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Débora - Capítulo 37 (Últimas Semanas)


Débora
CAPÍTULO 37
Últimas Semanas

uma novela de
FELIPE LIMA BORGES

escrita por
FELIPE LIMA BORGES

baseada nos capítulos 3 a 5 do livro de Juízes

 CENA 1: INT. PALÁCIO – PRISÃO - DIA
Hanna encara os 3 prisioneiros.
PRISIONEIRO 1
Clemência... Clemência!...
PRISIONEIRO 2
Não nos mate!...
PRISIONEIRO 3
Por favor!...
SÍSERA
Vamos, Hanna. Se quer tanto entrar para o exército, prove que tem algo realmente bom com que contribuir. Mate-os.
HANNA
O rei--
SÍSERA
(interrompendo) Do rei cuido eu. Não será a primeira vez que terei que justificar sumiços de prisioneiros.
PRISIONEIRO 1
Por favor, misericórdia!
PRISIONEIRO 2, 3
Misericórdia!!!
Hanna aponta as mãos para eles enquanto continuam a gritar desesperados e, de um segundo para o outro, chamas poderosas surgem em suas mãos. Hanna intensifica o fogo e, com um movimento curto, atira. A raja de fogo cruza o espaço entre eles e os atinge com violência. Sísera se afasta por causa do calor, e o fogaréu toma conta dos 3 corpos. Sendo queimados vivos, os homens gritam, mas totalmente em vão. A cela inteira é iluminada pelas chamas. Sísera observa aquilo com uma fascinação monstruosa.
Hanna então apaga o fogo em suas mãos, e os 3 homens ainda queimam vivos... Agonizam, gritam... Mas os gritos vão diminuindo... Até eles caírem, imóveis, mas ainda em chamas.
SÍSERA
Temos um problema... O fogo... Os restos...
HANNA
Posso ser útil com isso também.
Hanna então faz um movimento suave com a mão e ouve-se um estalo. Sísera percebe que a terra se racha e uma fenda surge. A fenda aumenta e o chão sob os corpos começa a ceder. Pouco a pouco, as 3 massas em chamas vão afundando junto à terra e sumindo no chão.
Quando desaparecem lá dentro, a fenda diminui, a terra volta ao lugar e o chão se fecha, ficando como antes, como se nada tivesse acontecido. Restam ali apenas as correntes presas à parede.
Hanna olha para Sísera com um sorrisinho, e o nota bastante impressionado.



