
afirmar, mas acredito que sim. Havia material embaixo das unhas dela. Já enviei
para o laboratório, mas preciso de suspeitos para fazer a comparação de DNA.
Nala: Pode deixar.
Isso muda totalmente tudo. Eu vou colocar na linha de investigação
imediatamente.
Close no rosto de Nala que está apreensiva.
Cena
11 – Jornal – Escritório – Int.
Zóltar fuma seu
cigarro e está pensativo. Aranka entra na sala e coloca uns papéis na mesa.
Aranka: Até quando
esses “soldados” da Emese Angyal vão ficar nos protegendo?
Zóltar: Aranka, eu
sei que você está com medo, é normal sentir isso já que é algo que pode
explodir em nossas mãos, mas peço que confie na Delegada Nala.
Aranka:
Ultimamente eu não confio em ninguém. Esses dias uma criança veio falar comigo
e eu simplesmente fiquei com uma crise pânico.
Zóltar (olha para
ela): Olha, peço que preste atenção. Tudo dará certo, não vou deixar nada
acontecer com vocês. Eu estaria sendo um canalha se não protegesse vocês.
Aranka (emotiva):
Eu só quero que isso acabe.
Zóltar: E vai
acabar. Você pode tirar uns dias de folga. Pode dizer o mesmo ao István. Eu
ficarei segurando as pontas aqui com o Zaco.
Aranka: Obrigada!
Cena
12 – Mansão Angyal – Quarto de Emese – Int.
Emese penteia seu
cabelo que está molhado após o banho. Ela senta-se na cama e Lorenzo chega.
Lorenzo: Posso
entrar?
Emese: Claro que
pode.
Lorenzo: A
Sebestyénne me contou o que aconteceu, eu nem quis ouvir o restante da
história.
Emese: Não tem
como eu estar bem depois de ter visto aquilo. Lorenzo, eu vi uma pessoa
cometendo Suicídio bem na minha frente, você tem noção disso? O olhar dela
pedindo ajuda, carregado de sofrimento.
Lorenzo: Você fez
tudo que estava no seu alcance. Não se culpe por isso.
Emese (corta):
Mudando de assunto. Tem tido mais alguma coisa do Konrad?
Lorenzo: Nada do
que a gente já não saiba. Ele tem visitado o Senador, mas as visitas estão mais
recorrentes.
Emese: Não sei,
mas algo me diz que ele está aprontando alguma coisa. Minha intuição nunca
falha, eu sinto isso.
Lorenzo: Seu primo
tem estado mais neurótico do que o normal.
Emese: Acho que
seria ideal Tia Ilona voltar pra cá. Não faz mais sentido ela estar em Malta.
Lorenzo: Eu também
acho. Posso pedir para o jatinho da Angyal Alimentos buscá-la.
Emese: Faça isso.
Ele não vai fazer nada contra ela, enquanto eu estiver aqui.
Lorenzo vai
saindo, mas para na porta e puxa uma caixinha de anel do bolso. Ele abre e há
um anel de ouro.
Lorenzo
(voltando): Eu já ia me esquecendo. Toma (entrega)
Emese (estranha):
O que é isso? Um anel?
Lorenzo: Emese,
esse anel está na minha família há cem anos. Quero que fique com ele. É pra dar
sorte!
Emese (recusa): Eu
não posso aceitar isso. É da sua família.
Lorenzo: Aceite,
por favor.
Emese aceita.
Lorenzo pega o anel de dentro da caixinha e coloca no dedo de Emese.
Emese: Ficou
perfeito. Obrigada, Lorenzo.
Ele dá um beijo na
testa de Emese e sai de cena. Ela fica ali pensativa.
ANOITECE NA HUNGRIA
Cena 12 –
Delegacia – Escritório – Int - NOITE
Nala está
escrevendo em uma caderneta. Severus entra na sala.
Nala: Fecha as
cortinas.
Severus (fechando
as cortinas): Aconteceu alguma coisa?
Nala: Sim, essa
menina, a que cometeu o suicídio, foi estuprada e ao que tudo indica, ela
cometeu isso por conta do abuso.
Severus: Isso muda
totalmente. Nala, essa garota trabalhava no Monster Grill, o pub. E adivinha?
Nala: O quê?
Severus: Esse pub
é do Konrad Bartha, o primo da Emese Angyal.
Nala (surpresa):
Olha, Severus, não acredito em coincidências. Vamos fazer o seguinte. Quero que
você vá sozinho até a rua do Monster Grill e pegue as imagens das câmeras de
segurança das lojas que ficam perto das saídas das ruas. Se ela foi trabalhar
nesse dia, o estupro aconteceu até a chegada dela no trabalho até depois de
sair de lá.
Severus: Vou
imediatamente buscar as imagens
Severus sai da
sala e Nala fica ali sozinha.
Nala: Eu vou te
pegar, Konrad Bartha.
Sárospatak –
Hungria
Cena 13 – Fazenda dos Nozorine – Quarto – Int. – Dia.
Nozorine tinha acabado de acordar. A luz da manhã invadiu o seu quarto. Sua mulher e seus filhos haviam saído a cidade para fazer compras. Ao pôr os pés no chão, viu algo no canto do quarto. Ele moveu-se lentamente tentando entender o que era. Com a visão mais clara, viu que a forma era da cabeça de um cavalo. O choque foi imediato. Era de fato a cabeça do seu “Diamante Negro”.
Ele vomitou. Tudo
virou uma mistura ao encontrar a enorme poça de sangue que estava formada.
Nozorine gritou pelos quatro cantos da fazenda e desmaiou no corredor do andar
de acesso aos quartos.
A História não tem conexão real com a
realidade. O preconceito e o ódio jamais deverão ser aceitos em qualquer
sociedade! Apologia ao Nazismo no Brasil é crime previsto no art. 20, da Lei nº
7.716/89 do Código Penal,
que
define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
DENUNCIE!
Fim do capítulo 13
Obrigado pelo seu comentário!