CENA 2: INT. CASA DE TAMAR – SALA – DIA
Tamar observa com certo receio o marido e a filha olhando um para o outro. Ele, com uma sutil revolta no olhar, quase um ressentimento, e ela com uma leve apreensão.
ELIAN
Oh, chegou a rainha, a senhora de Israel! Como é que devo recebe-la? (se inclinando) Com veneração? (volta ao normal) Ou não é o suficiente para a grandeza de minha senhora? Talvez eu deva me ajoelhar aos seus pés e beijá-los...
Agora Débora lamenta com o olhar.
TAMAR
Elian, por que é que--
ELIAN
(interrompendo e repreendendo) Ahhh!!!
Ele passa por elas e sai lá para fora; bate a porta.
DÉBORA
(frustrada) E nem consegui falar nada...
Ela senta à mesa.
TAMAR
Não se engane, minha filha, não é esse o comportamento que ele vem tendo desde que o povo começou a vir para Betel e a pedir você como juíza.
DÉBORA
Como assim, minha mãe?
Tamar senta.
TAMAR
Elian ficou manso, diferente mesmo, pensativo, sabe? Parecia até mesmo preocupado.
DÉBORA
Não... Ele não ficaria preocupado comigo.
TAMAR
É o que você pensa, pois o que mais pode explicar ele me perguntando se existem riscos no cargo de juiz?
Débora franze a testa.
DÉBORA
O pai perguntou isso mesmo para a senhora?
TAMAR
Sim. Eu estranhava, mas preferia não questionar o motivo da pergunta.
DÉBORA
Se fosse assim, ele então teria ficado preocupado antes, enquanto eu fiquei fora.
TAMAR
Mas é aí que está. Ele ficou diferente nesse período... Agressivo só às vezes, mas quieto na maior parte. Uma ou duas vezes eu o peguei encarando o horizonte, como se esperasse por alguém.
DÉBORA
A senhora acha que meu pai me ama, mas tem orgulho de confessar?
TAMAR
É por aí. Eu tenho uma teoria, minha filha: quando ele voltou para casa, lá quando você tinha 12 anos, ele foi bom e gentil com você, mas de fato era apenas para conquista-la e ser bem aceito em casa. Porém, com o tempo, Elian aprendeu a te amar. Do jeito dele, tortamente, da sua forma bruta e seca, carregando você com os dentes ao invés de ser com as mãos, mas aprendeu a te amar.
Débora continua ouvindo.
TAMAR
Os homens são assim, não são dados às demonstrações de sentimentos. Amam e se envergonham por isso, diferente de nós. Se for então pra passar por cima do orgulho que tinha como o homem da casa, aí é que Elian não consegue mesmo. Na minha opinião, ele combateu sua partida à missão porque temia que algo de grave lhe acontecesse. Cada notícia que chegava sobre o seu sucesso lhe era um alívio, mas ele preferia negar. Quando você voltou, Débora, de tanto alívio que ele sentiu, se fechou e ficou mais quieto... A não ser nesses momentos como agora, em que não consegue não recorrer às ironias para escapar de qualquer sentimento verdadeiro que possa involuntariamente expressar. Para ele, enquanto estiver fazendo ironia, significará que você está por perto. E a salvo.
Débora então fecha os olhos e respira fundo bem devagar.
TAMAR
É bom que você vá até ele, minha filha, e tente conversar.
DÉBORA
É o que eu vim fazer.
Tamar arqueia as sobrancelhas.
TAMAR
Mesmo?
Ela sorri, e Débora faz que sim.
DÉBORA
O senhor Aliã me recomendou a fazer isso.
TAMAR
Pois então vá. Enquanto isso vou ficar clamando aqui. Mas você pode ter certeza de uma coisa, Débora: Elian te ama. Ele apenas está perdido, não sabe como demonstrar isso e muito menos como vencer o próprio orgulho.
DÉBORA
Certo... Eu vou lá.
As duas se levantam.
TAMAR
Estou muito orgulhosa da mulher que você se tornou. Débora... Você é o maior orgulho da minha vida. E é tudo o que eu sempre quis ser... e não consegui. Você é a Tamar que deu certo.
DÉBORA
Mãe... Por que diz isso?
TAMAR
Não é que eu já quis ser guerreira, muito menos juíza... Mas você herdou de mim essa força, uma força incomum entre as mulheres. A diferença... é que eu me rendi às repreensões da sociedade, enquanto você enfrentou a tudo e a todos, às vezes até a mim, que já estava convertida pelo meio.
DÉBORA
Mãe... A senhora é uma mulher de força, de garra... A senhora é a minha maior inspiração nessa Terra.
TAMAR
Eu já fui uma mulher de força, de coragem... Mas isso foi quando eu era bem mais jovem. Meu maior ato de força foi por você, quando expulsei Elian de casa. Mas... depois que ele voltou... eu cedi. Muitas vezes abaixei a cabeça para os absurdos dele... Enfim, vá, Débora, vá, não perca mais tempo. Vá ao seu pai, pois, lá no fundo, ele está esperando por isso.
Débora faz que sim e as duas se abraçam. Débora beija o rosto da mãe, que a olha com um sorriso.
TAMAR
Minha filha, minha juíza...
Débora sorri e sai. Tamar a observa com um olhar contente.

CENA 3: EXT. DESERTO – PLANÍCIE – DIA
Na vasta planície israelense, tudo o que se houve é o som constante do vento. Héber, já voltando para o local onde deixou a esposa Jael, carrega em uma mão um saco de pano com lenha e na outra seu odre com água.
É quando um homem, fora de seu campo de visão, sai de trás de uma formação rochosa e o observa.
HOMEM
Ei!
Héber se assusta e vira.
HOMEM
Quem é você?!
HÉBER
Eu sou Héber, sou queneu.
O homem então se aproxima. Ele se veste relativamente bem, certamente não habita no deserto.
HOMEM
Eu sou Elói, chefe da pequena cidade de Meroz.
Héber e ELÓI (50 anos) se cumprimentam.
ELÓI
Senhor Héber, infelizmente os queneus não podem ficar aqui em nossas terras.
HÉBER
O quê? Mas senhor... Sou só eu e minha esposa. Nós nos separamos do meio do nosso povo. Ocuparemos apenas um pequeno pedaço de terra, e, além do mais, moramos em uma simples tenda.
ELÓI
Senhor, sinto muito, mas é assim que a lei funciona.
HÉBER
Lei?! Viemos para Israel justamente porque agora quem lidera é a juíza Débora.
Elói parece não gostar de ouvir isso.
ELÓI
O imposto deve ir para Meroz, minha cidade, e depois será devidamente encaminhado para Débora.
Héber desconfia da veracidade daquela informação.
HÉBER
O senhor tem certeza disso?
Elói então fecha o semblante ainda mais e o encara muito seriamente.
HÉBER
Tudo bem...
Héber coloca a lenha e o odre no chão, pega algumas moedas nos bolsos da veste e entrega para Elói, que confere cada uma.
ELÓI
(sorrindo) Muito bem. Vejo-o em breve.
Elói então vira e vai embora. Héber o encara com certa raiva. Por fim, também vira e vai.
Logo ali perto, a tenda está montada no meio da vasta planície. Do lado de fora, na entrada, uma lona se estende formando uma espécie de varanda. A carroça, quase vazia, está ao lado e o cavalo come o pasto colocado. Héber chega e entra.

CENA 4: INT. TENDA DE JAEL – SALA – DIA
Héber olha para toda a tenda. Jael está por ali, organizando alguns móveis.
HÉBER
Jael... Meu amor, você caprichou mesmo. As velhas de nosso povo te ensinaram direitinho.
JAEL
Aquelas mulheres tinham de deixar algo de bom nas minhas memórias, não é?
Héber ri.
JAEL
Héber, o que aconteceu? Posso ver em seu rosto...
HÉBER
Ahn... São esses hebreus. Encontrei um no caminho e... vamos ter que pagar imposto a eles para podermos ficar aqui.
JAEL
Bom, então vamos para outro lugar...
HÉBER
Não... Há um riacho cristalino naquela direção, é perto... E também pasto de qualidade em abundância. Acho que vale o imposto, Jael...
JAEL
Bom, se você acha...

CENA 5: EXT. PALÁCIO – TOPO DA ESCADA – DIA
Sísera leva Hanna até o topo da escada. Olha para os lados e se aproxima bem dela.
SÍSERA
Você fará parte do exército, mas ninguém pode saber, muito menos o rei.
HANNA
E como será isso?
SÍSERA
Quando precisar, eu a convocarei e você se disfarçará de soldado homem. No campo de batalha estará livre para mostrar o seu poder.
HANNA
E depois? Os soldados contarão a todos o que viram eu fazer.
SÍSERA
Criarei alguma história que justifique, mas Jabim aceitará mediante o testemunho maravilhoso de muitos. Aí sim ele deve aprova-la no exército. Mas antes, pode ter certeza que não.
HANNA
Hum... Pena que não há previsão alguma de batalha.
Sísera mais uma vez confere se não há ninguém por ali ouvindo.
SÍSERA
O rei está apenas esperando os hebreus avançarem. A qualquer momento essa batalha pode acontecer.
Hanna então sorri.
HANNA
Hum... Então vou começar bem. Terei prazer em eu mesma matar Débora.
SÍSERA
Não. Mate quem você quiser, mas Débora é minha.
Hanna fica quieta, mas claramente não gostou.

CENA 6: EXT. CASA DE TAMAR – LATERAL – DIA
Débora chega na lateral da casa e para: observa o pai, sentado de costa, trabalhando nos seus consertos. Então ela dá alguns passos, aproximando-se mais. É quando ele a ouve e vira assustado; Débora para.
DÉBORA
Não tema, meu pai... Sou eu.
ELIAN
O que você quer?
DÉBORA
Apenas... vê-lo... e conversar.
ELIAN
“Conversar”... O que você quer conversar comigo?
E continua a mexer nas suas coisas. Débora se aproxima um pouquinho mais.
DÉBORA
Eu gostaria... de lhe fazer uma pergunta. Aquele ódio todo que o senhor sentiu por mim quando nasci... depois de 38 anos ele ainda está vivo em seu coração? Tanto quanto o senhor demonstra?
Elian, ainda sentado de costa, agora finge trabalhar, pois seu olhar é para frente.
ELIAN
Eu tenho mesmo que explicar? Você não é juíza, mulher do povo, sabida?
DÉBORA
Eu sei que o ódio daquela época era verdadeiro... e aquele afeto de quando voltou para casa, falso.
Elian então larga as coisas, se levanta e vira para ela.
ELIAN
Então você veio pra me provocar!
DÉBORA
Não... De forma alguma. Acontece que hoje eu acho que o verdadeiro Elian não está para aquele com ódio, mas mais para aquele do afeto. Com a diferença que, dessa vez, o afeto é verdadeiro. Porém... escondido.
Elian a olha com indignação e uma aparente leve confusão.
ELIAN
Do que é que você está falando?!
DÉBORA
Estou dizendo... que o senhor me ama.
Elian força um sorriso de indignação.
DÉBORA
O senhor me ama, sim... Posso ver em seus olhos, pois eu te amo, pai. Eu conheço o amor, e só quem conhece o amor pode reconhecer o amor no próximo. Eu posso ver que há amor no senhor por mim. Com os anos... seu coração se amoleceu... e o senhor se tocou que eu sou sua descendência.
ELIAN
Você está dizendo lorotas!
DÉBORA
Pai, o que o senhor temia acontecer comigo enquanto estive fora?
ELIAN
Nada! Eu já esperava por isso!
DÉBORA
Era uma forma desesperada de amenizar o próprio medo? O senhor lutou contra mim para eu não ir, o senhor me queria aqui, ao alcance dos seus olhos.
ELIAN
Você está delirando!
DÉBORA
Ao alcance dos olhos de um pai zeloso. De um pai que preza pela filha. De um pai que não quer o pior para a filha, mas que quer sua segurança... seu bem... custe o que custar.
Elian está transtornado. Encara-a com uma certa canseira no rosto, mas aparentemente também segurando algo dentro de si.
DÉBORA
Há quanto tempo o senhor não me toca, meu pai? E eu não o toco...
Débora então se aproxima um pouquinho.
ELIAN
Não se aproxime!
Débora para.
DÉBORA
Vou me aproximar sim, vou abraça-lo.
Ela continua.
ELIAN
Não!!!
Débora para bem perto do pai, mais perto do que já estiveram nos últimos anos.
Eles se olham... Olho no olho.
DÉBORA
Pai... Eu o entendo em partes. Fomos separados um do outro. O senhor nunca pôde me segurar quando bebê, me abraçar, me mimar como um pai faria... E eu sei... Eu sei que o senhor sente falta disso. O senhor nunca teve o filho que tanto queria para fazer isso. Envelheceu com essa falta... Mas hoje... hoje eu estou aqui. Como o senhor disse há muitos anos... que ia esperar eu ficar pronta para abraça-lo... Bem... eu estou pronta, completamente pronta para abraça-lo.
Elian continua encarando ela.
DÉBORA
Não olhe para a minha altura, para a minha idade, para o meu cargo, para o que eu significo para o povo... Veja aqui a mesma menininha de antes... A mesma bebê ávida pelo colo do pai, a mesma garotinha que teria visto o senhor como um herói!
Elian, apesar do olhar carregado de diversos tipos de sentimentos, está com sua postura completamente desarmada. Os olhos de Débora marejam, transbordam e ela funga. É quando ela pula no pescoço dele e o abraça forte. Elian, com o corpo mole, fica com seus braços para baixo... e seu semblante devastado.
Até que... meio sem jeito... ele levanta as mãos e as aproxima da costa da filha. Tenta encostar, mas hesita... Até que tenta de novo, e a toca muito de leve. Ao fazer isso ela começa a chorar e ele se entrega, abraça-a de verdade.
DÉBORA
(abraçados, chorando) Está bem... Está tudo bem, está tudo bem... Estamos juntos... Sou apenas eu, apenas sua filha... Está tudo bem...
Elian não consegue se controlar, e as lágrimas saem de seus olhos. Tamar chega ali no início do beco e, ao ver pai e filha se abraçando, encosta na parede, sorri e também deixa escorrer uma lágrima.
Débora e Elian então se soltam. Ela o olha nos olhos, mas ele, sem jeito, seca logo suas lágrimas e mantém o olhar para baixo.
ELIAN
(fungando) O que você quer... que eu diga?...
DÉBORA
Diga o que está no seu coração, pai. É difícil para o senhor, eu sei, eu percebo... Mas esqueça tudo. O povo, aquele que o senhor foi, tudo o que aconteceu e tudo o que sou. Olhe para mim... e diga o que quer dizer.
Com dificuldade, Elian levanta os olhos até os olhos dela. Ela faz que sim, incentivando-o. Ele engole em seco...
ELIAN
Mi... Mi-Minha filha...
Débora então sorri para o pai e o abraça novamente.
DÉBORA
Meu pai...
ELIAN
Você conseguiu o que queria...
Débora o solta.
DÉBORA
Um homem do qual eu tenha orgulho de dizer que é meu pai? Sim, eu consegui sim.
Elian não consegue controlar as lágrimas... A culpa parece lhe doer muito.
ELIAN
(chorando) Me perdoe...
DÉBORA
Eu já o perdoei há muito tempo...
Tamar se aproxima e chega ali. Diante da esposa, Elian parece se constranger, e começa a secar as lágrimas rapidamente. É quando Débora segura os braços deles com cuidado e o olha com doçura.
DÉBORA
Pai... Não disfarce e nem esconda os seus sentimentos. As lágrimas não são sinais de que o senhor não é um homem, elas significam que o senhor ainda está vivo. Que aqui dentro pulsa um coração, um coração sedento de amor. (dá uma olhada na mãe) E, no que depender de nós duas, ele será muito bem saciado.
Elian funga e não mais esconde os olhos vermelhos e molhados.
DÉBORA
Essa é a sua esposa, meu pai. A mulher da sua mocidade. A mãe da sua filha...
Tamar toca na mão do marido... e ele toca na dela com sua outra. Os dois então ficam lado a lado.
Elian olha para Débora.
ELIAN
Eu tenho algo pra falar... Algo que sei há muito tempo e... mesmo sem eu querer... martela na minha cabeça.
DÉBORA
Sou toda ouvidos, meu pai.
ELIAN
Filho nenhum que eu tivesse... teria alcançado o que você alcançou... e se tornado o que você se tornou...
DÉBORA
Por que o senhor acha isso?
ELIAN
Porque eu o teria criado do meu jeito, da forma que eu queria. Eu o transformaria em uma cópia minha. Mas você não... Você foi contra mim... e alcançou... o coração de Deus.
Débora sorri.
DÉBORA
Então o senhor reconhece...
Elian funga e seca o rosto com a mão.
DÉBORA
O importante, meu pai, é que o senhor abriu os olhos a tempo, e mudou.
ELIAN
Por causa de você...
DÉBORA
Eu apenas quebrei a casca do ovo... Mas a vida já estava lá dentro, meu pai.
ELIAN
Eu... não mereço... ser chamado dessa forma... pela juíza de Israel.
Débora então sorri.
DÉBORA
Ah, não merece? Não merece não, é, meu pai? (aproximando e sorrindo) Meu pai, meu pai, meu pai... Meu pai, meu pai... Meu pai!
Ele fica sem jeito, mas ela o abraça e puxa a mãe junto, abraçando os dois ao mesmo tempo.
DÉBORA
Meus pais... Meus pais queridos... Que orgulho ser o fruto do amor de vocês!...

CENA 7: EXT. CAMPO – PALMEIRA – DIA
Sob a palmeira, à frente da mesma, está uma tenda nem pequena e nem muito grande. Mas não há lonas laterais (as “paredes”), apenas em cima, abrigando do sol quem estiver embaixo. A lona de cima é presa em quatro troncos de madeira e reforçada por cordas amarradas na palmeira. Sob a tenda há uma pequena mesa e, de um lado, uma cadeira, e do outro, duas outras cadeiras. Logo atrás da cadeira única está o caule da palmeira. O chão foi coberto por um tapete macio e há almofadas coloridas por ali. Outras mesinhas menores e mais baixas ao redor têm vasos com água, vinho, copos, e pães frescos. O local é bastante arejado e confortável, e a paisagem - visível de todos os lados - das palmeiras, dos morros, dos campos e das florestas dão o toque final, e a sensação é de se querer passar o dia todo ali.
Naquele mesmo dia, mas mais tarde, Lapidote e Jaziel estão ali com Débora, observando a tenda. Alguns grupos de pessoas os observam de longe, talvez esperando.
DÉBORA
Vocês fizeram um excelente trabalho.
LAPIDOTE
Jaziel teve ideias incríveis.
JAZIEL
Que ficaram melhores com as suas.
Eles riem.
JAZIEL
A palmeira... Esse lugar é muito significativo pra você, não é, Débora?
DÉBORA
Demais.
Ela olha para Lapidote, que sorri.
DÉBORA
Muitos dos momentos mais marcantes da minha vida aconteceram aqui. Mas também escolhi esse lugar para atender o povo porque é acessível a todos. E aberto, visível... Ninguém que ficar fora de um atendimento poderá falar mal do atendido e de mim juntos. É melhor que evitemos os maus comentários. Tudo o que eu fizer será para que quem queira ver, veja.
LAPIDOTE
Você está certíssima, meu amor.
JAZIEL
Eu desejo que Deus esteja com você. Sei que Ele estará.
Débora faz que sim.
DÉBORA
Estará sim.
Pouco depois, Débora, sentada na cadeira única, atende o primeiro caso, um casal.
Depois, o segundo caso, um homem. O terceiro, uma mulher. O quarto... E assim vai.
Na tenda sob a palmeira com Débora e alguém sendo atendido, IMAGEM CONGELA
CONTINUA...
FADE OUT:
No próximo capítulo: Darda envenena a bebida de Najara. Jaziel parte para Quedes atrás de Sama sem que ela saiba. Gadi e Laís notam coisas estranhas envolvendo Micaela. E Sísera conhece Héber e Jael.

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